Blog Alma Missionária

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domingo, 29 de junho de 2014

ATUALIDADE

O que permaneceu da cultura “Pão e Circo”?

Na antiguidade em que conflitos, já eram muito comuns, costumava-se distribuir para a população alimentos no intuito de diminuir os conflitos. O que nos resta dessa cultura?
Pão e circo
Roma Antiga conheceu uma prática popularmente chamada de “Pão e Circo”, que previa o provimento de comida e diversão ao povo, para diminuir a insatisfação popular com os governantes. É que o crescimento urbano trouxera também osproblemas sociais. Muitas pessoas migraram para as cidades romanas, em busca de melhores condições de vida. A grande cidade conheceu então lutas de gladiadores nos estádios, onde também eram distribuídos os alimentos. Assim, muitos problemas eram esquecidos e diminuíam as chances de revolta. De lá para cá, diversão e alimento sempre entraram no menu das ofertas postas à disposição das massas em todo o mundo, ainda que mudem os tempos e as expressões com que as diversas culturas se manifestam.
Os espetáculos incluíram também a execução de tantos cristãos, homens e mulheres de todas as idades e condições sociais que derramaram seu sangue pelo nome de Jesus Cristo. Em Roma foi executado e sepultado, durante o reinado do imperador Nero, provavelmente no ano 64, o Apóstolo São Pedro. Sua execução foi um dos muitos martírios de cristãos na sequência do grande incêndio de Roma. Foi crucificado de cabeça para baixo, a seu próprio pedido, perto do Obelisco, no Circo de Nero. A tradição dá conta de que o local em que foi sepultado se tornou muito cedo meta de visitas e peregrinações e corresponde à Basílica construída na era constantiniana. Depois de muitas vicissitudes históricas, foi no século XX que se intensificaram as escavações no subsolo da atual Basílica de São Pedro. O Papa Pio XII, no Ano Santo de 1950, anunciou os resultados dos trabalhos feitos até então. Em 1953, foi dada a público a notícia de uma inscrição em língua grega, que diz “Petrós Ení” – Pedro está aqui. Em 1968, o Papa Paulo VI anunciou que as relíquias de São Pedro tinham sido identificadas de uma forma convincente.
O que sobrou do Circo de Nero? O que permaneceu da memória de Simão, aquele que o Senhor fez Pedro – Pedra? De construções da época pode ter ficado o pouco ou o muito que as descobertas arqueológicas identificam, mas de Pedro ficou a força do martírio, a ousadia da pregação e a força para estabelecer a Igreja primitiva sobre a herança de Israel. Ao seu lado, igualmente martirizado, encontra-se Paulo, mestre e doutor das nações, anunciador do Evangelho da Salvação. Em 2009, Bento XVI anunciou os resultados positivos das pesquisas feitas na Basílica de São Paulo fora dos Muros, com a confirmação da localização do túmulo do Apóstolo Paulo. São ajudas oferecidas pela ciência para confirmar que não foram mentes desvairadas que estabeleceram os fundamentos da vida da Igreja. Entretanto, permaneceu o mais importante, a transmissão coerente da fé. A herança recebida dos Apóstolos permanece viva e se transforma a cada dia em testemunho, para que a Boa Nova do Evangelho continue a ser anunciada.
O que permaneceu, perguntamos de novo, da herança deixada pelos Apóstolos? Ao celebrar a Solenidade de duas colunas da Igreja, colhemos a oportunidade para identificar o que a Igreja pode oferecer, já que não lhe cabe repetir as propostas de pão e circo. Mesmo quandoeventos esportivos, como a Copa do Mundo de Futebol, ocupam o tempo dos Meios de Comunicação, arrebatam multidões e mexem com nosso brio brasileiro que se emociona de gol a gol, a Igreja sabe que deve oferecer mais e que lhe cabe fazer a diferença, num sadio espírito crítico, que ofereça caminhos de reflexão para as pessoas e comunidades.
