9º Dia De Meditação Da Paixão De Cristo – A MORTE DE JUDAS
9º dia de meditação da Paixão de Cristo – A MORTE DE JUDAS
9 – A MORTE DE JUDAS
Judas recebeu em pagamento do seu serviço os trinta siclos de prata, mas a consciência não o deixava descansar. São Mateus diz-nos que ele seguia com muito interesse o desenrolar do processo. A condenação à morte de Jesus pelo Sinédrio deixou-o arrasado. O seu mundo desabou. Não esperava uma sentença tão grave. Então, ao ver que tinha sido condenado, movido pelo remorso, quis devolver as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes (Mt). Aquelas moedas queimavam-lhe as mãos.
Para que queria o dinheiro se tinha perdido Jesus? Também não sabia para onde ir nem a quem recorrer. Procurou os encarregados do Templo ou alguns dos sacerdotes que tinham intervindo diretamente no acordo, e declarou-lhes que tinha pecado, entregando sangue inocente. Mas eles pouco se interessaram pelos seus sentimentos e pelas suas razões: Que nos importa? É lá contigo. Deixaram-no só. E a solidão é má companhia.
Judas estava terrivelmente inquieto. Lembrava-se, com certeza, das inumeráveis vezes em que Jesus tinha perdoado a outros os seus pecados. Deviam vir-lhe à memória a parábola do filho pródigo, a bondade de Jesus para com todos… Que faria agora? Para já, foi ao templo e lançou lá as moedas. Pesava-lhe o que tinha feito e sabia bem o crime que tinha cometido. Reconhecia-o. Mas isso não bastava. Cometeu o gravíssimo erro de não ir até Jesus que, no meio de tanto sofrimento, tinha a alma em brasa pensando no seu discípulo. Judas ficou só com a sua traição e a sua angústia, e desesperou-se. Não encontrou, não quis encontrar, a única saída que o tiraria das trevas. Essa foi a sua tragédia.
Jesus esperava-o, como a Pedro. Bastaria que tivesse olhado para Jesus por um instante, que tivesse tentado falar com Ele… E o seu Mestre ter-lhe-ia enviado um sinal, uma mensagem, um gesto em que lhe pediria que recomeçasse a sua vida de Apóstolo. Mas Judas quis ficar só, absolutamente só, com a sua culpa: a soberba venceu. E, desesperado, foi e enforcou-se. O livro dos Atos dos Apóstolos diz que tombou de frente, arrebentou-se pelo meio e todas as suas entranhas se espalharam. Não sabemos, contudo, quais foram os seus últimos sentimentos, os verdadeiramente últimos do seu coração.
O remorso produzido pela soberba não pode ser bom; mais tarde, provoca amargura e desespero. Junto de Cristo, o arrependimento transforma-se numa dor gozosa, porque se recupera a amizade perdida, e porque leva à humildade. Através da dor das suas negações, Pedro uniu-se ao Senhor muito mais fortemente do que alguma vez tinha estado. Das suas quedas, tirará forças para uma fidelidade que o levará até o martírio. Judas teve a oportunidade de percorrer o mesmo caminho, mas não quis. Não lhe faltou a ajuda do Senhor.
Nós também poderemos contar com essa ajuda, em qualquer situação, por mais grave e miserável que seja.
“Esse desalento, por quê? Pelas tuas misérias? Pelas tuas derrotas às vezes contínuas? Por uma baixa grande, grande, que não esperavas?”
“Sê simples. Abre o coração. Olha que ainda nada se perdeu. Ainda podes continuar avante, e com mais amor, com mais carinho, com mais fortaleza.”
“Refugia-te na filiação divina: Deus é teu Pai amantíssimo. Esta é a tua segurança, o ancoradouro onde lançar ferro, aconteça o que acontecer na superfície deste mar da vida. E encontrarás a alegria, fortaleza, otimismo… vitória!” (Via sacra, estação VII, n.2) E não demoraremos a estar outra vez ao lado do Senhor.
Os príncipes dos sacerdotes demonstraram uma vez mais a sua hipocrisia, pois recolheram as moedas lançadas por Judas e não as depositaram no Templo, pois diziam: Não é lícito lançá-las no tesouro do Templo, pois são preço de sangue. Devem ter tomado essa decisão uns dias mais tarde, quando Jesus já tinha morrido. Reconheceram uma uma prescrição da Escritura (Deut 23,18), de natureza secundária, e não querem admitir que eles mesmos foram os que incitaram Judas ao crime. Reuniram-se em conselho e decidiram comprar com aquelas moedas um campo chamado do Oleiro para a sepultura de peregrinos. Quando São Mateus escrevia o seu Evangelho, ainda era chamado Campo de Sangue. Ali parece ter sido enterrado o próprio Judas, conforme insinua São Pedro no discurso que lemos nos Atos dos Apóstolos (1,18): E assim tomou posse do campo, preço do seu crime.
“Senhor, se me afasto de Ti, a quem irei? Só Tu tens palavras de vida eterna” (Santo Agostinho, Comentário ao evangelho de São João)
“Aí daqueles que te abandonam a Ti, que és o guia seguro!”
“Ó dulcíssima luz, Sabedoria da alma purificada! Estás-me dizendo constantemente o que és e o que vales.”
“Aí daqueles que fecham os olhos à tua luz e se acham alegres e confiantes no meio das trevas”(Idem, De libero arbítrio 2, 16) Aonde podem ir em plena escuridão?
Não permitas, Senhor, que Te abandonemos nem sequer por um curto espaço de tempo. Aonde nos levariam os nossos passos se Tu não fosses o nosso guia?
Façamos o propósito de abrir sempre a alma ao Senhor, e àqueles que em seu nome estão para nos ajudarem e nos devolverem a esperança. Tenhamos confiança especialmente nos momentos difíceis, quando o desalento queira tomar conta de nós. Seguiremos assim o exemplo de Pedro, que tantas alegrias viria a dar ao seu Mestre com a sua fidelidade, e não o de Judas. (fonte: “ A Cruz de Cristo” – Francisco Fernandez-Carvajal – Ed. Quadrante)
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