HOMILIAS DO TRÍDUO PASCAL
PAIXÃO DO SENHOR
A vida de Jesus é um total esvaziamento de si mesmo. É uma entrega gradativa, ou seja, Ele vai doando-se cada vez mais. Na medida em que se oferece e assume com firmeza as consequências de sua missão, vai ficando sozinho. Primeiramente, é abandonado pela multidão, depois pelos discípulos, depois parece estar sem o Pai. Ele fica só, diante do mistério de sua existência.
“Pai, em tuas mãos eu entrego o meu Espírito”. Quando repetimos este refrão na salmodia, assumimos a mesma condição de Jesus. Ele foi filho, revelou-se um Filho amado do Pai. Sua vida foi um cumprimento da vontade do Pai: “Não vou beber o cálice que o Pai me deu?” De fato, Pedro não queria, não entendia sua escolha. Não desejava o Messias das dores. Ninguém entendeu que sua fidelidade ao Pai não o permitia voltar atrás, não permitia que ele renunciasse toda a verdade anunciada, todo o projeto assumido. Jesus não era masoquista, apenas aceitou a vontade do Pai: “Faça-se a tua vontade!” Não aceitou morrer por morrer, mas aceitou não fugir diante de suas opções: amar a todos, oferecer-se por todos, proclamar a verdade sem medo das consequências.
A morte é a chave de interpretação da vida de Jesus. Ele descobriu em sua relação com o Pai que a vida só tem sentido quando doada. Quem dera que todos nós compreendêssemos que este é o sentido da vida humana. Que fizéssemos de nossa vida uma entrega ao Pai, uma opção pelo Reino de Deus com todas as suas consequências. Mas o homem velho ainda está em nós, apontando-nos para o egoísmo, para o poder, para o prazer, para as recompensas deste mundo, para salvar a própria pele.
“Tenho sede!” Há um sentido espiritual em sua sede. Não se trata apenas de uma sede física, mas de uma sede espiritual. Ele tem sede de que todos nós compreendamos e nos abramos ao seu amor. Mas, como Deus respeitou a escolha de seus algozes, continua respeitando nossas escolhas.
Diante da cruz, houve muitas atitudes... Os sacerdotes e mestres da lei o condenaram, o povo foi omisso, as mulheres choraram, os discípulos fugiram com medo, Pilatos lavou as mãos, Dimas pediu perdão, o outro ladrão zombou, o soldado jogou uma lança, Pedro o negou, Judas o traiu... Hoje é a nossa vez de escolher uma atitude. Ele tem sede de amor.
Pe. Roberto Nentwig
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