Blog Alma Missionária

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domingo, 23 de setembro de 2012

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sexta-feira, 4 de maio de 2012

Palavras do evangelista Marcos acerca da experiência de Fé (II)


Vimos dias atrás alguns traços do que significa “ter fé” na primeira vez na qual o evangelista Marcos se refere ao ato de crer. E o texto de Mc 2,5 nos ajudou a uma primeira achega ao tema. Vimos que o homem ou mulher de fé tem Deus por seu rei, ou seja, são os critérios de Deus os prevalecentes nas mais diversas realidades da vida (reinado de Deus). Ademais, a fé leva a adesão à pessoa de Jesus, confiando ao Senhor o melhor modo de agir com a sua potência libertadora.

Nesta nova página vamos continuar o nosso diálogo com o evangelista. Vamos tentar interpretá-lo no novo passo no qual ele quis destacar a temática da fé. Está em Mc 4,40, nos quadros da narrativa sobre a assim chamada Tempestade Acalmada. É importante recordar o contexto: Na imediações de Cafarnaum, Jesus, desde uma barca, ensinava as multidões. Estas permaneciam na praia. A linguagem em parábolas ilustrava o ensinamento sobre o reinado de Deus. Ao cair da tarde Jesus chamou os discípulos para a travessia à outra margem do lago. No percurso sobreveio a tempestade (Mc 4,35-41).

Sigamos o evangelista: “Veio, então, uma uma ventania tão forte que as ondas se jogavam dentro do barco; este se enchia de água” (v. 37). Já desde o Antigo Testamento o mar é apresentado como uma potência inimiga. Seu fundo faz lembrar o abismo. As ondas se parecem com monstros que querem engolir a barca. Os sofrimentos mortais eram comparados a águas ameaçadoras e profundas. Por aquele tempo não se conseguia explicar a origem do vento e das ventanias como fenômeno físico. Quando violento, era tido como manifestação hostil dos maus espíritos. A barca, desde os primeiros dias do cristianismo, era símbolo da Igreja. 

Em outras palavras, para além do fato histórico de Jesus e os discípulos terem encontrado dificuldades em fazer sua travessia; para além de Jesus ter realmente exercido sua soberania sobre as águas revoltas, também as comunidades de discípulos do tempo do evangelista (aproximadamente os anos 65-70 d.C.), encontravam “águas, ventos e mar muito agitados”, quando se tratava de “passar à outra margem”, isto é, chegar, como Igreja, às terras dos pagãos. E a comunidade dos seguidores de Jesus (barca) realmente se encontrava em situação de perigo. Não se deve esquecer a atenção evangelista e referir que Jesus e os discípulos iniciaram sua travessia ao anoitecer (v. 35). Isso ajuda  perceber que a também a comunidade de discípulos experimentava dias de trevas. E que o perigo se lhes afigurava aflitivo e iminente.

Na barca, navegando em águas tempestuosas, durante a noite, os discípulos angustiados, em tom inquisitivo, disseram a Jesus: “Mestre, não te importa que estejamos perecendo?” (v. 38). Jesus estava a dormir. Para o que interessa nestas linhas, é digno de notação que Marcos deixa entrever dois aspectos interessantes: o primeiro é que os discípulos somente reagem no momento em que reconhecem que estão perdidos (“estejamos perecendo”). Até então tinham confiado em si mesmos. Outro elemento a observar: acreditam no poder de Jesus, mas parece que duvidam do seu amor (“Não te importa...?”). O sono de Jesus é visto por eles como indiferença. E, mais do que preocupados com Jesus, parecem pensar em si mesmos (“que estejamos perecendo?”). E aqui começa a se apresentar a sua problemática falta de fé.

Despertado do sono, Jesus “repreendeu o vento e o mar: ‘Silêncio! Cala-te!’ O vento parou, e fez-se uma grande calmaria” (v. 39). Este poder era reservado somente a Deus. Ele é que tem potência para dominar o mar bravio (Sl 89,10). Ele é maior do que a força das águas violentas, e tem soberania sobre as tempestades. Se o vento e o mar o obedecem à ordem de Jesus, é porque nele atua a potência de Deus. Percebe-se logo que a grande dificuldade dos discípulos não era o poder do vento e do mar. Eles estavam em companhia de quem era superior a estas forças. A crise era de outra ordem. E Jesus a indica: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes¬ fé?” (v. 40). 

A segunda pergunta ilustra qual é a causa do medo: a falta de fé. Não é o vento, com suas ameaças; não é o mar, com seus perigos que podem naufragar a comunidade dos discípulos. É a fragilidade de fé. Sem fé, jamais serão capazes de percorrer a “travessia”. Mas... o que significa “ter fé” ou “crer”? Não se trata de algum esforço psicológico ou mental de expectar por algo miraculoso. O evangelista pode nos ajudar. Vamos a Mc 3,13.14: “Chamou os que ele quis; e foram a ele. Ele constituiu então doze, para que ficassem com ele...”. Ora, “ficar com ele” não se refere a mera companhia funcional. Trata-se, muito mais, de relacionamento, de comunhão, de confiança. Quem confia não programa os resultados; não exige benefícios. Quem confia se entrega e acolhe a pessoa. Os discípulos apanharam da tempestade porque sua relação com a pessoa de Jesus era superficial. Gostavam mais do seus milagres.

D. José Antonio Peruzzo
Bispo de Palmas-Francisco Beltrão/PR

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