Povos testemunhas
Data de Publicação: 24 de agosto de 2012 às 07:45
Dom José Belisário da Silva *
Queiramos ou não, carregamos dentro de nós o nosso passado. O passado pessoal, sem dúvida. Mas, também o nosso passado social, nosso passado de povo. A celebração dos 400 anos do estabelecimento dos europeus em terras maranhenses é uma boa ocasião para retomarmos algumas questões de nossa história como povo.
Uma dessas questões refere-se aos habitantes originais dessa terra. Quando os europeus aqui aportaram, não encontraram uma terra vazia. Calcula-se que moravam na Ilha Upaon-Açu cerca dez mil indivíduos, pertencecentes à nação Tupinambá. Conforme informações de frei Claude d’Abeville, a princípio, o encontro dos europeus com os povos da terra foi bastante cordial. Logo, porém, estes descobriram que a vinda desses homens do mar não era uma boa notícia. Doenças desconhecidas, maus tratos, guerras de extermínio resultaram em um verdadeiro genocídio.
Há um mito recorrente na história do Maranhão – o mito da terra vazia –, que serve, até hoje, para legitimar a ocupação de terras, consideradas sem dono e sem moradores. Foi o que aconteceu no início de nossa história e vem se repetindo ao longo dos séculos.
Temos hoje no Maranhão 17 Áreas Indígenas homologadas. Em termos eclesiais, a diocese que possui maior população indígena é a diocese de Grajaú. Outras dioceses que contam com aldeias indígenas são as dioceses de Zé Doca, Imperatriz, Carolina e Viana. A presença da Igreja junto às populações indígenas foi e continua sendo um grande desafio. Para ajudar na evangelização dos povos indígenas, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) criou o CIMI (Conselho Indigenista Missionário) que, neste ano, está completando 40 anos de funcionamento. Nesse período, o CIMI tem sido um grande parceiro e defensor dos povos indígenas.
Para construirmos uma sociedade mais justa, mais igualitária e ecologicamente mais equilibrada, é preciso começar reconhecendo os erros passados. Alguns fantasmas nos perseguem. Como exorcizá-los? As nações indígenas que sobrevivem no Brasil são povos testemunhas que nos questionam. Que país queremos construir? Que mundo queremos deixar para aqueles que nos sucederão?
*Arcebispo de São Luís
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