“Ao escurecer, Jesus se dirige aos discípulos, caminhando sobre o mar”. Início de uma Epifania. Em meio às águas encapeladas, “por causa do forte vento que soprava”, manifesta-se o domínio absoluto do Senhor. Revela-se aos Apóstolos o mistério escondido a todos os demais.
Vindo sobre as águas, Jesus faz menção de passar adiante, como o fez com os discípulos em Emaus. Provocação para despertá-los à responsabilidade da liberdade, pois Deus é aquele que passa. Assim se deu na primeira Páscoa do Egito ou nas grandes visões de Moisés ou de Elias. Também agora com a sua vinda entre os homens.
Por isso, destaca S. João Crisóstomo, ele “não acorre imediatamente para salvar os discípulos, mas os instrui, através do temor, a afrontar os perigos e aflições”. Porém, não querendo desanimá-los, assegura: “Sou eu. Não temais”. Não é um fantasma, é o próprio Jesus. A expressão “não temais” significa: “crede unicamente”. Apelo aos Apóstolos para estarem à inteira disposição do inesperado, para permanecerem à espera do radicalmente outro, o Filho de Deus.
De fato, ao longo da vida, os Apóstolos hão de procurar, de modo apaixonado, ao Senhor, sem jamais perderem a disponibilidade total face ao inesperado da vida. Desde já, são convocados a se despojarem de si mesmos, até do próprio saber, para não deixarem de estar no não-saber da disponibilidade. Só assim alcançarão a pureza interior, o generoso “fiat”, cuja recompensa é o encontro com o Inefável. O coração inquieto se aquieta e atinge a serenidade (apátheia) e o repouso (hesuchía) na união com Deus.
O relato é breve. O evangelista S. João não descreve as diversas reações dos Apóstolos, como o faz S. Mateus. Porém, ao citar o fato de Jesus apaziguar a tempestade e caminhar sobre as águas, a confiança no coração dos seus seguidores é revigorada. É o suficiente, pois a atitude de Jesus nos assegura que, mesmo caindo em pecado, não nos faltarão o perdão divino e a salvação eterna.

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