quinta-feira, 2 de maio de 2013
“Carta-Mensagem” final do III Seminário de Catequese Indígena
A cidade de Manaus, capital do estado do Amazonas, acolheu de coração aberto as 90 pessoas, participantes do III Seminário de Catequese Indígena, de 25 a 28 de abril de 2013. “Catequese, Protagonismo Indígena e Inculturação” foi o tema muito bonito que nos desafiou.
Este inesquecível Seminário foi organizado pelas Comissões Episcopais: De Animação Bíblico-Catequética, da Amazônia e Missionária, pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e pela Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Manaus.
Fato admirável, a presença de indígenas procedentes de vinte e um (21) povos: Boé Bororo, Maku Hyump, Wapixana, Baré, Piratapuia, Baniwa, Kokama, Mura, Bará, Munduruku, Zapoteca, Arapaso, Macuxi, Tukano, Tuyuka, Sateré-Maué, Kambeba, Guajajara, Tariano, Desana, Mayuruna. Presentes também bispos, padres e religiosos(as). Destacamos a presença de padres e religiosas indígenas.
A convivência fraterna construída no dia a dia do Seminário mostrou-nos de que nós estamos vivendo um Kairós, manifestação carinhosa de Deus para com os povos indígenas e os missionários que se dedicam em estar com estes povos.
No âmbito mais global temos na animação da Igreja Católica um novo Papa, Francisco. É um latino-americano como nós e nos inspira nova mentalidade. O papa, a partir do espírito de São Francisco, pode dar um rumo novo para a Igreja. Ele fala que a nossa Igreja deve ser “uma Igreja pobre e dos pobres” e nos convida para “ir às periferias geográficas e existenciais”. Por isso nesse Seminário sentimos que Deus nos chama para a missão de promover e servir a vida.
O III Seminário deu continuidade aos dois já realizados nessa linda Amazônia: O I aconteceu em Manaus, no período de 25 a 28 de outubro de 2007. O II aconteceu em Ananindeua/PA, no período de 8 a 10 de abril de 2011.
Nosso Seminário contou com muitas e valiosas assessorias:
Ø -Pe. Raimundo Possidônio: “Cenários catequéticos da história da missão”.
Ø Pe. Paulo Suess: “Catequese no contexto histórico-social dos povos indígenas hoje - o foco catequético na pastoral indigenista”.
Ø Pe. Luis Alves de Lima : “Iniciação à Vida Cristã”.
Ø Pe. Eleazar Lopez Hernández: “Diálogo inter-religioso e intercultural - Teologia Índia”.
Ø Pe. Eleazar e Pe. Paulo: “Inculturação: perspectivas e desafios”.
Ø Ir. Téa Frigério: “A Bíblia na Catequese indígena”.
Ø Pe. Bartolomeu Giaccaria: “Ritos e Mitos Indígenas na Catequese”.
Ø Pe. Justino Rezende: “Inculturação na Catequese Indígena”.
Ø Irmã Rebeca: “Espiritualidade e Catequese Indígena”.
Ø Pe. Nello Ruffaldi: “Catequese e Protagonismo Indígena”.
Ø Pe. Roberto,OMI: “Evangelização e Cat. Entre os Indígenas da Cidade”.
Ø Nós indígenas “partilhamos nossos trabalhos, nossas práticas de catequese e osnossos sonhos”
O III Seminário de Catequese está dentro da caminhada da Igreja, estamos conectados com os fatos importantes da vida da nossa Igreja. Por isso celebramos com gratidão os 30 anos do Documento Catequese Renovada, como inspiração para a nossa ação atual. E da mesma forma fizemos memória dos 40 anos de história de compromisso com os povos indígenas do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
O contexto histórico analisado nos desafia a “desembarcar das naves dos invasores para embarcarmos nas canoas dos índios”. É preciso entender as culturas dos pequenos. Os povos indígenas são pequenos, mas possuem sabedorias, são portadores do Amor de Deus para as pessoas. Pe. Eleazar, vindo do México, nos contou que as flores de Guadalupe que JuanDiego ofereceu à Igreja simbolizam as culturas indígenas. Como Juan Diogo, com simplicidade, podemos contribuir também com a Igreja hoje.
Na experiência do encontro nos damos conta das coisas boas que estão acontecendo: As práticas da Iniciação à Vida Cristã estão sendo redescobertas por nossas comunidades. O diálogo, exigência da inculturação, também está avançando. É fundamental dialogar com os diferentes. Nós povos indígenas temos muito para dar, partilhar e oferecer para a Igreja. Por outra parte, queremos aprender também com os outros povos. Pois as histórias são construções humanas. Nós podemos construir novas histórias, mas precisamos aprender a fazer escolhas. Através de nossos mitos e ritos mostramos que a vida deve ser vivida com generosidade, com alegria e profundidade. Nós sabemos valorizar a natureza, as pessoas, os seres viventes, as forças imateriais presentes no mundo.
