Blog Alma Missionária

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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

11/12/2013  |  domtotal.com

Violento país do futebol

Em meio aos funerais de Mandela barbárie no Brasileiro mancha imagem do país às vésperas da Copa.


Saldo da baderna: quatro pessoas hospitalizadas e seis detidas. (Foto: Arquivo)
Por Marina Rossi*

Seis gols, quatro pessoas hospitalizadas e seis detidas. Esse foi o saldo de um dos jogos da última rodada do Campeonato Brasileiro, ocorrido no domingo 08. A partida entre o clube carioca Vasco da Gama e o time do Paraná, Atlético Paranaense, teve apenas 17 minutos de bola rolando, quando uma confusão generalizada tomou conta das arquibancadas, com uma briga violenta entre as torcidas rivais.

O país que se prepara para a Copa do Mundo, que ocorrerá daqui a sete meses, assistiu atônito à pancadaria que levou o jogo a ficar paralisado por cerca de uma hora. No confronto, torcedores foram chutados, espancados com barras de ferro e pisoteados uns pelos outros, resultando em imagens sangrentas impressas em jornais não só dentro do Brasil. E essas foram as cenas mais marcantes de uma partida que era decisiva para ambos os times: Se o Atlético ganhasse, seria classificado para a Copa Libertadores da América. O Vasco, por sua vez perdendo, seria rebaixado para a série B do campeonato.

Após a partida ser retomada, quase uma hora de pancadaria depois, o placar foi 5 para o Atlético, e 1 para o Vasco. Mas o saldo final ficou em seis pessoas detidas, sendo que três foram liberadas ainda no domingo e outros três ainda estavam presos até o fechamento dessa crônica. Além disso, quatro torcedores - dois de cada time - foram hospitalizados, porém, na manhã dessa segunda-feira, apenas um continuava internado no Centro Hospitalar Unimed, em Joinville, com um traumatismo na cabeça, mas sem correr o risco de morte. Os outros três já haviam sido liberados.

Tragédia anunciada

Nessa partida, o saldo de gols não era a única conta com consequências já previstas. A violência era um outro fator já pré-determinado. Em nota publicada no dia 2 de dezembro no site da torcida do Atlético Paranaense, os torcedores foram convocados ao jogo, e informados de que não seriam vendidas passagens para mulheres e crianças "devido ao alto risco de confrontos".

Essa crônica de uma tragédia anunciada seguiu como o esperado. Mesmo sob o "aviso" de uma possível guerra entre as torcidas, a partida teve início sem a presença de policiais nas arquibancadas, apenas nos arredores do estádio. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, câmeras constataram a presença de apenas seis seguranças particulares nos limites entre uma torcida e outra, antes dos confrontos.

Nesta segunda-feira, a PM se pronunciou sobre o caso alegando que havia destinado 113 policiais militares para o policiamento, mas que, devido a uma ação civil pública, por parte do Ministério Público, o Poder Judiciário proibia a participação de "policiais militares em atividades que fujam da competência institucional da Corporação". Em outras palavras, vetava o policiamento em eventos particulares, e dava aos organizadores do evento a responsabilidade da segurança.

Delegacia do torcedor

Diante da barbárie, a Fifa se pronunciou dizendo que tais cenas não vão se repetir durante os jogos da Copa do Mundo, já que a segurança no mundial, segundo a Fifa, será completamente diferente da feita no Brasileirão. Realmente, pode dar arrepios imaginar uma partida entre Inglaterra e França, por exemplo, com meia dúzia de seguranças particulares para prevenir que ânimos mais exaltados de torcidas tão rivais não invadam a arquibancada um do outro.

Em seu Twitter, a presidenta Dilma Rousseff lamentou o ocorrido e falou na criação de uma ´delegacia do torcedor´: "O país do futebol não pode mais conviver com a violência nos estádios", escreveu. "É necessária a presença da polícia nos estádios, a prisão em flagrante em caso de violência e a criação de uma delegacia do torcedor para que cenas como as de ontem sejam coibidas".

Só este ano, 30 pessoas morreram em decorrência de conflitos em estádios de futebol no Brasil. Desde 1984, quando ou a barbárie virou moda, ou apenas deu-se início à contabilização de vítimas, 234 mortes foram registradas em brigas de torcidas.

As punições, se podemos chamá-las assim, são amenas. Os times cujas torcidas se envolvem em brigas com grande repercussão, normalmente, perdem o direito de "mandar" nos próximos dois ou três jogos. Ou seja, a partida não ocorre no estádio do clube, até o castigo acabar.
* Marina Rossi é correspondente do jornal El País, onde esta reportagem foi publicada originalmente.





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