Blog Alma Missionária

Blog Alma Missionaria

quinta-feira, 2 de maio de 2013

O PROCESSO DE JESUS  -  A CAPTURA
= Site Católico Apostólico Romano =  Se você chegou por  sites de busca, acesse nossa Página Principal 
                     I PARTE (Processo Religioso)
* Foi preservado o português da época (1921)
                   A Captura
 Hoec est hora vestra et potestas tenebrarum. -   Lucas - XXII, 53  

O  Era uma noite de quinta-feira do 14 de Nisan, ou de 06 de abril de 783 da fundação de Roma (1).  Quem, nessa noite, se tivesse achado na cidade de Jerusalem e   precisamente    nas   adjacendias    do  Palacio do Governador romano e   dos    Summos Pontificies, teria, sem duvida, notado um movimento, uma agitação que contrastava altamente com a  calma habitual que, a essas horas avançadas, costumava desfructar o bairro mais  aristrocratico da cidade dos Prophetas. 
Grupos de individuos armados de  espadas e páus (2) iam e vinham em attitude impaciente, provocadora, resoluta. De subito, uma companhia de  soldados, sob as  ordens  de um Tribuno, á qual se juntaram servos e subalternos dos grandes sacerdotes e phariseus, tambem armados, sahiu do Pretorio, tomando, apressadamente, a direcção noroéste. 
A lua (3) que nesse momento brilhava num céo recamado de estrellas, e envolvia, num nimbo de prata, a antiga capital da Palestina, batia em cheio, como uma lamina de aço, sobre o aspecto sinistro de um homem que, açulado pelo demonio da cubiça, parecia ser, si não o chefe, certamente o guia daquella turba eivada de odio e sedenta de sangue.  Era Judas de Keriot, o qual, seguido pelas praças e pela famulagem subornada, atravessando de leste a oeste a cidade alta, e tomando, depois, o rumo norte, passou o Cedron e parou um instante ao sopé do Monte das Oliveiras, a poucos passos dos muros que cercam o Gethsemani. 
Entrou.  Não lobrigando alma viva, dirigiu os passos para o lado norte onde uma especie de corredor descoberto, cavado, pela natureza, na pedra, dava acesso a uma gruta de 17 metros de comprimento, 9 de largura e 3,50 de altura (4). 
O personagem que se procurava e que nesse instante, com a alma crivada de angustias, se mantinha prostrado num canto, ergueu-se ao rumor dos passos em tropel, e esperou, resignado, a sorte que o odio recalcado dos seus inimigos lhe havia preparado. 
Estava para ter inicio o desenrolamento de scenas de horror, previstas, com admiravel clareza, oito seculos antes, pelo Propheta Isaias, scenas que deveriam ter, como remate, a mais clamorosa infamia que registra a historia da humanidade. 
Á vista dessa matula armada e guiada por um scelerado que, até bem poucos momentos, honrára com a sua amizade, Jesus (porque era Elle) sentiu-se profundamente ferido e disse:
_ Viestes capturar-me como si eu fora um ladrão; entretanto, todos os  dias eu estava comvosco no Templo e nunca me prendestes. (5) Mas, já que procuraes a mim só, deixae em paz estes meus amigos. (6)
Referia-se aos discipulos que levára comsigo. 
Poucos momentos depois, Jesus  era amarrado e, no meio de uma algazarra infernal, levado ao Palacio de Annaz.
Qual  fôra o motivo da captura de Jesus?  Apparentemente  algum crime religioso ou político de que os seus inmigos queriam tornal-o responsavel. Na realidade, porém, no fundo de todo esse zelo hypocrita em defesa da Religião ou do Estado, apparecia claro e insophismavel um sentimento de odio, filho do ciume incontido pela popularidade que alcançára Christo na Palestina. A majestade de seu porte, a graça ineffavel que transluzia do seu rosto, a ternura incomparavel do seu coração, o seu desvelo desinteressado em pról dos infelizes, a boa nova que annunciava e que vinha abrir, á sociedade, descortinos vastos e desconhecidos, a guerra sem quartel que, com um desassombro mumca visto, movia á ambição e hypocrisia dos potentados, esta e um sem numero de outras bellezas moraes de que andava exornado e que não se pódem traduzir em linguagem humana, arrastavam, após si, as multidões que, em momentos de irreprimivel entusiasmo, o acclamavam, delirantemente, Propheta e Rei! 
Accresce que, ultimamente, um grande acontecimento acabava de abalar todos os espíritos. Achando-se, seis dias  antes (8 de Nisan), Jesus, na cidade de Bethania, e tendo ahi, morrido o seu amigo Lazaro, ressuscitára-o com um prodigio. O facto  extraordinario echoara, com a rapidez do raio, de um canto a outro da Palestina, e cercára Jesus de uma aureola tão luminosa que, quando, dois dias depois, entrou em Jerusalém, fôra alvo da mais estrondosa e imponente manifestação popular.
Este delirio suscitado por Jesus, vinha encrustar  outra camada de odio no coração dos seus inimigos que, em precipitado concluio, juraram perdel-o:  _ Que havemos de fazer?  perguntavam uns aos outros,  este homem faz muitos prodigios, si o deixarmos continuar, todos crerão nelle: "Quid facimus?  Quia hic homo multa signa facit? Si dimittimus eum sic, omnes credent in eum" (7)
E a prisão de Jesus, effectuada na noite do 14 de Nisan, não era outra cousa sinão a consequencia do trama urdido no diabolico comicio. 
Eil-o, pois á presença de Annaz (8) amarrado como um malfeitor. 
Não se comprehende e não se justifica a razão pela qual a esbirralha quis arrastar Jesus á presença de Annaz que não cobria, havia muito tempo, nenhum cargo publico. Talvez, como opina Cornelio a Lapide, tomassem essa resolução por méra deferencia a seu genroCaiphás, Grande Sacerdote naquelle anno. Seja  como fôr, o que não padece duvida, é que Annaz fôra a alma de toda a conjura movida, secretamente, contra Jesus. De engenho vivo, astucia pouco commum, ambicioso em extremo, alcançára  de Sulpicio Quirino, Governador da Syria e da Judéia, o título de Grande Sacerdote, cuja funcção permanecera quasi dez annos. 
No dia da prisão de Jesus, havia mais de três lustros que não ocupava  esse supremo cargo.
Á sua influencia, porém,  e especialmente, ao seu genio intrigante e ao ouro que sabia profusamente espalhar em occasião opportuna, deve-se a nomeação, feita por Valerio Grato, do seu genro José Caiphás o Grande Sacerdote. (9)
Estando, pois, Jesus, perante Annaz, este, embora não lhe assistisse o direito, entendeu submettel-o a um interrogatorio preliminar, enquanto no Palacio de Caiphás se estavam tomando, ás pressas, as providencias para um interrogatorio mais completo e  um julgamento mais formal. 
 (Próximo tópico: O Interrogatório)
          Notas de rodapé  * Para voltar ao texto, clique sobre o tópico correspondente        

Nenhum comentário: