MARIA – A INTERCESSORA POR EXCELÊNCIA
Padre Cleodon Amaral de Lima
Ex-Protestante da Assembléia de Deus
Ex-Professor de escola dominical
Ex-Obreiro, cantor e pregador protestante
Gostaria de começar definindo a palavra intercessão. Ela vem latim “intercessione”, que significa, pedir, rezar, rogar, suplicar por a pessoa. É uma espécie de intervenção em favor de alguém.
Maria não é deusa. Ela é simplesmente Mãe. Se fosse uma deusa, com os poderes de um deus, ela faria sinais e prodígios. No entanto, na qualidade de Mãe, o único poder reservado a Maria é o de intercessão.
Aliás, poder este, desempenhado também pelo Espírito Santo, pelos anjos, por todos os santos canonizados, pelos santos não canonizados, e por todos os cristãos. No entanto, Maria, por ser Mãe, por ter sido a mais bem aventurada das mulheres e por estar na glória celestial, está intercedendo pelos seus outros filhos. “A expressão ‘bendita entre as mulheres” traduz um semitismo que expressa o superlativo: “a mais bendita das mulheres”; “‘de tal forma bendita que a bênção a constitui num grau à parte entre as mulheres”.
O fato de Maria ou os santos serem intercessores não significa que eles estejam ocupando o lugar de Jesus. Cristo não perde o seu poder e o seu lugar de único mediador entre Deus e o homem se os santos forem intercessores também. O Vaticano II testemunha: “Os habitantes do céu … recebidos na pátria e presentes diante do Senhor (cf. 2 Cor 5,8), por Ele, com Ele e n’Ele não deixam de interceder por nós junto ao Pai”.
Muitas pessoas não entendem bem quando Timóteo diz: «Por que há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo – homem” (cf. 1Tm 2,5). “A palavra ‘Mediador’ no grego é messítes, e esta palavra está sendo usada no sentido de que Jesus é o Único Salvador entre Deus e o homem”. A palavra messítes; não quer dizer que Jesus é o único intercessor, no sentido de ser o único com capacidade de orar por nós. Se Jesus fosse o único intercessor, a Bíblia estaria mentindo quando falou que o Espírito Santo intercede com gemidos inexprimíveis (Rm 8,26-27). Ela estaria mentindo também quando falou que os 24 anciãos da corte celeste podiam interceder (cf. Ap 5,8).
O ministério de intercessora de Maria começou a se despontar no episódio evangélico das Bodas de Caná (Jo 2,1-12), que vamos meditar versículo por versículo para nos assegurarmos do fato. Gostaria que pegasse sua Bíblia e acompanhasse comigo. Seguindo a “Semana Inaugural” do Evangelho de João, notamos que as “Bodas de Caná” aconteceram no 7º dia. Isto tem um significado muito grande dentro da teologia joanina. O 1 º dia se encontra em Jo 1,19-28; o 2º dia, em Jo 1,29~34; o 3º dia, em Jo 1,35~42; o 4º dia, em Jo 1,43-51. Nada se fala do 5º dia, nem do 6º dia. No 7º dia temos as Bodas em Caná da Galiléia.
O v. 1 começa nos situando no tempo e no espaço. “Ao terceiro dia …”, quer dizer, três dias depois da conversa de Jesus com Filipe e Natanael. Se Jesus se encontrou com Filipe e Natanael no 4º dia e três dias depois estava em Caná, então estamos no 7º dia. O número 7 simboliza a totalidade. Ligado com o significado da palavra Caná, o 7º dia ganha um destaque literário surpreendente. Esta informação temporal “ao terceiro dia…” nos lembra os três dias que Jesus ficou na sepultura e depois ressuscitou. A palavra Caná vem do aramaico e quer dizer remir. Na língua hebraica, esta palavra significa adquirir. Vamos ver como aquele casal de Caná ganhou a remissão de seus pecados e adquiriu sua Salvação. Este versículo destaca a presença da Mãe de Jesus nas Bodas. Isto já nos mostra, que Maria vai ter uma participação especial nos acontecimentos de Caná.
Entram em cena, no versículo 2, Jesus e seus discípulos. Jesus e sua família foram convidados para o casamento. “Na Bíblia,. o casamento simboliza a aliança entre Deus e o seu povo” , que aconteceu no Sinai.
De repente, a Mãe de Jesus notou que tinha acabado o vinho, em plena festa. (versículo 3). O vinho numa festa de casamento, naquela época, era como carne na churrascaria hoje. Sem carne, sem churrasco. Sem vinho, sem festa. Para a Tradição Judaica o vinho é símbolo de alegria (Sl 78, 65 [Gr 77,65]; Is 51,21 – a pessoa está aflita, mas não é por causa do vinho; Jr 48,33; Os 7,5 – o vinho deixou a pessoa doente, pois está longe do Senhor). O vinho também simboliza amor (Ct 1,2. 4; 4,20; 7,12). Nestas passagens podemos observar que o vinho é a causa da alegria do casal. É uma forma de celebrar com alegria o amor que existe entre os dois. Imagine o escândalo que seria o casamento ter acabado porque acabou o vinho! Seria motivo de vergonha para o noivo e desonra ao seu nome e ao nome de sua família. Todos da cidade e das cidades circunvizinhas saberiam do ocorrido por causa da intensidade dos comentários. O interessante deste versículo é que Maria se dirige a Jesus e faz um comentário. Ela não pediu que Jesus fizesse um milagre ou resolvesse o problema.
