Blog Alma Missionária

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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

3º Momento do Estudo Bíblico Particular


Estudo de  Gn 2


Gn 2,3: “Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, pois nele descansou depois de toda a sua obra de criação”

# O sábado (shabbat) e uma instituição divina: o próprio Deus descansou (shabbat) nesse dia. Entretanto o vocábulo shabbat e evitado aqui porque, segundo o autor sacerdotal, o sábado só será imposto no Sinai, onde se tornara o sinal da aliança (Ex 31,12-17: “Iahweh disse a Moises: “Observareis de verdade os meus sábados, porque são um sinal entre mim e vos em vossas gerações, a fim de que saibais que eu sou Iahweh, o que vos santifica. Observareis, pois, o sábado, porque e uma coisa santa para vos. Quem o profanar será castigado com a morte. Todo o que realizar nele algum trabalho será retirado do meio do povo. Durante seis dias poder-se-a trabalhar; no sétimo dia, porem, se fará repouso absoluto, em honra de Iahweh. Todo aquele que trabalhar no dia do sábado devera ser morto. Os filhos de Israel observarão o sábado, celebrando-o de geração em geração, como uma aliança eterna. Sera um sinal perpetuo entre mim e os filhos de Israel, porque em seis dias Iahweh fez os céus e a terra; no sétimo dia, porem, descansou e tomou alento”)
Mas, desde a criação, Deus deu um exemplo que o homem devera imitar (Ex 20, 11;31,17: “ Porque em seis dias Iahweh fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contem, mas repousou no sétimo dia; por isso Iaweh abençoou o dia do sábado e o santificou”... “Será um sinal perpetuo entre mim e os filhos de Israel, porque em seis dias Iahweh fez os céus e a terra; no sétimo dia, porem, descansou e tomou alento”).

Gn 2,4a: “Essa e a historia do céu e da terra, quando foram criados”

# Em hebraico toledot, propriamente “descendência”, depois historia de um ancestral e de sua linhagem (cf. 6,9;25,19;37,2: “Eis a historia de Noé: Noé era um homem justo, integro entre seus contemporâneos, e andava com Deus.” ... “Eis a historia de Isaac, filho de Abraão. Abraão gerou Isac.” ... “Eis a historia de Jacó.Jose tinha dezessete anos. Ele apascentava o rebanho com seus irmãos, - era jovem, - com os filhos de Bala e os filhos de Zelfa, mulheres de seu pai, e Jose contou a seu pai o mal que deles se dizia”). Pelo emprego dessa palavra aqui, a criação e demitizada: e o começo da historia e não e mais, como na Sumeria e no Egito, uma sequencia de gerações divinas.

    #  demitizada – demitizar – significa separar o essencial das narrativas bíblicas de sua forma literária mítica. 

Gn 2,4b-3,24 - pertence a fonte javista. Não e,como se diz frequentemente, uma “segunda narrativa da criação”, seguida de uma “narrativa da queda”; são duas narrativas combinadas que utilizam tradições diversas: uma narrativa da criação do homem, distinta da criação do mundo e que só se completa com a criação da mulher e com o aparecimento do primeiro casal humano (Gn 2,4a-8.18-24(“Essa e a historia do céu e da terra, quando foram criados. No tempo em que Iahweh Deus fez a terra e o céu, não havia ainda nenhum arbusto dos campos sobre a terra e nenhuma erva dos campos tinha ainda crescido, porque Iahweh Deus não tinha feito chover sobre a terra e não havia homem para cultivar o solo. Entretanto, um manancial subia da terra e regava toda a superfície do solo. Então Iahweh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um halito de vida e o homem se tornou um ser vivente.
Iahweh Deus plantou um jardim em Éden, no oriente, e ai colocou o homem que modelara.” ... Iahweh Deus disse: “Não e bom que o homem que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda.” Iahweh Deus modelou então, do solo, todas as feras selvagens e todas as aves do céu e as conduziu ao homem para ver como ele as chamaria: cada qual devia levar o nome que o homem lhe desse. O homem deu nome a todos os animais, as aves do céu e a todas as feras selvagens, mas, para o homem, não encontrou a auxiliar que lhe correspondesse. Então Iahweh Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou uma de suas costelas e fez crescer carne em seu lugar. Depois, da costela que tirara do homem, Iahweh Deus modelou uma mulher e a trouxe ao homem.
Então o homem exclamou: “Esta sim, e osso de meus ossos e carne de minha carne! Ela será chamada “mulher”, porque foi tirada do homem!.”
Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une a sua mulher, e eles se tornam uma só carne.”), e uma narrativa do paraíso perdido, da queda e do castigo, a qual começa em Gn 2,9-17 e continua em Gn 3,1-24.


