CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
PRIMEIRA PARTE - SEGUNDA SEÇÃO:
A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
OS SÍMBOLOS DA FÉ
CAPITULO II - ARTIGO 3 - PARÁGRAFO 3
OS MISTÉRIOS DA VIDA DE CRISTO
512 No tocante à vida de Cristo, o Símbolo da Fé fala somente dos mistérios da Encarnação (Conceição e Nascimento) Páscoa (Paixão, Crucifixão, Morte, Sepultamento, Descida aos Infernos, Ressurreição, Ascensão). Não diz nada, explicitamente dos mistérios da vida
1163 oculta e pública de Jesus. Mas os artigos da fé referentes à Encarnação e à Páscoa de Jesus iluminam toda a vida terrestre de Cristo. "Tudo o que Jesus fez e ensinou, desde o começo até o dia em que foi arrebatado" (At 1,1-2), deve ser visto à luz dos mistérios do Natal e da Páscoa.
513 A Catequese, conforme as circunstâncias, há desenvolver toda a riqueza dos Mistérios
426,561 de Jesus. Aqui é suficiente indicar alguns elementos comuns a todos os mistérios da vida de Cristo (I), para em seguida esboçar os principais mistérios da vida oculta (II) e pública (III) de Jesus.
I- Toda a vida de Cristo é mistério
514 Muitas coisas que interessam à curiosidade humana acerca de Jesus não figuram nos Evangelhos. Quase nada é dito sobre sua vida em Nazaré, e mesmo uma grande parte de sua vida pública não é relatada . O que foi escrito nos Evangelhos foi "para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome" (Jo 20, 31).
515 Os Evangelhos foram escritos por homens que estiveram entre os primeiros a ter a fé
126 e que queriam compartilhá-la com outros. Depois de terem conhecido na fé quem é Jesus, puderam ver e fazer ver os traços de seu mistério em toda a sua vida terrestre. Desde os paninhos de sua natividade até o vinagre de sua Paixão e o sudário de sua Ressurreição , tudo na vida de Jesus é sinal de seu Mistério. Por meio de seus gestos, de seus milagres, de suas palavras, foi revelado que "nele habita corporalmente toda a
609,774 plenitude da divindade" (Cl 2,9). Sua humanidade aparece, assim, como o "sacramento", isto é, o sinal e o instrumento de sua divindade e da salvação que ele traz: o que havia de
477 visível em sua vida terrestre apontava para o mistério invisível de sua filiação divina e de sua missão redentora.
OS TRAÇOS COMUNS DOS MISTÉRIOS DE JESUS
516 Toda a vida de Cristo é Revelação do Pai: suas palavras e seus atos, seus silêncios e
65 seus sofrimentos, sua maneira de ser e de falar. Jesus pode dizer: "Quem me vê, vê o Pai" (Jo 14,9); e o Pai pode dizer: "Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o" (Lc 9,35). Tendo Nosso Senhor se feito homem para cumprir a vontade do Pai , Os mínimos traços de seus
517 Toda a vida de Cristo é mistério de Redenção. A Redenção nos vem antes de tudo pelo
606,1115 sangue da Cruz , mas este mistério está em ação em toda a vida de Cristo: já em sua Encarnação, pela qual, fazendo-se pobre, nos enriqueceu por sua pobreza ; em sua vida oculta, que, por sua submissão, serve de reparação para nossa insubmissão ; em sua palavra, que purifica seus ouvintes ; em suas curas e em seus exorcismos, pelos quais "levou nossas fraquezas e carregou nossas doenças" (Mt 8,17 ); em sua Ressurreição, pela qual nos justifica.
