Blog Alma Missionária

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terça-feira, 5 de março de 2013


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O Purgatório
Lugar de expiação pelo qual quase todos os que se salvam devem passar
Embora o dogma do Purgatório seja um dos mais genuinamente católicos, ele está hoje muito esquecido, até mesmo nos sermões. De onde uma meditação sobre o mesmo ser de muita utilidade prática para todos nós. Não só para nos lembrarmos de rezar por nossos parentes e amigos que ali se encontram, mas também para nos incitar a expiar nesta vida o débito que pelos nossos pecados contraímos com Deus, a fim de não termos de pagá-lo na outra vida. 
Plinio Maria Solimeo
Está na Sagrada Escritura: “Pensa nos teus Novíssimos [isto é, na Morte, no Juízo, no Inferno e no Paraíso] e jamais pecarás eternamente” (Eclo. 7,40). A isso poderíamos acrescentar o Purgatório.
Esquecemo-nos com frequência da única coisa certa nesta vida, ou seja, de que um dia morreremos. O que acontecerá então? De acordo com a doutrina católica, no momento da morte somos submetidos a um juízo particular, no qual todos os nossos pensamentos, atos e omissões passarão diante dos olhos do Supremo Juiz. Se tivermos a felicidade de nos apresentar então impolutos, ou de termos expiado nossas faltas durante a vida por meio da penitência e dos outros meios que a Igreja põe a nosso dispor, iremos diretamente para a felicidade sem fim no Céu. Se morrermos impenitentes, em estado de pecado mortal, seremos condenados. Se, entretanto, como acontece com a maior parte dos que se salvam, tivermos ainda que expiar pelo que a Igreja chama de “relíquias do pecado”, isto é, pela pena temporal devida a eles, então iremos para o Purgatório, onde pagaremos “até o último centavo” (Mt 5, 26).

Débito da culpa dos pecados mortais ou “relíquias do pecado”
Quando a pessoa comete um pecado mortal, a este corresponde uma pena eterna. Por ser uma injúria gravíssima contra a infinita majestade de Deus, o pecado mortal possuiu uma malícia que em certo sentido é infinita. A alma então perde a graça santificante, as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo, ficando assim privada da inabitação da Trindade Santíssima.
Por isso, além da pena eterna, o pecado mortal merece também uma punição temporal, a ser paga nesta vida ou na outra. Pois “a reparação deve ser em razão direta com a gravidade da ofensa. [...] Ora, é um princípio admitido que a gravidade de uma injúria se mede ao mesmo tempo pela dignidade do ofendido e a baixeza do ofensor. Em outros termos, quanto maior [for] a distância entre o ofensor e o ofendido, mais grave [será] a injúria. É evidente que, considerando sob esse aspecto, a malícia do pecado é infinita”.(1)
Santo Tomás de Aquino: "Negar o Purgatório é, pois, blasfemar contra a justiça divina. É um erro, e um erro contra a fé"
O pecado mortal é perdoado pelo batismo, pela confissão individual — ou, não sendo possível esta, por uma contrição perfeita unida ao desejo sincero de confessar-se — e excepcionalmente pela Extrema Unção ou Unção dos Enfermos. Por estes meios nos tornamos novamente amigos de Deus e herdeiros do Céu. Entretanto, se a confissão apaga a pena eterna de nossos pecados, não apaga a pena temporal a ele devida. É o que diz Santo Tomás: “Se é verdade que a contrição apaga os pecados, não tira todo o débito de pena que por eles se deve. Nem tampouco se perdoam sempre os pecados veniais, se bem que desapareçam os pecados mortais. Pois bem, a justiça de Deus exige que uma pena proporcional restabeleça a ordem perturbada pelo pecado. Logo, deve-se concluir que todo aquele que morre contrito e absolvido de seus pecados, mas sem ter satisfeito plenamente por eles à Justiça Divina, deve ser castigado na outra vida. Negar o Purgatório é, pois, blasfemar contra a justiça divina. É um erro, e um erro contra a fé” (Suma Teológica, Suplemento, q.71, a.1).(2)
Quanto aos pecados veniais, além da confissão, “podem ser remidos pelos sacramentais [p.ex., água benta], pela prece, pelo jejum, pela esmola, pela assistência à Missa, pela Santa Comunhão, e em geral por todas as boas obras, contanto que sejam acompanhadas de arrependimento”.(3) Como dissemos, se esses pecados não forem pagos neste mundo, sê-lo-ão no além. De onde a existência do Purgatório. Nossas preces por essas almas sofredoras são atendidas pela misericórdia de Deus, sobretudo se feitas por meio da Medianeira de todas as graças, a Virgem Santíssima.
