Blog Alma Missionária

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quinta-feira, 14 de março de 2013


Um brasileiro na foto histórica e o governo da Igreja

qui, 14/03/13
por Domingo Zamagna |
Com a renúncia ou morte de um Papa a maior parte dos titulares de postos da Cúria Romana perde imediatamente as suas funções. Poucos permanecem à frente de suas antigas atribuições, como o Camerlengo, o cardeal Vigário de Roma, o cardeal arcipreste da Basílica de São Pedro, alguns diplomatas da Secretaria de Estado, o presidente da Penitenciaria Apostólica. Toda a administração da Igreja é transferida para o Colégio dos Cardeais, presidido pelo camerlengo e pelo decano.
Eleito o novo Sumo Pontífice, a Constituição ApostólicaUniversi Dominici Gregis (cap. VII) estabelece que, após os atos de obséquio dos cardeais, o eleito seja apresentado ao povo de Roma, no balcão central da Basílica de São Pedro. É quando o Cardeal Proto-Diácono comunica o Habemus Papam, anuncia o seu nome cardinalício e o nome que ele escolheu como Papa.
Neste momento o novo Papa, já com as vestes brancas, aparece acompanhado de alguns personagens: o camerlengo, o vigário de Roma, cardeais representantes das três ordens cardinalícias (bispo, presbítero e diácono), além do cruciferário (que conduz a Cruz) e de cerimoniários.
Na foto histórica da apresentação do Papa Francisco 1º, ao lado esquerdo vemos o Vigário de Roma (cardeal Agostino Vallini) e ao lado direito os cardeais representando as três ordens: o italiano Tarcísio Bertoni (cardeal-bispo e camerlengo),  o brasileiro Cláudio Hummes (cardeal-presbítero) e o francês Jean-Louis Tauran (cardeal-diácono).
Na foto histórica está o Papa Francisco, ao lado esquerdo vemos o Vigário de Roma (Cardeal Agostino Vallini). Ao lado direito os cardeais Tarcísio Bertoni (Cardeal-bispo e Camerlengo), o brasileiro Cláudio Hummes (Cardeal-presbítero) e o francês Jean-Louis Tauran (Cardeal-diácono).

Todas as funções de governo da Cúria Romana dependem exclusivamente do novo pontífice. Eles podem confirmar ou não os colaboradores da Cúria Romana. João Paulo 1º, após sua posse confirmou todos nas suas funções precedentes. João Paulo 2º fez questão de examinar cada caso e foi confirmando ou não, na medida em que tinha contato com os titulares. Não sabemos qual será o procedimento a ser adotado pelo Papa Francisco.
Mas não devemos esperar que ele faça mudanças bruscas. A prudência sugere que ele mantenha os colaboradores atuais e aos poucos faça as substituições ou transferências que achar convenientes. As é difícil um novo governo da Igreja que não faça alterações nos quadros da administração ordinária do Vaticano.

Francisco, o Papa que veio do Sul

qua, 13/03/13
por Francisco Borba |
Com a escolha do argentino Jorge Mario Bergoglio para o cargo de líder da Igreja Católica, como Papa Francisco,  a Igreja Católica entra numa fase de sua história, marcada por uma intenção missionária e pela reafirmação do caminho já trilhado por João Paulo II e Bento XVI.
- Jesuíta no Vaticano
A escolha de um jesuíta simboliza uma opção pelo caráter missionário da Igreja. Se você pensa em Bento XVI, com a escolha do nome Bento, mostrava seu desejo de trabalhar na reconstrução das bases do catolicismo, estando centrado na Europa e com foco na relação entre fé e cultura.
Escolher um papa jesuíta, e argentino, é o paradigma do processo de evangelização do novo mundo. A Companhia de Jesus construiu o catolicismo na América Latina com seu trabalho missionário. A escolha desse Papa tem um cunho simbólico de uma Igreja que agora vai para o mundo com um grande apelo missionário.
- O nome Francisco
A escolha do nome pode ter relação com dois grandes santos da Igreja: São Francisco de Assis, considerado o santo dos pobres, e São Francisco Xavier, um grande missionário que evangelizou o oriente.. Bergolio, no conjunto de seu episcopado na Argentina, foi um cardeal reconhecido por ter um grande trabalho social junto às favelas de Buenos Aires. É um papa com trabalho social, apontando para valorização da ação social da Igreja.
- A idade
Significa claramente que os cardeais gostaram da experiência de ter um Papa mais idoso à frente da Igreja (Bento XVI foi eleito com 78 anos em 2005). Isso sinaliza um papado curto. No entanto, não significa que é um Papa de transição. Temos que acabar com essa ideia de Papas de transição. Ele pode ter um pontificado curto, mas com uma missão específica, dando continuidade aos trabalhos daqueles que o precederam e abrindo caminho aos pontífices que vão sucedê-lo.
- Atenção à América Latina
Apesar da Igreja sempre ter sido uma organização internacional aberta para todo o mundo, a escolha de um líder vindo da América Latina mostra que ela entra definitivamente no contexto da sociedade globalizada. Isto é, onde os líderes podem estar em qualquer lugar, inclusive nos países considerados de 3º mundo.