Gn 2,7: “Javé Deus plasmou o homem, pó da terra, insuflou em suas narinas um sopro de vida, e o homem se tornou um ser vivo.”

# A encenação do Deus ceramista se insere numa tradição nascida, sem duvida, da constatação  de que o homem, após a morte vai aos poucos se tornando pó. O “sopro de vida” significa a respiração , pois os animais tem o mesmo “sopro de vida”. O Homem (=Adam) procede do solo (=Adamah). Assim o Homem e o “Terroso”. O homem, Adam, vem do solo, adamah (cf. 3,19: “Com o suor de teu rosto comeras teu pão ate que retornes ao solo, pois dele foste tirado. Pois tu ES pó e ao pó tornaras.”). Este nome coletivo vai se tornar o nome próprio do primeiro ser humano, Adão (cf. 4,25: “Adão conheceu sua mulher. Ela deu a luz um filho e lhe pos o nome de Set “porque,” disse ela, “ele me concedeu outra descendência no lugar de Abel, que Caim matou.” ... 5,1.3: “Eis o livro da descendência de Adão: No dia em que Deus criou Adão, ele o fez a semelhança de Deus.” ... “Quando Adão completou cento e trinta anos, gerou um filho a sua semelhança, como sua imagem e lhe deu o nome de Set”).
  
Texto citado em ICor 15,45 (Como esta escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente (Gen 2,7);o segundo Adão e espírito vivificante.         
Alma vivente – em grego esta expressão forma um jogo de palavras com o termo “corpo psíquico” do versículo precedente (ICo 15,44: “semeado corpo animal, ressuscita corpo espiritual) Corpo animal – literalmente : corpo psiquico.
“Ser vivente” traduz aqui o vocábulo nefesh, que designa o ser animado por um sopro vital (manifestado também pelo “espírito”, ruah: Gn 6,17(“Quanto a mim, vou enviar o dilúvio, as águas, sobre a terra, para examinar de debaixo do céu toda carne que tiver sopro de vida: tudo o que há na terra deve perecer.”
    # A palavra ruah designa o ar em movimento, seja o sopro do vento (Ex 10,13: “Estendeu, pois,Moises a sua vara sobre a terra do Egito. E Iahweh mandou sobre a terra um vento oriental todo aquele dia e toda aquela noite. Quando amanheceu, o vento oriental tinha trazido os gafanhotos.” 
Jo 21,18: “o vento arrasta-lo como palha, o turbilhão leva-lo como debulho...”), seja o que sai das narinas (7,15.22, etc: “Com Noé,entrou na arca um casal de tudo o que e carne, que tem sopro de vida”... “Morreu tudo o que tinha um sopro de vida nas narinas. Isto e, tudo o que estava em terra firme. Assim desapareceram todos os seres que estavam na superfície do solo, desde o homem ate os animais, repteis e as aves do céu: eles foram extintos da terra; ficou somente Noé e os que estavam com ele na arca. A enchente sobre a terra durou cento e cinquenta dias”). Ela designa, portanto, a força vital, os pensamentos, os sentimentos e as paixões, nos quais ela se exprime (41,8: “De manha, com o espírito conturbado, o Faraó chamou todos os magos e todos os sábios do Egito e lhes contou o sonho que tivera, mas ninguém pode explica-lo ao Faraó”;
Gn 45,27: “Entretanto, quando repetiram todas as palavras que Jose lhes dissera, quando viu os carros que Jose enviara para leva-lo, então reanimou-se o espírito de seu pai Jacó”;
1Sm 1,15: “Ana, porem, lhe respondeu com estas palavras: “Não , meu senhor, eu sou uma mulher atribulada; não bebi vinho nem bebida forte: derramo a minha alma perante Iahweh”;
1Rs 21,5: “Sua mulher Jezabel  aproximou-se dele e disse-lhe: “Por que estas aborrecido e não queres comer”;
Sl 104,29: “Escondes tua face e eles se apavoram, retiras sua respiração e eles expiram, voltando ao seu pó”;
Ecl 12,7: “ Da ao homem bom e não ajudes o pecador.”.)

