A Biblia no Inicio da Igreja
Fonte: lista de debate Veritats Splendor
Pelos testemunhos deixados pelos Pais da Igreja, notamos que os cristãos dos primeiros quatro séculos, assim como os apóstolos, também utilizaram a Tradução Grega dos Livros Hebraicos (A Versão dos Setenta, ou Septuaginta), que incluíam os deuterocanônicos recusados pelos Judeus de Jâmnia. Há vários trechos dos Escritos Patrísticos em que os Santos Padres citavam em sua pregação um ou outro livro dos deuterocanônicos. Um exemplo disto é o trecho abaixo em que Cirilo Bispo de Alexandria, ao pregrar sobre a confissão de Fé de Pedro, cita o livro do Ecleriástico ou Sabedoria de Sirácida (Sir). São Cirilo considerada o livro como parte das Escrituras como vemos no trecho abaixo:
"Depois que o discípulo fez a profissão de fé, Jesus proibiu severamente que o dissessem a alguém, acrescentando: O Filho do homem deverá sofrer muito, ser rejeitado, e afinal ser morto, e ressuscitar no terceiro dia (Lc 9,21.22). Mas porque não convinha dizer isso a outros? Não era essa justamente a tarefa dos que foram consagrados por ele ao apostolado? Sim, mas diz a Escritura: Tudo a seu tempo será comprovado (Sir 39,34)."
(DAS HOMILIAS DE SÃO CIRILO DE ALEXANDRIA (+ou- 190), BISPO, SOBRE O EVANGELHO DE SÃO LUCAS - A Profissão de Fé de Pedro).
Embora os deuterocanônicos fossem muito usados pela Igreja primitiva, alguns Padres da Igreja os consideravam apenas úteis na instrução dos Fiéis e não inspirados. Tal era a opinião de São Jerônimo, Orígines, Tertuliano e Atanásio. A Controvérsia não era diferente quanto aos livros do Novo Testamento.
O Cânon de Muratori (150 d.C)
A primeira proposta de um catálogo na Igreja Primitiva que se tem notícia é o Cânon de Muratori (Tal documento trata-se de um manuscrito do séc. VIII, cópia do original, descoberto pelo sacerdote italiano Ludovico Antonio Muratori no séc. XVIII.) . O próprio documento nos dá pistas de sua data:
"Recentemente, em nossos dias, Hermas escreveu em Roma "O Pastor", sendo que o seu irmão, Pio, ocupa a cátedra de bispo da Igreja de Roma.". Pio ocupou a Cátedra de Roma de 142 a 155, portanto, o Cânon de Muratori é datado por volta do ano 150.
Este catálogo cita somente os livros Neo-Testamentários. Dos livros que hoje compôe o nosso NT reconhoce somente os 4 Evagelhos, todas as cartas Paulinas, a primeira Espístola de Judas e as duas primeiras Epístolas de João e o Apólipse. O Cânon de Muratori reconhece como canônico o livro "O Pastor" escrito por Hermas, discípulo de São Paulo e irmão do pôntifice Pio.
O Cânon de Melito de Sardes (170 d.C.)
Melito, bispo de Sardes, para o AT reconhece como canônicos quase todos os livros do cânon Hebraico, exceto Ester. Dos deuterocanônicos reconhece apenas o Eclesiático. Para o Novo Testamento reconhece o que temos hoje e o "Pastor" de Hermas.
O Cânon de São Jerônimo (330 d.C)
São Jerônimo no Prologus Galeatus recusa todos os livros deuterocanônicos além de "O Pastor " de Hermas.
A Lista de Atanásio de Alexandria (367 dC)
Atanásio Bispo de Alexandria, muito querido e respeitado por toda Igreja, por ocasião da Festa da Páscoa, escreve uma epístola onde relaciona os livros comumente aceitos aceitos como canônicos pelos cristãos de sua época.
Quanto ao Antigo Testamento Atanásio inclui todos os livros do Cânon Hebraico (que corresponde ao AT dos protestantes) e inclui 5 dos chamados deuterocanôncios, excluindo apenas os dois livros dos Macabeus.
Quanto ao Novo Testamento reconhece exatamente o que temos hoje.
No cristianismo primitivo também houveram outras propostas de um cânon como a lista de Orígines, Eusébio, Tertuliano e outros.
Vemos aí que até os primeiros quatro séculos a Igreja ainda não possuía um catálogo bíblico definido.
A Lei de Moises
Fonte: A Hora de São Jerônimo
Prof. Carlos Ramalhete
Destruição (Shemad) = Shin (300) Mem (40) Dalet (4) = 344
Moisés (Moshe) = Mem (40) Shin (300), Hei (5) = 345
Favorecimento (Ratzon) = Reish (200) Tzade (90) Vav (6) Nun (50) = 346
A Lei judaica, dada por Deus a Moisés no Monte Sinai, é habitualmente dividida em três tipos gerais de normas:
Mishpatim, as normas a que poderíamos chegar pelo uso da razão;
Eidot, as normas referentes a festas e comemorações, a que não poderíamos chegar pelo uso da razão, mas que depois que aprendemos o seu significado, fazem sentido; e
Chukim, as normas que aparentemente não fazem sentido algum.
O tema deste trabalho é fundamentalmente os Chukim, mas para que possamos entender melhor a diferença entre os três tipos de leis, devemos antes de mais nada proceder a uma explicação da natureza dos Mishpatim e das Eidot.
A Lei Natural é aquela Lei gravada pelo Senhor no coração de todos os homens.
Se tomarmos qualquer religião não-revelada (hinduísmo, budismo, taoísmo, xintoísmo, etc.) veremos que eles têm, de uma forma ou de outra, no seu código de comportamento, a Lei Natural. Perguntando-se a um sábio chinês se é lícito matar ou roubar, a resposta será negativa. Isso não ocorre porque ele tenha recebido uma revelação de Deus, mas simplesmente por ser fácil perceber que uma sociedade em que o assassinato ou o roubo fossem lícitos seria uma sociedade que não perduraria por muito tempo. Para que o homem possa subsistir socialmente, para que seja possível ao homem conviver mais ou menos pacificamente com seus irmãos, faz-se necessário que sejam seguidas algumas regras básicas de moral, que correspondem à Lei Natural.
A Lei Natural está expressa de forma condensada e perfeita nos Dez Mandamentos. Esta Lei, porém, apesar de estar inscrita por Deus no coração do homem, nem sempre é percebida ou seguida por este. Isto se deve à condição do homem depois da Queda.
Esta é a razão pela qual foi necessário que Deus, ao dar ao Povo de Israel a Lei de Moisés, incluísse nesta Lei prescrições que pareceriam evidentes (os Mishpatim), visto corresponderem à Lei Natural e estarem ao alcance da razão. Podemos ver esta necessidade ao perceber que em todas as religiões naturais (não reveladas) existem normas e hábitos contrários à própria Lei Natural que elas procuram expressar.
A noção de Izkor, memória, lembrança, é importantíssima no judaísmo. As normas denominadas Eidot são em geral normas referentes à memória das grandes datas da história do judaísmo, aos usos, festas e lutos em memória destas datas, etc.
Este é um ponto central da religião judaica: não esquecer. Não esquecer a escravidão no Egito, não esquecer a libertação da escravidão por Deus. As normas chamadas Eidot são portanto normas relativas basicamente a esta característica da fé judaica, que tem horror ao esquecimento. Para que tenhamos a percepção do significado da memória na fé judaica, basta que vejamos, por exemplo, a própria estrutura do texto bíblico. Não é uma Lei apenas, é uma gigantesca memória, um enorme relato da História da Salvação, no qual as leis estão marcadas não só pela sua necessidade ou adequação lógica ao ponto em questão, mas - pela própria estrutura narrativa do relato bíblico - pela sua inserção em um determinado momento da História, a ser sempre lembrado e marcado por usos e normas.
Mas também encontramos dentre os 613 mandamentos (Mitzvot) da Lei de Moisés muitos que parecem não fazer sentido, que parecer ser apenas caprichos insensatos de um deus irracional.
Qual seria o significado destes mandamentos? Para quê serviriam leis cujo fim não é perceptível, que parecem fugir à razão e contradizê-la?
A resposta a estas perguntas é um dos pontos centrais da visão de mundo judaica, e o principal testemunho da Lei de Moisés como pedagogia preparatória para a Nova Lei.
Estes mandamentos, chamados Chukim, são mandamentos que parecem não fazer sentido. A respeito deles, nos diz Maimônides: "Há pessoas que consideram difícil dar uma razão para qualquer mandamento, e consideram correto dizer que os mandamentos e proibições não têm nenhuma base racional. Eles são levados a adotar esta teoria por uma certa doença n'alma, cuja existência eles percebem, mas que não são capazes de descrever ou discutir". A respeito destes mandamentos, porém, nos lembra Maimônides, está escrito: "Porque nisto [no cumprir dos mandamentos] está a vossa sabedoria e inteligência perante os povos, para que, ouvindo todos estes preceitos [Chukim], digam: Eis um povo sábio e inteligente, uma nação grande".
E prossegue Maimônides: "A verdade, porém, é indubitavelmente como dissemos, ou seja, que cada um dos seiscentos e treze preceitos serve para inculcar alguma verdade, remover alguma opinião errônea, estabelecer relações adequadas na sociedade, diminuir o mal, treinar em bons hábitos, ou prevenir contra os maus hábitos."
No Guia dos Perplexos, Maimônides enceta uma breve descrição dos preceitos, ordenados por categoria, e tenta explicar a razão de cada um deles: "Considerarei agora os preceitos de cada categoria, e explicar a razão e uso dos que são tidos por inúteis ou irracionais, com a exceção de alguns poucos, cujo objetivo ainda não compreendi".
O princípio das explicações dadas por Maimônides, contudo, é um princípio bastante evidente: a Lei dada por Deus serve para atrair o homem para Deus; os preceitos podem ser explicados como negando uma prática idolátrica comum àqueles tempos, como induzindo o homem ao bem e aos bons hábitos, como levando em suma o homem a reconhecer sempre Deus como fim último de seus atos. Os preceitos que não são compreensíveis, segundo Maimônides, não o são porque "a maior parte dos chukim cuja razão nos é desconhecida serve como uma cerca contra a idolatria. (...) Se conhecêssemos todos os particulares do culto idólatra e estivéssemos informados dos detalhes de suas doutrinas, veríamos claramente a razão e a sabedoria de cada detalhe [dos chukim aparentemente incompreensíveis]".
Conhecer a razão dos Chukim, porém, não é considerado pela Tradição judaica algo necessário para seu bom cumprir, podendo até mesmo atrapalhar a alguns, que levados pelo orgulho, considerariam a sua razão, o seu entender limitado, como o parâmetro da correção e necessidade dos mandamentos.
A palavra "Chok" (plural "Chukim") é relacionada etimologicamente com chakikah, gravar (como um relevo) ou traspassar.
Isso leva à percepção metafórica da superioridade do cumprimento dos mandamentos cuja razão permanece obscura sobre o cumprimento daqueles que nos são inteligíveis: Assim como a tinta, ao ser depositada sobre o papel ao escrever, não se torna parte do papel nem o papel parte da tinta, o mandamento que é cumprido e compreendido como uma regra sábia e racional não é cumprido tão-somente por amor a Deus, mas também pela própria razão vista nele. Assim a tinta (representando a inteligência humana) e o papel (representando o desejo da alma de, cumprindo o mandamento, servir a Deus) se unem, mas cada um agindo por si, permanecendo sempre separados. A tinta (inteligência) chega a tornar-se um obstáculo no cumprimento perfeito dos mandamentos, cobrindo e tampando o papel (a alma).
Já os chukim, como vemos pela própria similitude etimológica com o que é gravado, nos levam a uma percepção metafórica diferente da inscrição dessas ações em relação à alma humana em seu desejo de servir ao Senhor.
Assim como ao gravar letras em madeira ou pedra as letras fazem parte do material gravado, não sendo algo colocado acima dele, não o obscurecendo nem tampando, o cumprir dos chukim é algo que serve à alma em seu desejo de servir a Deus, elevando-a ao deixá-la agir sozinha, por puro amor, sem que haja necessariamente obra da inteligência. Aquilo que é amável a Deus se torna amável à alma que O ama.
E alguns chukim, cujo significado é ainda mais obscuro, são, em seu cumprimento, como o gravar de letras vazadas: não se criam sombras, não se causa obscurecimento de nenhum tipo na alma sequiosa de Deus. A luz passa através do espaço entre as letras, fazendo com que brilhe a pedra em que foram gravadas.
O Chok de significado incompreensível no judaísmo é, por antonomásia, o mandamento da Novilha Vermelha (Parah Adumah). Deste mandamento está escrito: "Este é o estatuto [Chok] da Lei [Torah] que o Senhor prescreve". Diz a Tradição Oral judaica que foi usada esta formulação e não, por exemplo, "Este é o chok da novilha", ou "Este é o chok da oferta pelos pecados" porque o Chok da Parah Adumah reflete a totalidade da Lei.
Diz igualmente a Tradição Oral que é em relação ao mandamento da novilha que o Rei Salomão escreveu "Tudo tentei por adquirir a sabedoria. Eu disse: Far-me-ei sábio, e a sabedoria retirou-se para longe de mim, muito mais do que dantes estava. A sua profundidade é grande, quem a poderá sondar?"
Trata-se de um mandamento repleto de paradoxos:
É uma oferta que torna o puro impuro, e purifica o impuro; é um sacrifício ofertado fora do acampamento.
É um sacrifício que torna o sacrificante impuro (não apenas aquele que faz o sacrifício, mas também quem queimou a novilha, quem levou as cinzas da novilha, quem usa da água feita com as cinzas da novilha, quem nesta água toca...), ou até mesmo requer que esteja impuro! - No tempo do Segundo Templo, o sacerdote que faria o sacrifício da novilha era, antes de fazê-lo, tornado impuro pelo contato com o cadáver de um animal rastejante... Mas por outro lado, é um sacrifício que purifica aqueles que tiveram contacto direto ou indireto com cadáveres, estando assim atingidos pela mais grave de todas as formas de impureza.
Além disso, é um sacrifício que é feito fora do acampamento, e é fora do acampamento que são guardadas as cinzas da novilha. Isto causa espécie, mais ainda quando se pensa que todos os sacrifícios devem obrigatoriamente (com exceção deste) ser feitos no altar construído na tenda do Senhor!
A explicação clássica judaica destes dois pontos que causam estranheza (tanto maior por ser este considerado o Chok por antonomásia) é simples, e é impressionante ver como ela se adequa perfeitamente à explicação a que temos acesso depois de completada a Revelação em Cristo:
O sacrifício que torna impuro o puro que o oferece e puro o impuro mais grave ensina o valor de tornar-se impuro, isto é, de rebaixar-se, para que o irmão seja purificado. Ensina humildade, ensina obediência, e mostra a necessidade do auto-sacrifício, abandonando o egoísmo.
O sacrifício que é feito no deserto, fora do acampamento, em meio aos escorpiões, cobras e outros animais peçonhentos, tendo como resultado a purificação daquilo que de outro modo não poderia jamais ser purificado, mostra como Deus tem força para agir até mesmo através daquilo que ninguém quer, fazendo do que é medonho, impuro, perigoso e assustador motivo de purificação e de júbilo, ao trazer do deserto, do exterior impuro, a purificação do interior.
São Tomás de Aquino nos ensina que todos os mandamentos dados por Deus aos judeus por Moisés têm uma razão, ainda que não seja uma razão direta; eles podem até não ser direcionados diretamente ao culto a Deus na forma como se colocava então, mas todos têm uma razão em relação a algo mais.
O objetivo dos mandamentos cerimoniais aparentemente irracionais é portanto duplo: por um lado, como instruções para fazer o que era necessário no culto a Deus da Antiga Aliança; por outro, como figura preparatória do Cristo ainda por vir. Explica-se-nos o Apóstolo: "todas estas coisas lhes aconteciam em figura".