518 Toda a vida de Cristo é mistério de Recapitulação. Tudo o que Jesus fez, disse e sofreu
668,2748 tinha por meta restabelecer o homem caído em sua vocação primeira:
Quando ele se encarnou e se fez homem, recapitulou em si mesmo a longa história dos homens e, em resumo, nos proporcionou a salvação, de sorte que aquilo que havíamos perdido em Adão, isto é, sermos à imagem e à semelhança de Deus, o recuperamos em Cristo Jesus . É, aliás, por isso que Cristo passou por todas as idades da vida, restituindo com isto a os homens a comunhão com Deus
NOSSA COMUNHÃO COM OS MISTÉRIOS DE JESUS
519 Toda a riqueza de Cristo "é destinada a cada homem e constitui o bem de cada
793,602 um ". Cristo não viveu sua vida para si mesmo, mas para nós, desde sua Encarnação "por nossos homens, e por nossa salvação" até sua Morte "por nossos pecados" (1Cor 15,3) e sua Ressurreição "para nossa justificação" (Rm 4,25). Ainda agora, Ele é "nosso advogado junto do Pai" (1Jo 2,1), "estando sempre vivo para interceder a nosso favor" (Hb 7,25). Com tudo o que viveu e sofreu por nós vez por todas, Ele permanece
1085 presente para sempre "diante face de Deus a nosso favor" (Hb 9,24).
2607 deu-nos um exemplo a imitar ; por sua oração , atrai à oração; por sua pobreza chama a aceitar livremente o despojamento e as perseguições.
521 Tudo o que Cristo viveu foi para que pudéssemos vivê-lo nele e para que Ele o vivesse
1391 Nós somos chamados a ser uma só coisa com Ele; Ele nos faz partilhar (comungar), como membros de seu corpo, de tudo o que (Ele), por nós e como nosso modelo, viveu em sua carne.
Devemos continuar e realizar em nós os estados e os mistérios de Jesus, e pedir-lhe muitas vezes que os complete e realize em nós e em toda a sua Igreja... Pois o Filho de Deus deseja conceder uma certa participação, e fazer como que uma extensão e continuação de seus mistérios em nós e em toda a sua Igreja, pelas graças que quer comunicar-nos, e pelos efeitos que quer operar em nós por esses mistérios. Por estes meios quer realizá-los em nós .
II. Os mistérios da infância e da vida oculta de Jesus
A PREPARAÇÃO
522 A vinda do Filho de Deus à terra é um acontecimento de tal imensidão que Deus quis
711,762 prepará-lo durante séculos. Ritos e sacrifícios, figuras e símbolos da "Primeira Aliança" , tudo ele faz convergir para Cristo; anuncia-o pela boca dos profetas que se sucedem em Israel. Desperta, além disso, no coração dos pagãos a obscura expectativa desta vinda.
712-720 caminho . "Profeta do Altíssimo" (Lc; 1,76), ele supera todos os profetas , deles é oúltimo , inaugura o Evangelho ; saúda a vinda de Cristo desde o seio de sua mãe e encontra sua alegria em ser "o amigo do esposo" (Jo 3,29), que designa como "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1,29). Precedendo a Jesus "com o espírito e o poder de Elias" (Lc 1,17), dá-lhe testemunho por sua pregação, seu batismo de conversão e, finalmente, seumartírio .
524 Ao celebrar cada ano a liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta espera do Messias:
1171 comungando com a longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo de sua Segunda Vinda. Pela celebração da natividade e do martírio do Precursor, a Igreja se une a seu desejo: "É preciso que Ele cresça e que eu diminua" (Jo 3,30).
O MISTÉRIO DO NATAL
437 testemunhas do evento são simples pastores. É nesta pobreza que se manifesta a glória do
Hoje a Virgem traz ao mundo o Eterno
E a terra oferece uma gruta ao Inacessível.
Os anjos e os pastores o louvam
E os magos caminham com a estrela.
526 "Tornar-se criança" em relação a Deus é a condição para entrar no Reino ; para isso é preciso humilhar-se , tornar-se pequeno; mais ainda: é preciso "nascer do alto" (Jo 3,7), "nascer de Deus " para tornar-nos filhos de Deus . O mistério do Natal realiza-se em nós quando Cristo "toma forma" em nós . O Natal é o mistério deste "admirável intercâmbio:
O admirabile commercium! Creator generis humani, anima corpus sumens, de Vir gine nasci digna tus
660 est; et procedens homo sine semine, largitus est nobis suam deitatem - Admirável intercâmbio! O
Criador da humanidade, assumindo corpo e dignou-se nascer de uma Virgem; e, tomando-se
Os MISTÉRIOS DA INFÂNCIA DE JESUS
1214 capacitação para o culto de Israel, do qual participará durante sua toda a vida. Este sinal prefigura "a circuncisão de Cristo", que é o Batismo.