Isto, que até algumas décadas atrás era doutrina corrente e sabida, no mundo de hoje — tão corrompido pela amoralidade e imoralidade reinantes — está praticamente esquecido. É por isso que pouco se reza e pouco se faz pelos nossos falecidos com vistas a mitigar-lhes as dores que sofrem no Purgatório. E não se pensa em expiar a pena temporal devida aos próprios pecados.
O Purgatório segundo as Sagradas Escrituras
Proclamado como dogma de fé, isto é, que não se pode negar sem cair em heresia, o Purgatório tem base na própria Sagrada Escritura. Com efeito, lemos no segundo livro dos Macabeus: “No dia seguinte [a uma batalha], Judas e seus companheiros foram tirar os corpos dos mortos, como era necessário, para depô-los na sepultura ao lado de seus pais. Ora, sob a túnica de cada um encontraram objetos consagrados aos ídolos de Jânia, proibidos aos judeus pela lei: todos, pois, reconheceram que fora esta a causa de sua morte. Bendisseram, pois, a mão do justo juiz, o Senhor, que faz aparecer as coisas ocultas, e puseram-se em oração, para implorar-lhe o perdão completo do pecado cometido. O nobre Judas falou à multidão, exortando-a a evitar qualquer transgressão, ao ver diante dos olhos o mal que havia sucedido aos que foram mortos por causa dos pecados.Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamenteera esse um bom e religioso pensamento;eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas(2 Mac. 12, 39-46).
“Sem dúvida, Judas Macabeu tem em vista, antes de tudo, a ressurreição de seus soldados que pecaram. Mas ele subordina essa ressurreição à expiação, na outra vida, do pecado cometido na pilhagem de Jânia. Esses soldados deveriam ressuscitar um dia; de outro modo, a prece pelos mortos seria vã. Ressuscitados, eles teriam parte na recompensa reservada àqueles que dormiram no Senhor. Mas antes deveriam ser libertos de seu pecado: é o resultado que procurava o sacrifício expiatório oferecido em Jerusalém”.(4) Isso é tão meridiano que, não podendo negar este texto, Lutero — que nega a realidade do Purgatório — simplesmente o excluiu da sua bíblia...
         O dogma do Purgatório também encontra fundamento no Novo Testamento. Em sua obra De Purgatório, São Roberto Belarmino invoca nove textos do Novo Testamento em favor da existência do Purgatório. Citaremos apenas alguns deles.
         São Paulo, na primeira Epístola aos Coríntios, diz: “Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo. Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O dia[do julgamentodemonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danosEle será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo (11-15).
         “Em suas diferentes explicações sobre o fogo, instrumento da salvação anunciado por São Paulo, Santo Agostinho considera sempre que a madeira, o feno, a palha, simbolizam os apegos culpáveis [...]. Há, pois, fiéis que, embora guardando o essencial dos preceitos de Jesus Cristo, estão muito apegados aos prazeres dos sentidos e às afeições permitidas [...]. São esses cristãos que necessitam de misericórdia, da qual não são indignos [...]. Esses cristãos, manchados de uma culpa que, no entanto, não é suficiente para levar à danação, deverão expiar, antes do último julgamento, seja neste mundo, seja no outro, seu muito apego aos bens terrestres”.(5)
         Também sobre o fogo mencionado por São Paulo, comenta Santo Tomás: “Isto não pode entender-se do fogo do Inferno, porque os que o padecem, não se salvam. É necessário, pois, entendê-lo do fogo que purga” (De rationibus Fidei, 9 ed. Marietti, n. 1020).(6)
         Segundo o que se deduz do Evangelho de São Mateus, quando Nosso Senhor diz:“Todo o que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste século nem no século vindouro (Mt 12, 32), está afirmado que certos pecados podem ser perdoados no outro mundo. Portanto, no Purgatório. Isso também é meridiano.