O mandamento da Novilha Vermelha, que segundo a Tradição Oral judaica significa toda a Lei, é indubitavelmente figura do Sacrifício de Cristo na Cruz:
"A novilha vermelha significava Cristo em respeito a sua fraqueza assumida [ao se tornar semelhante a nós em tudo, menos no pecado], como denotado pelo sexo feminino; a cor da novilha, enquanto isso, designa o Sangue de Sua Paixão. A 'novilha vermelha de idade perfeita' porque todas as obras de Cristo são perfeitas; 'na qual não haja nenhum defeito e que não tenha levado o jugo' porque Cristo era inocente, e não havia levado o jugo do pecado. Mandou-se que a levassem a Moisés, porque Ele foi acusado de ter transgredido a Lei de Moisés ao romper o Sábado. E foi mandado que a levassem 'ao sacerdote Eleázaro' porque Cristo foi entregue às mãos dos sacerdotes para ser morto. Ela era imolada 'fora do campo' porque Cristo 'padeceu fora da porta'. E o sacerdote mergulha 'o dedo no sangue dela' porque o Mistério da Paixão de Cristo deve ser considerado e imitado.
Ele [o sangue da novilha] era aspergido sobre a 'porta do tabernáculo', que denota a sinagoga, para significar quer a condenação dos judeus descrentes ou a purificação dos crentes; e isto 'sete vezes' devido aos sete dons do Espírito Santo ou aos sete dias em que todo o tempo está compreendido. Novamente, todas as coisas que dizem respeito à Encarnação de Cristo devem ser queimadas no fogo, isto é, devem ser compreendidas espiritualmente; pois a 'pele' e a 'carne' significam as obras exteriores de Cristo; o 'sangue' denota a força interior sutil que movia os Seus feitos externos; os 'excrementos', Sua fadiga, Sua sede, e todas as outras coisas que dizem respeito à Sua fraqueza. Três coisas são adicionadas, a ver, 'pau de cedro', que denota as alturas da esperança ou da contemplação; 'hissopo', em sinal de humildade ou Fé; 'escarlate duas vezes tingido', que denota dupla caridade; pois é por estes três que devemos nos unir ao sofrimento de Cristo. As cinzas desta queima era reunidas por 'um homem puro', pois as relíquias da Paixão tornaram-se posse de gentios, que não eram culpados da morte de Cristo. As cinzas eram postas na água para o propósito de expiação, porque o Batismo recebe da Paixão de Cristo o poder de lavar o pecado."
Fora isso, é mais que evidente o significado das "estranhezas" conforme explicado pela Tradição Oral judaica em sua aplicação a Nosso Senhor Jesus Cristo: foi ao se fazer semelhante a nós, rebaixando-se, que o Cristo Jesus pôde morrer a mais ignominiosa das mortes para nossa Salvação; não haveria maior amor que este, o de sofrer uma morte dolorosa e considerada fator de impureza, para que a todo homem fosse dado o potencial de Salvação pela graça de Deus. Assim o tornar-se Deus homem que sofre morte indigna, o Puro, o mais puro e inocente de todos, se tornou, aos olhos do mundo, impuro, e os impuros pudemos assim nos purificar.
Do mesmo modo a ação de Deus no meio do deserto da incompreensão, em meio aos animais pestilentos e peçonhentos, que traz da maior baixeza à total redenção é magnificamente exemplificada pelo sacrifício "fora da porta", ou "no deserto".
Muitos outros são os Chukim, ou mandamentos cujo objetivo escapa à compreensão da razão; mas todos eles, todos, sem exceção, tem um significado, muitas vezes duplo: preparação figurativa para a vinda do Cristo Salvador e, secundária porém imediatamente, rejeição de práticas idolátricas, o que também não deixa de ser uma maneira de preparar-se para compreender e aceitar ao Cristo Jesus.
Autor: Carlos Ramalhete - Livre cópia e difusão do texto em sua íntegra com menção do autor
A Lei de Moises
Fonte: A Hora de São Jerônimo
Prof. Carlos Ramalhete
Destruição (Shemad) = Shin (300) Mem (40) Dalet (4) = 344
Moisés (Moshe) = Mem (40) Shin (300), Hei (5) = 345
Favorecimento (Ratzon) = Reish (200) Tzade (90) Vav (6) Nun (50) = 346
A Lei judaica, dada por Deus a Moisés no Monte Sinai, é habitualmente dividida em três tipos gerais de normas:
Mishpatim, as normas a que poderíamos chegar pelo uso da razão;
Eidot, as normas referentes a festas e comemorações, a que não poderíamos chegar pelo uso da razão, mas que depois que aprendemos o seu significado, fazem sentido; e
Chukim, as normas que aparentemente não fazem sentido algum.
O tema deste trabalho é fundamentalmente os Chukim, mas para que possamos entender melhor a diferença entre os três tipos de leis, devemos antes de mais nada proceder a uma explicação da natureza dos Mishpatim e das Eidot.
A Lei Natural é aquela Lei gravada pelo Senhor no coração de todos os homens.
Se tomarmos qualquer religião não-revelada (hinduísmo, budismo, taoísmo, xintoísmo, etc.) veremos que eles têm, de uma forma ou de outra, no seu código de comportamento, a Lei Natural. Perguntando-se a um sábio chinês se é lícito matar ou roubar, a resposta será negativa. Isso não ocorre porque ele tenha recebido uma revelação de Deus, mas simplesmente por ser fácil perceber que uma sociedade em que o assassinato ou o roubo fossem lícitos seria uma sociedade que não perduraria por muito tempo. Para que o homem possa subsistir socialmente, para que seja possível ao homem conviver mais ou menos pacificamente com seus irmãos, faz-se necessário que sejam seguidas algumas regras básicas de moral, que correspondem à Lei Natural.
A Lei Natural está expressa de forma condensada e perfeita nos Dez Mandamentos. Esta Lei, porém, apesar de estar inscrita por Deus no coração do homem, nem sempre é percebida ou seguida por este. Isto se deve à condição do homem depois da Queda.
Esta é a razão pela qual foi necessário que Deus, ao dar ao Povo de Israel a Lei de Moisés, incluísse nesta Lei prescrições que pareceriam evidentes (os Mishpatim), visto corresponderem à Lei Natural e estarem ao alcance da razão. Podemos ver esta necessidade ao perceber que em todas as religiões naturais (não reveladas) existem normas e hábitos contrários à própria Lei Natural que elas procuram expressar.
A noção de Izkor, memória, lembrança, é importantíssima no judaísmo. As normas denominadas Eidot são em geral normas referentes à memória das grandes datas da história do judaísmo, aos usos, festas e lutos em memória destas datas, etc.
Este é um ponto central da religião judaica: não esquecer. Não esquecer a escravidão no Egito, não esquecer a libertação da escravidão por Deus. As normas chamadas Eidot são portanto normas relativas basicamente a esta característica da fé judaica, que tem horror ao esquecimento. Para que tenhamos a percepção do significado da memória na fé judaica, basta que vejamos, por exemplo, a própria estrutura do texto bíblico. Não é uma Lei apenas, é uma gigantesca memória, um enorme relato da História da Salvação, no qual as leis estão marcadas não só pela sua necessidade ou adequação lógica ao ponto em questão, mas - pela própria estrutura narrativa do relato bíblico - pela sua inserção em um determinado momento da História, a ser sempre lembrado e marcado por usos e normas.
Mas também encontramos dentre os 613 mandamentos (Mitzvot) da Lei de Moisés muitos que parecem não fazer sentido, que parecer ser apenas caprichos insensatos de um deus irracional.
Qual seria o significado destes mandamentos? Para quê serviriam leis cujo fim não é perceptível, que parecem fugir à razão e contradizê-la?
A resposta a estas perguntas é um dos pontos centrais da visão de mundo judaica, e o principal testemunho da Lei de Moisés como pedagogia preparatória para a Nova Lei.
Estes mandamentos, chamados Chukim, são mandamentos que parecem não fazer sentido. A respeito deles, nos diz Maimônides: "Há pessoas que consideram difícil dar uma razão para qualquer mandamento, e consideram correto dizer que os mandamentos e proibições não têm nenhuma base racional. Eles são levados a adotar esta teoria por uma certa doença n'alma, cuja existência eles percebem, mas que não são capazes de descrever ou discutir". A respeito destes mandamentos, porém, nos lembra Maimônides, está escrito: "Porque nisto [no cumprir dos mandamentos] está a vossa sabedoria e inteligência perante os povos, para que, ouvindo todos estes preceitos [Chukim], digam: Eis um povo sábio e inteligente, uma nação grande".
E prossegue Maimônides: "A verdade, porém, é indubitavelmente como dissemos, ou seja, que cada um dos seiscentos e treze preceitos serve para inculcar alguma verdade, remover alguma opinião errônea, estabelecer relações adequadas na sociedade, diminuir o mal, treinar em bons hábitos, ou prevenir contra os maus hábitos."
No Guia dos Perplexos, Maimônides enceta uma breve descrição dos preceitos, ordenados por categoria, e tenta explicar a razão de cada um deles: "Considerarei agora os preceitos de cada categoria, e explicar a razão e uso dos que são tidos por inúteis ou irracionais, com a exceção de alguns poucos, cujo objetivo ainda não compreendi".
O princípio das explicações dadas por Maimônides, contudo, é um princípio bastante evidente: a Lei dada por Deus serve para atrair o homem para Deus; os preceitos podem ser explicados como negando uma prática idolátrica comum àqueles tempos, como induzindo o homem ao bem e aos bons hábitos, como levando em suma o homem a reconhecer sempre Deus como fim último de seus atos. Os preceitos que não são compreensíveis, segundo Maimônides, não o são porque "a maior parte dos chukim cuja razão nos é desconhecida serve como uma cerca contra a idolatria. (...) Se conhecêssemos todos os particulares do culto idólatra e estivéssemos informados dos detalhes de suas doutrinas, veríamos claramente a razão e a sabedoria de cada detalhe [dos chukim aparentemente incompreensíveis]".
Conhecer a razão dos Chukim, porém, não é considerado pela Tradição judaica algo necessário para seu bom cumprir, podendo até mesmo atrapalhar a alguns, que levados pelo orgulho, considerariam a sua razão, o seu entender limitado, como o parâmetro da correção e necessidade dos mandamentos.
A palavra "Chok" (plural "Chukim") é relacionada etimologicamente com chakikah, gravar (como um relevo) ou traspassar.
Isso leva à percepção metafórica da superioridade do cumprimento dos mandamentos cuja razão permanece obscura sobre o cumprimento daqueles que nos são inteligíveis: Assim como a tinta, ao ser depositada sobre o papel ao escrever, não se torna parte do papel nem o papel parte da tinta, o mandamento que é cumprido e compreendido como uma regra sábia e racional não é cumprido tão-somente por amor a Deus, mas também pela própria razão vista nele. Assim a tinta (representando a inteligência humana) e o papel (representando o desejo da alma de, cumprindo o mandamento, servir a Deus) se unem, mas cada um agindo por si, permanecendo sempre separados. A tinta (inteligência) chega a tornar-se um obstáculo no cumprimento perfeito dos mandamentos, cobrindo e tampando o papel (a alma).
Já os chukim, como vemos pela própria similitude etimológica com o que é gravado, nos levam a uma percepção metafórica diferente da inscrição dessas ações em relação à alma humana em seu desejo de servir ao Senhor.
Assim como ao gravar letras em madeira ou pedra as letras fazem parte do material gravado, não sendo algo colocado acima dele, não o obscurecendo nem tampando, o cumprir dos chukim é algo que serve à alma em seu desejo de servir a Deus, elevando-a ao deixá-la agir sozinha, por puro amor, sem que haja necessariamente obra da inteligência. Aquilo que é amável a Deus se torna amável à alma que O ama.
E alguns chukim, cujo significado é ainda mais obscuro, são, em seu cumprimento, como o gravar de letras vazadas: não se criam sombras, não se causa obscurecimento de nenhum tipo na alma sequiosa de Deus. A luz passa através do espaço entre as letras, fazendo com que brilhe a pedra em que foram gravadas.
O Chok de significado incompreensível no judaísmo é, por antonomásia, o mandamento da Novilha Vermelha (Parah Adumah). Deste mandamento está escrito: "Este é o estatuto [Chok] da Lei [Torah] que o Senhor prescreve". Diz a Tradição Oral judaica que foi usada esta formulação e não, por exemplo, "Este é o chok da novilha", ou "Este é o chok da oferta pelos pecados" porque o Chok da Parah Adumah reflete a totalidade da Lei.
Diz igualmente a Tradição Oral que é em relação ao mandamento da novilha que o Rei Salomão escreveu "Tudo tentei por adquirir a sabedoria. Eu disse: Far-me-ei sábio, e a sabedoria retirou-se para longe de mim, muito mais do que dantes estava. A sua profundidade é grande, quem a poderá sondar?"
Trata-se de um mandamento repleto de paradoxos:
É uma oferta que torna o puro impuro, e purifica o impuro; é um sacrifício ofertado fora do acampamento.
É um sacrifício que torna o sacrificante impuro (não apenas aquele que faz o sacrifício, mas também quem queimou a novilha, quem levou as cinzas da novilha, quem usa da água feita com as cinzas da novilha, quem nesta água toca...), ou até mesmo requer que esteja impuro! - No tempo do Segundo Templo, o sacerdote que faria o sacrifício da novilha era, antes de fazê-lo, tornado impuro pelo contato com o cadáver de um animal rastejante... Mas por outro lado, é um sacrifício que purifica aqueles que tiveram contacto direto ou indireto com cadáveres, estando assim atingidos pela mais grave de todas as formas de impureza.
Além disso, é um sacrifício que é feito fora do acampamento, e é fora do acampamento que são guardadas as cinzas da novilha. Isto causa espécie, mais ainda quando se pensa que todos os sacrifícios devem obrigatoriamente (com exceção deste) ser feitos no altar construído na tenda do Senhor!
A explicação clássica judaica destes dois pontos que causam estranheza (tanto maior por ser este considerado o Chok por antonomásia) é simples, e é impressionante ver como ela se adequa perfeitamente à explicação a que temos acesso depois de completada a Revelação em Cristo:
O sacrifício que torna impuro o puro que o oferece e puro o impuro mais grave ensina o valor de tornar-se impuro, isto é, de rebaixar-se, para que o irmão seja purificado. Ensina humildade, ensina obediência, e mostra a necessidade do auto-sacrifício, abandonando o egoísmo.
O sacrifício que é feito no deserto, fora do acampamento, em meio aos escorpiões, cobras e outros animais peçonhentos, tendo como resultado a purificação daquilo que de outro modo não poderia jamais ser purificado, mostra como Deus tem força para agir até mesmo através daquilo que ninguém quer, fazendo do que é medonho, impuro, perigoso e assustador motivo de purificação e de júbilo, ao trazer do deserto, do exterior impuro, a purificação do interior.
São Tomás de Aquino nos ensina que todos os mandamentos dados por Deus aos judeus por Moisés têm uma razão, ainda que não seja uma razão direta; eles podem até não ser direcionados diretamente ao culto a Deus na forma como se colocava então, mas todos têm uma razão em relação a algo mais.
O objetivo dos mandamentos cerimoniais aparentemente irracionais é portanto duplo: por um lado, como instruções para fazer o que era necessário no culto a Deus da Antiga Aliança; por outro, como figura preparatória do Cristo ainda por vir. Explica-se-nos o Apóstolo: "todas estas coisas lhes aconteciam em figura".
O mandamento da Novilha Vermelha, que segundo a Tradição Oral judaica significa toda a Lei, é indubitavelmente figura do Sacrifício de Cristo na Cruz:
"A novilha vermelha significava Cristo em respeito a sua fraqueza assumida [ao se tornar semelhante a nós em tudo, menos no pecado], como denotado pelo sexo feminino; a cor da novilha, enquanto isso, designa o Sangue de Sua Paixão. A 'novilha vermelha de idade perfeita' porque todas as obras de Cristo são perfeitas; 'na qual não haja nenhum defeito e que não tenha levado o jugo' porque Cristo era inocente, e não havia levado o jugo do pecado. Mandou-se que a levassem a Moisés, porque Ele foi acusado de ter transgredido a Lei de Moisés ao romper o Sábado. E foi mandado que a levassem 'ao sacerdote Eleázaro' porque Cristo foi entregue às mãos dos sacerdotes para ser morto. Ela era imolada 'fora do campo' porque Cristo 'padeceu fora da porta'. E o sacerdote mergulha 'o dedo no sangue dela' porque o Mistério da Paixão de Cristo deve ser considerado e imitado.