Ela também o poder pelo qual Deus age, tanto na criação (Jo33,4: “Foi o espírito de Deus que me fez, e o sopro de Shaddai que me animou” ;
Sl 104,29-30: “Escondes tua face e eles se apavoram, retiras sua respiração e eles expiram, voltando ao seu pó. Envias teu sopro e eles são criados, e assim renovas a face da terra”) quanto na historia dos homens (Ex 31,3: “Eu o enchi com o espírito de Deus em sabedoria, entendimento e conhecimento para toda espécie de trabalho”), particularmente pela boca dos profetas (Jz 3,10 : “O espírito de Iahweh esteve sobre ele, e ele julgou Israel e saiu a guerra. Iahweh entregou nas suas mãos Cusã-Rasataim, rei de Edom, e ele triunfou sobre Cusã-Rasataim;
Ez 36,27: “Porei no vosso intimo o meu espírito e farei com que andeis de acordo com os meus estatutos e guardeis as minhas normas e as pratiqueis”
  # O Espírito (sopro) de Deus que cria e anima os seres (Gn 1,2;2,7 e 6,17) apodera-se dos homens, especialmente dos profetas (Jz 3,10), para dota-los de um poder sobre-humano (Gn 41,38; Ex 31,3;1S 16,13).
Os tempos messiânicos serão caracterizados por uma efusão extraordinária do Espírito (Zc 4,6;6,8), atingindo todos os homens para lhes comunicar carismas especiais (Nm 11,29;Jl 3,1-2; At 2,16-21). Porem, mais misteriosamente, o Espírito será, para cada um, principio de uma renovação interior que o tornara apto a observar fielmente a Lei Divina (Ez 11,19;36,26-27;37,14;Sl 51,12s; Is 32,15-19;Zc 12,10); ele será assim o principio da Nova Aliança (Jr 31,31; cf. 2Cor 3,6); como água fecundante fará germinar frutos de justiça e de santidade (Is 44,3;Jo 4,1), que garantirão aos homens o favor e a proteção de Deus (Ez 39,24.29). Esta efusão do Espírito efetuar-se-á por intermédio do Messias, que será o seu primeiro beneficiário em vista do cumprimento da sua obra de salvação (Is 11,1-3;42,1;61,1;cf. Mt 3,16)

e do Messias (Is 11,2 : “Sobre ele repousara o espírito de Iahweh, espírito de sabedoria e de inteligência, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de conhecimento e de temor de Iahweh”
    # O “espírito de Iahweh”, ou o “santo espírito de Iahweh” (42,1;61,1s; 63,10-13; Sl 51,13; Sb 1,5; 9,17), seu “sopro” e “espírito” traduzem a mesma palavra ruah) atua através de toda a historia bíblica. Ainda antes da criação Ele repousa sobre o caos (Gn 1,2) e da  a vida a todos os seres (Sl 104, 29-30; 33,6; Gn 2,7, cf. 37,5-6.9-10). E ele que suscita os juízes (Jz 3,10; 6,34; 11,29) e Saul (1Sm 11,6). E ele que da a habilidade aos artífices (Ex 31,3; 35,31). O discernimento aos juízes (Nm 11,17), a sabedoria a Jose (Gn 41, 38). Enfim e acima de tudo, ele inspira os profetas (Nm 11,17 –Moises.
25-26; 24,2; 1Sm 10,6.10; 19,20; 2Sm 23,2-Davi; 2Rs 2,9- Elias; Mq 3,8; Is   48,16; 61,1; Zc 7,12; 2Cr 15,1; 20,14; 24,20), enquanto os falsos profetas seguem seu próprio espírito (Ez 13,3, cf. ainda Dn 4,5.15; 5,11-12.14) O texto presente ensina que esse espírito dos profetas será dado ao Messias; Jl 3,1-2 anunciara para os tempos messiânicos a sua efusão universal (cf. At 2,16-18). Como a doutrina da sabedoria (cf. Pr 8,22; Sb 7,22), a doutrina do espírito encontrara sua expressão definitiva no Novo Testamento (cf. Jo 1,33; 14,16.26; At 1,8;2; Rm 5,5).