        O Purgatório na Tradição católica
Já nos primeiros tempos da Igreja havia o costume de se rezar pelos mortos. Conforme argumenta um teólogo, “o texto do II livro dos Macabeus devia exprimir uma prática já corrente: nada de espantar, pois, que essa prática encontre seu lugar no cristianismo nascente. Ela aí constituiria um elemento essencial da crença no Purgatório, paralelamente à expiação de além túmulo”.(7)
 Sobre isso muito escreveram os Santos Padres da Igreja. Há também testemunhos arqueológicos na Igreja primitiva, como epitáfios e inscrições funerárias, nos quais se mostra a fé em uma purificação ultraterrena. Também nos séculos II e III encontramos testemunhos explícitos de que se rezava pelos defuntos.
Um pouco mais tarde, São Cirilo de Jerusalém (c.315-386), falando no século IV do caráter propiciatório da Missa, diz que a “oferecemos a Cristo, imolado por nossos pecados, desejando tornar propícia a clemência divina em favor dos vivos e dos defuntos (Catequesis Mistagógicas 5, 9; PG 33,1116-1117).(8)
Já São João Crisóstomo (c. 347-407), falando um pouco mais tarde do socorro que podemos dar aos falecidos, comenta: Pensamos em procurar-lhes algum alívio do modo que podemos [...]. Como? Fazendo oração por eles, e pedindo a outros que também orem [...]Porque não sem razão foram estabelecidas pelos mesmos Apóstolos estas leis; digo que em meio dos venerandos mistérios se faça memória dos que morreram [...]. Bem sabiam eles que os defuntos tiram disto grande proveito e utilidade”.(9)
O heresiarca Lutero negava a existência do Purgatório
         Ao que acrescenta Santo Agostinho: “Durante o tempo que medeia entre a morte do homem e a ressurreição final, as almas ficam retidas em lugares recônditos, segundo é digna cada uma de repouso ou de castigo, conforme ao que tiver merecido quando vivia na carne. E não se pode negar que as almas dos defuntos recebem alívio pela piedade de seus parentes vivos, quando por elas se oferece o sacrifício do Mediador, ou quando se fazem esmolas na Igreja(Enquiridión, 109-110: PL 40,283). (10)
         Bem mais tarde, a doutrina do Purgatório foi expressamente definida pelos Concílios II de Lyon (1274), de Florença (1439) e de Trento (1545-1563). Neste último, a Igreja definiu não somente o dogma do Purgatório — quer dizer, a existência de uma expiação e purificação pela qual devem passar as almas que não foram purificadas inteiramente na Terra —, mas ensinou também que elas podem ser ajudadas pelos fiéis por suas orações e boas obras (No. 141), pela aplicação de indulgências (No. 417) e, sobretudo, pelo Santo Sacrifício da Missa (No. 388). Além disso, estabeleceu na Liturgia um dia especial para as almas do Purgatório, o dia 2 de novembro.
Finalmente, na sua 25ª. Sessão, o mesmo Concílio de Trento definiu: “Desde que a Igreja Católica instruída pelo Espírito Santo tem ensinado, em Concílios e muito recentemente neste Ecumênico Sínodo (Sess. 22 cap.ii, iii), o que é das Sagradas Escrituras e da antiga tradição dos Padres, que há um Purgatório e que as almas nele são auxiliadas pelos sufrágios dos fiéis, mas principalmente pelo aceitável Sacrifício do Altar, o Santo Sínodo ordena que os bispos diligentemente empenhem em ter a sã doutrina dos Padres nos Concílios com relação ao Purgatório, por toda parte ensinado e pregado, mantido e crido pelos fiéis” (Denzinger, Enchiridon, 983).(11)
O Purgatório e os heresiarcas protestantes
O dogma do Purgatório tem como corolário várias verdades de fé as quais não se é obrigado a aceitar sob pena de pecado por não serem dogmas; mas negando-as com temeridade, acaba-se negando a própria essência do Purgatório.
