Blog Alma Missionária

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quinta-feira, 6 de março de 2014

Tráfico humano: um desafio para toda sociedade, igrejas e religiões

Claudete Biese Ulrich, Silvia Cunto Barbisa e Dóris Kieslich Cavalcante*
Há poucos dias, Adidas retirou do mercado camisetas da Copa com forte apelo sexual. As camisetas uma de cor verde mostrava a frase "Eu amo o Brasil", cujo coração tinha o formato de um bumbum de biquíni. A outra camiseta, amarela, trazia o slogan: "lookin' to score", que pode ser traduzido como "buscando gols", mas que também pode fazer uma alusão a "pegar garotas". A retirada das camisetas do mercado só foi possível, pois um grande grupo de pessoas se manifestou publicamente via diferentes meios da mídia contra a venda das camisetas. Além disso, a ação imediata da presidente da República, Dilma Roussef, que usou a sua conta no Twitter para expressar o seu descontentamento com a mensagem de cunho sexual feita pela Adidas foi de fundamental importância. Também a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência publicou nota de repúdio à "confecção de camisetas com ilustrações de cunho sexual associado às cores e aos símbolos do Brasil, deixando claro que qualquer estímulo nesse sentido significa associar-se a criminosa prática do turismo sexual, que se constitui em uma grave violação de Direitos Humanos combatida permanentemente pelo país" (Veja: Do UOL, em São Paulo, 25/02/2014) 

Somente ações conjuntas, como o exemplo citado, podem combater de forma definitiva o turismo sexual e o tráfico humano, que inclui mulheres, crianças, jovens, trabalhadores no Brasil e no mundo todo. As maiores vitimas do tráfico humano são as pessoas pobres. É muito triste constatar que o tráfico humano, atualmente, é uma atividade ilegal muito rentável em nosso mundo, perdendo somente para o tráfico de drogas. 
Uma notícia, por exemplo, relatada na Deutsche Welle em 2013 por Mariana Santos relata que cresceu o número vitimas de tráfico humano na União Europeia . Que são as vítimas do tráfico? São as pessoas submetidas à prostituição, trabalho forçado, mendicância, retirada de órgãos, adoção ilegal. É um crime muito bem organizado que lucra muito dinheiro. "É difícil de imaginar que, em nossos livres e democráticos países da União Europeia, dezenas de milhares de pessoas tenham sua liberdade roubada, que sejam negociadas como mercadorias", criticou a Comissária para os Assuntos Internos na Comissão Europa, Cecilia Malmström ao jornal alemão. "Mas essa é a triste verdade: o tráfico humano está por toda parte, à nossa volta, e mais perto do que pensamos." 

Somos gratas que este ano a Campanha da Fraternidade da Igreja Católica tem como tema "Fraternidade e Tráfico Humano", com o lema "É para a liberdade que Cristo nos Libertou.” Que este chamado ético profético possa ser um desafio para toda sociedade, igrejas e religiões. A vida de qualquer ser humano é sagrada. Ela não é mercadoria. Não pode ser vendida e nem comprada.O nosso corpo é templo e morada do Espírito Santo (1 Co 6.19). Portanto, qualquer ato contra a vida humana deve ser denunciado. A verdadeira liberdade necessita ser vivida com responsabilidade e com respeito a vida. A vivência da liberdade com responsabilidade nos torna pessoas livres, sensíveis e felizes. 

Quando se aproxima o Dia Internacional da Mulher, bem como a realização da COPA do Mundo no Brasil, necessitamos refletir sobre esta triste realidade do tráfico humano em nosso país. Precisamos vencer o medo e denunciar práticas que desrespeitam e maltratam a vida. Anunciar a sacralidade da vida é uma tarefa teológica, pois a vida é presente, é graça de Deus. Ela é também tarefa pedagógica, precisamos dialogar em nossas escolas, centros de formação sobre as formas de tráfico humano em nosso contexto local, mas também de alcance global. Sem dúvida, é um tema complexo, e muitas vezes, invisibilizado, que necessita ser trazido para a discussão nos diferentes processos educativos. 

Nós cremos no Deus da vida, que não compactua com a escravidão, com o tráfico, assim como nos conta o livro do Êxodo, especialmente os primeiros capítulos. As parteiras foram fieis e defenderam a vida de meninos e meninas. Deus viu, escutou o clamor, desceu e se colocou a caminho com o seu povo, afirmando que não queria o seu povo escravo. Os profetas também são bem claros, Deus ama a justiça, não compactua com a corrupção, nem com a venda dos pobres por um par de sandálias, conforme o Profeta Amós. A pergunta ética sobre o que significa liberdade é tarefa constante de todas as pessoas cristãs, que estão em busca de um mundo com paz e justiça. A vivência da liberdade liberta e não escraviza, o apostolo Paulo deixa isto bem claro na carta aos Gálatas. Nosso compromisso é viver com responsabilidade a liberdade, denunciando todo tipo de escravidão. Jesus afirma: “Eu vim para que todas as pessoas tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10). Nós cremos que um outro mundo é possível. Sejamos profetas éticas/os, denunciando o pecado do tráfico humano em todas as suas formas, vivendo e anunciando a liberdade com responsabilidade e compromisso com a Vida de todos os seres humanos. 

Para continuar a reflexão uma poesia escrita pela Silvia e Doris de Fortaleza:

CLAMOR POR DIGNIDADE

Que violência é essa,
Que rouba dignidade,
Quando se trafica pessoas,
E mulheres violentadas?

São tantas marcas no corpo,
mas o pior é o da alma,
subtraindo cidadania,
de pessoas fragilizadas.

Há muito interesse implícito,
Rentável para os opressores,
Muita desigualdade,
pobreza e vulnerabilidade.

Crianças,jovens e mulheres,
São vítimas de organizações,
Vão-se fechando as portas,
Na mais pura escuridão.

Há muita brutalidade,
Exploração sexual,
Há remoção de órgãos,
Por uma máfia internacional.

Clamamos por vida e liberdade!

*Claudete Beise Ulrich . Coordenadora de estudos – Academia de Missão junto a Universidade de Hamburgo, teóloga e pedagoga.


*professora catequista voluntária na Ceclfor (Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Fortaleza) e socióloga . 

*Professora licenciada em língua portuguesa, aposentada, Fortaleza.
Doris Kieslich

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