cf. Sl 6,5:“Volta-te, Iahweh! Liberta-me! Salva-me, por teu amor!
   # Literalmente: “Liberta minha alma”. O termo hebraico nefesh (cf. Gn 2,7) designa a respiração vital (e por extensão a garganta), que esta no principio da vida e que se retira por ocasião da morte. O termo designa frequentemente o homem, ou o animal, como individuo animado (Gn 12,1; 14,21; Ex 1,5; 12,4, etc.), ou nas diferentes funções de sua vida corporal ou afetiva, sempre ligadas entre si (cf. Gn 2,21) A expressão “minha alma” equivale frequentemente ao pronome reflexivo “eu próprio, mim mesmo” (cf. Sl 3,3; 44,26;124,7;Gn 12,13;Ex 4,19; 1Sm 1,26;18;1-3,etc.), assim como “minha vida”, “minha face”, “minha gloria”. Estes diferentes sentidos de “alma” permanecerão vivos no NT (psyche; cf. Mt 2,20; 10,28; 16,25-26; 1Cor 4,16;15,44).

Cf. Rm 1,9: “Deus, a quem sirvo em meu espírito, anunciando o evangelho do seu Filho, e testemunha de como me lembro”
  # a quem sirvo - Literalmente: “presto um culto espiritual”.  O ministério apostólico e um ato de culto prestado a Deus (cf. 15,16: “... de ser o ministro de Cristo Jesus para os gentios, a serviço do evangelho de Deus, a fim de que a oblação dos gentios se torne agradável, santificada pelo Espírito Santo.”) como também toda a vida cristã animada pelo amor (12,1;Fl 2,17;3,3;4,18;At 13,2; 2Tm 1,3;4,6;Hb 9,14;12,28;13,15;1Pd 2,5)   
          

Gn 2,8: “Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, do lado do oriente, e colocou nele o homem que havia criado.
Um jardim, chamado também um paraíso – Éden significa estepe, mas evoca a ideia de delicias.
    # “Jardim” e traduzido por “paraíso” na versão grega, e depois em toda a tradição. “Éden” e um nome geográfico que foge a qualquer localização, e inicialmente pode ter sido o significado de “estepe”. Mas os israelitas interpretaram a palavra segundo o hebraico “delicias”, raiz ‘dn. A distinção entre Éden e o jardim, expressa aqui e no v. 10, se esfuma em seguida: fala-se do “jardim de Éden” (v. 15;3,23.24). Em Ez 28,13 e 31,9, Éden e “o jardim de Deus”, e em Is 51,3, Éden, o “jardim de Iahweh”, e o oposto ao deserto e a estepe.


Gn 2,8-15: “Javé Deus tinha plantado um jardim do paraíso no Éden de delicias desde o principio, e colocou nele o homem que Ele tinha plasmado. Javé Deus tinha feito brotar do solo toda espécie de arvores atraentes a vista e saborosas ao paladar e a Arvore  e a Arvore da Vida no meio do jardim do paraíso, e a Arvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
Um rio saia do Éden de delicias para irrigar o jardim do paraíso, e depois se dividia, formando quatro cabeceiras de rio. O nome do primeiro rio e Fison: e o que contorna toda a região de Hevilat, onde há ouro; e e excelente o ouro daquela região. Ai existe também a resina aromática e a pedra de berilo. O nome do segundo rio e Geon: e o que rodeia toda a região de Cuche. O nome do terceiro rio e Tigre, que corre toda a leste de Assur. O quarto rio e o .
Javé Deus tomou o Homem e colocou-o no jardim paradisíaco do Éden de delicias para o cultivar e o guardar."

#  A qui temos três sentidos figurados muito importantes:
·         o Paraiso,
·         as duas Arvores de Javé e
·         os quatro rios.
O jardim era celeste sem deixar de fazer parte deste mundo. E o sentido parece ser que Deus, desde o principio, introduziu o Homem no seu próprio jardim. Deus não destinava o Homem a morte, mas a sua própria vida divina, em sua intimidade. Este mundo viria a ser um alargamento do jardim da corte de Javé. E tomando em conta tudo isto que a mencionada expressão hebraica foi traduzida como vem no versículo 8 e seguintes, por ser a maneira mais fiel e adequada de traduzir esse texto importante.
Quanto as duas Arvores, o autor conhecia a babilônica Arvore da Vida. Era preciso, como sua antítese, uma Arvore da Morte que conduzisse a Morte. Esta e o contrario da Lei de Deus: e o capricho humano, que rejeita Deus e erige o Homem como supremo critério do Bem e do Mal, numa revoltosa e pretensa autonomia absoluta para se servir de tudo (=os dois extremos indicam totalidade) o que apraza ao Homem, em menosprezo da Vontade de Deus.
Os quatro rios do Universo tinham suas cabeceiras no próprio jardim paradisíaco das delicias de Javé. E o pecado que vai cortar essa plena continuidade abençoada entre o Jardim de Javé e este mundo.
O versículo 15 e o píncaro da pericope: depois de criar o Homem, Deus o chamou para viver com Ele, ser funcionário de Deus, encarregado de cultivar e guardar os jardins de Javé.

