Blog Alma Missionária

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sexta-feira, 15 de março de 2013


Mensagem quaresmal de Bergoglio enquanto cardeal

Pensamento

Jorge Mario Bergoglio, enquanto Cardeal e Arcebispo de Buenos Aires, dirigiu aos  sacerdotes, consagrados e leigos daquela Arquidiocese, uma mensagem para o Tempo Quaresmal.
Confira na íntegra esta mensagem:
“Rasgai o vosso coração e não vossas vestes;
voltem agora para o Senhor, o nosso Deus,
porque Ele é compassivo e clemente,
lento para a ira, rico em misericórdia.
Pouco a pouco, acostumamo-nos a escutar e a ver, pelos meios de comunicação, as notícias da sociedade contemporânea apresentadas quase com uma alegria perversa, e também nos acostumamos a tocar e a sentir isso na nossa própria carne. O drama está nas ruas, nos bairros e nas nossas casas; e porque não em nossos corações? Convivemos com a violência que mata, destrói famílias, faz reviver guerras e conflitos no mundo.
Também convivemos com a inveja, o ódio, a calúnia e o paganismo nos nossos corações. O sofrimento de inocentes e pacíficos continua a deixar-nos para baixo; o desprezo pelos direitos de pessoas e dos povos frágeis não está longe de nós; o império do dinheiro com seus efeitos demoníacos como a droga, corrupção, sequestro de pessoas – inclusive de crianças – junto com a pobreza material e moral.
A destruição do trabalho digno, as emigrações e a falta de futuro, tudo isso se une a uma só dor. Nossos erros e pecados como Igreja, não ficam fora desta grande visão. As razões mais egoístas e justificadas, até mesmo as pequenas, a falta de valores éticos em uma sociedade que espalha em famílias que vivem nos bairros, vilas e cidades, falamos da nossa fraqueza e limitação, da capacidade para poder transformar esta realidade destruidora.
A armadilha da impotência nos leva a pensar: Será que faz sentido mudar tudo isso? Podemos fazer algo sobre esta situação? Vale a pena tentar se o mundo continua dançando e disfarçando com as máscaras de Carnaval? No entanto, quando a máscara caí, aparece toda a verdade e, embora muitos dizem que soa anacrônico, volta a aparecer o pecado, que fere a nossa carne com toda sua força destruidora mudamos os destinos do mundo e da história.
A Quaresma apresenta-nos como grito de verdade e esperança, uma vez que vem respondendo que sim, que não é necessário nos maquiar, desenhar sorrisos de plásticos como se nada tivesse acontecido. Sim, é possível que tudo seja novo e diferente, porque Deus continua sendo “rico em bondade e misericórdia, sempre pronto a perdoar” e nos encoraja a começar sempre. Hoje, novamente somos convidados a realizar uma peregrinação Pascal para a vida, caminho que inclui a cruz e a renúncia; que vai ser desconfortável, mas não estéril. Somos convidados a reconhecer que algo não está bem em nós mesmos, na sociedade ou até mesmo na Igreja para que possamos nos converter.
Neste dia, são fortes e desafiantes as palavras do profeta Joel: Rasgai o coração e não vossas vestes. Convertei-vos para o Senhor nosso Deus. É um convite para todos, ninguém está excluído.
Rasgai o coração e não vossas vestes de penitência artificial, sem garantias de um futuro artificial.
Rasgai o Vosso coração e não as vestes de um jejum formal e de conformidades que nos continua mantendo satisfeitos.
Rasgai o Vosso coração e não os vestidos de uma oração superficial e egoísta que não atinge as profundezas da própria vida para ser deixados tocar por Deus.
Rasgai os corações para dizer como o salmista: “Pecamos”. “A ferida da alma é o pecado: ‘Oh pobre ferido, reconhece o seu médico! Mostre-lhe as chagas das suas culpas. E uma vez que não escondemos d’Ele nossos pensamentos, deixá-lo sentir o clamor de seu coração. Movê-lo à compaixão com nossas lágrimas, com nossas insistências, perseverar! Que ouça nossos suspiros, que nossa dor chegue até Ele, a fim para de lhe falar: O Senhor perdoou seus pecados.” (São Gregório Magno). Esta é a nossa realidade, condição humana. Está é a verdade que pode nos aproximar da autêntica reconciliação com Deus e com os homens. Contudo, isso não se trata de desacreditar em si mesmo, porém de aprofundar no mais fundo do nosso coração e cuidar do mistério de sofrimento e de dor ao qual temos ligação desde séculos, milhares de anos.
Rasgai os corações para que possamos, por meio disso, olhar para dentro de nós, pela verdade.
Rasgai os corações. Abram seus corações, porque somente em um coração aberto pode entrar o amor misericordioso do Pai que nos ama e cura.
Rasgai os corações, disse o profeta, e Paulo que pede, quase ajoelhado: “reconcilia-se com Deus”. Mudar o modo de vida é sinal e fruto deste coração desgarrado e reconciliado por um amor que sobrepassa.
Este é um convite, com tantas feridas que nos ferem e que nos levam à tentação de endurecer o coração: Rasgai os corações para experimentar a oração silenciosa e serena da ternura de Deus.
Rasgai os corações para sentir o eco de tantas vidas desgarradas, cuja indiferença nos deixa inertes.
Rasgai os corações para poder amar com o mesmo amor que somos amados pelo Pai, para confortar com o consolo que somos consolados e compartir o que já recebemos.
Afinal, é um tempo litúrgico que começa na Igreja não somente para nós, mas também para a transformação da nossa família, comunidade, Igreja, pátria e mundo.
Tradução: Thaís Azevedo, texto retirado do site da Arquidiocese de Buenos Aires

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