8,2b-3a.6-12.13b.20-22:
“Fecharam-se as fontes do abismo e as comportas do céu: deteve-se a chuva do
céu e as águas pouco a pouco se retiraram da terra: - as águas baixaram ao cabo
de cento e cinquenta dias” ... “ No fim de quarenta dias, Noé abriu a janela
que fizera na arca e soltou o corvo, que foi e voltou, esperando que as águas
secassem sobre a terra. Soltou então a pomba que estava com ele para ver se
tinham diminuído as águas na superfície do solo. A pomba, não encontrando um
lugar onde pousar as patas, voltou para ele na arca, porque havia água sobre
toda a superfície da terra; ele estendeu a mão , pegou-a e a fez entrar para junto dele na arca. Ele
esperou ainda outros sete dias e soltou de novo a pomba fora da arca. A pomba
voltou ao entardecer, e eis que ela trazia, no bico, um ramo novo de oliveira!
Assim Noé ficou sabendo que as águas tinham escoado da superfície da terra. Ele
esperou ainda outros sete dias e soltou a pomba, que não voltou mais para ele.
Foi no ano seiscentos
e um da vida de Noé, no primeiro mês,no primeiro do mês
que as águas secaram sobre a terra.” ... “Noé construiu um altar a
Iahweh e, tomando de animais puros e de todas as aves puras, ofereceu
holocaustos sobre o altar. Iahweh respirou o agradável odor e disse consigo:
“Eu não amaldiçoarei nunca mais a terra por causa do homem, porque os desígnios
do coração do homem sao maus desde a sua infância; nunca mais destruirei todos
os viventes, como fiz. Enquanto durar a terra, semeadura e colheita, frio e
calor, verão e inverno, dia e noite não hão de faltar.”);
A outra sacerdotal,
mais precisa e mais refletida, porem mais seca (6,9-22;
7,6-11.13-16a.18-21.24;8,1-2a.3b-5.13a.14-19;9,1-17). O redator final respeitou
esses dois testemunhos recebidos da tradição, sem procurar suprimir suas
divergências de detalhe. Possuímos muitas narrações babilônicas sobre o
dilúvio, as quais apresentam notáveis semelhanças com a narrativa bíblica. Esta
não depende daquelas, mas haure da mesma herança comum: a lembrança comum: a
lembrança de uma ou varias inundações desastrosas do vale do Tigre e do
Eufrates, que a tradição aumentou com as dimensões de um cataclisma universal.
Mas, e nisto esta o essencial, o autor sagrado dotou essa lembrança de um
ensino eterno sobre a justiça e a misericórdia de Deu, sobre a malicia do homem
e a salvação concedida ao justo (cf. Hb 11,7: “Foi pela Fe que Noé, avisado
divinamente daquilo que ainda não se via, levou a serio o oráculo e construiu
uma arca para salvar a sua família. Pela Fe, ele condenou o mundo, tornando-se
herdeiro da justiça que se obtém pela Fe”). E um julgamento de Deus, que
prefigura o dos últimos tempos (Lc 17,26s; Mt 24,37s), como a salvação
concedida a Noé figura a salvação pelas águas do batismo (1Pd 3,20-21).
Gn 8,13: “Foi no ano
seiscentos e um da vida de Noé, no primeiro mês, no primeiro do mês que as
águas secaram sobre a terra.”
# “da vida de Noé”, grego (cf. 7,11: “
No ano seiscentos da vida de Noé, no segundo mês, no décimo sétimo dia do
segundo mês, nesse dia jorraram todas as fontes do grande abismo e abriram-se
as comportas do céu.”); omitido pelo hebreu.
Gn 8,21: “Iahweh
respirou o agradável odor e disse consigo: “Eu não amaldiçoarei nunca mais a
terra por causa do homem, porque os desígnios do coração do homem são maus
desde a sua infância; nunca mais destruirei todos os viventes, como fiz.”
# Literalmente: “o odor pacifico. Esse
antropomorfismo passara para a linguagem técnica do ritual (cf. Ex 29,18.25:
“Assim, queimaras todo o carneiro, fazendo subir a sua fumaça sobre o altar. E
um holocausto para Iahweh. E um perfume de suave odor, uma oferta queimada para
Iahweh
# Este antropomorfismo exprime a
satisfação que Deus encontra na oferenda que lhe e feita (cf. abaixo passim; Gn
8,21;Lv 1,9;Nm 28,2);
Lv 1,9.13: “O homem lavara com água as
entranhas e as patas, e o sacerdote queimara tudo sobre o altar. Este holocausto
será uma oferenda queimada de agradável odor a Iahweh”... “O homem lavara as
entranhas com água, bem como as patas, e o sacerdote oferecera tudo e o
queimara sobre o altar. Este holocausto será uma oferenda queimada em agradável
odor a Iahweh.”
# A
expressão designa não somente, como aqui, holocausto, mas a parte de todo o sacrifício
que se queimava para Iahweh. A oferenda não era considerada um alimento
material que o homem oferecia a Deus e dividia com ele (cf. Dt 18,1: “Os
sacerdotes levitas, a tribo inteira de Levi, não terão parte nem herança em
Israel: eles viverão dos manjares oferecidos a Iahweh e do seu patrimônio.”), mas
era assimilada a fumaça do holocausto ou do incenso, que subia em “odor agradável”.