Gn 2,8-17        
   Narram a historia do Éden, um paraíso na terra, onde confluem os maiores rios do mundo então conhecidos e onde as arvores e frutos são abundantes. Deus criou a terra para que o homem usufrua dela e possua vida plena (arvore da vida). A condição única e o homem se subordinar a Deus: obedecer a seu projeto de vida e fraternidade, e não querer decidir por si mesmo o que e bem e o que e mal (comer o fruto da arvore do bem e do mal), a fim de não ser causa a espécie alguma de opressão e morte . Os versículos 18-25 salientam duas coisas:
·         que o homem tem domínio sobre a criação dando nome aos animais e por isso, participa do poder criativo de Deus;
·         que a mulher não foi tirada da cabeça do homem para mandar nele, nem foi tirada dos pés dele para ser sua escrava, mas foi tirada do lado, para ser sua companheira.

Os vv. 10-14 são um parêntesis , provavelmente introduzido pelo próprio javista, que utilizava velhas noções sobre a configuração da terra. Sua intenção não e localizar o jardim de Éden, mas mostrar que os grandes rios, que são as “artérias vitais” das quatro regiões do mundo, tem sua fonte no paraíso. O Tigre e o Eufrates são muito conhecidos e tem sua fonte nos montes da Armênia, mas o Fison e o Geon são desconhecidos. Hevila e, segundo, Gn 10,29 (“ Ofir, Hevila, Jobab; todos esses são filhos de Jecta”) , uma região da Arabia, e Cuch em outro lugar designa a Etiópia, mas não e seguro que esses dois nomes devam ser tomados aqui em seu sentido habitual.
      Berilo (ou bdelio) – goma-resina aromática.

Gn 2,9: “Iahweh Deus fez crescer do solo toda espécie de arvores formosas de ver e boas de comer, e a arvore da vida no meio do jardim, e a arvore do conhecimento do bem e do mal”
      # arvore da vida – símbolo da imortalidade (cf. 3,22: “Depois disse Iahweh Deus: “Se o homem já e como um de nos, versado no bem e no mal, que agora ele não estenda a mao e colha também da arvore da vida, e coma e viva para sempre!”). Sobre a arvore do conhecimento do bem e do mal cf. v.17(“Mas da arvore do conhecimento do bem e do mal não comeras, porque no dia em que dela comeres terás que morrer).
       O homem pecador, se constitui juiz do bem e do mal, o que e privilegio de Deus.Este conhecimento e um privilegio que Deus se reserva e que o homem usurpara pelo pecado (3,5.22 : “Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vos sereis como deuses, versados no bem e no mal.” ... “Depois disse Iahweh Deus: “Se o homem já e como um de nos,versado no bem e no mal, que agora ele não estenda a mao e colha também da arvore da vida, e coma e viva para sempre!”) . Não se trata, pois, nem da onisciência, que o homem decaído não possui, nem do discernimento moral, que o homem inocente já tinha e que Deus não pode recusar a sua criatura racional.  E a faculdade de decidir por si mesmo o que e bem e o que e mal, e de agir consequentemente: reivindicação de autonomia moral pela qual o homem nega seu estado de criatura (cf. Is 5,20: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem mal,dos que transformam as trevas em luz e a luz em trevas, dos que mudam o amargo em doce  e o doce em amargo!”).
     
     O primeiro pecado foi um atentado a soberania de Deus, um pecado de orgulho. Esta revolta exprimiu-se concretamente pela transgressão de um preceito estabelecido por Deus e representado sob a imagem do fruto proibido.

      “... porque no dia em que dela comeres terás que morrer” – A mesma expressão e empregada nas leis e nas sentenças que preveem uma pena de morte. Comer o fruto não provoca uma morte instantânea: Adão e Eva sobrevivem, e a condenação de 3,16-19 não fala da morte senão como termo de uma vida miserável. O pecado, simbolizado pelo fato de comer o fruto, merece a morte: o texto não diz mais que isso (cf. 3,3: “Mas do fruto da arvore que esta no meio do jardim, Deus disse: Dele não comereis, nele não tocareis, sob pena de morte”.) 

