8º Dia De Meditação Da Paixão De Cristo – AS NEGAÇÕES DE PEDRO
8º dia de meditação da Paixão de Cristo – AS NEGAÇÕES DE PEDRO
8 – AS NEGAÇÕES DE PEDRO
Pedro tinha seguido Jesus depois de O terem prendido no horto de Getsêmani. Não teve forças para fazê-lo abertamente, mas também não se atreveu a fugir e a ir para longe dali. Queria ver em que parava tudo aquilo (Mt). Acompanhava-o outro discípulo, João. Não sabendo muito bem o que fazer, ambos seguiram à distância a comitiva de Jesus. João era conhecido em casa do pontífice e tinha acesso ao palácio; com efeito, entrou com Jesus no átrio (Jô), talvez pouco depois.
Pedro, aproveitando-se da influência de João, também conseguiu entrar no átrio, um grande pátio rodeado de arcarias. Uma vez ali, aproximou-se de uma fogueira improvisada pelos criados, para aquecer-se. A noite era fria. Uma mulher no serviço passou por Pedro e, olhando-o fixamente, disse-lhe:Tu também estavas com Jesus o Galileu. Mas ele negou-o diante de todos : Não O conheço, não compreendo o que dizes. Como não havia de compreender, se tinham decorrido apenas poucas horas desde que declara estar disposto a dar a vida por Ele? Os laços de três anos inesquecíveis que o ligavam ao seu Mestre quebraram-se num instante, como se nunca tivesse existido.
Saiu do pátio para o vestíbulo. E um galo cantou. Amanhecia a sexta-feira. Jesus já tinha sofrido muito.
E quando saía para o pórtico, a empregada começou a dizer outra vez aos presentes: Este é um deles.Mas ele negou rotundamente (Mc).
Mal tinha passado uma hora (Lc), um dos que estavam por perto, um parente daquele a quem precisamente Pedro tinha cortado a orelha, disse-lhe: Acaso não te vi eu no horto com Ele? (Jô) E outros diziam-lhe: Tu também eras deles, pois a tua fala assim o manifesta (Mt). Pedro sentiu-se encurralado ecomeçou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem(Mt). Estava fora de si. Pobre Pedro!
No silêncio da noite, um galo voltou a cantar.
Naquele momento, levavam Jesus por uma daquelas arcadas que davam para o pátio. Então Jesus voltou-se e olhou para Pedro (Lc), que estava em baixo (Mc). Pedro quase não reconheceu seu Mestre, desfigurado pelas pancadas e maus tratos que tinha recebido, mas conhecia bem o Seu olhar. Nunca poderia esquecê-Lo. Os olhos de Jesus fixaram-se nele por um instante e o Apóstolo ficou arrasado. Então compreendeu a gravidade do seu pecado. Havia mais gente no pátio, mas Jesus só o tinha olhado a ele. E Pedro sentiu-se atraído, como por um ímã, por aqueles olhos cheios de infinita misericórdia.
Sentiu-se tal como naquele dia em que não pudera resistir à autoridade e ao encanto desse olhar suscitara a sua vocação. E naquele outro em que fizera tremer quando ele, Simão, tinha querido apartar a cruz do caminho do Senhor. E em tantas outras a ocasiões…
E, no entanto, nunca contemplara uma expressão parecida àquela que agora descobria no rosto do Senhor. Aqueles olhos impregnados de tristeza, mas não severos; um olhar que parecia dizer:Simão, eu roguei por ti…Foi um olhar alentador, misericordioso, em que Pedro se sentiu compreendido e perdoado. Em todo o seu ser ecoava a voz do Senhor que dizia: “ Para onde vais, Pedro? Por que te encerras em ti mesmo? Volta para mim, confia em mim; segue-Me” (São Leão Magno, Homilia 3a. sobre a Paixão, 5). Não te separes de Mim.
“O Senhor converteu Pedro – que O tinha negado três vezes – sem lhe dirigir sequer uma censura: com um olhar de Amor. – É com esses mesmos olhos que Jesus nos olha, depois das nossas quedas. Oxalá possamos dizer-Lhe, como Pedro: Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que eu te amo! E mudemos de vida” (Josemaria Escrivá, Sulco, Ed.Quadrante).
Esses instantes foram definitivos na vida do discípulo. Vieram imediatamente à sua memória as palavras do Mestre: Antes que o galo cante hoje duas vezes…Pedro saiu dali e chorou amargamente.
Como deve ter recordado então a parábola do bom pastor, do filho pródigo, da ovelha perdida! Pedro saiu dali. Para evitar possíveis recaídas, afastou-se daquele lugar onde se tinha metido imprudentemente. Compreendeu que não era ali que devia estar. Lembrou-se do seu Mestre, e chorou cheio de dor.
O Senhor não terá inconveniente em edificar a Sua igreja sobre um homem que O negou num momento de fraqueza, pois Ele conta também com os instrumentos fracos para realizar o seus empreendimentos grandes: a salvação de todos os homens.
As negações do Apóstolo são narradas pelos quatro evangelistas, coisa que acontece poucas vezes. Nenhum deles quis omitir este episódio em que a rocha da Igreja se apresentou com tantas fendas. De um ponto de vista exclusivamente humano, teriam tido muitas razões para excluí-lo, mas o exemplo de contrição e de humildade que deu aos primeiros cristãos foi muito proveitoso.
Na vida de Pedro podemos ver espelhada a nossa própria vida.
“Dor de amor. – Porque Ele é bom. – Porque é teu Amigo, que deu a Sua Vida por ti. – Porque tudo o que tens de bom é dEle. – Porque O tens ofendido tanto…Porque te tem perdoado…Ele!…a ti!
“- Chora, meu filho, de dor de Amor” (Caminho, n. 436).
Dá-me, Senhor, o dom da contrição, pelas minhas fraquezas sempre repetidas, pelos pensamentos de infidelidade que não corto, pela brusquidão com que desvio do Teu olhar dorido aos meus olhos turvos.
Ajuda-me, Senhor, a chorar de “dor de amor”. (fonte: “ A Cruz de Cristo” – Francisco Fernandez-Carvajal – Ed. Quadrante)
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