Blog Alma Missionária

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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Visão Crista- UOL Blog

Inteligibilidade na natureza


Meu caro Leitor, reflita sobre estas ideias de Mariano Artigas, físico, filósofo, professor e sacerdote espanhol. Este belo texto encontra-se no excelente site: www.quadrante.com.br, precisamente aqui:http://www.quadrante.com.br/artigos_detalhes.asp?id=3&cat=2&pagina=1

A natureza torna-se parcialmente inteligível quando é contemplada à luz dos conhecimentos proporcionados pela experiência ordinária e pelas ciências, mas só ganha o seu sentido pleno quando contemplamos o sistema da natureza à luz do seu fundamento radical e da vida humana.
Tenta-se por vezes explicar a natureza levando em consideração meramente a sua composição e as suas leis: a ordem seria o resultado de combinações aleatórias de processos e a finalidade seria apenas aparente. Sob esta perspectiva, e partindo da oposição entre acaso e finalidade, quanto mais se sublinha o papel do acaso, menos espaço há para a finalidade. Contudo, a oposição entre acaso e finalidade não é absoluta, pois o acaso exige a finalidade. Com efeito, não poderíamos sequer falar de acaso se não existisse um sentido de direção, como também não teria sentido falar de desordem se não existisse uma certa ordem.
As críticas contra a teleologia – a afirmação de que há uma finalidade no Universo – costumam partir do princípio de que há uma contradição absoluta entre acaso e finalidade; em consequência, as explicações em que intervém o acaso são consideradas argumentos contra a finalidade. Ora bem, ao afirmar a existência de uma finalidade não se exclui qualquer tipo de acaso. Simplesmente sublinha-se que o acaso e, de modo geral, qualquer combinação de forças cegas, não pode ser considerado como uma explicação total.
Ao comentar as ideias de Aristóteles sobre a finalidade natural, Tomás de Aquino propôs uma espécie de definição da natureza contemplada a partir do seu fundamento metafísico radical, que é muito original e supera em profundidade as ideias de Aristóteles, além de ser surpreendentemente coerente com a cosmovisão atual. Diz assim: “a natureza é, precisamente, o plano de certa arte (concretamente, a arte divina), impressa nas coisas, pela qual as próprias coisas dirigem-se para um fim determinado: como se o artífice que fabrica um navio pudesse outorgar às madeiras a capacidade de se movimentarem por si próprias para formar a estrutura do navio”.
Nesta quase-definição, merecem especial atenção três aspectos: a racionalidade da natureza, a sua conexão com o plano divino e a ênfase na auto-organização.
Sublinha-se, em primeiro lugar, a racionalidade da natureza, ao identificar a natureza com o plano de uma arte. Com efeito, o progresso científico manifesta até extremos antes insuspeitados a eficiência e sutileza da natureza. O sucesso da ciência amplia cada vez mais o conhecimento da racionalidade na natureza. Embora os produtos da tecnologia superem a natureza em alguns aspectos, sempre se baseiam nos materiais e nas leis que a natureza põe à nossa disposição; e, evidentemente, a natureza sempre leva vantagem sobre nós em diversos aspectos de grande importância.
Em segundo lugar, a conexão da natureza com o plano divino expressa o fundamento radical da sua racionalidade intrínseca: a natureza é uma manifestação do plano divino, e portanto de um plano sumamente sábio. Além do mais, a ação divina não se limita a dirigir de fora a atividade natural: o plano divino está inscrito nas coisas. O natural possui modos de ser próprios, com as tendências correspondentes, que por sua vez conduzem a resultados ótimos. Compreende-se, portanto, que não existe oposição entre a ação natural e o plano divino; pelo contrário, o plano divino inclui o dinamismo tendencial do que é natural e realiza-se através da sua atualização.
Em terceiro lugar, refere-se à auto-organização como uma característica básica da natureza. O exemplo é muito gráfico: como se se pudesse outorgar movimento próprio aos pedaços de madeira que constituem uma nave. Esta idéia corresponde, de um modo que não se podia suspeitar há sete séculos (quando foi escrita), aos conhecimentos atuais de auto-organização da natureza, que implicam um enorme nível de cooperação entre os seus componentes, as suas leis e os diversos sistemas que se produzem nos sucessivos níveis de organização. Fica assim sublinhada a direcionalidade da natureza, também no seu aspecto sinérgico, e insinua-se a possível emergência de novos sistemas e propriedades como resultado da ação sinérgica ou cooperativa.
Em definitivo, essa definição tomista exprime o núcleo da perspectiva metafísica e finalista da natureza, e tem grande importância para determinar o seu valor no contexto da cosmovisão atual.