        A arvore da vida vem de uma tradição paralela a da arvore do conhecimento. O homem e mortal por natureza (cf. v.19: “Com o suor de teu rosto comeras teu pão ate que retornes ao solo, pois dele foste tirado. Pois tu ES pó e ao pó retornaras.”), mas aspira a imortalidade que lhe será finalmente concedida. O Paraiso perdido pela falta do homem e imagem do Paraiso reencontrado pela graça de Deus.   
Gn 2,18-25: “Javé Deus disse:
“Não e bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe um auxiliar que lhe convenha”. Javé Deus plasmou do solo todos os animais do campo e todas as aves do céu. Conduziu-os a presença do homem para ver que nome lhes daria: todo ser teria o nome que o homem lhe desse. E o homem deu nomes a todos os animais domésticos, as aves do céu e a todos os animais do campo. Para o homem, todavia ele não achou um auxiliar que lhe conviesse. Então Javé Deus fez cair sobre o homem um sono profundo e este adormeceu. Tirou-lhe uma costela e fechou de novo a carne em seu lugar. Da costela que tirou do homem Javé Deus edificou uma mulher  e a apresentou ao homem. O homem exclamou: “Desta vez, sim! E  osso de meus ossos, e carne de minha carne! Esta se chamara Mulher, isto e, a humana, porque do homem foi tirada.” E por isso que o homem deixara pai e mãe, e se apegara a sua mulher, e serão uma só carne.
Tanto o homem como a mulher estavam nus, mas não se envergonhavam”.
# A dignidade da mulher e fortemente sublinhada pela solenidade da narração que comporta:
·         uma reflexão divina (v. 18);
·          uma decisão divina (v.18b);
·         A encenação (do desfile dos animais) para demonstrar empiricamente o principio do v. 18ª; nenhum ser terreno pode tirar o homem da solidão, pois não são seres pessoais;
·         A encenação do Deus “cirurgião” visa afirmar:
a)- que a natureza humana não e completa, nem no homem só nem na mulher só, mas em ambos;
b)- que a mulher, portanto, e plenamente humana;
c)- que e isso que funda a maior afinidade do mundo;
d)- a qual serve de base ao maior amor do mundo;
e)- este, por sua vez, postula o casamento monogâmico, indissolúvel, que não deveria comportar nunca divorcio.

Gn 2,21-22: " Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e levou-a para junto do homem."
Texto citado em ICo 11,8s (" Porque o homem não foi tirado da mulher, mas a mulher do homem.Nem o homem foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem");
                         ITm 2,13 ("E se não formos fieis, ele ainda continuara fiel a nos, porque não pode negar a si mesmo")

Gn 2,23: "Eis agora aqui, disse o homem, o osso dos meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamara mulher, porque foi tomada do homem".                  
 Mulher: em hebraico Icha, derivado da palavra Ich, homem.
A carne (basar) e primeiramente, no animal ou no homem, a ‘vianda’, os músculos (41,2-4: “ ... e viu subir do Nilo sete vacas de bela aparência e bem cevadas, que pastavam nos juncos. E eis que atrás delas subiram do Nilo outras sete vacas, de aparência feia e mal alimentadas, e se alinharam ao lado das primeiras, na margem do Nilo. E as vacas de aparência feia e mal alimentadas devoraram as sete vacas bem cevadas e belas de aparência. Então o Farao acordou.”;
 Ex 4,7: “Iahweh lhe disse: “Torna a por a mao no peito”.Ele colocou novamente a mao no peito e retirou, e eis que havia se tornado como o restante de sua carne”;
Jo 2,5: “Mas estende a mao sobre ele, fere-o na carne e nos ossos; eu te garanto que te lançara maldiçoes em rosto”).
 E também o corpo inteiro (Nm 8,7: “A fim de os purificar, procederas da seguinte maneira: farás sobre eles uma aspersão de água lustral, raparão eles todo o seu corpo e lavarão as suas vestes e estarão, então , puros.” ;
1Rs 21,27: “Quando Acab ouviu essas palavras, rasgou as vestes, cobriu o corpo com pano de saco e jejuou; dormia vestido de pano de saco e andava a passos lentos.” ;
2Rs 6,30: “Quando o rei ouviu o que dissera a mulher, rasgou suas vestes; o rei estava andando sobre a muralha e o povo viu que ele trazia sobre o corpo um cilício.”) e por isso o vinculo familiar (2,23: “Então o homem exclamou: “Esta sim, e o osso de meus ossos e carne de minha carne! Ela será chamada ‘mulher’, porque foi tirada do homem!” ;
 Gn 29,14: “Então Labão  lhe disse: “Sim, tu es de meus ossos e de minha carne!” E Jacó ficou com ele um mês inteiro.” ; 
Gn 37,27: “ Vinde, vendamo-lo aos ismaelitas, mas não ponhamos a mão sobre ele: e nosso irmão, da mesma carne que nos. E seus irmãos o ouviram.”), ou seja, a humanidade ou o conjunto dos seres vivos (“toda carne”, 6,17.19 : “Quanto a mim, vou enviar o dilúvio, as águas sobre a terra, para exterminar de debaixo do céu toda carne que tiver sopro de vida: tudo o que há na terra deve perecer.” ... “De tudo o que vive, de tudo o que e carne, farás entrar na arca dois de cada espécie, um macho e uma fêmea, para os conservares em vida contigo.”;
Sl 136,25: “ Ele da o pão a toda carne, porque o seu amor e para sempre!”;
Is 40,5-6: “Então a gloria de Iahweh há de revelar-se e toda carne, de uma só vez, o vera, pois a boca de Iahweh o afirmou”. Eis uma voz que diz: ‘Clama’, ao que pergunto: “Que hei de clamar” – “Toda carne e erva e toda a sua graça como a flor do campo.”)
A alma (2,7; Sl 6,5: “Volta-te, Iahweh! Liberta-me! Salva-me, por teu amor!
   # Literalmente: “Liberta minha alma”. O termo hebraico nefesh (cf. Gn 2,7) designa a respiração vital (e por extensão a garganta), que esta no principio da vida e que se retira por ocasião da morte. O termo designa frequentemente o homem, ou o animal, como individuo animado (Gn 12,1; 14,21; Ex 1,5; 12,4, etc.), ou nas diferentes funções de sua vida corporal ou afetiva, sempre ligadas entre si (cf. Gn 2,21) A expressão “minha alma” equivale frequentemente ao pronome reflexivo “eu próprio, mim mesmo” (cf. Sl 3,3; 44,26;124,7;Gn 12,13;Ex 4,19; 1Sm 1,26;18;1-3,etc.), assim como “minha vida”, “minha face”, “minha gloria”. Estes diferentes sentidos de “alma” permanecerão vivos no NT (psyche; cf. Mt 2,20; 10,28; 16,25-26; 1Cor 4,16;15,44).
ou o espírito (6,17)


 Gn 2,24: Por isso o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir a sua mulher; e ja não são mais que uma só carne.
Texto citado em Mt 19,5("E que também disse: Por isso, o homem deixara pai e mãe e se unira a sua mulher, e serão os dois uma só carne");
                         Mc 10,7s("Por isso, o homem deixara seu pai e sua mãe e se unira a sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne. Assim ja não são dois, mas uma só carne");
                         Ef 5,31("E então o homem deixara pai e mãe para se unir a mulher, e serão os dois uma só carne);
                         ICor 6,16 ("Ou não sabeis  que aquele que se une com a prostituta constitui com ela um só corpo. Porque esta dito: Serão os dois uma só carne”).

      # A narrativa da criação da mulher (vv. 18-24) parece provir de uma tradiçao independente:  no v. 16, “homem” designa o homem e a mulher como em 3,24 (“ Ele baniu o homem e colocou, diante do jardim de Éden, os querubins e a chama da espada fulgurante para guardar o caminho da arvore da vida”); e 3,1-3 (“A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos, que Iahweh Deus tinha feito. Ela disse a mulher: “Então Deus disse: Vos não podeis comer de todas as arvores do jardim” A mulher respondeu a serpente: “Nos podemos comer do fruto das arvores do jardim. Mas do fruto da arvore que esta no meio do jardim, Deus disse: Dele não comereis, nele não tocareis, sob pena de morte.” ), que continua 2,17 (“ Mas da arvore do conhecimento do bem e do mal não comeras, porque no dia em que dela comeres terás que morrer.”), supõe  que o preceito tenha sido dado ao homem e a mulher. 

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