Ele [o sangue da novilha] era aspergido sobre a 'porta do tabernáculo', que denota a sinagoga, para significar quer a condenação dos judeus descrentes ou a purificação dos crentes; e isto 'sete vezes' devido aos sete dons do Espírito Santo ou aos sete dias em que todo o tempo está compreendido. Novamente, todas as coisas que dizem respeito à Encarnação de Cristo devem ser queimadas no fogo, isto é, devem ser compreendidas espiritualmente; pois a 'pele' e a 'carne' significam as obras exteriores de Cristo; o 'sangue' denota a força interior sutil que movia os Seus feitos externos; os 'excrementos', Sua fadiga, Sua sede, e todas as outras coisas que dizem respeito à Sua fraqueza. Três coisas são adicionadas, a ver, 'pau de cedro', que denota as alturas da esperança ou da contemplação; 'hissopo', em sinal de humildade ou Fé; 'escarlate duas vezes tingido', que denota dupla caridade; pois é por estes três que devemos nos unir ao sofrimento de Cristo. As cinzas desta queima era reunidas por 'um homem puro', pois as relíquias da Paixão tornaram-se posse de gentios, que não eram culpados da morte de Cristo. As cinzas eram postas na água para o propósito de expiação, porque o Batismo recebe da Paixão de Cristo o poder de lavar o pecado."
Fora isso, é mais que evidente o significado das "estranhezas" conforme explicado pela Tradição Oral judaica em sua aplicação a Nosso Senhor Jesus Cristo: foi ao se fazer semelhante a nós, rebaixando-se, que o Cristo Jesus pôde morrer a mais ignominiosa das mortes para nossa Salvação; não haveria maior amor que este, o de sofrer uma morte dolorosa e considerada fator de impureza, para que a todo homem fosse dado o potencial de Salvação pela graça de Deus. Assim o tornar-se Deus homem que sofre morte indigna, o Puro, o mais puro e inocente de todos, se tornou, aos olhos do mundo, impuro, e os impuros pudemos assim nos purificar.
Do mesmo modo a ação de Deus no meio do deserto da incompreensão, em meio aos animais pestilentos e peçonhentos, que traz da maior baixeza à total redenção é magnificamente exemplificada pelo sacrifício "fora da porta", ou "no deserto".
Muitos outros são os Chukim, ou mandamentos cujo objetivo escapa à compreensão da razão; mas todos eles, todos, sem exceção, tem um significado, muitas vezes duplo: preparação figurativa para a vinda do Cristo Salvador e, secundária porém imediatamente, rejeição de práticas idolátricas, o que também não deixa de ser uma maneira de preparar-se para compreender e aceitar ao Cristo Jesus.
Autor: Carlos Ramalhete - Livre cópia e difusão do texto em sua íntegra com menção do autor
A Palestina no Seculo I dc
Fonte: Mundo Catolico
Transmissao: Jose Augusto
A PALESTINA NO SÉCULO I d. C.
(Com a colaboração de textos enviados por John Nascimento e outros acréscimos)
O objetivo deste texto é procurar reconstruir, em linhas gerais, como estava organizada política, econômica, social e religiosamente a Palestina no século I d.C., momento em que Jesus nasceu e o Novo Testamento foi escrito. Compreendemos que quanto mais conhecermos o cotidiano palestinense neste período, será mais fácil avaliar o impacto da mensagem cristã.
A Palestina é uma estreita área situada entre a África e a Ásia, funcionando como uma espécie de ponte entre estas regiões. Com um território menor que o nosso estado do Espírito Santo, possuía uma superfície de 34.000 Km2 e cerca de 650 mil habitantes. Encontrava-se dividida em áreas menores: Judéia, Samaria e Galiléia, à oeste; Ituréia, ao norte; Gualanítade, Batanéia, Traconítide, Auranítide, Decápole e Peréia, à leste e Iduméia ao sul. Vamos centrar nas regiões situadas à oeste, já que a maior parte dos fatos referentes a vida de Jesus ocorreram neste cenário.
Quadro político e administrativo
A Palestina, durante as vidas de Jesus e de Paulo, foi governada, principalmente, pela Dinastia Herodiana. Contudo, este quadro não é tão simples, já que esta região estava subdividida em outras que, neste período, possuíram formas de governo e administração distintas.
Como sabemos, em 63 a.C. Roma conquistou a Palestina, aproveitando a fragilidade da dinastia asmonéia em crises internas. Hircano, um dos descendentes de Simão Macabeu, foi recolocado ao trono por Júlio César, que institui a Antípatro, ou Antípater, natural da Induméia, como seu procurador. Foi um dos filhos de Antípatro, Herodes, que acabou por fundar a nova dinastia judaica, a dos herodianos, e manter a região independente por mais algum tempo.
Herodes governou entre 37 a 4 a.C. os territórios da Judéia, Samaria, Induméia, Galiléia e Peréia. Estas áreas foram divididas entre seus filhos após a sua morte: Herodes Arquelau herdou a Judéia, Samaria e a Induméia, que governou até 4 d.C. e Herodes Antipas, as regiões da Galiléia e Peréia, de 4 a.C. - 39 d.C.. Este último é, dentre os soberano herodianos, o mais citado no Novo Testamento (Cf. Lc. 3:1; 9:7-9; 13: 31-32; 23: 7-12; Mt. 14: 1-12).
De 6 até 41 d.C, a Judéia, Samaria e a Induméia passaram a ser administradas diretamente por procuradores romanos. Agripa I, neto de Herodes, governou esta região entre 41 a 44 d.C. Após este período, a administração voltou para as mãos dos procuradores romanos.
Os procuradores eram funcionários diretamente ligados ao imperador. Sob este título eram denominados diversos funcionários que possuíam atribuições diferentes. Eles provinham da ordem eqüestre, ou dos cavaleiros, e eram remunerados. Os procuradores palestinos estavam subordinados ao governador da Síria. Entretanto, como representantes diretos do Imperador, detinham poderes civis, militares e jurídicos. Eles residiam em Cesaréia, mas em épocas de festa religiosas se transferiram para Jerusalém, já que, nestas ocasiões, esta ficava apunhada de fiéis.
Faz-se importante ressaltar que as questões internas da comunidade judaica, contudo, mesmo sob a administração romana, eram resolvidas pelo Sinédrio, tribunal presidido pelo sumo-sacerdote e formado por 71 membros (anciões, sumo-sacerdotes depostos, sacerdotes do partido dos saduceus e escribas fariseus), com sede em Jerusalém. Provavelmente instituído ainda no século III aC, no século I dC possuíam atribuições jurídicas: julgavam os crimes contra a Lei Mosaica, fixavam a doutrina e controlavam todos os aspectos da vida religiosa. Em todas as cidades e vilas da Palestina também existiam pequenos sinédrios formados por três membros que cuidavam de questões locais (Mt. 5:25).
Ainda que Roma tenha procurado manter as estruturas locais anteriores à conquista e tenha respeitado a idiossincrasia judaica no tocante à diversos aspectos (cf. Estudo 1), a dominação romana implicou na progressiva romanização e helenização e na cobrança de inúmeros impostos diretos e indiretos.
Neste sentido, face a irreversível ocupação romana na região, surgiram movimentos de resistência armados, como os zelotas. Historiadores, como Flávio Josefo, e o próprio Novo Testamento apresentam indícios de que ocorreram, no período, alguns levantes pontuais contra Roma (Lc. 13;1; At. 5: 36-37, 21:37).
Pouco a pouco grandes parcelas da população foram mobilizadas contra o controle romano, o que resultou no embate militar que durou de 66 a 70 dC e é conhecido como Guerra Judaica. Foi no decurso desta guerra que o Templo de Jerusalém foi novamente destruído e levaram que a política tolerante de Roma em relação aos judeus fosse revista.
Estes acontecimentos marcaram profundamente a judeus e cristãos. Seus reflexos encontram nos textos neotestamentários e foram um fator decisivo no rompimento definitivo entre judeus e cristãos. Com a destruição do Templo, cessaram os sacrifícios. O culto nas sinagogas ganharam importância, sendo dirigidos pelos Rabis fariseus. A Judéia tornou-se província romana, na qual se encontravam duas legiões estacionadas. Contudo, as revoltas não cessaram.
Em 132 a Palestina torna-se palco de nova revolta, agora liderada pelo judeu Simão Bar-Kosba. Esta insurreição resultou numa acentuada baixa demográfica na Palestina. Jerusalém foi destruída e reconstruída como colônia romana, ou seja, ali foram fixados soldados aposentados de diversas origens. Os judeus foram proibidos de entrar na cidade. No local do Templo foi construído um templo pagão.
Organização econômica
Devido a sua posição estratégica, a palestina era uma região de passagem. Por ela circulavam soldados, comerciantes, mensageiros, diplomatas, etc. Esta região possuía importantes centros urbanos, como Cesaréia e Jerusalém, que concentravam pessoas e atividades econômicas. Como em outras áreas do Império, nesta região existiam vias e portos, que facilitavam as comunicações e transporte de mercadorias e pessoas.
Existia, na região, uma incipiente manufatura, especializada na defumação ou salgação de peixes, construção, fiação e tecelagem, produção de artigos em couro, cerâmica, além de um artesanato de produtos de luxo, como perfumes e a extração e tratamento do betume, substância utilizada para a calafetagem dos navios. Além disso, outros ofícios se faziam presentes, principalmente nas grandes cidades, tais como os padeiros, carregadores de água, barbeiros etc.
O comércio, tanto interno quanto externo, também era praticado. O comércio interno, pouco conhecido, consistia-se nas trocas locais e, sobretudo, visava o abastecimento das grandes cidades. Quanto ao externo, importava-se produtos de luxo, consumidos pelas elites e pelo Templo. Por outro lado, exportavam-se alimentos - frutas, óleo, vinho, peixes - e manufaturas, como perfumes, além do betume.
A principal atividade econômica da região, contudo, era a agricultura. Plantava-se trigo, cevada, figo, azeitonas, uvas, tâmaras, romãs, maçãs, nozes, lentilhas, ervilhas, alface, chicória, agrião etc. Além da plantação de alimentos, eram encontrados cultivos especiais, voltados para a produção de manufaturas, como rosas, para a produção de essências para os perfumes.
As atividades de pesca, pecuária e extrativismo também não podem ser esquecidas, devido a sua grande importância econômica. Banhada pelo Mediterrâneo, cortada por rios e possuindo lagos, não é difícil constatar a variedade de peixes e seu papel para o abastecimento interno e até exportação. Quanto a pecuária, a região possuía rebanhos de ovelhas, cordeiros e bois. No campo da extração, além do já mencionado betume, há que ressaltar a variedade de árvores, como o salgueiro, loureiro, pinheiros, das quais se extraía madeira, temperos e essências; certos animais, como pombas; e alimentos, como o mel.
Organização Social
A sociedade palestinense pode ser dividida em quatro grandes grupos socioeconômicos: os ricos, grandes proprietários, comerciantes ou elementos provenientes do alto clero; os grupos médios, sacerdotes, pequenos e médios proprietários rurais ou comerciantes; os pobres, trabalhadores em geral, seja no campo ou nas cidades; e os miseráveis, mendigos, escravos ou excluídos sociais, como ladrões.
Contudo, as diferenças sociais na palestina não se pautavam somente na riqueza ou pobreza do indivíduo, mas em diversos outros critérios, como sexo, função religiosa, conhecimento, pureza étnica, etc. Ou seja, uma mulher, ainda que proveniente de uma família rica, estava numa situação social inferior a de um levita; um samaritano, apesar de ser descendente dos israelitas, devido à miscigenação, era considerado impuro e, socialmente, inferior a uma mulher judia, para citar só dois exemplos.
Instituições religiosas
O Templo foi, até 70 dC, o mais importante centro religioso judaico. Destruído duas vezes, estava sendo reconstruído neste período. As mulheres e os não circuncidados não podiam entrar no interior do Templo. Neste edifício eram realizados os sacrifícios; o sinédrio se reunia; eram armazenadas as riquezas e impostos dirigidos ao Templo, bem como os objetos de culto. Ou seja, o Templo era muito mais do que um local de culto. Sobretudo, era o centro de toda a vida religiosa, econômica e política judaica. Suas atividades e organização revelam os valores e as divisões desta sociedade, onde os sacerdotes e conhecedores da Lei possuem privilégios, só os homens circuncidados são levados em conta e mulheres e gentios são colocados à margem.
Organizando a vida religiosa e os cultos no templo existiam um amplo clero chefiado pelo sumo-sacerdote, que provinham das famílias mais ricas judaicas da palestina. Os sacerdotes, tanto sob o governo dos herodianos quanto dos procuradores, eram escolhidos e destituídos pelos governadores civis. Logo, este posto possuía um marcado caráter político.
O sumo-sacerdote era auxiliado por diversos funcionários, todos provenientes das famílias mais importantes: o comandante do Templo; os chefes das 24 equipes semanais, os sete vigilantes, três tesoureiros.
Além do sacerdote supremo, existiam cerca de 7 mil outros sacerdotes divididos em 24 equipes que se revezavam nos serviços do Templo. Em média, cada sacerdote atuava cinco vezes por ano. Recebiam salário, que provinha dos sacrifícios e do dízimo. A função sacerdotal era hereditária. Ao lado dos sacerdotes, haviam 10 mil levitas, também organizados e 24 equipes. Atuavam como músicos ou porteiros, também cinco vezes ao ano. Não recebiam salários.
As sinagogas também eram centros religiosos, já que nelas se cultuava a Deus e era estudada a Lei, tal como ocorre ainda hoje. Nelas, qualquer judeu poderia ler e fazer comentários à Lei, o que não ocorria na prática, função que acabava controlada pelos especialistas nas escrituras, os escribas e rabis farisaicos.
As festas religiosas também possuíam um papel destacado na vida judaica. Nestas ocasiões o povo se reunia em Jerusalém e celebrava a intervenção divina em sua História. Mais do que um momento de comemoração, tais datas serviam para perpetuar a memória e as tradições do povo. Três festas eram consideradas mais importantes: a Páscoa, que recordava a libertação da escravidão no Egito; Pentecostes que ocorria na época da colheita e recordava a Aliança do Sinai; Tendas, que festeja o próprio Templo.
Outras práticas religiosas judaicas comuns no século I dC eram a circuncisão, a guarda do Sábado, a oração cotidiana, realizada pela manhã e à tarde. Contudo, apesar de uma aparente unidade, o Judaísmo estava subdividido em uma série de facções político-religiosas, que apresentaremos no próximo item.
O Judaísmo no século I
Muitas pessoas pensam no judaísmo do século I dC como um bloco monolítico, uma religião solidamente unificada que o cristianismo dividiu, formando uma religião nova. Entretanto, haviam muitos subgrupos diferentes dentro de judaísmo antigo e o movimento de Jesus era, à princípio, só um deles. Assim, a separação do cristianismo do judaísmo não foi súbita, mas aconteceu gradualmente.
O Judaísmo no tempo de Jesus parecia muito com as divisões internas do cristianismo de hoje. Todos os judeus tinham certas crenças comuns e praticaram alguns aspectos da religião: eram monoteístas, praticavam a lei de Moisés, circuncidavam-se, etc. Porém, os diferentes grupos judeus debatiam e discordavam entre si sobre muitos detalhes, tais como as expectativas sobre o Messias, os rituais e as leis de pureza, sobre como viver sob a dominação estrangeira.
Para entendermos o Novo Testamento mais completamente, especialmente como a vida de Jesus é apresentada nos Evangelhos, nós precisamos conhecer a variedade dos grupos judeus que existiram no primeiro século.
Josefo, historiador judeu do primeiro-século, descreve três grupos principais com suas filosofias ou modos de vida: os fariseus , Saduceus, e Essênios. Ele também menciona vários outros grupos políticos e revolucionários judeus ativos no primeiro século d.C., especialmente durante a primeira Guerra contra Roma (66-70 d. C.). O Novo Testamento menciona os Fariseus e Saduceus, além de vários outros grupos identificáveis a partir da pequenas menções. São estas informações que nos permitem reconstruir tais partidos político-religiosos. A seguir, vamos apresentar os principais grupos e suas características:
SADUCEUS !