 



 Escrito por Dom Henrique às 01h25
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Hoje como ontem, convertei-vos!


Hoje estava meditando sobre o segundo capítulo dos Atos dos Apóstolos. Trata-se do iniciozinho da Igreja, do caminho da nossa Mãe católica, a única de Cristo-Esposo, neste mundão de Deus...
Pedro, o primeiro Chefe da Comunidade recém-nascida, anuncia com toda certeza e convicção de quem testemunhou: Jesus foi ressuscitado pelo Pai, Dele recebendo o Santo Espírito, agora derramado sobre todo aquele que Nele crer e for batizado (cf. At 2,32s).
A plateia escuta, ouve, sente o coração traspassado pelas palavras convictas, de fogo, de Pedro. Pergunta: “Que devemos fazer?” (At 2,37).
Fiquei pensando... Sem meias-palavras (tão comuns em tantos pregadores de hoje em dia, cheios de dedos para não desagradarem a ninguém), Pedro responde: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão dos pecados. Então recebereis o dom do Espírito Santo. Salvai-vos desta geração perversa” (At 2,38.40).
Quantos, na Igreja, temos coragem de dizer assim, de falar assim, com a convicção e transparência de Pedro? Ouço muito falar-se em concessões ao espírito do mundo, à mentalidade pagã, tudo em nome de uma falsa compreensão, uma mentirosa compaixão, uma truncada ideia de misericórdia! Pedro vai na contramão: “Salvai-vos dessa geração perversa!” Ó escândalo para tantos dentro da Igreja e do clero!
Observe, meu Leitor, que a primeira palavra do Apóstolo sobre o que fazer para ser de Cristo é plenamente fiel à palavra do próprio Cristo: “Arrependei-vos! Convertei-vos!” (cf. Mc 1,15; Mt 4,17). Não é possível ser cristão sem a disposição de sair de si, do seu antigo modo de viver, do seu atrofiado pensar, do torto proceder. O primeiro passo para quem deseja de verdade seguir o Senhor é arrepender-se, converter-se, mudar de vida! Mas, sejamos sinceros: temos medo de ofender, de parecer duros, de sermos antipáticos, de afastar as pessoas... e então calamos o Evangelho, nos omitimos, contemporizamos com a mentalidade pagã. Aí já não é o mundo quem deve se converter ao Evangelho, mas o Evangelho que é esvaziado e convertido ao mundo!
Esquecemos que não somos chamados a fazer sucesso, a juntar grande número de fieis, a ser populares e queridinhos, simpáticos e fofos. Somos chamados a ser fieis, a pregar a palavra a tempo e contratempo, quer agrade quer desagrade (cf. 1Tm 2,4), pois se quisermos simplesmente agradar ao mundo já não seremos servos de Jesus Cristo (cf. Gl 1,10).
Não se esqueça, meu Irmão Leitor: você, eu e quem quer que deseje ser cristão precisa deixar-se, precisa deixar, e seguir num contínuo processo de conversão, de largar o modo de pensar do mundo para abraçar o modo de pensar de Cristo. Uma coisa é tratar as pessoas com respeito e caridade, outra é lhes esconder com sinceridade e caridosa franqueza a verdade de Cristo! É preciso ter a coragem de ouvir e a coragem de dizer: “Converte-te! Muda de vida! Deixa-te, se queres ser cristão! Teu proceder é errado, teu modo de viver é pecaminoso, tua vida é de escravo do pecado! Deixa-te libertar por Cristo, que por ti morreu e ressuscitou! Ele te acolhe, Ele te perdoa, Ele te salva, Ele te conduzirá à vida eterna!”
Mas, e se aquele lá, triste ou raivoso, for embora pela verdade que lhe anunciamos? Façamos como o Senhor, que depois de ter olhado com amor aquele homem rico, respeitou a sua decisão de não aceitar o convite de Jesus e preferir continuar na vidazinha confortável (cf. Mc 10,17-22)... Não somos nós quem salvamos, não somos nós quem fazemos o caminho, não somos nós quem estabelecemos a verdade. A Verdade é Jesus – e devemos anunciá-La com toda caridade e toda verdade, com todo amor e toda clareza. O que passa disso não serve para o Reino dos Céus...




