Blog Alma Missionária

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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O REMADOR E O CONSELHEIRO postado em 11/04/2011 21:05 por Antonio Gazato Neto


                 
  Os dois primos tinham quase a mesma idade. Ambos haviam nascidos numa pequena aldeia de um grande reino. Cresceram juntos, na mesma vida simples de filhos de pobres camponeses.
                   Só que tinham visão diferente do mundo. Enquanto um deles era curioso, buscando sempre saber o porquê das coisas, sempre se aprofundando no conhecimento, o outro era displicente, se preocupando somente com os folguedos e brincadeiras.
                   Quando atingiram a idade dos estudos, as diferenças de caráter se acentuaram. O primeiro se dedicava aos estudos, abandonando as brincadeiras para estudar e fazer as lições, nunca faltando às aulas; o segundo, ao contrário, não gostava de estudar, não fazia suas lições e faltava muito às aulas.
                   Discutiam muito por causa disso. O segundo criticava o primo por ser tão diligente, por deixar de aproveitar a vida, lançando–se aos estudos. Este lhe replicava, explicando que eles não seriam sempre crianças e adolescentes. Dia chegaria que se tornariam adultos, assumindo responsabilidades familiares e, somente a dedicação aos estudos lhes proporcionaria uma vida futura melhor e mais feliz.
                   Na busca de uma melhor formação, o estudioso acabou saindo da aldeia, mudando-se para a cidade, na busca de seus objetivos. Seu primo continuou na aldeia, terminando, com muita deficiência, seus estudos básicos.
                   A distância os separou, de forma que, durante muito tempo, os primos não tiveram mais contato.
                   O estudioso, em razão de sua dedicação, se formou na faculdade, adquirindo notoriedade e acabou sendo contratado pelo Rei, para ser seu conselheiro.
                   O primo displicente, por sua vez, acabou como remador de barcos.
                   Certo dia, precisando fazer uma viagem marítima para inspecionar seus domínios, o Rei convocou seus conselheiros para acompanhá-lo e ajudá-lo a resolver os problemas que por ventura encontrassem no reino.
                   Quando ingressaram no barco, o primo que virara conselheiro encontrou seu parente operando um dos remos da embarcação.
                   Durante a viagem, o primo remador ficava resmungando em seu posto, queixando-se de sua sorte e amaldiçoando o primo conselheiro, pois que ambos, nascidos na mesma aldeia e nas mesmas condições de pobreza, não deveriam estar em condições tão diferentes. Chamava o outro de vagabundo, pois enquanto ele estava ali, remando com enorme esforço, o primo estava refestelado ao lado do rei e de outros conselheiros, comendo e bebendo do bom e do melhor, admirando a bela paisagem.
                   Seus resmungos perduraram durante todo o dia, pois não se conformava com aquela situação e achava que o primo deveria ajudá-lo, tirando-o de sua insignificante condição de remador.
                   Quando anoiteceu, o Rei determinou que o barco fosse ancorado numa pequena praia, onde passariam a noite, para seguir viagem no dia seguinte.
                   Em certa hora da noite, o primo remador foi acordado pelo próprio Rei, que lhe disse:
- Olha, não estou conseguindo dormir por causa de um barulho que vem daquele morro ali. Levante-se, vá até lá e veja o que está causando esse barulho.
- Sim senhor, Majestade. Já estou indo.
O remador subiu o morro correndo, demorou alguns minutos e retornou todo esbaforido pelo cansaço da subida.
- Majestade, quem está causando este barulho é uma gata e seus filhotes. Ela deve ter dado cria recentemente e seus filhotes estão fazendo muito ruído.
- Muito bem, disse o Rei, de que raça é essa gata?
- Hum, não sei, Majestade, não me preocupei com isso, mas vou subir lá e verificar.
Voltou minutos depois, ainda mais cansado:
- E então, perguntou o Rei.