O versículo 4 causa muita estranheza em que o lê. Dá a impressão que Jesus está se desfazendo de Maria e do pedido que ela lhe fez. Inclusive, Ele dá a impressão que Jesus é um mal educado: onde já se viu chamar a própria mãe de “mulher”? Parece que tudo depende da entonação de voz que se dá a frase. Entre Judeus, era muito comum dirigir-se ä mulher, usando o vocativo “mulher”. De forma alguma isto significa diminuição da pessoa enquanto pessoa. Apesar de não termos, na Bíblia, um filho que se dirija a mãe com este apelativo, notamos que esta forma de tratamento era comum no costume judaico, principalmente entre marido e mulher (Jt 11,1; 1Mc 15,27; 16,24; Mt 15,28; Lc 13,12; 22,57; Jo 1,4: 4,21; 8,10; 19,26; 20, 13-15; 1Cor 7,16), Por outro lado, o vocativo “mulher” nos remete ä teologia veterotestamentária , que vê a filha de Sião na figura de uma mulher.
Na tradição bíblico-judaíca, a Sião, ideal do tempo escatológico é descrito sob o símbolo de uma “Mulher”. Toda esperança de salvação para Israel se projetava neste figura simbólica da “Filha de Sião” messiânica, caracterizada como uma mulher que é esposa mãe e virgem.
Temos uma frase que nos soa estranha também, mas porque não faz parte de nosso modo de falar. A minha tradução traz: “Mulher, o que há entre mim e ti?” Os judeus tinham o costume de falar esta frase em dois momentos: ou para rejeitar uma intervenção, por não ser o momento exato de se falar em algum assunto em especial ou para demonstrar a alguém que não se deseja ter amizade com ele (cf. Jz 11,12; 2Sm 16,10; 19,23; 1Rs 17,18; Mt 8,29; Mc 1,24; 5,7; Lc 4,34; 8,28). Levando-se em conta o nosso contexto, vemos que Jesus falou a frase querendo mostrar a Maria que ainda não tinha chegado a sua hora, quer dizer, não era o momento para se fazer sinal algum, pois ainda não tinha chegado o tempo certo para realizá-lo. De qualquer maneira, por causa do pedido de Maria, Jesus antecipou sua “hora”. Com isto, Maria se toma a “hora” de Jesus. “Maria é quem antecipa a hora de Deus. Maria é a hora de Deus”.
A resposta de Jesus não foi um “não”. Caso contrário, Maria não teria falado a frase seguinte aos serventes: “Faze i tudo o que Ele vos disser”, (v. 5). Por esta frase, temos a impressão de que Maria, na festa, era como uma “governanta” ou uma espécie de organizadora da festa. Talvez alguns homens tenham deixado de levar vinho à festa de casamento em Caná, o que era obrigação deles fazer.
Terá sido, talvez, por falta de alguns em relação a esse dever social que, mais tarde, em Caná, Maria será obrigada a intervir junto ao filho? Talvez mesmo fosse ela parenta de um dos noivos e tivesse sido chamada para organizar a festa, dada a sua experiência de mulher madura, tanto mais que o casal parece pobre. De fato, só mesmo quem trabalha na festa percebe logo que o vinho está acabando e pode acionar os servidores para colocar-se à disposição do filho”.
É importante mencionar que a palavra “serventes” vem do grego diákonos. Esses “diáconos” são semelhantes aos nossos garçons de hoje. Eles faziam de seu “diaconato” uma profissão, Jesus, diante dos mais simples de toda a festa – dos marginalizados -, realiza seu primeiro e, até então, maior sinal de Salvação. Aqui, mais do que em qualquer outro lugar, fica bem claro o papel intercessor de Maria. Naturalmente, Jesus não realizaria milagre algum; pois sua hora ainda não tinha chegado. Realizou-o a pedido de Maria, sua Mãe. Maria, por sua vez, depois do pedido, não mais aparece na história, pois a realização e os méritos devem ser somente do seu Filho.
Estamos no versículo 6. Para muitos biblistas, este versículo, nesta perícope, é central. Ele informa que há seis talhas de água. Em cada uma delas cabiam cem litros d’água. O número 6 aqui é simbólico. Ele é o símbolo da imperfeição. Apesar de serem utilizadas para a purificação, as talhas eram em número de seis, quer dizer elas não purificavam de maneira perfeita, ou seja, não serviam para verdadeira purificação – aquela que dura para sempre. Quero lembrar que as talhas eram de pedra, o que nos lembra as tábuas da Lei.