 Escrito por Dom Henrique às 23h38
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Gotas de lucidez e profundidade


"A Igreja é visível para as pessoas em muitas coisas: na caridade, em projetos de missão... Mas, o lugar onde ela é a maior parte das vezes verdadeiramente vivida como Igreja é a liturgia. E isso é uma coisa boa. Afinal de contas, o sentido da Igreja é voltarmos-nos para Deus. Ele chega até nós - e nós somos iluminados por Ele" (Bento XVI).

 

"A ideia de que o sacerdote e o povo deveriam olhar-se reciprocamente nasceu apenas na cristandade moderna e é completamente estranha à cristandade antiga. Sacerdote e povo certamente não rezam um para o outro, mas ao único Senhor. Portanto, durante a oração olham para a mesma direção: ou ao Oriente como símbolo cósmico do Senhor que vem ou, onde isso não fosse possível, a uma imagem de Cristo na ábside, a uma Cruz ou simplesmente para o céu, como dez o Senhor na oração sacerdotal, na noite antes da Sua Paixão. Dessa forma, está cada vez mais abrindo caminho a proposta que fiz: não proceder a novas transformações, mas simplesmente propor a Cruz no centro do altar, à qual possam olhar juntos o sacerdote e os fieis, para se deixarem guiar desse modo pelo Senhor, a Quem todos rezamos juntos" (Bento XVI).

 

"A liturgia é algo predeterminado? Sim. Não somos nós que fazemos alguma coisa, não somos nós que mostramos a nossa criatividade, ou seja, tudo aquilo que poderíamos fazer. A liturgia não é um teatro, um espetáculo - ela vive a partir do Outro! Isso tem de ser claro!
Por isso é que a predeterminação da forma da Igreja (obs: do rito estabelecido pela rubrica) é tão importante. Essa forma não pode ser produzida pela comunidade. Não se trata de uma produção feita por nós próprios. Trata-se de sair de si mesmo e ir além de si mesmo, entregar-se-Lhe e deixar-se tocar por Ele.
(A liturgia) deve ter sempre aquilo que nos precede e que surge da totalidade de fé da Igreja, de toda a sua tradição, de toda a sua vida, e que não aparece simplesmente a partir de modas passageiras" (Bento XVI).




 Escrito por Dom Henrique às 00h12
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Algumas questões sobre e morte e o Além - IV