O desenvolvimento do conclave

qua, 13/03/13
por Edson Luiz Sampel |
O conclave congrega os cardeais num clima de profunda oração. Não se trata de um encontro político, no qual se discute quem pode ser o melhor Papa. A propósito, sabemos que, à luz da fé, o sucessor de são Pedro é escolhido pelo Espírito Santo, sendo os purpurados meros instrumentos.
O direito canônico, especificamente a constituição apostólica Universi Dominici Gregis, fornece as diretivas do desenvolvimento do conclave. Há lugar para o escrutínio e para a oração. É óbvio que os cardeais não são obrigados a ficar mudos o tempo todo. Permite-se a conversa. Entretanto, nos colóquios não há de transparecer a intenção de voto de ninguém. O voto é secreto.
Quer na Capela Sistina, onde se realiza propriamente a votação, quer na Casa Santa Marta, onde se hospedam, os cardeais podem e devem debater questões acerca dos rumos da Igreja, dos problemas maiores que a afligem, das soluções plausíveis etc.
Todo cardeal participante do conclave tem a perfeita clareza de que a eleição do Papa constitui, antes de tudo, um ato religioso. Desta feita, compreende-se o porquê do sigilo e da gravíssima pena de excomunhão para um eventual infrator desta regra.
No silêncio e na oração, entremeados por colóquios módicos, os cardeais obtêm a paz de consciência imprescindível para eleger o Papa. Esperamos que isto ocorra o mais breve possível.

Por que um brasileiro está na lista de favoritos para ser Papa?