528 A epifania é a manifestação de Jesus como Messias Israel, Filho de Deus e Salvador do
439 mundo. Com o Batismo de Jesus no Jordão e com as bodas de Caná , ela celebra a adoração de Jesus pelos "magos" vindos do Oriente . Nesses "magos", representantes das religiões pagãs circunvizinhas, o Evangelho vê as primícias das nações que acolhem a Boa Nova da salvação pela Encarnação. A vinda dos magos a Jerusalém para "adorar ao Rei dos Judeus " mostra que eles procuram em Israel, à luz messiânica da estrela de Davi , aquele que será o Rei das nações . Sua vinda significa que os pagãos só podem descobrir Jesus e adorá-lo como Filho de Deus e Salvador do mundo voltando-se para os judeus e recebendo deles sua promessa messiânica, tal como está contida no Antigo
583 Senhor . Com Simeão e Ana, é toda a espera de Israel que vem ao encontro de seu Salvador (a tradição bizantina designa com este termo tal acontecimento). Jesus é
439 reconhecido como o Messias tão esperado, "luz das nações" e "Glória de Israel", mas
614 também "sinal de contradição". A espada de dor predita a Maria anuncia esta outra oblação, perfeita e única, da Cruz, que dará a salvação que Deus "preparou diante de todos os povos".
luz: "Ele veio para o que era seu e os seus não o receberam" (Jo 1,11). Toda a vida de
libertador definitivo.
OS MISTÉRIOS DA VIDA OCULTA DE JESUS
531 Durante a maior parte de sua vida, Jesus compartilhou a condição da imensa maioria
2427 dos homens: uma vida cotidiana. Sem grandeza aparente, vida de trabalho manual, vida
estatura em graça diante de Deus e diante dos homens" (Lc 2,52).
532 A submissão de Jesus a sua Mãe e a seu pai legal cumpre com perfeição o quarto
2214-2220 mandamento. Ela é a imagem temporal de sua obediência filial a seu Pai celeste. A
612 submissão diária de Jesus a José e a Maria anunciava e antecipava a submissão da Quinta-feira Santa: "Não a minha vontade..." (Lc 22,42). A obediência de Cristo no cotidiano da vida condida inaugurava já a obra de restabelecimento daquilo a desobediência de Adão havia destruído .
533 A vida oculta de Nazaré permite a todo homem estar unido a Jesus nos caminhos mais
cotidianos da vida:
2717 Nazaré é a escola na qual se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho...
Primeiramente, uma lição de silêncio. Que nasça em nós a estima do silêncio, esta admirável e
2204 indispensável condição do espírito... Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a
família, sua comunhão de amor, sua beleza austera e simples, seu caráter sagrado e inviolável...
Uma lição de trabalho. Nazaré, ó casa do "Filho do Carpinteiro", é aqui que gostaríamos de
compreender e celebrar a lei severa e redentora do trabalho humano...; assim como gostaríamos
2427 finalmente de saudar aqui todos os trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande
583,2599 Evangelhos sobre os anos ocultos de Jesus. Nele Jesus deixa entrever o mistério de sua consagração total a uma missão decorrente de sua filiação divina: "Não sabíeis que devo
964 ocupar-me com as coisas de meu Pai?" (Lc 2,49). Maria e José "não compreenderam" esta palavra, mas a acolheram na fé, e Maria "guardava a lembrança de todos esses fatos em seu coração" (Lc 2,51), ao longo dos anos em que Jesus permanecia mergulhado no silêncio de uma vida ordinária.
III. OS MISTÉRIOS DA VIDA PÚBLICA DE JESUS
O BATISMO DE JESUS
719-720 João Batista proclamava "um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados" (Lc 3,3). Uma multidão de pecadores, de publicanos e soldados , fariseus e saduceus eprostitutas vem fazer-se batizar por ele. Jesus aparece, o Batista hesita, mas Jesus
701 insiste. E Ele recebe o Batismo. Então o Espírito Santo, sob forma de pomba, vem sobre Jesus, e a voz do céu proclama: "Este é o meu Filho bem-amado" (Mt 3,13-17). É a
438 manifestação ("Epifania") de Jesus como Messias de Israel e Filho de Deus.