Com o presente texto concluo estes artigos sobre o Além. No último escrito, mostrei que é o homem na sua totalidade quem ressuscita: corpo e alma. Vimos que as doutrinas reencarnacionistas não têm nenhum sentido do ponto de vista da Sagrada Escritura e da fé cristã. Agora, deixei para este último artigo uma questão: Como e quando será a ressurreição? Eis do que trataremos!
Nossa ressurreição é um processo que se inicia logo após a morte e terminará comente na Parusia, com a manifestação gloriosa do Senhor: logo após a morte, com uma dimensão mais individual da ressurreição e, na Parusia do Senhor, com uma dimensão marcadamente comunitária e cósmica. Vejamos. A morte, além de ser uma realidade que me atinge como “eu”, como identidade e como alguém que vive neste mundo em relações com as coisas e as pessoas, é, também, uma dilaceração de minha unidade psicossomática: meu corpo e minha alma, inseparáveis, separam-se! Por isso também a morte é experimentada por nós como algo existencialmente doloroso, como uma realidade que traz em si algo de violência... Eu sou meu corpo; na minha corporeidade experimento a morte e a dissolução do meu corpo, que vai decompor-se até o nada. Eu sou minha alma, que padece a separação do corpo com o qual e para o qual fora criada.
Imediatamente após a morte, minha alma ressuscita, isto é, é transfigurada com Cristo e em Cristo. A alma não morre: ressuscita no sentido de ser transfigurada em Cristo! Não basta, para ela, ser imortal porque é indestrutível: isso não garantiria a felicidade da alma. Somente transfigurada pelo Espírito do Cristo ressuscitado, a alma humana pode chegar à plenitude! É nesta plenitude feliz que nossa alma entra logo após a morte. Isto é o céu: estar com Cristo. Aí ninguém mais vai sofrer, ninguém mais vai chorar, ninguém mais vai ficar triste, ninguém mais vai ter saudade. Perder o Cristo é o inferno, que também começa logo após a morte para a alma dos condenados. Note-se que, para os cristãos, não é suficiente afirmar que a alma é imortal; é necessário afirmar também que ela ressuscitará, isto é, será plenificada em Cristo com uma vida sobrenatural, vida no Espírito Santo.
Mas, o que é a alma? É o nosso princípio de vida, de consciência e liberdade, é o núcleo de nossa personalidade, do nosso eu. Não é uma parte, um pedaço de mim, mas uma dimensão minha. Na minha alma, na minha dimensão anímica, eu tenho consciência de mim, de minha identidade: sei quem sou, sei o que quero, recordo plenamente o que fui e o que vivi! Concluindo: logo após a minha morte uma minha dimensão – a alma! - já entra na plenitude de Cristo, mas o meu ser humano como um todo ainda não está totalmente glorificado: falta a dimensão corporal, que é parte de mim, que me definiu durante minha existência neste mundo.
Na Parusia do Senhor, quando Ele Se manifestar na Sua glória, todo o mundo físico será glorificado e, aí também meu corpo, minha dimensão somática, física, material, será ressuscitada. Então, em corpo e alma eu estarei com o Senhor glorificado ou, ao invés, estarei eternamente distante Dele.
Então, há duas afirmações que é necessário manter unidas se quisermos ser coerentes com a Tradição da Igreja e com os dados da Escritura: 1) após a morte não ficaremos dormindo, mas já ressuscitaremos; 2) esta ressurreição imediata atinge somente uma dimensão nossa – a alma, núcleo do “eu”; 3) no final dos tempos, também nosso corpo ressuscitará, quando toda a criação será também transfigurada. Nosso corpo não ressuscita logo após a morte, mas somente no final dos tempos, no Dia da Ressurreição, até lá ficará “dormindo” no “sono” da morte!
Alguns teólogos perguntam: como pode existir uma alma separada? É preciso ter cuidado com esta questão! Filosoficamente falando a alma não poderia existir separada do corpo: a alma foi feita para animar o corpo e este só é corpo humano porque animado por uma alma humana. Sem alma, não há corpo humano, mas cadáver humano! Mas, isto vale para este mundo! Com a morte, nós saímos deste mundo e, então, não há muito que a filosofia ou a teologia possam falar sobre o Além de modo descritivo. Não podemos descrever nossa situação no pós-morte! Nossa alma subsiste no Além se o corpo de um modo sobrenatural, transfigurada na glória de Cristo! Um outro ponto importante a ser tomado em consideração: o modelo do que acontecerá conosco após a morte é Cristo! Ora, entre sua morte e ressurreição, enquanto seu corpo era destruído pela morte, no túmulo, sua alma humana não estava ali, unida ao corpo; não estava morta, apesar de ainda não estar glorificada! Então, não é impossível falar numa alma “separada”. Além do mais, a alma não fica propriamente separada: desde o Batismo e pela Eucaristia estamos misteriosa, mas realmente, incorporados em Cristo, no Seu corpo, que é a Igreja; estamos inseridos em Cristo e unidos ao Seu corpo! Assim sendo, mesmo antes da ressurreição final do nosso corpo, não somos alma sem corpo algum, separada de toda corporeidade: Estamos no Corpo de Cristo! Como é isto? Não podemos descrever nem imaginar, pois são realidades que pertencem ao mundo futuro! Sabemos disso, no entanto, pela fé naquilo que o Novo Testamento atesta e a contínua Tradição da Igreja ensina.
Quanto ao modo como o corpo ressuscitará no final dos tempos, já vimos nos textos passados; basta dar uma olhadinha. Uma última observação: em Maria, a Virgem, a ressurreição já foi totalmente realizada. Ela – e somente ela entre todos os santos – já está totalmente com Cristo, em corpo e alma, devido à sua singularíssima união com o Cristo!
Ficamos por aqui. Espero que, de modo geral, algumas questões sobre o Além tenham ficado mais claras. Para os irmãos católicos, espero que estes textos os ajudem a ter uma visão mais clara, articulada e madura da fé que professam. Para os não católicos, auguro que sejam oportunidade para conhecer sem preconceitos nem distorções infantis o que crê a Igreja de Cristo.




 Escrito por Dom Henrique às 22h53
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