Blog Alma Missionária

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domingo, 6 de outubro de 2013

Igrejas Protestantes - Entendendo o Protestantismo
Teologia da Prosperidade

Fonte: Lista Exsurge Domini
Autor: Padre Inácio José do Vale
Transmissão: Vicente Gargiulo
“A teologia da prosperidade está mesmo funcionando para os líderes, eles sim, estão cada vez mais ricos”
Ariovaldo Ramos – Presidente da Visão Mundial no Brasil
Com gratidão ao autor, publicamos a seguir, um artigo do Padre Inácio José do Vale, Professor de Teologia Sistemática na Faculdade de Teologia de Volta Redonda(RJ).
O Poeta alemão, Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), autor da mais célebre das versões do mito de Fausto, o homem que vende sua alma ao demônio em troca da suprema excelência em sua profissão, e também por alguns prazeres, especialmente o de administrador do ducado de Wilmar durante anos, de modo que, quando acrescentou em 1832, no fim da vida, alguns capítulos novos de Fausto que começou a escrever 60 anos antes, aplicou lições que aprendeu em sua experiência como espécie de autoridade monetária.
Num desses capítulos novos, há uma cena antológica e de exame obrigatório nas escolas de economia: “Mefistófeles se apresenta ao imperador numa terça-feira de Carnaval, e o encanta com as maravilhas do papel-moeda.
Embevecido o imperador ordena a seus artesãos que multipliquem os tais papéis, que circulam, “rápidos e festivos como raios de primavera”, trazendo prosperidade, desenvolvendo para o reino, porém apenas de forma fugaz. Tudo era falso como as fantasias de carnaval e de Mefistófeles. Segue-se a inflação, a crise e o sofrimento. O imperador havia sido enganado, como Fausto, ao abdicar de valores permanentes, a alma, em troca de realizações efêmeras1.
Estamos vivendo a era religiosa de Fausto. Muitos líderes religiosos estão vendendo a alma ao demônio do dinheiro, da ganância e da fama em troca da luxuria e do poder terreno. É a inversão dos valores éticos da teologia Apofática e Teândrica pela Teologia da Prosperidade.
Nossa era está sendo marcada por uma prática religiosa escandalosa sem precedentes. Estamos vivendo a era de falsas teologias, de efêmeras igrejas, de pastores fugazes e de crentes desvalorizados. Esse tipo de religiosidade é pior que “reality shows”.
Como disse Ariovaldo Ramos “ A Igreja evangélica brasileira está sendo alvo de várias tentativas de golpe e não pode capitular à ganância dos maus pastores que vêem nela um trampolim para a riqueza, para a fama e para o poder; à ganância dos que nela vêem um mercado a ser desenvolvido e explorado”2.
O Bispo e teólogo Robinson Cavalcanti disse: “Creio ter vindo o suficiente para presenciar o crescimento decadente do protestantismo brasileiro – seu abandono, quase por completo, das fontes reformadas; sua adoção e práticas do pragmatismo secular, a intolerância do exclusivo fundamentalista; e a suprema ironia da adoção de pontos de vista católico-romano, quando mais alta seja a retórica da sua pregação”3.
Na década de 60, surge nos Estados Unidos a filosofia da prosperidade através dos ensinos budistas e taoístas. O filosofo Dr. Essek W. Kenyon (1867-1948), foi o mentor de transportá-la para o meio cristão. Na década de 70, a filosofia da prosperidade virou teologia da prosperidade, tendo como seu maior expoente o pregador americano Kenneth Hagin.
A cantora americana pop-star Madonna disse: “Nós americanos, somos obcecados por valores totalmente errados, como ser bonito, ter dinheiro no banco, sem bem sucedido”.
O pensamento de Madonna define muito bem a teologia da prosperidade. É de maneira mais completa a do psicanalista inglês Adam Phillip. “No século XIV, se as pessoas fossem interrogadas sobre o que queriam na vida, diriam que buscavam a salvação divina. Hoje a resposta é “ser rico e famoso”. Existe uma espécie de culto que faz com que as pessoas não consigam enxergar o que realmente querem da vida”.
O apóstolo Paulo disse: “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo (Cl 2.8)”
O ensino da teologia da prosperidade que o crente não adoece e tem o poder de conseguir tudo por determinação e decreto, é puro engano e heresia. Tal ensino não é segundo Cristo, e sim segundo a esperteza de falsos pastores (Is 56.11 ; Fl 3.2 : Ap 21,8).
O ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo para os verdadeiros pastores e cristãos é, segundo o grande teólogo suíço Urs von Balthasar (1905-1988), “uma decisão por Cristo que comporta inelutavelmente a aceitação da morte e do martírio. O Cristão se engana e é infiel à sua fé se não concebe a vida como uma resposta de amor ao amor Divino que se manifesta em sua glória através do Kenosis sobre a cruz. É a cruz que nos torna plenamente disponíveis á missão de estabelecer o reino de Cristo em meio aos homens”4.
Para os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo, as beatitudes de Mt 5,1-12 são suficientes para a glória do martírio.
Estamos vivendo uma crise moral em todos os contextos sociais. É muito triste essa crise na igreja legitimada pela teologia liberal e da prosperidade. Luzia Nagib Eluf, procuradora da Justiça e autora de “A Paixão no banco dos réus”, disse: “Estamos num mundo que valoriza a ostentação, consumismo desenfreado e neurotizante. Se não há outros valores que não sejam o dinheiro e a gratificação imediata, pelo consumismo ou pelo sexo, não se pode esperar respeito por nada ou por ninguém”5
Ultimamente, muitas organizações e até pessoas começaram a utilizar um método muito eficiente de proselitismo: o “evangelho do enriquecimento”. Muitas igrejas, pregadores, esotéricos e afins dizem: “Vem para cá e tu ficarás rico” ou “ ouve os testemunhos”. Então é elencada ostensivamente uma relação de bens adquiridos.
É o que Ari Pedro Oro, autor do livro “Avanço pentecostal e a reação Católica” (Editora Vozes) chama “Teologia da prosperidade”; e de efeito multiplicador. A “teológica da prosperidade” é uma tática de proselitismo extremamente eficiente e tentadora porque vai ao ponto vulnerável: o consumismo, a vaidade. A indústria moderna põe no mercado bens que a população, de mentalidade consumista, geralmente não consegue adquirir. Esta demanda reprimida é que faz com que os pobres vislumbrem nesta versão do evangelho uma possibilidade de satisfação individual, até mesmo pela influencia dos testemunhos televisionados. É apresentado um Deus mercador da felicidade, um Jesus na forma de gênio da lâmpada. A idéia de “efeito multiplicador”, conforme chama Ari Pedro Oro, é um chamariz eficientíssimo. Lembra-nos a prática dos sacrifícios pagãos, que eram feitos em troca de alguma vantagem.
Este efeito assemelha-se a uma hipotética aplicação financeira mais rentável do que as concorrentes: as pessoas venderiam seus bens para ali aplicar. As Igrejas tradicionais pediam dinheiro e estimulavam o dízimo, contudo não criavam nos contribuintes a expectativa de que as suas contribuições os fariam ricos. As novas igrejas conseguiram conciliar a ganância material dos crentes com seus anseios espirituais: o mesmo que faziam os adoradores do deus pagão mamom. As suas orações e suas ofertas são quase uma transação comercial. Deram um respaldo espiritual ao materialismo: estimulando à semelhança de Satanás que ofereceu o mundo a Jesus (Mt 4, 8-11). Os testemunhos televisionados, referentes ao enriquecimento para estimular a cobiça dos crentes, servem também para “massagear-lhes o ego” (dizendo “você mereceu ficar rico”).6
Para uma meditação abissal:
“Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele.Tendo, porém sustento, e com que nos cobrimos, estejamos com isso contentes. Mas, os que querem ser ricos caem em tentação e em laços e, em muita concupiscência louca e nociva, que submergem os homens na perdição e ruína; porque o amos ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e com muitas dores (1 Tm 6, 6-10).
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1 Gustavo Franco – Veja 28/5/03 – pág 34;
2 Ariovaldo Ramos – Nossa Igreja Brasileira: uma opção sobre a história recente, São Paulo: Hagnos, 2002, pags 20 e 37;
3 Robinson Cavalcanti – Ultimato, Maio-Junho 2003 – Pag, 49
4 Batista Mondin – Os grandes Teólogos do século Vinte: Teologia;
5 Luiza Nagib Eluf - Ultimato, Maio-Junho 2003 – pag 22;
6 D.Estevão Bettencourt,OSB – Boletim Ontem, hoje e sempre – Março-Abril 2003 Pag 5
Publicado na revista “Pergunte e Responderemos” – Ano XLVII – Novembro 2007 – nº 545


Digitação: Vicente

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