536 O Batismo de Jesus é, da parte dele, a aceitação e a inauguração de sua missão de
1224 tira o pecado do mundo" (Jo 1,29), antecipa já o "Batismo" de sua morte sangrenta . Vem, já, "cumprir toda a justiça" (Mt 3,15), ou seja, submete-se por inteiro à vontade de seu Pai: aceita por amor este batismo de morte para a remissão de nossos pecados . A
727 O Espírito que Jesus possui em plenitude desde a sua concepção vem "repousar" sobre
739 Ele . Jesus ser a fonte do Espírito para toda a humanidade. No Batismo de Jesus, "abriram-se os Céus" (Mt 3,16) que o pecado de Adão havia fechado; e as águas são santificadas pela descida de Jesus e do Espírito, prelúdio da nova criação.
537 Pelo Batismo, o cristão é sacramentalmente assimilado a Jesus, que antecipa em seu
1262 Batismo a sua Morte e a sua Ressurreição; deve entrar neste mistério de rebaixamento humilde e de arrependimento, descer à água com Jesus para subir novamente com ele, renascer da água e do Espírito para tornar-se, no Filho, filho bem-amado do Pai e "viver em uma vida nova" (Rm 6,4):
628 Sepultemo-nos com Cristo pelo Batismo, para ressuscitar com Ele; desçamos com Ele, para ser
aconteceu com Cristo dá-nos a conhecer que, depois da imersão na água, o Espírito
Santo voa sobre nós do alto do Céu e que, adotados pela Voz do Pai, nos tornamos filhos de
A TENTAÇÃO DE JESUS
538 Os Evangelhos falam de um tempo de solidão de Jesus no deserto, imediatamente após seu Batismo por João: "Levado pelo Espírito" ao deserto, Jesus ali fica quarenta dias sem
394 comer, vive com os animais selvagens e os anjos o servem . No final dessa permanência, Satanás o tenta por três vezes procurando questionar sua atitude filial para com Deus.
518 Jesus rechaça esses ataques que recapitulam as tentações de Adão no Paraíso e de Israel no deserto, e o Diabo afasta-se dele "até o tempo oportuno" (Lc 4,13).
539 Os evangelistas assinalam o sentido salvífico desse acontecimento misterioso. Jesus é o
397 novo Adão, que ficou fiel onde o primeiro sucumbiu à tentação. Jesus cumpre à perfeição a vocação de Israel: contrariamente aos que provocai outrora a Deus durante quarenta anos nodeserto , Cristo se revela como o Servo de Deus totalmente obediente à vontade
385 divina. Nisso Jesus é vencedor do Diabo: ele "amarrou o homem forte" para retomar-lhe a presa . A vitória de Jesus sobre o tentador no deserto antecipa a vitória da Paixão,
609 obediência suprema de seu amor filial ao Pai.
540 A tentação de Jesus manifesta a maneira que o Filho de Deus tem de ser Messias o
519,2849 Cristão venceu o Tentador por nós: "Pois não temos um sumo sacerdote incapaz de compadecer-se de nossas fraquezas, pois Ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado" (Hb 4,15). A Igreja se une a cada ano, mediante os quarenta dias da
1438 Grande Quaresma, ao mistério de Jesus no deserto.
"O REINO DE DEUS ESTÁ BEM PRÓXIMO"
541 "Depois que João foi preso, Jesus veio para a Galiléia proclamando, nestes termos, o
2816 Evangelho de Deus: "Cumpriu-se O tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho"' (Mc 1,14-15). "Para cumprir a vontade do Pai, Cristo inaugurou o Reino dos céus na terra ." Ora, a vontade do Pai é "elevar os homens à
865 Filho, Jesus Cristo. Esta reunião é a Igreja, que é na terra "O germe e o começo do Reino deDeus "
542 Cristo está no centro do congraçamento dos homens na "família de Deus". Convoca-os
2233 junto a si por sua palavra, por seus sinais que manifestam o reino de Deus, pelo envio de seus discípulos. Realizar a vinda de seu Reino sobretudo pelo grande mistério de sua Páscoa: sua morte na Cruz e sua Ressurreição. "E eu, quando for elevado da terra,
789 atrairei todos a mim" (Jo 12,32). A esta união com Cristo são chamados todos os
O ANUNCIO DO REINO DE DEUS
543 Todos os homens são chamados a entrar no Reino. Anunciado primeiro aos filhos de Israel , este Reino messiânico está destinado a acolher os homens de todas as
Pois a palavra do Senhor é comparada à semente semeada no campo: os que a ouvem com fé e são contados no número da pequena grei de Cristo receberam o próprio Reino; depois, por sua própria força, a semente germina e cresce até o tempo da messe .