Pedro anunciava a Ressurreição de Cristo ...
Um dos três principais partidos religiosos ativos do período pré-cristão e no tempo de Cristo, chamava-se Os Saduceus. (Os outros dois eram os Fariseus e os Essênios). Formavam mais um partido religioso do que político. A origem deste nome é um tanto duvidosa. Uns pensam que tem a sua origem num termo hebreu de raiz aramaica, que significa "o justo", "o reto". Outros pensam que tem a sua origem no nome de Sadoc que foi Sacerdote no tempo de David e de Salomão e os seus descendentes continuaram a exercer funções no serviço do templo de Jerusalém :
- Sadoc, filho de Aquitob, e Aquimelec, filho de Abiatar, eram sacerdotes... (2 Sam. 8/17). (cf. 15/24; 1 Reis 1/32).
Este partido apareceu no século II a.C. e os seus membros tornaram-se "cooperadores" durante a ocupação romana da Palestina, pelo que se tornaram um partido com uma posição de relevo no Sinédrio.
No conflito com o judaísmo eles aparecem sempre em lugar de proeminência, como antagonistas de Cristo e perseguidores dos Apóstolos e dos cristãos de Jerusalém :
- Estando Eles (Pedro e João) a falar ao povo, surgiram os sacerdotes, o comandante do Templo e os saduceus, irritados por os ver a ensinar o povo e a anunciar, na Pessoa de Jesus, a ressurreição dos mortos. (Act.4/1-2).
O que se sabe a respeito deles é o que consta dos escritos do seu tempo, especialmente Flávio Josefo, do Novo Testamento e de alguns escritos rabínicos. Os Saduceus só admitiam como sagrados os Livros do Pentateuco. Ora a doutrina da ressurreição dos corpos foi revelada nos Livros posteriores do Novo Testamento. Jesus, por isso, no seu único encontro com os Saduceus narrado nos Evangelhos, quando foi interrogado sobre a lei do levirato, sobre qual dos sete maridos da mesma mulher, que casaram e morreram, seria na vida eterna o marido verdadeiro, (cf. Mt. 22/23), respondeu, citando o Livro do Êxodo, porque eles admitiam este Livro da Escritura :
- "Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob". (Êx.3/6 e Mt.22/32).
Esta intervenção dos Saduceus era uma armadilha, para fazer crer que a doutrina da ressurreição era ridícula. Portanto os Saduceus, pertenciam à aristocracia sacerdotal mas negavam a ressurreição. Os do partido oposto ao seu, os Fariseus, eram mais populares e progressistas na doutrina, e admitiam-na, como o declara S. Lucas nos Atos dos Apóstolos :
- Porque os Saduceus negam a ressurreição, assim como a existência dos anjos e dos espíritos, enquanto os Fariseus ensinam publicamente o contrário. (Act.23/8).
Tanto os Saduceus como os Fariseus, foram denunciados por João Baptista que, na sua pregação, lhes disse : - "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para vir..."(Mt. 3/7).
E Jesus avisou os discípulos para que se acautelassem deles : - "Abri os olhos e acautelai-vos do fermento dos Fariseus e dos Saduceus!" (Mt. 16/6).
Como grupo, os Saduceus desapareceram com a destruição do Templo de Jerusalém e do sacerdócio no ano 70. O judaísmo, que sobreviveu ao desastre, era rabínico e farisaico. Os Saduceus negavam a Ressurreição... Mas os Fariseus tinham opinião contrária. Além dos Fariseus e dos Saduceus havia ainda mais outros grupos, como Samaritanos, Zelotas, Escribas e Essênios.
FARISEUS
Com este nome indica-se a seita mais importante que houve no judaísmo do Segundo Templo. Sua origem é incerta; parece que derivaram dos "hassidim", dos "pios" do templo dos macabeus e que formaram sua congregação paulatinamente, apoiando sua fé, sua crença e seu culto sobre a Lei Escrita e a Lei Oral, que os saduceus não aceitavam. Não parece exato que sua formação remonte ao ano 175 (A.C.), quando houve uma cisão no Sanedrin. Suas doutrinas têm uma origem muito remota. Seus adeptos pertenceram ao povo, ao contrário dos saduceus que pertenciam à aristocracia. Por haverem saído dos fariseus todos os grandes doutores dos últimos séculos antes de Cristo e primeiro depois de Cristo, doutores que criaram a Mishná e, mais tarde, o Talmude, a seita dos fariseus foi a mais importante no judaísmo. Politicamente foram favoráveis a qualquer forma de governo que não opusesse obstáculos ao seu culto. Suas doutrinas são praticamente as que chegaram até nós através da Mishná e do Talmude.
Os fariseus foram os continuadores da seita dos "hassidim" ou piedosos, formada pelos mais renomados doutores do Talmude: Johanan ben Zacai, Rabi Aquiba, Simão ben Yohay, Gamaliel, Hilel, Ben Azay, inclusive Saulo de Tarso que mais tarde trocou de nome para Paulo. Eram homens que cumpriam zelosamente não só as leis escritas, mas também os costumes conservados oralmente. Distinguiram-se por sua conduta moral e sua moderação na vida. Deixaram dispersos aqui e ali, no Talmude, numerosas máximas e sentenças dignas da meditação de todo homem culto, sincero e imparcial. Citaremos algumas delas:
"A verdade é o selo de Deus" - "Mais que toda ação religiosa, Deus quer um coração puro" - "Toda oração deve ser precedida por um ato de caridade" - "Aquele que comete uma falta em segredo, nega a onipotência de Deus" - "Se Deus reserva a recompensa das boas ações para o mundo futuro é com o fim de que os homens ajam neste mundo por convicção e não por interesse" - "Sêde dos discípulos de Arão, amai a paz e sacrificai tudo para mantê-la" - "Não julgues teu próximo até que te encontres no lugar dele" - "Julgai todo mundo com indulgência" - "Não envergonhai o próximo em público, porque isso poderia custar-lhe a vida e seríeis um criminoso" - "Mais vale estar entre os perseguidos que entre os perseguidores" - "Não te metas em nenhum assunto do qual possa resultar condenado à morte ainda que culpado" - "Ditoso o homem que sai deste mundo, limpo e sem pecado, como entrou"
Esta e outras centenas de máximas que o farisaísmo nos legou falam eloqüentemente da pureza de sua moral e de sua conduta e estabelecem irrefutavelmente que o sentido depreciativo que se lhe atribui não é outra coisa senão obra de quem estava interessado em caluniá-lo.
Os principais pontos da Doutrina dos Fariseus:
1- A imortalidade da alma;
2- A ressurreição corporal no fim dos tempos;
3- A existência de anjos e espíritos;
4- A intervenção de Deus no destino do homem, porém, sem privar a liberdade humana de sua própria atividade.
As preocupações principais dos Fariseus:
1- Pagar o dízimo (dez por cento) dos frutos da terra e em não consumir nada sem ter a certeza de que o dízimo havia sido pago;
2- Manterem-se "puros" - evitando contato com coisas mortas ou com pessoas afetadas por certas enfermidades (Ex.: Lepra) e não mantendo relações com pessoas de má conduta.
Os Fariseus (os separados) constituíam a facção formada em sua grande maioria por leigos devotos que, sob a direção dos letrados, se propunham levar as práticas religiosas até às últimas minúcias da vida. No tempo de Jesus eram uns 6 mil. Buscavam constantemente e com todas as suas forças a maneira de realizar o ideal proposto pelos letrados: levar vida em tudo conforme a Lei, com toda a complexidade que a interpretação dos letrados havia conferido a esta durante séculos de trabalho. Cumpri-la minuciosamente era o princípio e o fim de todos os seus esforços. Consideravam a Lei ou Tora como instrução divina que ensina ao homem como ele tem que viver; nesta suposição, só restava ao fiel estudar a Lei e pô-la em prática em todos os setores de sua existência. O ideal que os Fariseus se propunham realizar era conseguir que cada pormenor da vida, pública ou privada, estivesse regulamento por disposição ou estatuto divino, encontrado na Lei.
Para o Fariseu, entregue à observância de uma Lei em que vê plasmada a vontade de Deus, todo o mandamento é igualmente importante, pois cada um expressa a mesma vontade de Deus, todo mandamento é igualmente importante, pois cada em expressa a mesma vontade suprema. A obsessão farisaica por alcançar a perfeição pressupunha a responsabilidade individual, não só coletiva. Segundo eles, o homem é bom ou mau simplesmente porque quer; a perfeição lhe é possível, pois a observância total da Lei está a seu alcance. A conseqüência desta doutrina foi assinalar a separação entre "justos" e "pecadores": "justo" é o observante da Lei, porque se propôs a sê-lo e cumpre; "pecador" é o que não a observa, segundo eles por decisão própria. O mero estudo ou ignorância da Lei estabelecia uma linha divisória, pois não se podia aspirar à perfeição sem o conhecimento minucioso das normas, o que explica o desprezo que os Fariseus sentiam pelo povo comum, que não tinha possibilidade de dedicar-se ao estudo da Lei nem tempo para estar preso à observância de tantos preceitos (Jo 7,49).
Pensavam que tocar tais coisas ou relacionar-se com tais pessoas os punha mal com Deus. Pecado era, para eles, não cumprir certas regras ou normas que consideravam obrigatórias. Não confiavam nos comerciantes ordinários, que possivelmente não teriam pagado o dízimo dos produtos, e organizavam cooperativas somente para eles. Os comerciantes simples sentiam-se desprezados e, além disso, não faziam negócios: isto criava a hostilidade conseqüente.
Os Fariseus gozavam de enorme ascendência sobre o povo. Embora por sua soberba (Lc 16,15) fossem olhados com grande antipatia, o povo se deixava impressionar pela aparência de virtude que eles procuravam aparentar para manter vivo seu prestígio e sua influência. Haviam levado o povo a acreditar que, para estar bem com Deus, todos deviam fazer como eles. Dada a impossibilidade prática para a maioria de cumprimento tão minucioso, criavam por isso nos outros o sentimento de culpa e de inferioridade que lhes permitia dominá-los. Sua fidelidade às regras os levava ao desprezo dos outros (Lc 18,9), que chamavam "pecadores", ou seja, "descrentes" ou "sem religião" (Mt 9,10-11) e (Lc 15,1-2) ou "malditos"(Jo 7,49). A obsessão pela observância da Lei os concentrava em si mesmos e em seu esforço por observá-la. A consciência deste esforço criava o orgulho e a auto-satisfação, que se traduziam na idéia de mérito. Não tratavam dos assuntos políticos de ponto de vista secular, mas religioso. Estritamente falando, não constituíam partidos religiosos: a observância rigorosa da Lei. Contando que esta não fosse impedida, aceitavam qualquer tipo de governo. Unicamente quando o poder político interferia em seu modo de observar a Lei, é que se uniam para formar frente comum contra ele.
Em contraposição aos materialistas Saduceus (outro povo que falarei como outro assunto), os Fariseus eram espiritualistas não comprometidos com o homem nem com sua situação histórica. O empreendimento farisaico de perfeição termina em falência, cuja raiz é a impossibilidade física da observância total. Não é estranho que a hipocrisia espreitasse o Fariseu; bastava relaxar a tensão, afrouxar a vigilância, para trair o ideal. Não faltavam entre os Fariseus pessoas sinceras que advertissem contra o perigo da hipocrisia, mas não tiveram grande repercussão. A influência dos Fariseus era tão grande, que o partido saduceu (sumos sacerdotes e senadores), embora nominalmente possuísse o poder político e religioso, não tomava medida alguma sem garantir para si o apoio dos letrados Fariseus.
ZELOTES !
Nos tempos do Novo Testamento, os Zelotas era uma seita judia que representava o extremo do fanatismo nacional. O nome vem do tempo em que os Macabeus desde o lº e 2º século a.C. até à queda da fortaleza de Masada na primavera de 73 foram impelidos por um fanatismo nacional.
Considerando-se a si mesmos os enviados de Deus para libertarem a sua nação da opressão exterior, sob o lema de "Não o governador mas a Lei", "Não o rei mas Deus", tornaram-se cada vez mais violentos na resistência contra as forças ocupantes de Roma e do seu povo que simpatizava com o Helenismo.
A sua crença no messianismo do Antigo Testamento estava inteiramente limitada à recuperação da independência judaica ; eles acreditavam no culto só a Javé e estavam convencidos de que a aceitação de um domínio governamental exterior e o pagamento dos impostos a um governador de fora do país, era uma blasfêmia contra Javé.
Seguindo o exemplo da resistência dos Macabeus contra os esforços do rei Selêucida, Antíoco IV Epífanes, para obrigar que os Gregos e os Judeus fossem um só povo, Judas, o Galileu de Gamala, chefiou uma revolta considerável de protesto contra a introdução do censo Romano na incorporação da Judéia no ano 6. Teudas chefiou uma outra rebelião em 42. Portanto, o movimento desta seita ou partido teve origem numa revolta contra o recenseamento levado a efeito no tempo de Quirino para fins de pagamento de impostos. Esta seita era uma minoria e era olhada pelos outros judeus pelo menos com forte antipatia.
As suas tácticas eram como o moderno terrorismo político; prendiam e matavam com certa freqüência, atacando simultaneamente estrangeiros e judeus de que eles suspeitavam e a quem chamavam "os colaboradores". Levaram a sua arte de assassinar até a um ponto de destreza que os Romanos lhes chamavam os sicarii ("assassinos"), pela sua prática de esconder um punhal debaixo das suas roupas para um uso disfarçado no meio das multidões. O seu maior trabalho organizado antes de rebentar a guerra dos judeus foi uma assalto de represália na Samaria contra os peregrinos, no reinado de Ventidius Cumanus (48-52). O seu fanatismo e as suas tácticas estão ilustradas na vida de S. Paulo, ameaçada de assassínio por um grupo de homens :
- "Juramos, sob pena de anátema, não comer nada enquanto não matarmos Paulo. Agora, de acordo com o Sinédrio, ide solicitar ao tribuno que o mande comparecer diante de vós, sob o pretexto de examinardes o seu caso mais profundamente. E nós estamos prontos a suprimi-lo durante o trajeto ". (Act.23/14-15).
Um dos discípulos de Jesus, Simão, era chamado Zelote - "Zeloso", porque, provavelmente teria antes pertencido à seita :
- Tiago, filho de Alfeu, e Simão, o Zeloso. (Lc.6/15).
Mas houve outros incidentes que mostram as afetividades da seita ou partido dos Zelotas.
Assim :
* S. Lucas faz referência a alguns galileus cujo sangue Pilatos havia misturado com o dos sacrifícios que eles ofereciam. (cf.Lc.13/1 -2).
* Talvez Barrabás que foi solto em vez de Jesus, fosse um chefe dos Zelotas, porque segundo o messianismo, um devia sofrer por todos, em ordem à libertação nacional.
* Igualmente um dos condenados na cruz, dizia : Não és tu o Cristo? Salva-Te a Ti mesmo e a nós.
Idéia de libertação.
* Talvez Judas Iscariotes fosse um chefe Zelote, impaciente pela liberdade e a independência nacional, pelo que entregou o Mestre, e que, frustrado, se suicidou.
* Eles foram responsáveis pela rebelião contra Roma no ano 66 e obrigaram os moderados a aceitar a rebelião mesmo contra a sua vontade: e nos anos seguintes controlaram obstinadamente Jerusalém pela supressão ou assassínio dos que se opusessem às suas tácticas.
* Mantiveram grupos de resistência no país até à queda de Jerusalém, e o seu movimento sobreviveu suficientemente até ao ponto de levantar nova rebelião em 132-135, no governo de Adrião.
A conexão entre os Zelotas e a seita de Qumran foi procurada por alguns estudiosos, mas nada ficou assente..
Recentemente F. W. Farmer examinou de novo o assunto dos Zelotas.
A fonte de informação principal para o assunto dos Zelotas é Flávio Josefo, que foi extremamente contra eles, alcunhando-os de assassinos e salteadores.
