Blog Alma Missionária

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terça-feira, 21 de agosto de 2012


João Maria VianneyEra fevereiro de 1818. Usando uma velha carroça, tracionada por um animal não tão saudável, parou na estrada para se informar sobre o melhor caminho. Um menino que por ali pastoreava um pequeno rebanho, deixou-se atrair pela singeleza daquele transeunte de vestes rotas a ocupar uma carroça carregada de livros e alguns poucos pertences. “Já que me ensinas o caminho de Ars, prometo que lhe ensinarei o caminho do céu” – disse agradecido o estranho viajante. Diante de tão inesperada retribuição, o menino conduziu pessoalmente seu interlocutor até ao pobre vilarejo e não mais o perdeu de vista na expectativa de receber sua parte, o segredo do caminho do céu…
Assim João Maria Vianney, recém ordenado padre da diocese de Lyon, na França, assumia o desafio de ser o vigário geral de Ars-sur-Formans, localidade “onde não existiam pobres, só miseráveis” e onde nenhum sacerdote queria exercer seu ministério, pois tratava-se de uma comunidade de ateus e não praticantes da fé, mas conhecidos pelas jogatinas e violência.
 O histórico escolar desse sacerdote explica sua nomeação. Nascido numa região de extrema pobreza, só foi alfabetizado na adolescência, ainda assim numa escola improvisada, que lhe ministrou um curso intensivo de dois anos. Falava apenas um dialeto regional, o que dificultava sua interação com pessoas que não pertencessem ao seu núcleo familiar. Mesmo assim, com a ajuda de seu pároco, aos vinte anos ingressou no Seminário de Ecully, onde suas dificuldades de acompanhamento se tornaram gritantes. Além da questão do idioma, apresentava sérias dificuldades para acompanhar seus colegas, especialmente nas disciplinas de teologia e filosofia. Limitado nos estudos, tinha um carisma que o diferenciava e por isso era respeitado por todos: obediência, humildade, piedade, somados ao dom de sua extraordinária fé em Cristo.
Com esses atributos e apesar das limitações do intelecto, recebeu o sacramento da Ordem em 1815, com uma ressalva: não poderia atender às confissões. Durante três anos foi acompanhado por um quase “diretor espiritual”, o abade Malley, cuja convivência acabou por mudar a opinião de seus formadores, dado ao carisma especial de Vianney para os atos devocionais, em especial a oração diante do santíssimo. Sem mais argumentos, conseguiu a liberação para exercer plenamente seu ministério, assumindo antes a problemática paróquia de Ars.
Começou uma guerra de gigantes. Durante anos, entregou-se ao silêncio da oração, do jejum e da meditação diante do santíssimo, ouvindo as imprecações de um povo arredio e desvirtuado dos caminhos da fé, além de sentir o vazio da solidão e da incerteza quanto ao futuro de seus paroquianos. Travou intensa luta contra o próprio demônio, que se utilizou de todo e qualquer artifício para demovê-lo de sua missão. Um dia, quando se preparava para celebrar a Santa Missa (agora contando com alguns participantes atraídos por sua espiritualidade e perseverança) vieram avisá-lo que seu quarto estavaem chamas. Semesboçar pânico, entregou-lhes a chave da casa, dizendo: “Apaguem o fogo, pois o demônio, não podendo pegar o pássaro, queima a gaiola”.
Tornou-se um confessor incansável, chegando a ficar 18 horas dentro de um confessionário. Ars tornou-se um centro de peregrinação, um fato raro de um homem visitado em vida e venerado como relíquia preciosa da Igreja. Na estação ferroviária de Perrache, em Lyon, foi preciso improvisar um guichê para atender especialmente os quase 400 peregrinos diários que se dirigiam a Ars. Alguns desses peregrinos esperavam30 acinquenta horas numa fila, para serem atendidosem confissão. Diziao humilde cura, apontando a todos o caminho do céu: “Nesse caminho, quando se quer lutar e perseverar, só é custoso o primeiro passo”. Cura D´ars mudou-se para o andar de cima em 4 de agosto de 1859, tornando-se hoje o padroeiro de todos os padres.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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