544 O Reino pertence aos pobres e aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com um
2546 bem-aventurados, pois "o Reino dos Céus é deles" (Mt 5,3); foi aos "pequenos" que o Pai se dignou revelar o que permanece escondido aos sábios e aos entendidos . Jesus compartilha a vida dos pobres desde a manjedoura até a cruz; conhece a fome , a sede e a indigência . Mais ainda: identifica-se com os pobres de todos os tipos e faz do amor ativo para com eles a condição para se entrar em seu Reino .
545 Jesus convida os pecadores à mesa do Reino: "Não vim chamar justos, mas os
1846 Reino, mas mostrando-lhes, com palavras e atos, a misericórdia sem limites do Pai por
1439 eles e a imensa "alegria no céu por um único pecador que se arrepende" (Lc 15,7). A prova suprema deste amor ser o sacrifício de sua própria vida "em remissão dos pecados" (Mt 26.28).
546 Jesus convida a entrar no Reino por meio das parábolas, traço típico de seu
2613 ensinamento . Por elas, convida ao festim do Reino , mas exige também uma opção radical: para adquirir o Reino é preciso dar tudo ; as palavras não bastam, são necessários atos As parábolas são como espelhos para o homem: este acolhe a palavra como um solo duro ou como uma terra boa ? Que faz ele dos talentos recebidos ? Jesus e a presença do Reino neste mundo estão secretamente no coração das parábolas. E preciso entrar no Reino, isto é, tomar-se discípulos de Cristo para
542 "conhecer os mistérios do Reino dos Céus" (Mt 13,11). Para os que ficam "de fora" (Mc 4,11), tudo permanece enigmático .
OS SINAIS DO REINO DE DEUS
547 Jesus acompanha suas palavras com numerosos "milagres, prodígios e sinais" (At 2,22)
670 que manifestam que o Reino está presente nele. Atestam que Jesus é o Messias
milagres fortificam a fé naquele que realiza as obras de seu Pai: testemunham que Ele é o
574,447 Filho de Deus . Eles podem também ser "ocasião de escândalo ". Não se destinam a satisfazer a curiosidade e os desejos mágicos. Apesar de seus milagres tão evidentes, Jesus é rejeitado por alguns ; acusam-no até de agir por intermédio dos demônios .
1503 doença e da morte , Jesus operou sinais messiânicos; não veio, no entanto, para abolir todos os males da terra , mas para libertar os homens da mais grave das escravidões,
440 a do pecado , que os entrava em sua vocação de filhos de Deus e causa todas as suas escravidões humanas.
394 de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós" (Mt 12,28).
2816 Reino de Deus ser definitivamente estabelecido: "Regnavit a ligno Deus - Deus reinou
do alto do madeiro ".
"AS CHAVES DO REINO"
551 Desde o início de sua vida pública, Jesus escolhe homens em número de doze para estar
858 com Ele e para participar de sua missão ; dá-lhes participação em sua autoridade "e enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar" (Lc 9,2). Permanecem eles para sempre
765 associados ao Reino de Cristo, pois Jesus dirige a Igreja por intermédio deles:
Disponho para vós o Reino, como meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e bebais à minha mesa em meu Reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel (Lc 22,29-30)
880,153 missão única. Graças a uma revelação vinda do Pai, Pedro havia confessado: "Tu és o
442 Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16,16). Nosso Senhor lhe declara na ocasião: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as Portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela" (Mt 16,18). Cristo, "Pedra viva "; garante a sua Igreja
424 construída sobre Pedro a vitória sobre as potências de morte. Pedro, em razão da fé por ele confessada, permanecerá como a rocha inabalável da Igreja. Terá por missão defender esta fé de todo desfalecimento e confirmar nela seus irmãos .