F. W. Farmer sugere que Josefo ofuscou a sua reputação indevidamente e propõe que os Zelotas eram os sucessores espirituais dos Macabeus, preservando as mesmas idéias de independência e de religião, e empregando tácticas que, na hipótese de Josefo, dão uma impressão prejudicial, mas não diferem substancialmente das tácticas dos Macabeus, a não ser no seu falhanço.
ESCRIBAS !
Na Mesopotâmia e no Egito, logo que apareceu a escrita, e depois em Israel, um Escriba profissional, era a pessoa que sabia ler e escrever bem e ocupava, por isso, um lugar destacável na sociedade.
Como só ele tinha acesso a qualquer documento escrito, ele era uma pessoa muito útil no governo e, de modo geral, para toda a comunidade.
Durante o tempo do Antigo Testamento, no período da monarquia o termo Escriba (da palavra hebraica sofer) designava os oficiais mais importantes da corte real.
Alguns escolares pensam que David e Salomão usaram os Escribas não só para fazerem os documentos anuais, como também para arquivarem as crenças e tradições religiosas de Israel, quer viessem através de escritos ou de fontes orais. Foi talvez assim que se começaram a fazer os primeiros escritos do Antigo Testamento. Também se aplicou a designação de Escriba a certa profissão de copiar as Escrituras.
Na última parte do período do Antigo Testamento, o termo Escriba designava um doutor da lei, versado nas Escrituras.
Quando os Magos chegaram a Jerusalém e foram falar com Herodes a respeito do rei que tinha nascido, ele foi consultar os doutores da lei para saber o que é que estava escrito :
- E reunindo todos os príncipes dos sacerdotes e Escribas do povo, perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. (Mt.2/4).
No Novo Testamento, os Escribas eram os doutores da lei, porque eram só os que sabiam ler e interpretar as leis e as Escrituras, e foi-lhes dado o título de "Rabbi".
Embora os Escribas como tais, não fossem automaticamente membros de qualquer partido, isto é, Fariseus ou Saduceus, todavia a maior parte deles pertencia ao grupo dos Fariseus. Os Escribas, como grupo, opunham-se a Jesus, todavia apareceram alguns de entre eles, abertos ao ensino de Jesus :
- Saiu-Lhe ao encontro um Escriba que lhe disse: "Mestre, seguir-Te-ei para onde quer que fores»... (Mt.8/20).
- Aproximou-se d'Ele um Escriba que os tinha ouvido discutir.(...) Qual é o primeiro dos Mandamentos?»(Mc.12/28)
- Tomando, então a palavra, alguns Escribas disseram : "Mestre bem".. (Lc.20/39).
- Estabeleceu-se enorme gritaria e alguns Escribas do partido dos Fariseus ergueram-se... (Act.23/9).
Algumas vezes se disse que os Escribas gostavam de Jesus por rejeitarem os Saduceus.
Mas eles, como homens, não aceitavam bem os ensinamentos de Jesus.
No tempo de Jesus, os Escribas faziam cópias do Torah para as sinagogas em pergaminhos, escritos com tinta por meio de caniços rachados é não penas, o que só se verificou muito mais tarde a partir do século IV. Os pergaminhos eram feitos com peles de bodes e cabras ou de qualquer animal não manchado. Cada pergaminho era para um Livro do Tora. (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio. O Novo Testamento faz muitas referências aos Escribas.
- "Tomai cuidado com os Escribas, que gostam de exibir longas vestes. (Mc.12/38).
- os Príncipes dos Sacerdotes e os Escribas procuravam maneira de se apoderarem de Jesus. (Mc.14/1).
- Os Escribas e os Fariseus começaram a murmurar, dizendo : «Quem é este que profere blasfêmias?»(Lc.5/21).
ESSÊNIOS !
Uma das seitas importantes no período do segundo Templo era a dos essênios. A origem do nome não é muito segura. Há quem o ligue a raízes gregas, aramaicas ou hebraicas, mas na realidade seu significado é obscuro. Pelo que se sabe de suas características, o significado mais apropriado seria o de "puros" ou "pios".
O essenismo constituiu, nos séculos que vão desde o ano 150 (A.C) ao 70 (D.C.), uma comunidade religiosa judaica que tinha algumas características essenciais que afastavam-na do Templo de Jerusalém. As fontes que temos encontram-se em Filon e Flávio Josefo. Parece que os essênios viviam, de preferência, nas planícies e que uma de suas principais sedes estava instalada no oásis de En-guedi sobre o Mar Morto. Constituíam sobretudo uma ordem monástica; não se casavam e sua comunidade perpetuava-se somente com a associação de novos membros. Não procuravam lucros pessoais, todos trabalhavam pelos congregados, com os quais viviam em comum. Para ingressar na confraria deviam passar por diversas fases de noviciado; por sua sinceridade consideravam reprovável o juramento; seguiam rigorosas regras de pureza tomando banhos freqüentíssimos e usavam trajes brancos.
De sua teologia e de suas doutrinas se conhece muito pouco. Não se sabe se tiveram outros livros sagrados além do Pentateuco. Parece que a idéia que eles tinham sobre a imortalidade limitava-se a considerar que a alma veio do céu e a ele volta depois da morte do corpo, se o mereceu. Presume-se que atribuíam muita importância à magia e à arte de prever o futuro. Consideravam um dever mostrar-se fiéis à autoridade nacional constituída, mas não à estrangeira. Com efeito, no ano de 66 uniram-se aos zelotas na revolta contra Roma. Tinham algumas particularidades que os afastavam do Templo de Jerusalém; a abstenção do matrimônio, a abstenção dos sacrifícios ensangüentados e o rito da prece olhando o sol. Estes elementos são, na realidade, estranhos ao judaísmo e parecem haver chegado ao essenismo por via sincrética, aproveitados de tantas religiões que corriam pelo Oriente. Não se pode determinar com exatidão se neste sincretismo intervieram a órfica, o helenismo em geral, o budismo ou o paganismo sírio-palestinense.
Parece muito provável que o essenismo contribuiu não só para o advento do cristianismo mas também para a sua difusão. Na realidade, as distintas seitas judeu-cristãs apresentam muitas afinidades com o essenismo. O sábio e escritor romano Plínio o Ancião (23-79) descreveu os Essênios como uma "Raça solitária" que foi "singular entre todas as outras do mundo inteiro".
Eles eram na verdade muito especiais porque viviam em regime monástico - fenômeno até então desconhecido dos Judeus (e raramente visto em qualquer parte fora da Índia). Era uma raça semelhante à dos Fariseus, mas muito mais radical; eles eram os mais místicos, os mais rigorosos e os mais reservados de todas as seitas judaicas antigas. Embora este grupo ou raça nunca seja nomeado no Novo Testamento, os escolares têm-nos identificado, pelas suas práticas e pelas suas crenças, com um certo paralelismo com a primitiva Cristandade. Este nome Essênios, pode significar piedosos (ou possivelmente os curandeiros ou médicos). Depois da guerra da independência judaica de 167-165 a.C., os Essênios formaram a sua própria seita, porque não estavam de acordo com certas práticas e políticas dos Fariseus. Chefiados por um "Professor de retidão" - que os historiadores nunca conseguiram identificar - eles fundaram um certo número de comunidades monásticas, do gênero da do mosteiro de Qumran, no deserto do lado poente do Mar Morto.
Ao tempo de Cristo, os Essênios deviam ser cerca de 4.000, espalhados por toda a Palestina em enclaves comunitários e em piedade ascética. Embora alguns Essênios se casassem para terem descendência, a seita era especialmente uma irmandade de homens celibatários. A sua irmandade concentrava-se no desejo e na prática de se purificarem porque eles acreditavam que a vinda do Reino de Deus estava iminente. Eles eram implacáveis nos seus mosteiros. O seu dia começava com o nascer do sol e não diziam uma palavra senão depois das suas orações matinais. Depois ocupavam o seu tempo com os seus trabalhos do campo, nos fornos de cerâmicas, nos teares, ou a copiar os textos secretos nas suas salas de estudo. Cuidadosos estudos dos livros, especialmente das Escrituras, era a sua principal atividades, pelo que a sua vida se concentrava na interpretação da Lei de Moisés.
Tal como muitos cristãos primitivos, eles procuravam a interpretação dos livros proféticos, sobretudo os que tratavam de um futuro imediato. A perspectiva dos Essênios sobre a história como predestinada por Deus, vem através de um dos rolos do Mar Morto : «Seguramente, todos os tempos estabelecidos por Deus, virão na devida altura, tal como Ele os planeou na Sua inescrutável sabedoria».
Os Essênios eram peritos em ervas medicinais e nos poderes ocultos das pedras preciosas, uma ciência que eles diziam que tinham aprendido em livros antigos. A sua túnica branca significava que eles acreditavam que eram os verdadeiros sacerdotes de Israel, os verdadeiros "fiéis restantes" mencionados nas primitivas profecias, que haviam de sobreviver como as testemunhas do amanhecer de uma nova era. No seu contexto cósmico eles consideravam-se como os "Filhos da Luz" numa guerra contra os "Filhos das trevas" chefiados por Satã. A sua vida no mosteiro era limitada ao mínimo, numa propriedade comum, com banhos rituais, uma alimentação frugal ao meio dia e ao fim do dia. Havia um conselho de 3 sacerdotes que presidiam a 3 famílias sacerdotais, e 12 leigos que representavam as 12 tribos de Israel, governadas pela comunidade sob regras rigorosas, particularmente no Sábado.
Quando os Essênios descansavam ao sábado, depois de uma semana de trabalho, comiam alimentos frios, preparados de antemão ou abstinham-se simplesmente, para não profanarem o dia santo de Deus. A partilha do pão era considerada com um ato santo, tal como para os primeiros cristãos, uma espécie de Eucaristia. E havia outras instituições similares. O trabalho do responsável era como o dos primitivos bispos da Igreja cristã.
Tal como os primeiros cristãos, eles rejeitavam o sacrifício de animais e, como eles, falavam da sua doutrina como um "Caminho". Os novos membros da comunidade eram sujeitos a determinadas provas em três etapas e depois eram iniciados num juramento de piedade para com Deus, honestidade para com os irmãos da comunidade e sigilo a respeito dos ensinamentos da comunidade, como por exemplo a doutrina esotérica sobre o nome dos anjos. Os iniciados eram banhados em água corrente com um ritual semelhante ao de João Baptista quando bateava no Jordão. Alguns escolares têm feito especulações, dizendo que João Baptista viveu numa comunidade de Essênios durante um certo período da sua vida. Acrescentam que ele também viveu uma vida ascética, nunca casou e pregava o arrependimento e a preparação para o Reino de Deus que já estava próximo.
A comunidade dos Essênios desapareceu cerca do ano 70, quando os exércitos romanos venceram os judeus insurrectos de que eles faziam parte. Muitas centenas dos documentos da piedosa seita dos Essênios permaneceram escondidos num grupo de grutas perto de Qumran, onde estiveram ocultos por mais de 2.000 anos. Um dia, em 1947, um pastor árabe, quando procurava um carneiro que se tinha perdido, ao atirar uma pedra para uma cova, sentiu que ela batia em peças de cerâmica ou olaria. Foi assim que se descobriram os primeiros Rolos do Mar Morto.
SADUCEUS
Também para esta seita ou partido é difícil determinar a origem. Sabemos que existiu nos últimos dois séculos do Segundo Templo, em completa discórdia com os fariseus. O nome parece proceder de Sadoc, hierarca da família sacerdotal dos filhos de Sadoc, que segundo o programa ideal da constituição de Ezequiel devia ser a única família a exercer o sacerdócio na nova Judéia. De modo que, dizer saduceus era como dizer "pertencentes ao partido da estirpe sacerdotal dominante". Diferiam dos fariseus por não aceitarem a tradição oral. Na realidade, parece que a controvérsia entre eles foi uma continuação dessa hostilidade que havia começado no templo dos macabeus, entre os helenizantes e os ortodoxos. Com efeito, os saduceus, pertencendo à classe dominadora, tendo a miúdo contato com ambientes helenizados, estavam inclinados a algumas modificações ou helenizações. O conflito entre estes dois partidos foi o desastre dos últimos anos da Jerusalém judia.
Suas doutrinas são quase desconhecidas, não havendo ficado nada de seus escritos. Com muita probabilidade, ainda que rechaçando a tradição farisaica, possuíram uma doutrina relativa à interpretação e à aplicação da lei bíblica. O único que nos oferece alguns dados sobre suas doutrinas é Flávio Josefo que, por ser fariseu e por haver escrito para o público greco-romano, não é digno de muita confiança. Parece provável que as divergências entre saduceus e fariseus foram mais que dogmáticas, foram jurídicas e rituais. Com a queda de Jerusalém, a seita dos saduceus extinguiu-se. Ficaram porém suas marcas em todas as tendências anti-rabínicas dos primeiros séculos (D.C.) e da época medieval
EBIONITAS
Dissemos que reservaríamos algum espaço para a seita dos ebionim ou ebionitas, cujo desenvolvimento abrange as épocas desde o profeta Samuel, ou seja, o século IX (A.C.) até o século II (D.C.).
Foi o profeta Samuel, que viveu há 2800 anos, que procurando na união a força de seu povo, e a pedido deste, instituiu a monarquia e fez proclamar Saul, rei de Israel. Este reino era então administrado por juizes com um sistema autônomo de descentralização democrática. Foi também Samuel que formou a seita dos ebionitas ou "humildes", integrada pela "elite" intelectual da juventude de então e cujo principal objetivo era ensinar mediante a prédica, a propaganda e o exemplo. Quase todos os profetas que dali surgiram, entre os quais estavam Isaías, Oséas, Miquéias, Habacuque, Amós, etc... são astros luminosos que aclararam e honraram a seita. Os eleitos que chegavam ao último grau de instrução e de iniciação estavam encarregados de promover reuniões de propaganda para difundir seus princípios, para instruir e moralizar o povo. Saíam sempre em grupos "Lahakat Haneviím", reuniam-se em lugares altos onde executavam cantos e danças sagradas ao som de harpas, flautas e violinos. O povo aglomerava-se ao redor deles, e quando a multidão era compacta e sentia-se emocionada pela música, os mais eloqüentes dentre eles pronunciavam discursos inflamados convidando-o a afastar-se do mal, do vício, da mentira, da injustiça e da iniqüidade. Eram exortados a praticar a caridade e a justiça, a amar a verdade e a virtude, e depositar sempre confiança e esperança na Providência e a ter fé no porvir da humanidade. A palavra eloqüente desses oradores e a sua música exerciam tal poder, que os ouvintes, nos refere o historiador Gräetz, cheios de entusiasmo caíam em êxtase e sentiam-se transformados.
Estes fervorosos apologistas da profecia, acrescenta Gräetz, dirigidos por Samuel e elevados pelo espírito divino, desempenharam uma parte considerável na revolução moral que se operou naquela época. O filósofo grego Teofrasto, sucessor de Aristóteles, em seu livro "Os caracteres" nos conta as palestras que manteve com os chefes ebionitas em sua visita à Palestina e participa de suas opiniões em detalhes interessantes.
Depois da morte de Samuel, o profeta Natan e depois dele Gad e o profeta Elias, foram sucessivamente chefes supremos da Ordem. Com a morte deste último, houve dificuldade de eleição entre Isaías, Osías, Miquéias e Amós, dizendo-nos a este respeito o Talmude: "Vegadol shebeculam-Hoshea", o que quer dizer que Oséas prevaleceu sobre os outros (Talmude Pessachím, 87). Sob sua direção a seita foi reorganizada numa base completamente nova, mais espiritual e mais moral.
A prédica e a propaganda tinham outro tema. Predicavam que a religião não consiste somente em cumprir o dogmatismo e o sacrifício, mas sim em amar e obedecer a Deus; praticar a caridade e a justiça; ter piedade do desgraçado; socorrer o pobre; proteger o órfão; defender a viúva; amar o estrangeiro e que estes atos são os que agradam a Deus, tanto ou mais que qualquer outra cerimônia do culto (1,22 S.P.R. Otsar Israel; 1, 37, 2). Ensinavam que a faculdade de discernir e o conhecimento das coisas foram dadas ao homem para que possa separar o que é bom do que é mal e prejudicial, para que saiba o que lhe é necessário, o que deve desejar e odiar a fim de alcançar o que lhe foi destinado, isto é, chegar a ser perfeito e feliz. Declaravam que o homem não foi dotado de pensamento e conhecimento somente para pensar, mas sim para trabalhar, porque todo pensamento e todo conhecimento não são mais que meios, pois a ação é o fim. Proclamavam a viva voz que a vida do homem é uma longa agonia, somente suas aflições ficam, seus prazeres são efêmeros e quase sempre de conseqüências nefastas. Sustentavam que a vida não é mais que um sofrimento perpétuo: sofrimento do nascimento, sofrimento dos dias maus, sofrimento do fracasso e da irrealização dos nossos desejos e ilusões, sofrimento na velhice pela amarga decepção da vida e sofrimento final da morte. Afirmavam que não há mais que um único meio de suavizar a miséria de viver, de tornar a vida mais tolerável: a prática da virtude, e que o único consolo consiste na posse de uma consciência sem mancha e de um coração puro.
Os ebionitas tinham também seus signos de reconhecimento e suas reuniões e trabalhos iniciavam-se como em certas sociedades secretas. À pergunta: "Sois ebionita?" devia se responder: "Três principiaram, cinco me completaram e sete tornaram-me perfeito" (Mishná, Sanedrin, 1, 2). O chefe ensinava-lhes que esses números eram sagrados desde a antigüidade e que Moisés havia feito deles um uso misterioso na bênção que ordenou aos sacerdotes: Ievaréchecha Adonai Veíshmerecha, 3; Iaer Adonai Panav Elecha Vihunéca, 5; Issá Adonai Panav Elecha Veiassém Lechá Shalom 7 ("Deus te bendiga e te conserve, Deus te ilumine e te conceda Sua graça, Deus te olhe com misericórdia e te conceda a paz").
Acredita-se que os ebionitas tinham seus signos, seu santo e sua senha e que usavam um "talit" no qual estava bordado um quadrado entrelaçado com um triângulo, em cujo centro havia quatro letras: Iud, Nun, Reish, Iud, que no alfabeto latino se traduz I.N.R.I. cujo significado representava os nomes dos quatro elementos: ar, fogo, água e terra. Em cada ponta do triângulo estavam escritas estas três palavras hebraicas: Fé, Caridade e Esperança, que atualmente são chamadas Virtudes Teológicas e que era o emblema da seita, tirada do sétimo versículo do capítulo 12 do livro de Oséias: "Afirma tua Fé em Deus, pratica a Caridade, e a justiça e põe Nele tua Esperança". À entrada da reunião cada ebionita devia repetir os números misteriosos: 3, 5 e 7, quando então o Mestre respondia com estas palavras: "Filho bendito do nome sagrado: o sublime número 9 simbolizado em Emet (Verdade) é o último ideal do esforço humano, o símbolo da verdade divina; tu podes entrar e iluminar-te com as luzes celestes que claream esta assembléia de sábios".
Ao encerrar a reunião, o Mestre repetia estas frases: "Recordemos que somos ebionitas, os mais humildes e os mais modestos servidores de Deus, da verdade e da justiça; que Deus está conosco - Imanu-El".
CARAÍTAS
Quando o governo judeu já tinha deixado de existir e o judaísmo havia ficado somente nas esferas ético-religiosas, foram muitas as controvérsias havidas entre os judeus, não só sobre assuntos particulares, mas também sobre o assunto básico que foi a admissão da Lei Oral ao lado da Lei Escrita. Vimos que antes da queda do Segundo Templo já existia esta divergência entre os saduceus e os fariseus. Os caraítas seguem os saduceus e aceitam somente a Bíblia como base da vida religiosa. O caraísmo foi iniciado por Anan ben David no século VIII (D.C.) e desenvolveu-se por obra de Benjamin de Nahawend na Pérsia ocidental. Com ele, seus sectários tomam o nome de "Bené Micrá", "Filhos da Bíblia", que depois passou para "caraim", o mesmo que "biblistas".
Esta seita desenvolveu-se de tal forma que começou a constituir uma ameaça para o hebraísmo rabínico. No século X, chega-se finalmente à vitória do judaísmo rabínico, com o Gaón Saadiá. Mas o caraísmo não havia terminado. Nos séculos XI-XII propagou-se pela Espanha e no império bizantino, onde ficou até depois da conquista turca. Ao mesmo tempo difundia-se na Rússia; no século XIII é encontrado na Criméia e dali se difundiu por Wolhinia e Galizia. Houve entre os caraítas personalidades destacadas nos séculos XVI e XVIII. No século XIX o sábio Kikowtsh conseguiu demonstrar que os caraítas se encontravam na Criméia desde o século VIII. Baseado nisto foi concedida aos caraítas no ano 1863 a plenitude dos direitos cívicos. Em 1910 havia na Rússia 13.000 caraítas e fora da Rússia, no Cairo, Constantinopla, Jerusalém e Galizia, de 2.000 a 3.000.
HASSIDISMO
Desde o princípio houve duas correntes no seio do judaísmo: de um lado o formalismo ritual da Bíblia e o Talmude e do outro, a tendência ao misticismo, ao ocultismo que criou a Cabalá e o Zohar. Daí a oposição entre fariseus e essênios na época do Talmude e entre talmudistas e cabalistas na Idade Média. O formalismo ritual, tão rigorosamente praticado pelas massas do povo na Europa Oriental entre os séculos XVII e XVIII, tendia fatalmente a produzir uma reação e daí nasceu o hassidismo, isto é, o sistema de "hassid", que em hebraico significa "pio".
Foi fundado no ano de 1740 na Polônia pelo místico Israel ben Eliezer, conhecido pelo nome de Baal Shem Tov: "o senhor de boa fama". O "hassidismo", que começou por abandonar o formalismo ritual, despertou maior importância ao sentimento religioso que à prática. Proclamou a onipresença de Deus e por isso ordenou que a oração fosse feita com devoção psicológica e alegria especial, até chegar a um êxtase que permitia ao homem entrar em comunicação direta com a divindade. Tornou sua a opinião da Cabala, segundo a qual toda ação humana tem suas repercussões nas esferas do mundo divino e assim o homem pio e justo, o "Tsadik", o ser que chega a despojar-se de todo pensamento material e que vive nada mais que pelo espírito e para o espírito, pode ser suscetível de modificar o curso dos acontecimentos.
Assim como o "hassidismo" teve eminentes defensores como um Dov Beer, Levi Isaac, Josef Ha-Cohen, etc., teve também grande oposição na pessoa do Gaón de Vilna e os "masquilim", isto é, os simpatizantes da cultura moderna. Seja qual for a crítica que se haja podido fazer ao "hassidismo", este, segundo a opinião de Edmond Fleg, devolveu à alma popular o sentido profundo do divino que a casuística poderia ter lhe feito perder e deu à vida religiosa e social do judaísmo, nos dois últimos séculos, a forma de uma grande originalidade que inspirou a muitos escritores de valor
ASHQUENAZIM E SEFARADIM
Concluindo, diremos algumas palavras sobre estes dois setores que formam o total do conglomerado judeu do mundo: ashquenazim e sefaradim. Não o faremos analisando a estrutura destes dois setores como grupos irreconciliáveis, tal como fizemos com algumas seitas, das quais tratamos anteriormente. Não excluímos a possibilidade de que em futuro próximo haja um franco entendimento entre eles, que afaste todo o germe da divisão. Consideramos como muito provável, e nossa esperança marca esta direção, que ambos os setores se unam e funcionem num mesmo corpo. Nosso propósito é unicamente responder à nossa juventude, que a todo momento nos pergunta: "Que significam os termos ashquenazi e sefaradi? Quando começou a cisão? Por quê razões começou? Como poderia chegar-se a uma junção entre os dois grupos? etc... etc...". É pois, para dissipar as inquietudes de nossa juventude que tratamos deste tema:
1. - Ashquenazi: deriva do termo bíblico "ashquenaz" (Gênesis, 10.3), termo aplicado à Alemanha na Idade Média; é pois um adjetivo gentílico que se traduz por "alemão", seu plural hebraico é ashquenazim ou alemães, título dado ao setor representativo dos judeus da Alemanha, setor que na Idade Média estava representado pelos rabinos deste país.
2. - Sefaradi: deriva do termo bíblico "sefarad" (Obadia 1, 20), identificado como Espanha, o que prova que os profetas do exílio já tinham conhecimento de que um grande contingente de judeus expatriados por motivo da queda de Jerusalém havia se estabelecido na Espanha. O plural de sefaradi ou espanhol é sefaradim (espanhóis). Depois da expulsão da Espanha e Portugal, estes sefaradim dispersaram-se pela Turquia, Holanda, Itália, norte da África, etc.
Até a Idade Média, não parece ter-se feito, em parte alguma, menção de ashquenazim e sefaradim. Neste período da história o pensamento judaico viu-se dividido em dois campos: de um lado, o rabinato do sul da França e Alemanha com Rashi, os tossafistas, Rabenu Guershon, Meier de Rotenburg, etc., que se consagraram unicamente à exegese da Bíblia, da Mishná e do Talmude; de outro lado, o rabinato da Espanha que com a exegese dedicou-se a cultivar a filosofia, a poesia, a gramática, etc.
Eram como dois corpos distintos formados sob condições de vida diametralmente opostas: o primeiro vivia perseguido e sob o feudalismo que apenas o tolerava, vivia sob o terror de expulsões intermitentes que paulatinamente transplantaram esse setor do judaísmo para Prússia, Polônia, Rumania, Galizia, etc. Foi sob a influência rígida destes países que se forjou o pensamento escolástico e dogmático de suas produções e suas obras. O segundo grupo vivia na Espanha em ambientes e condições extremamente favoráveis que lhe permitiam desempenhar um papel destacado em todas as atividades culturais.
De modo que, para diferenciar os que pensavam, escreviam e trabalhavam sob a influência do primeiro setor, chamou-se-lhes ashquenazim e aos do segundo setor sefaradim. Mais tarde, tanto um como o outro nome foram aplicados a todos os judeus dos dois setores. Posteriormente estas distâncias no pensamento se ampliaram até chegar a diferenciar também algumas partes do mesmo ritual. Por esta razão formaram-se dois ritos: Minhag Ashquenaz e Minhag Sefarad, que foram definitivamente instituídos, o primeiro pelos rabinos Simhá de Vitri e Moisés Iserles e o segundo por Rabi Amram Gaón e Rabi José Caro, respectivamente
HERODIANOS
Não eram uma seita religiosa, como os saduceus, nem uma ordem social, como os fariseus, mas um partido político, apoiando a dinastia de Herodes, que reedificara o Templo. Favoreciam um império judaico independente, governado por Herodes, sob o governo romano. Eram judeus de nascimento e de crença pagã. Juntaram-se com os fariseus para que apanhassem a Jesus em uma palavra, Mt 22.16; Mc12.13. Outra vez, juntamente com os fariseus, conspiraram contra a vida de Jesus, Mc 3.6; Mc 8.15.
NICODEMOS !
A propósito da Liturgia da Palavra desta semana que nos fala de Nicodemos.
Nicodemos era um Fariseu, uma pessoa importante entre os Judeus, provavelmente um membro do Sinédrio, ou do Grande Conselho, que visitou Jesus de noite, com certo medo dos Judeus, e admitia a divindade de Jesus :
- Havia entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais entre os judeus. Foi ter com Jesus de noite e disse-Lhe : "Rabbi, sabemos que vieste, como Mestre, da parte de Deus, pois ninguém pode fazer os milagres que Tu fazes, se Deus não estiver com ele".(Jo.3/l-2). Nicodemos visitou Jesus de noite com medo dos Judeus. Foi a ele que Jesus disse :
- Quem não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus. (Jo. 1/3)
E perante as interrogações de Nicodemos, Jesus esclareceu :
- Quem não nascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no Reino de Deus. (Jo. 1/6).
Jesus teve com ele uma grande conversa que S. João conta no capítulo III do seu Evangelho. Nicodemos voltou a aparecer quando pretendeu visitar como desconhecido, Jerusalém na Festa dos Tabernáculos e a multidão queria prender Jesus, e nessa altura disse :
- Acaso condena a nossa Lei um homem sem primeiro o ouvir e saber o que ele faz? (Jo.7/51).
Por fim aparece também para a sepultura de Jesus trazendo aloés e mirra :
- Veio também Nicodemos, aquele que, anteriormente, se dirigira, de noite, a Jesus, trazendo uma composição de mirra e aloés. (Jo. 19/39).
Depois ajudou José de Arimateia a ungir o corpo de Jesus e a envolvê-lo no sudário de linho.
- Tomaram o Corpo de Jesus e envolveram-no em ligaduras juntamente com os perfumes, segundo a maneira de sepultar usada entre os judeus.(Jo.19/40).
Para além do que nós sabemos pelo Evangelho de S. João, há também uma antiga tradição segundo a qual Nicodemos teria seguido Jesus mais de perto, como bom discípulo, no fim da vida de Jesus, razão pela qual ele aparece para O ungir no túmulo. Segundo um escrito do século IV chamado O Evangelho de Nicodemos, diz-se que, quando Jesus estava a ser acusado na presença de Pilatos, por ter feito milagres no sábado, Nicodemos, de pé perante a assembléia, toma a defesa de Jesus, dizendo :
- "Ele é um homem que fez muitos importantes e gloriosos milagres, que nenhum outro homem da terra fez antes ou poderá fazer depois".
RENASCER (NASCER DE NOVO)
S. João escreveu no seu Evangelho o que Jesus disse a Nicodemos : - "Em verdade, em verdade te digo : Quem não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus". (Jo. 3/3). Então Nicodemos pediu a Jesus que lhe explicasse o sentido das Suas palavras e Jesus respondeu-lhe :
- "Em verdade, em verdade te digo : Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus ".(Jo. 3/5).
Cristo equacionou "nascer de novo" com "nascer da água e do Espírito". Este "renascimento" já tinha sido previamente mencionado no Primeiro capitulo de S. João :
- Mas a todos os que O receberam, aos que crêem n'Ele deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus; eles que não nasceram do sangue, nem da vontade carnal, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. (Jo. 1/12-13). Ser nascido de Deus, torna o cristão filho de Deus. O "renascimento" cristão operado pela graça do Espírito Santo é uma dramática e absoluta mudança do caminho da morte para o caminho da vida, do caminho da condenação para o caminho da felicidade. E isso habilita o cristão, como disse Jesus, a Entrar no Reino de Deus. Diz o Catecismo da Igreja Católica :
1262. - Os diferentes efeitos do Batismo são significados pelos elementos sensíveis do rito sacramental. O mergulho na água evoca os simbolismos da morte e da purificação, mas também do segundo nascimento e da renovação. Os dois efeitos principais são, pois, a purificação dos pecados e o novo nascimento no Espírito Santo
A propósito da Liturgia da Palavra desta semana que nos fala de Nicodemos.
Nicodemos era um Fariseu, uma pessoa importante entre os Judeus, provavelmente um membro do Sinédrio, ou do Grande Conselho, que visitou Jesus de noite, com certo medo dos Judeus, e admitia a divindade de Jesus :
- Havia entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais entre os judeus. Foi ter com Jesus de noite e disse-Lhe : "Rabbi, sabemos que vieste, como Mestre, da parte de Deus, pois ninguém pode fazer os milagres que Tu fazes, se Deus não estiver com ele".(Jo.3/l-2). Nicodemos visitou Jesus de noite com medo dos Judeus. Foi a ele que Jesus disse :
- Quem não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus. (Jo. 1/3)
E perante as interrogações de Nicodemos, Jesus esclareceu :
- Quem não nascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no Reino de Deus. (Jo. 1/6).
Jesus teve com ele uma grande conversa que S. João conta no capítulo III do seu Evangelho. Nicodemos voltou a aparecer quando pretendeu visitar como desconhecido, Jerusalém na Festa dos Tabernáculos e a multidão queria prender Jesus, e nessa altura disse :
- Acaso condena a nossa Lei um homem sem primeiro o ouvir e saber o que ele faz? (Jo.7/51).
Por fim aparece também para a sepultura de Jesus trazendo aloés e mirra :
- Veio também Nicodemos, aquele que, anteriormente, se dirigira, de noite, a Jesus, trazendo uma composição de mirra e aloés. (Jo. 19/39).