“As talhas são de pedra (isso evoca as tábuas da Lei) e são seis (as seis festas judaicas relatadas no evangelho de João, frias, manipuladas e desligadas da vida)”. Nelas, Jesus vai mostrar que o impossível pode acontecer.
Pelo que indica o versículo 7, as talhas estavam vazias. O número 6 também significa isto. Se estavam vazias, não tinham utilidade. Jesus mandou que as enchessem de água. Para que não pairassem dúvidas, o versículo fala que as talhas ficaram cheias de água até a boca. A água, aqui, apesar de simbolizar a purificação, representa a antiga Lei, completamente ineficaz em si mesma.
O versículo 8 informa apenas que Jesus mandou tirar o “novo” líquido das talhas e levar para o mestre-sala. Este surge em nossa história como novo personagem. Até então, ele não tinha aparecido. Os serventes (diákonos) obedeceram, sem questionar. Jesus não falou palavras mágicas. Simplesmente, deu uma ordem.
O versículo 9 mostra o espanto, tanto do mestre-sala, do grego, arkitríclinos, quanto dos serventes. Eles achavam que dentro das talhas havia água, pois eram talhas de água, não de vinho. Principalmente os serventes, pois eles mesmos puseram a água nas talhas. Naquela época, os judeus costumavam colocar o vinho em odres (ct. Js 9,4.13; 1Sm 1,24; 10,3; 16,20; 25,18; 2Sm 16,1; Jr 13,12; Mt 9,17; Mc 2,22; Lc 5,37-38). Era muito mais comum usar o odre para vinho do que para água (cf. Gn 21, 14-15 .19) ou para leite (cf. Jz 4,19). Temos, neste versículo, a informação do autor de que a água se tornou vinho. O vinho nas talhas de pedra simboliza a nova aliança. Agora, plenamente eficaz em vista da antiga. As talhas continuavam sendo em número de seis, mas Jesus tornou perfeito o que era imperfeito. Agora, as talhas não serão usadas para a purificação conforme a lei dos homens ou de Moisés. As talhas não vão mais purificar temporariamente, pois Jesus “passa a oferecer a nova ‘purificação’, que não irá depender da Lei”. Elas contêm o vinho novo – símbolo do Sangue de Jesus – que não purifica somente as mãos ou partes do corpo, mas a alma, para que a pessoa se torne filha de Deus, cidadã do Reino, herdeira da Vida Eterna e plenamente purificada, a ponto de nem o pecado, nem a morte terem mais domínio sobre ela. “Em Caná, Jesus manifesta-se como o Filho do Homem que procede de Deus, simbolizado no vinho novo, que acaba com a economia antiga (a água das purificações)”. O mestre-sala prova o “vinho novo”, mas parece que não sabia que o vinho tinha acabado. Ele não provou o vinho tirado das talhas de purificação e nem sabia o que tinha acontecido anteriormente. Na verdade, ele nem sabia que aquele era um “vinho novo”. Jesus mandou que os serventes o tirassem da talha e levassem para o mestre-sala. Este chama o esposo para lhe chamar a atenção: é costume servir o melhor vinho primeiro e não o pior. O noivo já deveria estar desalentado. Sem saber, o mestre-sala, com uma pergunta, testemunha que aquele vinho era o melhor. A nova aliança gera vida, prazer e entusiasmo.
Vemos no versículo 10 que aquele vinho novo, o melhor de todos, salvou as bodas do maior vexame da cidade. Ele trouxe alegria, paz e harmonia entre os noivos e todos os que participavam da festa. Jesus salvou um casamento, devolvendo aos noivos a felicidade, a alegria e a esperança. Este foi o milagre maior. O mestre-sala teve dificuldades para acreditar que aquele vinho bom chegou por um milagre. Ele preferiu acreditar que o esposo tinha guardado o melhor vinho a acreditar que Jesus transformara água em vinho.
Enfim, chegamos no versículo 11. A salvação do casamento em Caná foi o primeiro milagre de Jesus, realizado com as intercessões de Maria. Depois deste primeiro milagre, Ele realizou outros em Caná, como a “cura do filho do funcionário do rei” (cf. Jo 4,46-54). Ali, ele começou a manifestar sua glória, e muitos, depois de verem os sinais que realizava, começaram a crer Nele (deixaram tudo para aderir ao projeto do Cristo).
As pessoas têm dificuldade em acreditar que Maria possa interceder, porque acham que uma pessoa morta não pode fazer isso. Talvez você não acredite que Maria tenha sido assunta ao céu. No entanto, segundo a linha de pensamento de João, Maria não está morta. Jesus fala em João: “Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá” (d. João 11,25-26). Afirmar que Maria está morta é não crer na Palavra de Deus. Se estiver viva, nada impede que interceda, como os 24 anciãos do Apocalipse (d. Ap 5,8).
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!
Texto extraído do livro “A palavra liberta – Conhecendo Maria” 1a. Edição – editora Rideel
Autor: Padre Cleodon Amaral de Lima
Fonte: Católicos na Rede
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