A primeira verdade de fé relacionada com o Purgatório é a da justificação. Esta é uma operação divina que apaga o pecado original e os pecados atuais — se os houver —, e faz passar o pecador do estado de pecado ao estado de graça e de justiça.
Desde o princípio, a Igreja tem ensinado que não somente a fé, mas também uma sincera conversão do coração, efetuada com caridade e contrição, é requerida para a justificação; ou seja, para nos tornar novamente justos aos olhos de Deus. “Segundo os protestantes [Lutero, Calvino], o homem tendo sido, depois do pecado original, privado do livre arbítrio e, por consequência, incapaz de toda boa obra, somente a fé, e a fé sem obras, é a única condição da justificação; mas é a fé entendida no sentido dos inovadores, que não é a fé propriamente dita pela qual cremos, pela palavra do próprio Deus, em todas as verdades que revelou à sua Igreja, mas a confiança que nos faz crer que nossos pecados são apagados pela imputação; ou, se quiser, pela aplicação dos méritos de Jesus Cristo”.(12)
Pois “Lutero, afirmando que o homem está intrínseca e essencialmente corrompido pelo pecado original, não admite renovação ou regeneração possível; e, portanto, diz que a justificação consiste em uma não imputação da corrupção em atenção aos méritos de Cristo. O homem, pois, justificado legalmente, permaneceria pecador em seu interior. Se isto fosse assim, o juízo de Deus deveria recair ou apenas sobre a realidade interna do homem, em cujo caso deveria condená-lo ao Inferno, ou sobre os méritos de Cristo, em cujo caso deveria levá-lo ao Céu imediatamente. Em qualquer caso, resultaria absurdo que Deus oferecesse a possibilidade de uma expiação ultraterrena que, de acordo com a lógica luterana, seria intrinsecamente impossível. Daí a urgência com que Zwinglio exige de Lutero que negue a existência do Purgatório; e daí também que o Concílio de Trento, como vimos, se refere especialmente ao Purgatório no decreto da justificação, e depois de ter definido seu caráter extrínseco”.(13)
A doutrina protestante leva assim a excluir o Purgatório. Com efeito, Lutero, depois de alguns ataques iniciais, nos quais ainda não negava a existência do Purgatório, mas punha em dúvida o seu fundamento bíblico, acabou negando-o mais tarde.
Efetivamente, a doutrina de uma purificação ultraterrena não podia coexistir com as afirmações de que o homem é intrinsecamente perverso e de que se justifica pela fé sem obras. Daí a negação do Purgatório ser comum a todos os protestantes.
Com efeito, na chamada “Confissão Galicana”, da Igreja reformada, é dito: “Temos o Purgatório como uma ilusão que procede da mesma butique da qual procedem também os votos monásticos, as peregrinações, a proibição de casamento (para sacerdotes) e o uso das carnes(nos dias de abstinência), a observação cerimoniosa dos dias, a confissão auricular, as indulgências e todas outras coisas pelas quais pensa-se merecer graça e salvação. Coisas que rejeitamos não somente pela falsa opinião do mérito a elas ligado, mas também porque são invenções humanas, que impõem jugo nas consciências”.(14) É chegar às últimas nefastas consequências na negação do Purgatório em particular e da doutrina católica em geral.
A crença na imortalidade da alma
Crendo na imortalidade da alma e na ressurreição dos corpos, a Santa Igreja sempre tratou com grande respeito os restos dos fiéis defuntos. Com efeito, é “com o corpo que a alma faz muitas boas obras como jejum, abstinência, continência etc. O corpo é também santificado pelos Sacramentos, e torna-se o templo do Homem-Deus pela comunhão. Como não admitir então que Deus o faça participar, com a alma, da recompensa e da felicidade?”.(15) E, a contrario sensu, a também sofrer com a alma, pelos seus pecados?