ter, 12/03/13
por Domingo Zamagna |
Um dos candidatos apontados entre os principais “papáveis” deste conclave é o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer. É a primeira vez que um brasileiro é tão falado e apontado em uma eleição para líder da Igreja Católica. Mas podemos citar algumas razões para isso.
1 – Experiência pastoral
Dom Odilo é bispo de diocese, diferentemente de outros candidatos, como o cardeal italiano Gianfranco Ravasi (apontado como um dos papáveis). Ravasi nunca teve uma atividade pastoral significativa. pois sempre foi professor. É como se fosse um general que nunca comandou uma tropa.
Já Dom Odilo foi padre no interior do Brasil, depois se tornou professor e formador em grandes cidades, como Curitiba e Londrina. Foi ainda bispo auxiliar de São Paulo e, por fim, arcebispo de São Paulo. Tem um currículo pastoral grande, tanto nas áreas rurais, quanto nas áreas urbanas. Tem um perfil diferenciado dos demais cardeais.
2 – Formação humanística
Tem uma formação sólida não somente em pedagogia, mas em filosofia e teologia. Defendeu uma tese de doutorado brilhante na Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, sobre o tema cristologia. Isso dá a ele um porte significativo, um laço cultural e intelectual muito fortes.
3 – Homem forte da CNBB
Foi secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a segunda maior conferência episcopal do mundo (atrás apenas da Itália). Com seu trabalho, projetou seu nome junto à nunciatura (representante do Vaticano no Brasil) e também se tornou conhecido em muitas dioceses pelo mundo. Como secretário, foi responsável pela articulação da CNBB. Atuou como se fosse o “primeiro-ministro” do organismo.
4 – Fluente em seis idiomas
Dom Odilo domina o português, espanhol, alemão, italiano, francês e inglês. Isso dá a ele uma maior facilidade de comunicação, uma abordagem direta  muito grande com interlocutores, facilitando o diálogo dele com as várias partes do mundo.
5 – Trabalho na Cúria Romana
Conhece as engrenagens do Vaticano, pois trabalhou sete anos junto à Congregação dos Bispos, considerada uma dos mais importantes dicastérios e tem laços com os demais ministérios da Igreja, como a Secretaria de Estado. Tinha um trânsito bom na Santa Sé, conhece grande parte dos oficiais que trabalham lá.
6 – Perfil conservador
É uma pessoa que não é dada a excessos, extremamente prudente. Mas não significa que seja um reacionário. É alguém que quer a renovação, mas não é um vanguardista. Não vai abrir mão das convicções da Igreja, como ser contrária ao casamento homossexual e ser favorável à manutenção da família.  Dom Odilo admite a renovação da Cúria, das pastorais, dos procedimentos da Igreja, mas quer que isso seja feito de modo controlado, no seu devido tempo.
7 – Homem jovem
Aos 64 anos, é alguém com um bom pique para o trabalho. Muito organizado, metódico e eficiente no que faz e nas missões que a igreja confia a ele. Onde põe a mão, geralmente dá certo.
8 – Origem europeia
Vem de uma família religiosa, de origem alemã, unida e numerosa. A Igreja vê com bons olhos este fato. É um europeu transplantado ou seja, um latino-americano que não está ligado a movimentos sociais de vanguarda, à teologia da libertação e não tem um descuido com a doutrina. Isso faz com que ele receba muitos votos de europeus. As pessoas têm medo de um cardeal que tenha muito contato com partidos populistas ou sindicatos. É uma tarefa que não é para bispos, mas para leigos
9 – Entendimento da América Latina, África e Ásia
Estuda os problemas da Igreja nesses continentes e pode ser um porta-voz dessas regiões até então marginalizadas na Cúria Romana. É um grande conhecedor da Amazônia, das tribos indígenas. Isso é novidade na Cúria, já que não sabem nem que há pobreza no mundo. Dom Odilo circula nesse ambiente
10 – Vem do maior país católico do mundo
O fato dele vir do Brasil pode significar uma maior criatividade e inventividade na Igreja. Está faltando criatividade no Vaticano para pastoral, para o diálogo, para renovação. A Cúria Romana precisa de um bispo de fora, que traga fantasia para ampliar a vida missionária da Igreja e abrir novas perspectivas. A Europa já demonstrou cansaço para isso.
11 – Tem “torcida”
Há pessoas no Brasil e fora dele que torcem em favor de Dom Odilo para que ele seja eleito Papa. Jogar sem torcida é um desastre. A política em favor dele é pode dar um bom resultado. Um dos maiores articuladores de Dom Odilo é o cardeal Dom Geraldo Majella (arcebispo emérito de Salvador). É um “mineirinho” que sabe fazer política, mesmo aparentando inocência.
(A BBC Brasil fez uma lista com pontos a favor e contra a eleição do brasileiro. Pontos a favor: idade e vigor; bom conhecimento da Cúria; nome ‘limpo’ de escândalos; sintonia com novas formas de comunicação; candidato da América Latina. Pontos contra: pouco conhecido dos cardeais; candidato da América Latina; centrismo e falta de arrojo; candidato dos antirreformistas; falta de carisma. Clique aqui para ler mais).