Neste Seminário entendemos que nós possuímos as nossas teologias, a Teologia Índia, que vem mostrar para indígenas e não indígenas que temos um Deus que é único, mas que é compreendido com vários nomes. Jesus Cristo nos foi apresentado pelos colonizadores, conquistadores. Mas Jesus não é um colonizador/conquistador. Ele é nosso amigo, companheiro, Salvador. Jesus é fonte inesgotável de vida, nós nunca chegaremos a compreendê-lo plenamente, mas buscaremos, dia a após dia, ser seus discípulos, construtores do seu Projeto, o Reino de Deus. Sentimos que já percorremos longos caminhos e muitos conhecimentos foram construídos em torno de Jesus. Mas as práticas de evangelização e catequese são adequadas para cada tempo e cada espaço histórico. Por isso, precisamos continuamente repensar e resignificar nossas práticas evangelizadoras.
Nós estudamos, partilhamos e sonhamos, dando-nos conta que no centro de nossos trabalhos está a PESSOA, que deve receber nossa atenção principal. Somente assim podemos dizer que a essência da catequese indígena é o valor da vida. A VIDA dos povos indígenas precisa ser amada, valorizada e respeitada. Em muitos contextos essa vida, a cultura, os costumes, tradições, as línguas estão enfraquecidas. A Catequese pode tornar-se um instrumento para fortalecer a vida dos nossos povos a partir do evangelho. Pois a catequese assume os problemas sociais e culturais para ajudar na transformação da realidade. Por isso apostamos no processo de evangelização e catequese para que nossas vidas sejam amadas como Deus nos ama.
Nas reflexões ficou claro para nós que a Inculturação deve ser feita através do protagonismo indígena. Por isso nos alegramos com a presença de vários padres e religiosas indígenas neste Seminário. Mas também contamos com a valiosa colaboração dos missionários(as), dos teólogos(as) e catequetas não indígenas. Juntos temos uma bonita e grande missão: Servir a Vida.
Neste Seminário damos alguns passos para frente. Estamos caminhando. Não temos soluções mágicas. Mas continuamos buscando caminhos para superar as dificuldades, criar outras práticas e acertar juntos. As diversas questões referentes aos temas da catequese indígena, inculturação e protagonismo continuam em aberto para os nossos estudos, reflexões e experiências.
Finalmente, convidamos a todas as pessoas de boa vontade para que se interessem pelas vidas dos nossos povos. Fazemos apelo aos bispos para que estejam atentos às realidades indígenas de suas dioceses. Os povos indígenas não podem ser invisíveis aos vossos olhos. Pois estão presentes em muitas dioceses e paróquias. Somado a esse compromisso fazemos apelo para que as dioceses e as paróquias saibam disponibilizar recursos materiais para tornar viável nossa participação.
Para todos os participantes do III Seminário esse momento é de Kairós. Momento da Criação e Recriação da Vida. Deus nos criou para com Ele criar um mundo novo! Ele aposta nos povos indígenas!
Realizamos bonito trabalho. Elaboramos, através de processo bem participativo,propostas para o futuro de nossa caminhada. Estas estão em anexo para que todos participem desse processo histórico (confira abaixo).
Obs: Esta mensagem é fruto de reflexão de uma equipe, mas redigida pelo indígena Pe. Justino Rezende.
CONCLUSÕES DO III SEMINÁRIO DE CATEQUESE INDÍGENA
Reconhecendo que os catequistas indígenas são a base para o surgimento de uma igreja autóctone, chegamos às seguintes conclusões:
- Sentimos a Necessidade de uma formação permanente, específica de catequistas indígenas em vista de uma Igreja indígena, ministerial, missionária, incorporando a lógica, o conteúdo, a metodologia e as instancias próprias dos povos e culturas indígenas. Essa proposta de formação poderá ser realizada em centro de formação permanente, ou nas aldeias, ou numa combinação criativa. Os elementos de formação inculturada devem ser incorporados também aos programas de formação do clero, religiosos e religiosas indígenas.
- Para os não indígenas que atuam junto aos povos indígenas é necessária uma preparação específica, em vista de uma catequese inculturada com protagonismo indígena.
- Queremos continuar o processo de reflexão com intercambio de experiências, conteúdos, metodologias, subsídios. Ao longo de quatro anos serão realizados encontros regionais e diocesanos, por temas específicos (indígenas na cidade), para partilha de experiências e aprofundamento. Esse processo culmina com a realização do IV seminário nacional de catequese indígena em 2017.
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