553 Jesus confiou a Pedro uma autoridade específica: "Eu te darei as chaves do Reino dos
381 Céus: o que ligares na terra será ligado nos Céus, e o que desligares na terra será desligado nos Céus" (Mt 16,19). O "poder das chaves" designa a autoridade para governar a casa de Deus, que é a Igreja. Jesus, "o Bom Pastor" (Jo 10,11), confirmou
1445 este encargo depois de sua Ressurreição: "Apascenta as minhas ovelhas" (Jo 21,15-17). O poder de "ligar e desligar" significa a autoridade para absolver os pecados, pronunciar juízos doutrinais e tomar decisões disciplinares na Igreja. Jesus confiou esta autoridade à
641,881 Igreja pelo ministério dos apóstolos e particularmente de Pedro, o único ao qual confiou explicitamente as chaves do Reino.
UM ANTEGOZO DO REINO: A TRANSFIGURAÇÃO
554 A partir do dia em que Pedro confessou que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, o Mestre "começou a mostrar a seus discípulo que era necessário que fosse a Jerusalém e sofresse... que fosse morto e ressurgisse ao terceiro dia" (Mt 16,21): Pedro rechaça este anúncio , os demais também não o compreendem . É neste contexto que se situa
697,2600 o episódio misterioso da Transfiguração de Jesus sobre um monte elevado, diante de três testemunhas escolhidas por ele: Pedro, Tiago e João. O rosto e as vestes de Jesus tornam-se fulgurantes de luz, Moisés e Elias aparecem, "falavam de sua partida que iria
444 se consumar em Jerusalém" (Lc 9,31). Uma nuvem os cobre e uma voz do céu diz: "Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o" (Lc 9,35).
555 Por um instante, Jesus mostra sua glória divina, confirmando, assim, a confissão de
2576,2583 Pedro. Mostra também que, para "entrar em sua glória" (Lc 24,26), deve passar pela Cruz em Jerusalém. Moisés e Elias haviam visto a glória de Deus sobre a Montanha; a Lei e os profetas tinham anunciado os sofrimentos do Messias . A Paixão de Jesus é
257 sem dúvida a vontade do Pai: o Filho age como servo de Deus . A nuvem indica a presença do Espírito Santo: "Tota Trinitas apparuit: Pater in voce; Filius in homine, Spiritus in nube clara - A Trindade inteira apareceu: o Pai, na voz; o Filho, no homem; o Espírito, na nuvem clara ":
Vós vos transfigurastes na montanha e, porquanto eram capazes, vossos discípulos contemplaram vossa Glória, Cristo Deus, para que, quando vos vissem crucificado, compreendessem que vossa Paixão era voluntária e anunciassem ao mundo que vós sois verdadeiramente a irradiação do Pai .
556 No limiar da vida pública, o Batismo; no limiar da Páscoa, a Transfiguração. Pelo Batismo de Jesus "declaratum fuit mysterium primae regenerationis - foi manifestado o mistério da primeira regeneração": o nosso Batismo; a Transfiguração "est sacramentum secundae regenerationis - é o sacramento da segunda regeneração": a nossa própria
1003 ressurreição . Desde já participamos da Ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que age nos sacramentos do Corpo de Cristo A Transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa do Cristo, "que transfigurar nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso" (Fl 3,21). Mas ela nos lembra também "que é preciso passarmos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus" (At 14,22):
Pedro ainda não tinha compreendido isso ao desejar viver com Cristo sobre a montanha . Ele reservou-te isto, Pedro, para depois da morte. Mas agora Ele mesmo diz: Desce para sofrer na terra, para servir na terra, para ser desprezado, crucificado na terra. A Vida desce para fazer-se matar; o Pão desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-se da caminhada; a Fonte desce para ter sede; e tu recusas Sofrer ?
A SUBIDA DE JESUS A JERUSALÉM
557 "Ora, quando se completaram os dias de sua elevação, Jesus tomou resolutamente o caminho de Jerusalém" (Lc 9, 51 ). Com esta decisão, indicava que subia a Jerusalém pronto para morrer. Por três vezes tinha anunciado sua Paixão e sua Ressurreição . Ao dirigir-se para Jerusalém, disse: "Não convém que um profeta pereça fora de Jerusalém" (Lc 13,33).