O juramento dos que ajudarão os cardeais no conclave

seg, 11/03/13
por Monsenhor Sérgio Costa Couto |
Antes de deixar a liderança da Igreja Católica, o Papa Bento XVI realizou alterações na Constituição Apostólica em um documento chamado Motu Proprio. Entre as alterações, feitas para que fossem aplicadas no próximo conclave, está o reforço do juramento dos que ajudarão no conclave, dando suporte aos cardeais eleitores.
As regras foram alteradas, entre outras razões, no sentido de mostrar seriedade no trabalho desenvolvido por aqueles que ajudam os cardeais no conclave. Assim, o nº 48 da citada Constituição recebe nova e mais forte redação:  ”As pessoas apontadas nos números 46 e 55 (2º parágrafo) da presente Constituição, devidamente advertidas sobre o significado e a extensão do juramento a prestar, antes do início das operações para a eleição, perante o cardeal camerlengo ou outro cardeal por ele delegado, na presença de dois protonotários apostólicos de número participantes, deverão no tempo devido pronunciar e assinar o juramento segundo a fórmula seguinte:
“Eu, nome da pessoa, prometo e juro observar o segredo absoluto com toda a pessoa que não fizer parte do Colégio dos Cardeais eleitores, e isto perpetuamente, a não ser que receba especial faculdade dada expressamente pelo novo Pontífice eleito ou pelos seus sucessores, acerca de tudo aquilo que concerne direta ou indiretamente às votações e aos escrutínios para a eleição do Sumo Pontífice. 
De igual modo, prometo e juro de me abster de fazer uso de qualquer instrumento de gravação, de audição, ou de visão daquilo que, durante o período da eleição, se realizar dentro dos confins da Cidade do Vaticano, e particularmente de quanto, direta ou indiretamente, tiver a ver, de qualquer modo, com as operações ligadas à própria eleição. Declaro proferir este juramento, consciente de que uma infração ao mesmo comportará para a minha pessoa a pena da excomunhão latæ sententiæ reservada à Sé Apostólica. Assim Deus me ajude e estes Santos Evangelhos, que toco com a minha mão”.
“As pessoas apontadas nos números 46 e 55” nestes artigos vão desde o Secretário do conclave – atualmente Dom Lorenzo Baldisseri, ex Núncio Apostólico no Brasil –, até o pessoal da cozinha, da segurança, médicos, sacerdotes que estão a disposição para as confissões não só dos cardeais, mas de todos, pois o conclave é sempre uma reunião eminentemente espiritual, onde se mesclam as providências humanas ditadas pela experiência.
Penalidade para quem descumprirMas o que, especificamente neste nº 48, mudou com o ajuste de Bento XVI com relação ao texto de João Paulo II de 1996? A penalidade imposta.
O texto anterior previa “Declaro proferir este juramento, consciente de que uma infração ao mesmo comportará para a minha pessoa aquelas sanções espirituais e canônicas que o futuro Sumo Pontífice (cf. cân. 1399 do Código de Direito Canônico), julgar dever adotar”. 
Ou seja, dependia de uma ação positiva do novo papa que já começaria com uma desagradável missão. Hoje, dá-se a excomunhão automática, sem que nenhuma autoridade eclesiástica tenha que proferir um juízo. A própria pessoa, se violou o juramento conscientemente – e isso é importante! –, está excomungada.
Mas o que significa isto? O significado da palavra é simples: fora da comunhão [da Igreja].  Não é nenhum tipo de maldição, como se a pessoa estivesse condenada ao inferno ou algo assim; é uma pena medicinal, para que o infrator possa perceber a gravidade do que fez. Para ter uma excomunhão reservada à Sé Apostólica retirada, e assim poder receber a absolvição de qualquer sacerdote, deve o que se perceber excomungado dirigir o pedido a Penitenciaria Apostólica que lhe dará os conselhos oportunos. Se a situação for pública, normalmente assim será tratado, se poucas pessoas o souberam, e a situação não se constitui algo que a justiça exija pública penitência e reparação, se fará de maneira discreta.
Pode-se perguntar: não se poderia agir criminalmente contra aqueles que traem a confiança, processando nas esferas penal e civil? É, em algumas situações isto pode ser oportuno, pode exigir o bem comum. Mas, lembrem-se se a Igreja é uma sociedade diversa, onde, sobretudo, não cabe a vingança e devemos evitar mesmo a aparência da mesma. Repito: em algumas situações, em algumas sociedades, medidas judiciais podem se tornar indispensáveis, mas existe uma preferência por penalidades espirituais que possam, assim o cremos, recuperar alguém que se desviou. “Não quero a morte do pecador, mas que se converta e viva” (Ez 33,11).

A expectativa para o conclave

sex, 08/03/13
por Frei Evaldo Xavier Gomes |
Com o anúncio da realização do conclave na próxima terça-feira (12), a Igreja de todo o mundo sente mais próximo o momento da escolha do novo Papa, sobretudo os cardeais eleitores.
Nada muda até o início do conclave. Tudo permanece como é, ou seja, está mantido o período de Sé Vacante. A única alteração existente não é de ordem jurídica, nem de ordem administrativa, mas sim no sentimento nos corações, devido à expectativa pelo momento que se aproxima.
Certamente, ao longo desses dias, cada um dos cardeais eleitores irá refletir mais profundamente sobre o nome em que vai votar.
Serão dias de intensa espera e de preparação humana. Isto significa obter um maior conhecimento das qualidades, da história pessoal e das virtudes de cada um dos membros do conclave.  Ao mesmo tempo, é também o momento de preparação espiritual.
Não podemos esquecer que a Igreja é uma instituição religiosa e a eleição de um Papa é a eleição de um líder religioso, e não de um líder político. Sendo isso, os eleitores devem ter diante dos olhos os valores da religião e devem se tornar, mais do que nunca agora, pessoas de oração.
No que diz respeito à população em geral, não há dúvida que a partir de terça-feira todo o mundo católico (e não católico), permanecerá com a respiração em suspenso. Todos na expectativa de saber qual nome será anunciado pelo cardeal-diácono no balcão da Basílica de São Pedro após o término do conclave.
O sigilo impede que acompanhemos as votações, os debates e tudo aquilo que diz respeito à eleição. Tudo isso faz com que a expectativa e a surpresa sejam ainda maiores.

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