Depois ajudou José de Arimateia a ungir o corpo de Jesus e a envolvê-lo no sudário de linho.
- Tomaram o Corpo de Jesus e envolveram-no em ligaduras juntamente com os perfumes, segundo a maneira de sepultar usada entre os judeus.(Jo.19/40).
Para além do que nós sabemos pelo Evangelho de S. João, há também uma antiga tradição segundo a qual Nicodemos teria seguido Jesus mais de perto, como bom discípulo, no fim da vida de Jesus, razão pela qual ele aparece para O ungir no túmulo. Segundo um escrito do século IV chamado O Evangelho de Nicodemos, diz-se que, quando Jesus estava a ser acusado na presença de Pilatos, por ter feito milagres no sábado, Nicodemos, de pé perante a assembléia, toma a defesa de Jesus, dizendo :
- "Ele é um homem que fez muitos importantes e gloriosos milagres, que nenhum outro homem da terra fez antes ou poderá fazer depois".
RENASCER (NASCER DE NOVO)
S. João escreveu no seu Evangelho o que Jesus disse a Nicodemos : - "Em verdade, em verdade te digo : Quem não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus". (Jo. 3/3). Então Nicodemos pediu a Jesus que lhe explicasse o sentido das Suas palavras e Jesus respondeu-lhe :
- "Em verdade, em verdade te digo : Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus ".(Jo. 3/5).
Cristo equacionou "nascer de novo" com "nascer da água e do Espírito". Este "renascimento" já tinha sido previamente mencionado no Primeiro capitulo de S. João :
- Mas a todos os que O receberam, aos que crêem n'Ele deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus; eles que não nasceram do sangue, nem da vontade carnal, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. (Jo. 1/12-13). Ser nascido de Deus, torna o cristão filho de Deus. O "renascimento" cristão operado pela graça do Espírito Santo é uma dramática e absoluta mudança do caminho da morte para o caminho da vida, do caminho da condenação para o caminho da felicidade. E isso habilita o cristão, como disse Jesus, a Entrar no Reino de Deus. Diz o Catecismo da Igreja Católica :
1262. - Os diferentes efeitos do Batismo são significados pelos elementos sensíveis do rito sacramental. O mergulho na água evoca os simbolismos da morte e da purificação, mas também do segundo nascimento e da renovação. Os dois efeitos principais são, pois, a purificação dos pecados e o novo nascimento no Espírito Santo
Ela reconheceu Jesus atraves das Escrituras
Fonte: Mundo Catolico
Transmissao: Jose Augusto
ELA RECONHECEU JESUS ATRAVÉS DAS ESCRITURAS
Em síntese: Existem atualmente alguns grupos de judeus, como também não poucos indivíduos israelitas, que reconhecem Jesus como Messias. Aderem a Jesus ora mais destemidamente, ora mais timidamente. Nas páginas subseqüentes é apresentado o relato de uma senhora judia que, educada na mais estrita observância da Yiddíshkeit, se voltou para as Escrituras do Antigo Testamento e os comentários rabínicos, a fim de tentar converter ao judaísmo seu marido protestante: acabou por reconhecer em Jesus o seu Messias. Já que Jesus era judeu, aderir a Jesus não implica renunciar às tradições judaicas nem perder a identidade israelita.
Recebemos interessante relato da Sra. Sharon R. Allen que, educada na absoluta fidelidade às leis religiosas judaicas, quis estudar a Bíblia para convencer seu marido cristão de que Jesus não podia ser o Messias aguardado e, por isto, deveria converter-se ao judaísmo. Leu todo o Antigo Testamento com o máximo cuidado; leu também os melhores comentários rabínicos, consultou vários mestres do judaísmo.. e acabou convencendo se de que a figura de Jesus de Nazaré já está esboçada no Antigo Testamento, de modo que aderir a Ele lhe pareceu lógico e necessário, apesar de quantos argumentos lhe foram apresentados em contrário.
Um Apêndice ao relato da Sra. Sharon, da autoria de Sid Roth, observa que professar a messianidade de Jesus não significa renunciar a ser judeu, pois Jesus é o Salvador prometido pelas Escrituras judaicas.
0 estilo de vida judaico
Sharon R. Allen
Eu nasci em 1945 no Hospital "Beith Israel" na cidade de Nova York. Meu nome hebraico é Tura Rifka. Eu fui criada num lar que observava o judaísmo. Desde o instante em que minha mãe acendia as velas do Shabbat ao entardecer de 6ª feira até uma hora depois do pôr do sol na noite de sábado, havia certas regras e regulamentos que nós seguíamos. Eles não nos causavam constrangimento ou opressão. Era o nosso modo de mostrar nosso amor, nosso respeito e nossa devoção a DEUS.
Nós seguíamos as ordens rabínicas, tais como: não usar eletricidade nos Shabbats. Nós deixávamos uma luz acesa no corredor, que era ligada antes que o Shabbat começasse, e era deixada ao longo da noite e do próximo dia até uma hora depois do pôr do sol de sábado a noite, quando terminava o Shabbat. Nós não tínhamos permissão para trabalhar no Shabbat; isto incluía minha lição de casa, pois que nos Shabbats não é permitido escrever, cortar ou rasgar papel. Nós sabíamos que o Shabbat era especial por causa daquilo que fazíamos ou não fazíamos, e era diferente dos outros dias da semana.
Naturalmente, minha mãe mantinha uma cozinha Kosherl, onde apenas alimentos Kosher eram permitidos. Conjuntos separados de pratos e utensílios para laticínios (milchig) ou derivados de carne (fleishig) eram estritamente obrigatórios. Meu irmão e eu sabíamos, desde o tempo em que conseguimos alcançar as gavetas e prateleiras, nunca confundir os utensílios de laticínios e carnes. Conjuntos separados de pratos eram também necessários para a Páscoa. Aqueles pratos eram somente retirados do alto do armário "difícil de alcançar" uma vez por ano, para serem usados apenas na Páscoa.
Nós guardávamos todos os feriados judaicos. Meu irmão e eu freqüentávamos a escola hebraica. Nós crescemos, sabendo quem nós éramos dentro da comunidade judaica.
Mudando para Oeste
Quando jovem, eu casei me com um homem de igual origem judaica. Nós tivemos uma filha, a quem chamamos Elisa. Seu nome hebraico era Chava Leah. Quando ela tinha apenas alguns anos de idade, meu marido e eu nos divorciamos. 0 divórcio judaico que nós obtivemos, era conhecido como um "Get".
Eu trabalhava no "Centro de Roupas" na cidade de Nova York. Durante este tempo Elisa freqüentava a Escola Judaica. Lembro me daqueles primeiros anos, quando Elisa e eu devíamos esperar pelo seu ônibus escolar às 7 horas nas manhãs de inverno frias, escuras e cheias de neve. Nós nos acotovelávamos, gelando juntas no vento. Foi numa tal manhã que eu sussurrei para minha filha: "Assim não dá".
Mudar de região parecia um passo na direção certa...
Em 27 de agosto de 1974, Elisa e eu chegamos em Los Angeles, Califórnia. Quase imediatamente eu a matriculei na Yavneh Yeshiva, porque a escola começaria em setembro. Ela tinha seis anos. Nós vivíamos perto da escola no Distrito de Fairfax, a seção ortodoxa da cidade, e ficamos envolvidas com a congregação Shaari TefiIIah.
Alguns anos depois, meus pais mudaram se para Los Angeles, a fim de nos encontrar; logo depois disso nós nos mudamos para o Sul, para Orange Country. Naquela época havia um grande estouro imobiliário, e, como muitos outros, eu decidi tirar minha licença de corretora. Uma vez obtida minha licença, comecei a trabalhar num escritório cujo dono era chamado Ron Allen. Ele se tornaria meu marido.
Negócios era sua religião
Quando eu e Ron nos encontramos pela primeira vez, ele sabia que eu era judia e que tinha sido criada num lar judeu religioso. Tudo que eu sabia sobre sua origem religiosa, era que ele era um protestante. Ele nunca mencionou Jesus, o Novo Testamento ou a igreja. Se ele o tivesse feito, eu teria corrido na direção oposta. Aparentemente, ele não ia à igreja desde a adolescência. Ele tinha 42 anos. Eu tinha 32 anos. Religião era a coisa mais longínqua na mente de Ron; negócios era sua religião.
À medida que Ron veio a conhecer nossas tradições judaicas, ele aceitou as como se fossem dele mesmo e participava ardorosamente. Por causa do seu modo caloroso e agradável, meus pais o abençoaram em nossa família. Minha mãe costumava dizer sobre Ron: "Ele é tão hamisha", o que em Yiddish significa: "Ele é tão agradável".
Nós éramos ativos na Chabad e nos tornamos ligados ao rabino Mendel Duchman, a quem admirávamos e respeitávamos. Um pouco homem de letras; um pouco "showman" e um pouco homem de negócios, o rabino Duchman tinha sucesso em renovar o interesse das pessoas pelo estilo de vida judaico. Sua esposa Raquel era agradável, atenciosa e sábia. Ela era o retrato da jovem dona de casa judia conscienciosa, uma rebbetzen's rebbetzen (esposa de rabino), por assim dizer. Ron e eu entendemos logo que estávamos no lugar certo. Eu tornei me muito ativa no grupo de mulheres do Chabad.
Convertendo ao judaísmo
Alguns anos depois de Ron e eu termo nos casado, as discussões sobre sua conversão ao judaísmo tornaram se sérias. Eu sabia que nosso futuro conjugal poderia ser prejudicado, se Ron recusasse. Ter um lar judaico e criar Elisa como judia era a coisa mais importante para mim. Porque, para ser um judeu bem sucedido, você precisa de fazer a si mesmo a seguinte pergunta: "Os seus netos são judeus?" e poder responder com uma afirmativa. Quando Ron adotou legalmente Elisa logo após nosso casamento, até os papéis de adoção estipularam que Elisa seria criada corno judia. Além disso, os judeus consideram o funeral e a vida após a morte de vital importância. Como judia, eu sabia que o sepultamento num cemitério judaico era essencial. Acreditamos que, se somos sepultados num cemitério judaico, viajaremos por debaixo da terra até Eretz (terra, país ) Israel e estaremos entre os primeiros a ressuscitar. Como judeus, acreditamos que iremos ao Paraíso 1 ou seio de Abraão. Se acidentalmente vagarmos pelo "outro lugar o pai Abraão "nos trará de volta".
A importância, para mim, de ser uma judia praticante é enfatizada pela seguinte estória do Talmud (Tractate Berachot 28b) sobre Rabbi Yochanon Ben Zakkai no seu leito de morte. Os alunos do rabino ficaram chocados ao encontrarem seu mestre chorando. Ao pedirem que explicasse seu comportamento, o sábio respondeu que, se ele fosse levado perante um rei de carne e sangue, cujo castigo não fosse eterno e que pudesse ser subornado e apaziguado, ele ainda assim estaria morrendo de medo; imaginassem então como ele se deveria sentir ao encontrar se diante do Rei dos Reis, que vive para sempre, cujo castigo é eterno e que não pode ser comprado ou apaziguado! Além disso, dois caminhos estavam diante dele, o sábio explicou: um levava ao céu e o outro ao inferno; diante de tais perspectivas não deveria ele estar com medo?
Na edição de janeiro de 1989, do B'nai B'rith Messenger, pensamentos da Torá, o Rebbe Menachem M. Schneerson escreve sobre esta estória: "0 Talmude relata que, quando o grande sábio rabino Yochanon Ben Zakkai chorou diante de sua morte, ele disse: 'Há dois caminhos estendidos diante de mim: um para Gan Eden (céu) e um para Gehinon; eu não sei em qual serei conduzido'. Não é preciso dizer que o rabino Yochanon Ben Zakkai estava preocupado com seu estado espiritual; teria ele atingido um nível suficiente de santidade para entrar no céu?".
Estas preocupações eram de um homem que recebeu o crédito pela sobrevivência da Diáspora Judaica e cuja influência tem sido sentida através dos séculos. Mas ele não sabia com certeza se estava indo para o céu ou para o inferno. Causa surpresa esta estória ter me chamado a atenção? Se um tão eminente e renomado estudante da Torá como rabino Yochanon Ben Zakkai estava em dúvida quanto ao seu destino, é obrigatório fazermos o que seja necessário para garantirmos nosso destino futuro e sermos considerados dignos do Gan Eden. Uma outra consideração a respeito da conversão de Ron estava ligada com o Rabino Israeli, o qual aceita somente conversões ortodoxas. Sabíamos que somente uma conversão Kosher seria aceitável. Como parte de qualquer conversão judaica, o estudo do estilo de vida judaica, da história e da ética é vital. A Ron foi exposta a Yiddishkeit (o estilo de vida judaico) em nossa casa. Eu me alegrava com o pensamento de que ele iria estudar com Rabbi Duchman.
Antes desta conversão se realizar, eu queria deixar o Ron ciente das três cerimônias que seriam exigidas. Eu lhe expliquei que varões precisam de ser circuncidados. Era também necessário que ele fosse imerso em água num Mikvah. Isto é semelhante ao batismo e simboliza a purificação e a identificação com o povo judeu. A terceira cerimônia, embora nem sempre feita em Conversões Reformadas ou Conservadoras, deve sempre acompanhar uma Conversão Ortodoxa ou Kosher e esta é a renúncia às crenças anteriores da pessoa perante o Beit Din ou corte rabínica (conselho de rabinos).
É tão pagão
Ron concordou com todas as cerimônias, menos a última. Ele disse que simplesmente não podia renunciar a Jesus.
Eu fiquei horrorizada! Meu marido nunca tinha mencionado Jesus, não tinha ido à Igreja por mais de 30 anos, e nunca tinha usado as palavras "cristão", "Cristo" ou "Novo Testamento". Estávamos levando uma vida judaica ajudava a construir a sinagoga judaica, nossa filha estava freqüentando uma Academia Hebraica e meu marido estava me dizendo que ele não podia renunciar a Jesus! Fiquei muito aborrecida. Disse ao meu marido: Isto é loucura. Você éuma pessoa tão lógica e esperta e um empresário de sucesso. Como pode você crer em algo tão pagão? É uma fantasia. É como mitologia grega!"
Então, no meio do meu horror, tive este pensamento tranqüilizador: Simplesmente começarei a ler a Bíblia judaica e em pouco tempo serei capaz de mostrar a meu marido as Escrituras que lhe provarão que Jesus nunca poderia ter sido o cumprimento da Bíblia judaica. Eu sabia que estaria na minha Bíblia judaica tudo que Deus queria que Seu povo judaico soubesse sobre Seu Messias judaico, de maneira que nós, judeus, o reconhecêssemos quando Ele viesse.
Está Jesus na Bíblia judaica?
Eu desci as escadas para a sala e peguei minha Bíblia judaica da prateleira. Enquanto eu a abria naquele dia, fiz uma prece muito especial. Orei ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó para me mostrar a verdade e para ajudar meu marido a tornar se um judeu. Naquela manhã, quando meu marido saiu para trabalhar e minha filha para a escola, eu comecei a ler a Bíblia. Eu comecei da página um, "No começo...", e continuei a ler página após página. Quando meu marido veio do trabalho para casa e minha filha da escola, lá estava eu ainda lendo. Na manhã seguinte meu marido foi trabalhar e minha filha foi à escola, lá estava eu lendo. Quando eles voltaram novamente para casa, lá estava eu ainda lendo. Isto continuou por dias, semanas e meses.
Eu fiquei admirada com o que encontrei escrito dentro das páginas da minha Bíblia judaica, em relação ao Messias onde Ele deveria nascer, como Ele viveria sua vida, os milagres que Ele faria. A Bíblia também fala do Seu sofrimento e morte. Isto assustou me porque o que eu li soava muito parecido com o que eu ouvira dizer sobre Jesus.
Quem quer que esteja considerando se "Yeshua" (Jesus) aparece na Bíblia judaica precisa apenas de ler as muitas passagens relativas ao Malach Há Shem, o mensageiro do SENHOR. Pelo estudo cuidadoso das passagens relativas a suas manifestações e como Ele se conduziria, alguém pode deduzir que Ele não é um ser meramente criado. Ele fala como Deus e aceita a adoração que somente pode ser dada ao próprio Deus. E Ele traz em si o inefável nome de Deus, o Tetragrama, em hebraico o Yud Hay Vav Hay (Êxodo 23, 21).