558 Jesus lembra o martírio dos profetas que tinham sido mortos em Jerusalém . Todavia, persiste em convidar Jerusalém a congregar-se em torno dele: "Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha recolhe seus pintainhos debaixo das asas... e não o quiseste" (Mt 23,37b). Quando Jerusalém está à vista, chora sobre ela e exprime uma vez mais o desejo de seu coração: "Ah! Se neste dia também tu conhecesses a mensagem de paz! Agora, porém, isto está escondido a teus olhos" (Lc 19,42).
A ENTRADA MESSIÂNICA DE JESUS EM JERUSALÉM
559 Como vai Jerusalém acolher seu Messias? Embora sempre se tivesse subtraído às tentativas populares de fazê-lo rei . Jesus escolhe o momento e prepara os detalhes de sua entrada messiânica na cidade de "Davi, seu pai" (Lc 1,32 ). É aclamado como o filho de Davi, aquele que traz a salvação ("Hosana" quer dizer salva-nos!", "dá a salvação!") Ora, o "Rei de Glória" (Sl 24,7-10) entra em sua cidade "montado em um jumento" (Zc 9,9): não conquista a Filha de Sião figura de sua Igreja, pela astúcia nem pela violência, mas pela humildade que dá testemunho daVerdade . Por isso os súditos de
333 seu Reino, nesse dia, são as crianças e os "pobres de Deus" que o aclamam como os anjos o anunciaram aos pastores . A aclamação deles - "Bendito seja o que vem em
1352 nome do Senhor" (S1 118,26)- é retomada pela Igreja no "Sanctus" da liturgia eucarística, para abrir o memorial da Páscoa do Senhor.
560 A entrada de Jesus em Jerusalém manifesta a vinda do Reino que o Rei-Messias vai
550,2816 realizar pela Páscoa de sua Morte e de sua Ressurreição. E com sua celebração, no
1169 Domingo de Ramos, que a liturgia da Igreja abre a grande Semana Santa.
RESUMINDO
561 "Toda a vida de Cristo foi um contínuo ensinamento: seus silêncios, seus milagres, seus gestos, sua oração, seu amor ao homem, sua predileção pelos pequenos e pelos pobres, a aceitação do sacrifício total na Cruz pela redenção do mundo, Sua Ressurreição constituem a atuação de sua palavra e o cumprimento da Revelação .
562 Os discípulos de Cristo devem conformar-se com Ele até Ele se formar neles " É por isso que somos inseridos nos mistérios de sua vida, com Ele configurados, com Ele mortos e com Ele ressuscitados, até que com Ele reinemos .
563 "Seja pastor, seja mago, não se pode atingir a Deus na terra senão ajoelhando-se diante da manjedoura de Belém e adorando-o escondido na fraqueza de uma criança.
564 Por sua submissão a Maria e José, assim como por seu humilde trabalho durante longos anos em Nazaré, Jesus nos dá o exemplo da santidade na vida cotidiana da família e do trabalho.
565 Desde o início de sua vida pública, em seu Batismo, Jesus é o "Servo", inteiramente consagrado à obra redentora que se realizará pelo "Batismo" de sua paixão.
566 A tentação no deserto mostra Jesus, Messias humilde que triunfa sobre Satanás por sua total adesão ao desígnio de salvação querido pelo Pai.
567 O Reino dos céus foi inaugurado na terra por Cristo. "Manifesta-se lucidamente aos homens na palavra, nas obras e na presença de Cristo . "A Igreja é o germe e o começo desde Reino. Suas chaves são confiadas a Pedro.
568 A Transfiguração de Cristo tem por finalidade fortificar a fé dos apóstolos em vista da Paixão: a subida à "elevada montanha" prepara a subida ao Calvário. Cristo, Cabeça da Igreja, manifesta o que seu Corpo contém e irradia nos sacramentos "a esperança da Glória" (Cl 1,27 ).
569 Jesus subiu voluntariamente a Jerusalém, embora soubesse que lá morreria de morte violenta por causa da contradição por parte dos pecadores .
570 A entrada de Jesus em Jerusalém manifesta a vinda do Reino que o Rei-Messias, acolhido em sua cidade pelas crianças e pelos humildes de coração, vai realizar por meio da Páscoa de sua Morte e Ressurreição.
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