(Cf. 29,18: “Portanto, ouvindo as palavras deste pacto com imprecação, se alguém
abençoar a si próprio no coração, dizendo: “Vou ter paz, mesmo que ande
conforme a obstinação do meu coração, pois a abundancia da água fará a sede
desaparecer”
# Outra tradução: “de modo que
seja arrancado o terreno irrigado com o terreno seco”: um provérbio que
significaria destruição total. O grego traduziu: “de modo que o pecador não seja
destruído com o que não tem pecado”).
O coração e o
interior do homem, distinto do que se vê e sobretudo da “carne” (2,21). E a
sede das faculdades e da personalidade, de onde nascem pensamentos e
sentimentos, palavras, decisões e ações. Deus o conhece profundamente,
quaisquer que sejam as aparências (1Sm 16,7; Sl 17,3; 44,22; Jr 11,20). O coração
e o centro da consciência religiosa e da vida moral (Sl 51,12.19; Jr 4,4; 31-33;
Ez 36,26). E em seu coração que o homem procura a Deus (Dt 4,29; Sl 105,3;
119,2.10), que o ouve (1Rs 3,9;Eclo 3,29; Os 2,16;cf. Dt30,14) que o serve (1Sm
12,20.24), o louva (Sl 111,1), o ama (Dt 6,5). O coração simples, reto, puro, e
aquele que não esta dividido por nenhuma reserva ou segunda intenção e por
nenhuma falsa aparência em relação a Deus ou aos homens 9cf. Ef 1,18)
As leis do mundo são estabelecidas
para sempre. Deus sabe que o coração do homem permanece mau, mas ele salva sua criação
e, apesar do homem, a conduzira para onde quiser.
Gn 8,22: “Enquanto
durar a terra, semeadura e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite
não hão de faltar.”
# O homem e de novo abençoado e
consagrado rei da criação, como nas origens, mas não e mais um reinado
pacifico. A nova época conhecera a luta dos animais com o homem e dos homens
entre si. A paz paradisíaca só reflorescera nos últimos tempos (Is 11,6: “Então
o lobo morara com o cordeiro, e o leopardo se deitara com o cabrito. O bezerro,
o leãozinho e o gordo novilho andarão juntos e um menino pequeno os guiara.”
#
A revolta do homem contra Deus (Gn 3) havia quebrado a harmonia entre o homem e
a natureza (Gn 3,17-19), entre o homem e o homem (Gn 4). Os profetas anunciam
guerras e invasões como castigo das infidelidades de Israel. Ao invés, trazendo
o perdão dos pecados, a reconciliação com Deus e o reino da justiça, a era messiânica
estabelece a paz que e sua consequência: fertilidade do solo (Am 9,13-14; Os
2,20.23-24); desarmamento geral (Is 2,4;9,4; Mq 4,3-4; 5,9-10; Zc9,10);paz perpetua
(Is 9,6;32,17;60,17-18; Sf 3,13; ZC 3,10; Jl 4,17). A Nova Aliança e uma
aliança de paz (Ez 34,25; 37,26). O reino messiânico e um reino de paz (Zc
9,8-10; Sl 72,3-7). Esta paz estende-se ao reino animal, ate a serpente, responsável
pela primeira falta: a era messiânica e descrita aqui simbolicamente como um
retorno a paz paradisíaca)).
Gn 8,1 a Gn 9,7 - Através
do justo, Deus começa uma nova criação (comparar 9,1-7: “Deus abençoou Noé e
seus filhos, dizendo: “Sejam fecundos, multipliquem-se e encham a terra. Todos
os animais da terra temerão e respeitarão vocês: as aves do céu, os repteis do
solo e os peixes do mar estão no poder de vocês. Tudo o que vive e se move
servira de alimento para vocês. E a vocês eu entrego tudo, como já lhes havia
entregue os vegetais. Mas não comam carne com o sangue, que e a vida dela. Vou
pedir contas do sangue, que e a vida de vocês; vou pedir contas a qualquer
animal; e ao homem vou pedir contas da vida do seu irmão. Quem derrama o sangue
do homem, terá o seu próprio sangue derramado por outro homem. Porque o homem
foi feito a imagem de Deus. Quanto a vocês, seja fecundos e se multipliquem,
povoem e dominem a terra”... com Gn
1,28-30: “E Deus os abençoou e lhes disse: “Sejam fecundos, multipliquem-se,
encham e submetam a terra; dominem os peixes
do mar, as aves do céu e todos os seres vivos que rastejam sobre a terra”.
E Deus disse; “Vejam! Eu entrego a vocês todas as ervas que produzem semente e estão
sobre toda a terra, e todas as arvores em que há frutos que dão semente: tudo
isso será alimento para vocês. E para todas as feras, para que todas as aves do
céu e para todos os seres que rastejam sobre a terra e nos quais há respiração de
vida, eu dou a relva como alimento”. E assim se fez. E Deus viu tudo o que
havia feito, e tudo o que havia feito, e tudo o que era bom. Houve uma tarde e
uma manha: foi o sexto dia.”). A nova criação começa com uma oferta a Javé, que
não deixa o homem ser dominado pelo caos. Ele promete nunca mais destruir a sua
criação: doravante, ele aceita a ambiguidade humana (v. 21: “E Deus criou as
baleias e os seres vivos que deslizam e vivem na água, conforme a espécie de
cada um, e as aves de asas conforme a espécie de cada uma. E Deus viu que era
bom.”), que também e responsável pela ambiguidade do mundo e da historia. Experimenta-se
a graça na estabilidade da ordem natural, não obstante o continuo pecar do
homem.
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