Blog Alma Missionária

Blog Alma Missionaria

quarta-feira, 6 de março de 2013

PARA QUE ESTE DESPERDÍCIO?

Um amor que doa sem reservas

O caminho da fé é caracterizado em Marcos como caminho rumo a Jerusalém, à cruz, à glória. Enquanto os apóstolos discutiam entre eles em busca da glória, entendida como poder (sentar à direita ou à esquerda de Jesus), o Senhor fala da Glória como Amor Crucificado (podem beber o cálice que eu beberei?) (cf. Mc. 10, 35-45).
Neste tempo de graça precisamos pedir esta profunda conversão: a cura da cegueira da nossa mente, que não compreende o mistério da Cruz, de um amor que doa sem reservas e que por isso vence a morte. A nossa fé e salvação não se alicerçam nos milagres que Cristo realizou, mas na revelação de um amor que se entrega sem medida: no seu corpo rasgado, rompido, como vaso repleto de misericórdia, na sua cruz! Pela sua cruz fomos salvos!
“Para que este desperdício?”
Neste contexto da Paixão se insere o trecho da unção de Betânia (Mc. 13 4-9), em que lemos a palavra deste mês: “Para que este desperdício?” (Mc 14, 46b).
Jesus está sentado à mesa, em casa de Simão, o leproso, em Betânia. Chega uma mulher com o vaso de alabastro, cheio de perfume preciosíssimo. O preço deste perfume correspondia, mais ou menos, ao valor do salário de um ano inteiro de trabalho: 300 denários! A mulher quebra o vaso e derrama o conteúdo na cabeça de Jesus. Isto gera uma reação paradoxal: os convidados (e os próprios discípulos) se irritam com a atitude da mulher. Xingam-na, “PARA QUE ESTE DESPERDÍCIO...?”
Um amor que se doa sem reservas censuram-na, repreendem-na: “Para que este desperdício?” “Este perfume poderia ser vendido por trezentos denários, para dar aos pobres”.

Jesus não apenas repreende os discípulos, mas reconhece no gesto da mulher algo tão bonito que o identifica com a boa nova do seu Evangelho: “Em verdade vos digo: onde for anunciado o evangelho no mundo inteiro, será mencionado também em sua memória o que ela fez!...” E todos os evangelistas, de fato, relataram este acontecimento.

“Para que este desperdício?”

Este trecho é uma maravilhosa revelação de quanto Jesus realizou na cruz. Ele viu no gesto desta mulher a síntese do Evangelho. Esta unção prefigura também a glória do Cristo, ungido como Senhor e vencedor da morte. É o anúncio de sua morte e ressurreição, o Evangelho do amor de Deus, que ama sem reserva e sem medida, como esta mulher: este é o amor que nos faz passar da morte à vida! Jesus também nos ama até o “desperdício”, “até a loucura”, como dizia Santa Terezinha: uma só gota do seu sangue poderia nos salvar, mas Ele, para expressar o quanto nos ama, quis derramar até a última gota do seu sangue. A medida do amor é não ter medidas!

“Para que este desperdício?”

Como então viver esta palavra? À generosidade da mulher contrasta a mesquinhez de Judas, que, logo após, entregará Jesus por trinta denários (cf. Mc 14, 10-11) e que se lamenta do desperdício, não porque fosse preocupado com os pobres, mas porque era ladrão (cf. Jo 12,6). Contrasta ainda com a postura dos sumos sacerdotes e dos escribas, que queriam “tomar posse” de Jesus. Aqui entra a nossa escolha entre a cultura do poder, do cálculo, do interesse, do dinheiro que quer “tomar posse” das coisas e dos outros, do consumismo que tudo compra para dominar e matar e a cultura do amor, a loucura do amor! Entre o possuir e o dar tudo, entra o dominar e o servir, entre matar e dar a vida! Quantas vezes os cristãos são considerados “loucos” para o mundo? Assim foi para Jesus cujos próprios familiares diziam: “está fora de si” (Mc. 3,21). Assim foi para os santos. São João Bosco foi considerado louco pelos seus próprios filhos, que tentaram interná-lo num hospício!

“Aproximou-se dele uma mulher, trazendo um frasco de alabastro cheio de perfume de nardo puro, caríssimo; e, quebrando o frasco, derramou-o sobre a cabeça dele”.
(Mc 14, 3)

Não podemos servir a Deus e ao dinheiro (Mc 6,24). Amemos os pobres, os irmãos, sem medida, até a loucura…e amemos a Jesus (o mais pobre, mais abandonado, nos sacrários, mais esquecido na sua palavra), até a loucura! Freqüentemente surgem reclamações até contra membros da Aliança, pois é “loucura” passar uma noite inteira em adoração, é loucura pedir dinheiro nos semáforos para auxiliar os famintos, loucura deixar tudo para consagrar-se ao Senhor… loucura, loucura… sim, para o mundo! Ninguém, porém, acha loucura gastar dinheiro perdendo-se nas bebedeiras e nas promiscuidades das boates, ou pedir dinheiro nos semáforos para organizar as festas dos calouros, ou para explorar as crianças indefesas. Ninguém acha loucura jovens que abandonam as suas famílias por causa das drogas e do vício. Poucos se unem para denunciar os mercantes de morte, do tráfico e da prostituição! Loucos para Deus ou loucos para o mundo? Esta é a escolha do ano da fé, de uma vida de fé!
“O meu único mérito é a misericórdia do Senhor. Não serei pobre em mérito enquanto Ele não for em misericórdia. E como a misericórdia do Senhor é abundante, abundantes são também os meus méritos”.( São Bernardo de Claraval).

                                                                                                            Padre João Henrique  

Nenhum comentário: