Em outubro, a Igreja celebra a memória de uma das maiores santas de todos os tempos: Santa Teresinha do Menino Jesus. Com sua vivência espiritual, deixou à Igreja uma via muito segura para chegar à santidade. Que via é essa? A via dos pequenos sacrifícios.
Muitas pessoas costumam fazer as mesmas perguntas: em quê o sofrimento humano pode ser útil? Como um gesto de sacrifício pode colaborar na economia da salvação?
Na carta aos Colossenses, dizia o Apóstolo Paulo: “Agora eu me alegro de sofrer por vocês, pois vou completando em minha carne o que falta nas tribulações de Cristo, a favor do seu corpo, que é a Igreja” (1,24). Com essa sentença, não queria dizer que o sacrifício de Cristo foi incompleto, mas sim que os sofrimentos humanos, unidos aos méritos de Cristo, tornam-se também méritos para a edificação da Igreja. Deus, em sua bondade, permitiu que os homens ajuntassem seus méritos aos infinitamente maiores méritos de Cristo, colaborando, assim, para a salvação das almas.
Santa Teresinha nasceu em Aleçon, na França, no ano de 1873 e entrou para o Carmelo com apenas 15 anos, sob autorização especial do papa. Assim, passou a vida no Mosteiro das Carmelitas, em Lisieux, oferecendo a vida a Deus com toda simplicidade de coração.
Talvez o que mais chama a atenção na vida de Santa Teresinha seja o fato de nunca ter praticado “sacrifícios enormes”, como duros jejuns e mortificações. Ela preferia oferecer, todos os dias, a toda hora, mil pequeninos gestos de sacrifício, que ela mesma denominava como “flores”. Segundo sua autobiografia, esses pequenos sofrimentos que ela oferecia todos os dias eram como flores jogadas aos pés da Cruz de Cristo, para agradar-Lhe e fazer com que, por conta dessa satisfação, fosse piedoso com as almas dos pecadores. Essa vivência fica clara neste pequeno poema escrito pela Santa de Lisieux:
“Jesus, único Amor, ao pé de Teu Calvário,
que prazer para mim, à noite, jogar flores!...
Rosas primaveris por Vós despetalando,
quisera enxugar Vosso pranto.
Atirar flores é ofertar as primícias,
de pequenos gemidos e de grandes dores.
Alegrias e penas, leves sacrifícios,
estas são minhas flores!...”
A jovem carmelita oferecia ao Senhor estas pequenas flores na humildade e no silêncio, sem nunca ser notada. Ela mesma lista alguns desses pequenos sacrifícios:
- Conservar sempre o semblante calmo e sereno
- Tomar parte numa conversa ou recreação não por prazer, mas para causá-lo aos outros
- Atender prontamente a quem quer que nos chame
- Praticar pequeninos atos de caridade sem que ninguém o saiba
- Nunca nos queixarmos
- Não nos desculparmos quando nos acusarem injustamente
- Evitar discussões
- Reprimir uma palavra de réplica, etc.
No Carmelo, Santa Teresinha fazia de todas as situações uma ocasião de sofrer por amor: deixava de comer a comida que mais gostasse, recolhia do chão até os menores objetos, dobrava as capas das irmãs após as orações, colocava pequenas pedras em seus sapatos, por vezes dormia descoberta em noites frias. Tudo isso oferecia a Deus por intenção das almas e dos sacerdotes, sempre no silêncio. E por esta razão tão salutar, alegrava-se em poder sofrer por amor a Jesus e aos irmãos: “Jesus nos ensina que as menores ações praticadas por amor são as que mais lhe agradam", escreveu a santa em certa ocasião, “Jesus ama os corações alegres. [...] Pois existe alegria maior que a de sofrer pelo vosso amor?... Mais interior é o sofrimento, menos aparece aos olhos das criaturas, mais ele vos alegra”.
Com seu exemplo, Santa Teresinha mostrou ao mundo que a santidade pode ser alcançada por todos. Sua “pequena via” está ao alcance de qualquer cristão que possua um coração aberto. Como ela mesma disse: "No meu Caminhozinho, só há coisas muito ordinárias: importa que tudo o que eu faço as almas pequeninas possam fazer igualmente”. Caminho simples que atesta a Palavra de Deus: “O mandamento que hoje te dou não está acima de tuas forças, nem fora de teu alcance” (Dt 30,11).
Que a Igreja se edifique ainda mais através do exemplo desta grandiosa santa que, para tanto, não precisou realizar feitos grandiosos. Eis as suas palavras: “Eis, meu Bem-Amado, como se consumará minha vida... Não tenho outros meios para te provar meu amor, a não ser lançar flores, isto é, não deixar escapar nenhum pequeno sacrifício, nenhum olhar, nenhuma palavra, aproveitar as menores coisas e fazê-las por amor... Quero sofrer e mesmo gozar por amor, dessa forma lançarei flores diante do teu trono, não encontrarei uma só sem desfolhá-la para Ti... e, ao jogar minhas flores, cantarei. Caberia chorar fazendo uma ação tão alegre? Cantarei, até mesmo quando for preciso colher minhas flores no meio dos espinhos e meu canto será mais melodioso na medida em que os espinhos forem longos e pungentes. Em que minhas flores e meus cantos irão te servir, Jesus?... Ah! sei. Essa chuva perfumada, essas pétalas frágeis e sem valor, esses cantos de amor do menor dos corações te encantarão. Sim, esses nadas te agradarão, farão sorrir a Igreja triunfante que recolherá minhas flores desfolhadas por amor e, fazendo-as passar por tuas mãos divinas, ó Jesus, essa Igreja do Céu, querendo brincar com sua criança, lançará essas flores que, pelo teu toque divino, terão adquirido um valor infinito. Lançá-las-á sobre a Igreja padecente, a fim de apagar as chamas; lançá-las-á sobre a Igreja combatente, a fim de lhe propiciar a vitória!”
Santa Teresinha do Menino Jesus, rogai por nós!
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