Além disso, Yeshua, o nome hebraico de Jesus, significa "Salvação". Em todo lugar na Bíblia judaica e nos nossos sagrados livros judaicos de oração, sempre que a palavra "Salvação" aparece, nós estamos proferindo o nome hebraico de Jesus, Yeshua.
Em Isaías 49,6 as Escrituras falam de uma época quando o Servo sofredor se lamenta frente a Deus porque Ele tinha falhado não restaurando as doze tribos de Israel; Deus responde dizendo: "É coisa muito leve para ti ser um servo somente de Israel; Eu te darei como luz para todas as nações do mundo". Em hebraico a palavra "nações" é "goyim". Assim ou tive que fazer a mim mesma a pergunta: "Quando o Messias veio e falhou não trazendo de volta as tribos de Israel e quando Deus deu o Messias aos goyim?".
Eu fiquei sabendo que os escritores judaicos da antigüidade reconheciam que havia dois retratos do Messias apresentados nas páginas da Bíblia judaica. Eles até tinham nomes para eles: Mashiach Ben Yoseph (Messias filho de José) o Servo sofredor e Mashiach Ben David (Messias filho de Davi) o Messias que viria como herói conquistador.
Tem Deus um Filho?
Em Provérbios 30, 4 encontrei que Deus tem Filho:
"Quem subiu ao céu e de lá desceu? Quem encerrou os ventos nos seus punhos? Quem amarrou as águas do mar numa túnica? Quem esta~ beleceu todas as extremidades da terra? Qual é o seu nome? E qual é o nome de seu filho, se é que o sabes?".
Poderia o Rebbe, ser o Messias?
Quando terminei de ler todas as páginas da minha Bíblia judaica, estava confusa e assustada. 0 pensamento veio a mim: "Sharon, como você se atreve a pensar que você pode interpretar a Bíblia por si mesma, como se você soubesse tanto quanto um rabino?" Mas então eu pensava sobre as passagens que eu lera onde Deus disse aos filhos de Israel que viessem e ouvissem sua palavra por si mesmos (Deuteronômio 4, 10; 11, 18 20; 4, 29 e Jeremias 29, 13). Eu sabia que não podia parar ali. Havia muita coisa em jogo.
Como eu mesma poderia suportar a idéia de ser uma proscrita de meu povo? Quão absurdo era pensar que um homem que os gentios chamavam Jesus Cristo poderia ser o Messias para os judeus! Assim eu disse a mim mesma: "Sharon, alguma coisa deve ter te escapado".
Eu me lembrei de que os rabinos dizem: 'Você não pode entender a Bíblia sem os Comentários Judaicos". Assim eu comprei os comentários de Rashi, os comentários de Soncino e os últimos comentários judaicos chamados The Adscroli Tarach Series de Mesorah Publications. E, à medida que eu lia os comentários, mais eu queria ler. Eu também trouxe para casa os textos do Talmude Babilônico, da Enciclopédia Judaica, Midrash Rabbah, Mishneh Torah de Maimônides, Targum Onkelos, Targumim Jonathan, os Textos Messiânicos de Raphael Patai e o Guia para os Perplexos de Maimônides. Eu continuava estudando, dia após dia. Cada texto que eu estudava, eu pensava: talvez este trará a resposta, a chave para destruir o pensamento de que o Messias dos gentios era a "verdade". 0 Messias Judaico!
Tudo isto estava começando a afetar minha vida. Quando me perguntaram se eu aceitaria um papel de liderança como a próxima presidente do "Chabad Women", senti que tinha de rejeitar porque estava levando uma existência dupla.
Não se preocupar
Uma tarde Elisa veio da Academia Hebraica para casa e me disse que precisavam de mães a fim de conduzirem estudantes para visitarem uma padaria Kosher. Ela perguntou se eu poderia ser voluntária. Eu estava feliz por ajudar. Naquele dia, enquanto andava pelo distrito Fairfax, percebi que em uma vitrine da livraria Chabad havia alguns livros antimissionários em exposição. Quando ninguém estava olhando, precipiteime para a livraria e comprei cada livro anti missionário disponível.
Eu estava ficando mais e mais perturbada por minha pesquisa. Até aquele momento eu vinha estudando sozinha. Apenas minha filha sabia o que estava lendo. Mas chegou o tempo da necessidade de ajuda de fora e assim eu voltei me para o meu rabino. Eu chamei Mendel Rochel e pedi que eles viessem a minha casa. Quando eles chegaram, nós nos sentamos na biblioteca e eu mostrei a eles meus livros. Eu disse lhes que, quando eu lia minha Bíblia, eu via Jesus. Pedi a Mendel que me ajudasse. Eles cochicharam entre si. Depois eles se viraram para mim, e Mendel disse: "Não se preocupe". Ele tinha justamente o homem para mim um profissional que trabalha com pessoas como eu. Ele daria a esse profissional meu número de telefone e o homem me chamaria. Eu lhes agradeci quando saíram. Eu me senti tão grata e aliviada, porque ia ter a ajuda de que precisava e as respostas que tão desesperadamente queria.
Duas noites mais tarde, recebi um telefonema do Rabino Ben Tzion Kravitz. Apresentei a ele um pequeno retrospecto sobre minhas pesquisas e expliquei como tudo começou. Elo escutou e disse que não me preocupasse. Ele até mencionou uma fita de vídeo que ele tinha, de pessoas que saíram renunciando a sua fé em Jesus. Eu pedi lhe que a trouxesse quando viesse à minha casa. No nosso primeiro encontro o rabino e eu discutimos a Bíblia, a história judaica e tradições por dez horas.
Desesperadamente buscando a verdade
Após muitas conversas, o rabino sugeriu que eu falasse com outra pessoa. Ele recomendou Gerald Sigal no Brooklyn, Nova York, autor de A Resposta Judaica aos Missionários Cristãos. Rabino Kravitz disse que ele telefonaria para o Senhor Sigal, contaria a ele minha situação e deixaria que nós dois discutíssemos várias questões ao telefone.
0 rabino e o Senhor Sigal desenvolveram um plano. 0 Senhor Sigal chamaria a cobrar toda segunda feira à noite. Nós deveríamos discutir vários tópicos e depois ele proporia uma pergunta que eu pesquisaria durante a semana. Na segunda feira seguinte eu deveria dar lhe a resposta. Por exemplo, uma semana o senhor Sigal disse que a genealogia de Jesus era falha porque, no judaísmo, nenhuma mulher era incluída nas genealogias judaicas. Eu fiquei perplexa por esta declaração, porque eu tinha lido recentemente a longa lista de genealogias em Crônicas nos Anais Históricos da Bíblia Judaica, e mulheres são mencionadas nesses registros'. Os nomes das mulheres foram incluídos para ajudar o conhecimento específico necessário quando um pai tinha somente filhas e nenhum filho, ou quando havia mais de uma esposa ou havia concubinas.
Nossas conversas continuaram por algum tempo até que o senhor Sigal disse ao Rabino Kravitz que eu tinha ido longe demais para ser ajudada. Rabino Kravitz estava aborrecido comigo e disse que eu deveria ter aceitado o que quer que o senhor Sigal tivesse dito. Ele acusoume de realmente não querer conhecer a verdade. 0 rabino não entendia que eu estava desesperadamente procurando a verdade e faria qualquer coisa para encontrá la. Rabino Kravitz estava provavelmente embaraçado também porque o Rabino Duchman ficava perguntando: 'Você ainda não a ajudou?"
Quando eu leio minha Bíblia, eu vejo "Aquele Homem"!
Pouco tempo depois disto, recebi um telefonema do Rabino Duchman. Ele me falou sobre um perito especialista conhecido internacionalmente, Rabino J. Immanuel Schochet, que estaria falando em breve no Yeshiva de minha filha. Eu disse que iria. A noite em que eu ouvi o Rabino Schochet, foi uma hora decisiva na minha pesquisa pela verdade. Minha família e eu sentamo nos na frente, porque minha filha estava freqüentando a Academia e nos sentíamos confortáveis sentando nos perto do orador.
Cedo naquela tarde Ron, Elisa e eu tínhamos decidido que iríamos apenas para ouvir e não diríamos nada até que o programa terminasse. Então, e apenas então, eu iria tranqüilamente ao rabino e perguntaria se ele poderia ajudar me. A fala do rabino centralizou se em generalidades da vida do lar judaico e os problemas encarados pela família. Ele também discutiu várias religiões e como elas diferiam do judaísmo. Após o rabino ter completado sua fala, ele solicitou perguntas. Uma pessoa perguntou ao rabino como ela poderia proteger seus filhos contra a influência cristã. 0 rabino declarou que, se as tradições fossem respeitadas e seguidas dentro de um lar judaico, haveria menos oportunidade de uma criança se extraviar.
Outra pessoa expressou sua preocupação acerca de missionários que queriam doutrinar suas crianças sobro Jesus. 0 rabino reiterou o valor de ter tradições judaicas no lar, mas também insistiu na importância de mandar nossas crianças para as escolas judaicas e Yeshivas.
A terceira pergunta veio de um homem que perguntou o que ele poderia fazer quando seu filho fosse para casa perguntando lhe sobre Escrituras com as quais ele, como pai judaico, não estava familiarizado. Neste ponto, Rabino Schochet agarrou os lados do pódio e gritou para a audiência: "Nunca em nenhuma ocasião um judeu sábio se volta para Aquele Hornem!" ("Aquele Homern" é como os judeus chamam Jesus quando eles não querem dizer seu nome).
Eu senti que o rabino estava falando diretamente para mim. Assim agarrei a mão de Ron e cochichei: "Devo dizer alguma coisa?" E Ron disse: "Sim!" Então agarrei a mão de Elisa e cochichei: "Devo dizer alguma coisa?" E Elisa disse: "Sim!". Assim levantei a mão e perguntei: "Rabino, o que diz a alguém como eu, que conheço Yiddishkeit, sigo o judaísmo, tenho um lar judaico e no entanto, quando eu leio a Bíblia judaica, vejo Aquele Homem!!?"
Havendo tantas famílias judaicas e rabinos na sala, minha pergunta bateu como uma granada. Pelas próximas 4 ou 5 horas até meia noite o Rabino Schochet e eu discutimos Yiddishkeit, costumes judaicos, a Bíblia, e outros assuntos. Quando a meia noite se aproximou, o rabino estava ansioso para terminar o encontro; assim ele disse o que considerava serem as palavras que mostrariam a mim e a todos na sala por que Jesus não podia ser o Messias prometido. Ele gritou para a audiência que Jesus cometera blasfêmia quando estava na cruz. E, num zangado tom de deboche, citou Jesus dizendo: "Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste?" (Si 22, 2; Mt 27, 46s).
Eu fiquei horrorizada com o tom de voz do Rabino Schochet e a acusação de que Jesus havia cometido blasfêmia. Eu disse lhe que havia muitas razões para Jesus ter feito esta declaração. Ele podia ter gritado numa voz triste ou de súplica. Mas o rabino Schochet recusou se a ver meu ponto de vista. Achei incrível que na sua raiva ele aparentemente esqueceu que a declaração de Jesus feita na cruz fora primeiramente feita pelo nosso próprio amado Rei Davi no Salmo 22. E ALGUM JUDEU OUSARIA DIZER QUE DAVI COMETEU BLASFÊMIA? {As últimas palavras de Jesus Crucificado: Veu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mt 27, 46) não exprimem desespero nem revolta da parte de Jesus, mas significam que Ele se quis identificar com o homem pecador; este se afasta de Deus e sente a solidão, como se Deus se tivesse afastado. Jesus quis experimentar tal situação na Cruz para dela nos livrar. Ademais é de notar que as palavras de Mt 27, 46 são a citação do SI 22, 2, que Jesus quis recitar na Cruz, porque descreve, como nenhum outro. pormenores da Paixão e da vitória do Messias}
Não digo que seja uma erudita em hebraico ou uma erudita na Bíblia. Eu sou apenas uma simples mulher judia comum, que ama Yiddishkeit e que tão somente quer conhecer a verdade. Naquela noite eu disse a meu marido e minha filha: "Não tenho mais dúvidas. Jesus é meu Messias judaico".
Comentário por Sid Roth
Incidentalmente, eu não oro para o Messias, mas eu oro a Deus no nome do Messias. Meus antepassados oravam a Deus por intermédio do sumo sacerdote judeu. Meu Sumo Sacerdote é Jesus.
A última razão por que algumas pessoas judias não procuram a Jesus é porque os rabinos dizem a eles que, se eles crêem em Jesus, eles não são mais judeus. Mas, se Jesus é o Messias judaico, não há nada mais judeu do que crer nEle. Então a questão não é "Como você pode ser judeu e crer em Jesus?" mas, em lugar disto, "Quem é Jesus?"
Os seguidores de Rabino Schneerson poderiam ter evitado uma porção de problemas se eles tivessem pensado por si mesmos. 0 Messias tinha que ter nascido em Belém de acordo com as nossas Escrituras. Rabino Schneerson nem mesmo visitou Israel!
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REFLETINDO...
0 texto em pauta sugere três reflexões:
1) A Escritura do Antigo Testamento anuncia profeticamente a vinda e a figura do Messias, pois toda a razão de ser do povo de Israel é a espera da chegada do Messias. Com razão, pois, se diz que "o Novo Testamento está latente no Antigo Testamento e o Antigo está patente no Novo". Verdade é que a exegese da Sra. Sharon Allen foi assaz subjetiva
e pessoal, de modo a não convencer qualquer leitor. Todavia uma leitura objetiva e científica da Bíblia leva a descobrir nos escritos do Antigo Testamento traços muito nítidos do Messias, que se realizaram plenamente no Senhor Jesus, como entenderam as primeiras gerações cristãs, inclusive os autores do Novo Testamento.
2) Conseqüentemente verifica se que, quando um judeu se faz cristão, não faz senão atender à dinâmica mesma do judaísmo. Desde os tempos de Abraão (século XIX a.C.) o povo israelita aguarda o Messias prometido, de modo que aderir a Ele (devidamente credenciado) não ésenão confirmar a índole própria do judaísmo. Importantes vultos judeus convertidos ao Cristianismo têm declarado não haver deixado de ser judeus. Observe se também o número de correntes de judeus messiânicos, que não hesitam em ver na figura de Jesus o Messias prometido a Abraão e aos Patriarcas. A questão que se coloca a esses judeus é: como viver propriamente a fé cristã? Há diversas maneiras de responder a tal pergunta. Cf. PR 375/1993, pp. 345 356.
3) 0 que possibilitou à Sra. Sharon Allen reconhecer Jesus como Messias, foi a sua sinceridade; foi uma pesquisadora disposta a descobrir a verdade onde quer que ela se encontrasse e apesar do antagonismo de seus mestres. A sinceridade, a candura ou a boa fé têm importância decisiva quando se trata de procurar a Deus. 0 não cristão ou mesmo o ateu que indaga sem preconceitos e de coração livre chega, cedo ou tarde, a Deus e a Jesus Cristo. Ao contrário, quem tem fé, mas se entrega a paixões desregradas, vai aos poucos perdendo a fé, pois se desfigura e descaracteriza. Daí o valor enorme das chamadas "virtudes humanas" (lealdade, honra, brio, honestidade, veracidade, responsabilidade ... ); são elas que fazem resplandecer a imagem e semelhança de Deus na criatura intelectual; pode se dizer que Deus está no âmbito de tais virtudes; Ele aí pode ser encontrado com certa facilidade. Ao contrário, onde tais virtudes são conculcadas (o que infelizmente não é raro em nossos dias), a imagem de Deus se obnubila e tende a desaparecer; Deus não está no clima de quem menospreza a base humana de sua vida religiosa. Sabiamente diz o axioma: "A graça não destrói a natureza, mas a supõe e aperfeiçoa".
À faixa incrédula da sociedade contemporânea pode se recomendar que, ao menos, cultive as virtudes humanas, virtudes aliás que toda personalidade ciosa de sua dignidade não pode deixar de observar e estimar. (Pergunte & Responderemos- junho de 2000 por D. Estevão Bettencourt}
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