- Olha, majestade, a gata é da raça siamesa.
- Ótimo, mas quantos são os filhotes?
- Não tenho certeza, mas acho que são seis.
- Quantos machos e quantas fêmeas, perguntou o Rei.
- Não sei, Majestade, não verifiquei, mas volto lá e já lhe dou a resposta.
Voltou minutos depois, quase sufocado de cansaço.
- Majestade, são realmente seis filhotes, sendo três machos e três fêmeas.
- Certo. E o que você fez para que eles parassem de fazer barulho e me deixassem dormir.
- Errr, bom, Majestade, o que eu poderia fazer? Eu os deixei da mesma maneira que encontrei. Não há nada que eu poderia fazer para que se calassem.
- Está bem, disse o Rei, espere um pouco.
O rei se encaminhou para o local onde seus conselheiros dormiam e acordou o primo do remador, trazendo-o para fora do barco, ordenando-lhe:
- Olha, não estou conseguindo dormir por causa de um barulho que vem daquele morro ali. Vá até lá e veja o que está causando esse barulho.
- Imediatamente, majestade.
O remador estranhou a atitude do Rei, pois ele já havia verificado o que estava acontecendo e não entedia porque seu primo tinha que fazer a mesma coisa.
                   Passaram muitos minutos, sem que seu primo voltasse. O remador começou a ruminar seu contentamento, pensando: “Ta vendo, aquele incompetente está demorando muito para resolver um pequeno problema. Está provado que eu sou melhor do que ele. Quem sabe agora o Rei vai me dar o devido valor?”
                   Passado uns vinte minutos, o conselheiro voltou ao barco e disse ao Rei.
- Majestade, o barulho que vos perturbava era causado por uma ninhada de gatos. Uma gata siamesa deu cria a seis filhotes, sendo três machos e três fêmeas. Eles nasceram num velho tonel de madeira, que está tombado no alto daquele morro. Eu fui até a aldeia próxima, que fica logo abaixo, do outro lado do morro e acordei o prefeito para saber de quem eram aqueles gatos que estavam incomodando Vossa Majestade. Os gatos são do próprio prefeito, que pede mil desculpas ao Rei, pois ignorava que estávamos atracados aqui. O prefeito já providenciou a retirada dos gatinhos e pediu que Vossa Excelência aceitasse como presente um dos filhotes como bicho de estimação, escolhendo o mais bonito entre eles, me pedindo que o entregasse ao Rei. Aqui está o lindo gatinho, Majestade.
O Rei agradeceu ao seu conselheiro e o dispensou, para que voltasse a dormir. Quando ele se afastou, o Rei voltou-se para o remador, que a tudo presenciara e lhe disse:
- Meu jovem, durante a viagem, sem que você percebesse, ouvi suas imprecações contra seu primo. Eu já sabia que você e meu conselheiro eram primos, pois ele me contou no início da viagem e também me contou a história de vocês. Isto que fiz, foi para lhe demonstrar o quanto você está sendo injusto com seu primo. Veja que, para obter algumas simples informações, você teve que retornar ao morro por três vezes e ainda por cima, não resolveu o problema. Seu primo, ao contrário, de uma só vez trouxe todas as informações, resolveu o problema e ainda me trouxe um belo presente.
- A verdade, meu amigo, continuou o Rei, é que você nunca aproveitou as chances que a vida lhe deu e nem correu atrás de seus ideais. Aliás, acho que você nem sabe o que quer dizer “ideais”. As chances sempre estiveram na sua frente, como hoje. Bastava apenas um pouco de boa vontade, para você fazer o que seu primo fez. Mas sua costumeira acomodação não deixou você enxergar as informações e a solução do problema.
- Não é a vida e nem seu primo que são injustos contra você. Mas é você que é injusto contra a vida, contra aqueles que o cercam e contra você mesmo. Você quer ser um vencedor? Então lute para isso. Não espere que as coisas caiam do céu. Não se esqueça que Deus, na sua incomparável justiça, dá a recompensa a cada um, de acordo com seu merecimento. Então, faça por merecer a sua recompensa, sem esperar que outros a obtenham para você – arrematou o Rei e foi dormir...

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