15º Dia De Meditação Da Paixão De Cristo – ECCE HOMO!
15º dia de meditação da Paixão de Cristo – ECCE HOMO!
A multidão aguardava. Então Pilatos saiu e mostrou-lhes Jesus, que mal se tinha em pé. Estava desfigurado, curvado e encolhido pelos açoites, o rosto com a saliva dos soldados e cheio de equimoses das bofetadas e pauladas. Trazia ainda o manto de púrpura e a coroa de espinhos (Jô). Disse-lhes Pilatos: Aí tendes o homem, o homem que dizeis perigoso. Que mal pode fazer? Mal O viram,os pontífices e os seus servidores – o evangelista nada diz aqui do povo – começaram a gritar com grande violência: Crucifica-O, crucifica-O!
Pilatos respondeu-lhes: Tomai-O vós e crucificai-O, pois eu não encontro nele culpa alguma. O procurador sentiu-se completamente derrotado. Não esperava essa reação da multidão. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes repetiam: Nós temos uma lei, e segunda a lei deve morrer, porque se declarou Filho de Deus. No meio da incoerente confusão dos delitos que acusavam Jesus, os judeus invocam o verdadeiro motivo pelo qual o Sinédrio O tinha condenado: pretendia ser o Filho de Deus, o Messias esperado. E por esse título morreria.
Pilatos estava cada vez mais acovardado e sem argumentos, mas nem por isso deixava de procurar um modo de soltar o Senhor (Jô). Os judeus, porém, começaram a dizer aos gritos e de modo violento: Se O soltas, não és amigo de César, pois todo aquele que se faz rei levanta-se contra César (Jô).
Essa acusação parecia-se muito com uma ameaça de denúncia perante o imperador, e foi decisiva para que o procurador sempre inseguro e fraco, sentenciasse Jesus à morte. Disse aos judeus: Eis o vosso rei. Mas eles gritavam imediatamente: Fora, fora, crucifica-O. Pilatos respondeu: hei de crucificar o vosso rei?
É difícil compreender que os judeus, com a aversão que sentiam pelo dominador romano, pudessem responder: Não temos outro rei senão César (Jô). A ofuscação e o ódio faziam-se renegar o Messias que todos esperavam, para aderir ao poder dominador dos gentios. Quando São João escreveu essas linhas, o imperador tinha já arrasado a cidade e o Templo.
Ecce homo… Olhamos para Jesus. “Não parecia homem, mas um retábulo de dores pintado por mãos daqueles cruéis pintores e daquele mau governador”( Luís de Granada, Vida de Jesus Cristo, Diel, Lisboa, pág.205).
A nossa oração será mais fácil se procurarmos ganhar a intimidade com a Santíssima Humanidade de Cristo, especialmente nestas cenas da Paixão. Nelas aprendemos a pôr o coração no Senhor, a tê-Lo verdadeiramente como Amigo que não podemos atraiçoar nem amar e seguir a meias.
Conta santa Teresa de Ávila a marca indelegável que deixou na sua alma um pequeno acontecimento que teve uma importância decisiva na sua vida:
“Entrando um dia no oratório – escreve -, vi uma imagem que tinha trazido ali para guardá-la[...]. era de Cristo muito chagado e tão piedosa que, olhando-a, me perturbei toda de vê-Lo assim, porque representava bem o que passou por nós. Doeu-me tanto que tivesse sido tão mal-agradecida por aquelas chagas, que o meu coração parece que se partia, e lancei-me aos seus pés com grandíssimo derramamento de lágrimas, suplicando-Lhe que me fortalecesse de uma vez para não O ofender” (Teresa de Ávila, vida,9,1). Foram lágrimas de amor verdadeiro, não coisa de sentimentos, que a levaram a uma intimidade nova com o Senhor, a uma mudança de vida.
Na nossa oração, será de grande ajuda servi-nos da imaginação para representar com imagens claras de Jesus que nasce em Belém, que dá os primeiros passos sob a amorosa vigilância em companhia de Maria e de José, que aprende a trabalhar…, as aflições de Nossa senhora na fuga para o Egito… Em outras ocasiões, aproximar-nos-emos do grupo dos íntimos, a quem Jesus explica a sós, uma parábola. Acompanhá-Lo-emos naquelas longas caminhadas de cidade em cidade, de aldeia em aldeia. Entraremos com Ele na casa de seus amigos de Betânia e completaremos o carinho com que O recebem aqueles irmãos, e aprenderemos nós a tratá-Lo melhor no Sacrário e em cada Comunhão. Mas, de um modo particular, conheceremos a sua Santa humanidade nestas cenas da Paixão, que devem deixar rasto em nós. A dor do Senhor moverá o nosso coração a amar.
“Tu, ó minha alma, procura achar-te nesse espetáculo tão doloroso, e como se aí estivesses presente, olha com atenção a figura com que era levado à presença do povo esse Senhor que é resplendor da glória do Pai e espelho da sua formosura.
“Olha quão envergonhado estaria ali no meio de tanta gente, com as vestes de escárnio, as mãos atadas, a coroa de espinhos, a cana na mão, o corpo todo macerado e moído pelos açoites, e todo encolhido, desfeado e ensangüentado.
“Olha como estaria aquele divino rosto: inchado com os bofetões, atormentado pelas cusparadas…” (Vida de Cristo, pág. 205)
Olhamos para Jesus.
“Ecce homo! (Jô 19,5), eis o homem! Estremece o coração ao contemplar a Santíssima Humanidade de Jesus feita uma chaga[...].
“Olha para Jesus. Cada rasgão é uma censura; cada açoite, um motivo de dor pelas tuas ofensas e pelas minhas” (Via Sacra, estação I, n.5)
Olhamos para Jesus e Ele nos olha. Como havemos de ser capazes de ofendê-Lo, se os nossos pecados foram a causa dessa dor e dessas humilhações? Como havemos de negar-Lhe alguma coisa que nos peça, se tudo o que sofreu, o sofre por cada um de nós?
(fonte: “ A Cruz de Cristo” – Francisco Fernandez-Carvajal – Ed. Quadrante)
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