Basta lembrar a encantadora mensagem do Papa Francisco, por ocasião da abertura da Copa do Mundo: “Quero sublinhar três lições da prática esportiva, três atitudes essenciais para a causa da paz: a necessidade de treinar, o ‘fair play’ e a honra entre os competidores. Em primeiro lugar, oesporte ensina-nos que, para vencer, é preciso treinar. Podemos ver, nesta prática esportiva, uma metáfora da nossa vida. Na vida, é preciso lutar, treinar, esforçar-se para obter resultados importantes. O espírito esportivo torna-se, assim, uma imagem dos sacrifícios necessários para crescer nas virtudes que constroem o caráter de uma pessoa. Se, para uma pessoa melhorar, é preciso um treino grande e continuado, quanto mais esforço deverá ser investido para alcançar o encontro e a paz entre os indivíduos e entre os povos! É preciso treinar tanto! O futebol pode e deve ser uma escola para a construção de uma cultura do encontro, que permita a paz e a harmonia entre os povos. E aqui vem em nossa ajuda uma segunda lição da prática esportiva: aprendamos o que o ‘fair play’ do futebol tem a nos ensinar. Para jogar em equipe é necessário pensar, em primeiro lugar, no bem do grupo, não em si mesmo. Para vencer, é preciso superar o individualismo, o egoísmo, todas as formas de racismo, de intolerância e de instrumentalização da pessoa humana. Não é só no futebol que ser ‘fominha’ constitui um obstáculo para o bom resultado do time; pois, quando somos fominhas na vida, ignorando as pessoas que nos rodeiam, toda a sociedade fica prejudicada. A última lição do esporte proveitosa para a paz é a honra devida entre os competidores. O segredo da vitória, no campo, mas também na vida, está em saber respeitar o companheiro do meu time, mas também o meu adversário. Ninguém vence sozinho, nem no campo, nem na vida! Que ninguém se isole e se sinta excluído! Atenção! Não à segregação, não ao racismo! E, se é verdade que, ao término deste Mundial, somente uma seleção nacional poderá levantar a taça como vencedora, aprendendo as lições que o esporte nos ensina, todos vão sair vencedores, fortalecendo os laços que nos unem”. O Papa parece um técnico do grande jogo da aventura humana, salientando aspectos fundamentais na estratégia da vitória que Deus quer para todos! À Igreja cabe tomar consciência dos sinais dos tempos, identificar os apelos de Deus através de um discernimento cuidadoso e trabalhar para que todos vivam num contínuo processo de conversão e mudança sincera de vida.
O sucessor de Pedro de nosso tempo, Bispo de Roma e Papa Francisco, tem mostrado, para alegria de todos os cristãos, os rumos a serem seguidos para que não sejamos apenas artistas de um espetáculo esportivo com hora marcada para se encerrar, ou mesmo pessoas interessadas apenas no alimento ou no consumo desenfreado dos bens materiais, mas homens e mulheres que descobrem o sentido de sua vida no amor e na alegria da misericórdia que se espalhe, para curar o mundo ferido e cansado.
É uma forma diferente de celebrar o dia do Papa, neste final de semana. O mundo tem descoberto que Papa Francisco se revela a cada dia como uma figura eclesial e humana de porte inigualável, digno da herança de todos os seus antecessores, de Pedro a Bento XVI, passando por uma imensa galeria de homens escolhidos a dedo pela Providência Divina, que respeita as mediações humanas, mas se faz presente e toma a palavra nos momentos mais decisivos. Seus gestos e palavras têm edificado as pessoas e grupos que acorrem de todas as formas à profundidade de seus ensinamentos. O mundo já o reconhece como voz abalizada diante de todos os poderes existentes na sociedade, ainda que se faça sempre tão simples e aberto ao contato com todos. Deus seja louvado pelo seu ministério e seu testemunho!

Dom Alberto Taveira Corrêa

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.

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