 Além dos materialistas e dos racionalistas, estas verdades são negadas também pelos protestantes liberais como contrárias à razão e à ciência.
Quem crê na imortalidade da alma, crê também que esta recebe, no termo desta vida, o prêmio ou o castigo merecido. Crê, portanto, que ao morrer ela passa por um juízo particular no qual serão julgadas suas ações, recebendo o que lhe for devido por elas. E que, entre o juízo particular e o Juízo Universal, todas as almas dos justos que morreram com “relíquias do pecado” serão purificadas. Portanto, a crença na imortalidade da alma leva-nos também a crer no Purgatório.
Em que lugar está o Purgatório?
A Igreja nada definiu sobre a localização do Purgatório. Mas a opinião mais comum, mais de acordo com a linguagem da Sagrada Escritura e bem aceita pelos teólogos, coloca-o nas entranhas da Terra, não longe do Inferno.
“Os teólogos são quase unânimes, diz São Roberto Belarmino, ensinando que o Purgatório, pelo menos o lugar de expiação ordinário, está situado no interior da Terra, e que as almas do Purgatório e os réprobos estão no mesmo espaço subterrâneo, no profundo abismo que a Escritura chama de Inferno”.(16)
São Francisco alivia as penas das almas do Purgatório

 
Com efeito, foi das entranhas da Terra que Santa Teresa viu subir a alma de um falecido, como conta no livro de sua vida: “Eu recebi notícias da morte de um religioso que tinha anteriormente sido Provincial desta província, e, depois, de uma outra. Eu o conhecia, e ele me prestou grande serviço. Isso me causou grande preocupação. Se bem que esse homem fosse recomendável por muitas virtudes, eu estava apreensiva pela salvação de sua alma, porque ele tinha sido Superior pelo espaço de 20 anos, e eu temo muito por aqueles que estão encarregados da cura de almas.
“Muito aflita, fui a um oratório. Lá conjurei nosso Divino Senhor que aplicasse a esse religioso o pouco de bem que eu tinha feito durante a vida e suprisse o resto com seus méritos infinitos, de modo que ele pudesse ser livre do Purgatório.
         “Enquanto eu pedia essa graça com todo o fervor de que sou capaz, vi, ao meu lado direito, essa alma vir das profundezas da terra e ascender ao Céu com transportes de alegria. Se bem que esse sacerdote fosse avançado em anos, ele me apareceu com as feições de um homem que não teria ainda atingido a idade de 30 anos, e com um semblante resplandecente de luz”. (17)
Quanto tempo uma alma passa no Purgatório?
         Diz Santo Agostinho: “A duração das penas do Purgatório não pode ser concebida além do Juízo Final. A sentença final não compreende senão os eleitos e os réprobos. [...] E vimos que, se certas almas têm ainda necessidade de purificação nesse momento, serão purificadas completamente pelo fogo do julgamento”.(18)
Quais são as penas do Purgatório?
É doutrina comum que existem no Purgatório dois tipos de sofrimentos: a pena de dano e apena de sentido.
         A pena de dano consiste em “que se lhes atrasa a visão de Deus” (Santo Tomás,Suma Teológica, Suplemento, q.71, a.2). É, no entanto, uma privação temperada pela esperança e pela certeza da salvação.
A pena dos sentidos, segundo boa parte dos teólogos, seria a mesma do Inferno, só que sem o desespero e sua eternidade.
Embora não seja verdade de fé, a crença de que no Purgatório há um fogo semelhantemente ao do Inferno é defendida por grandes teólogos
Embora não seja verdade de fé, a crença de que no Purgatório há um fogo semelhante ao do Inferno é defendida por grandes teólogos. São Roberto Belarmino a qualifica de“probabilíssima”; Suárez, de “certa, dentro da comodidade da opinião teológica”, e Siuri de “certa e comum”.(19)
         De acordo com Santo Tomás, essas penas são “tão intensas que a pena mínima do Purgatório excede à maior desta vida” (Suma Teológica, Suplemento, q.71, a.3).
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