Blog Alma Missionária

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sábado, 14 de julho de 2012



Anjos: quando se fala sobre esse assunto geralmente se levantam mais dúvidas que certezas. A sociedade materialista costuma afirmar que não passam de uma fantasia. Os esotéricos, que são uma espécie de amuleto espiritual. Mas o que diz a Igreja? A verdade é que a existência dos anjos está longe de ser invenção e a influência que exercem na vida dos homens pode ser muito maior do que se imagina.



Os Anjos: quem são?

A existência dos anjos e sua atuação na economia da salvação sempre foram atestadas pela autoridade da Igreja com unanimidade. Sendo assim, o Catecismo da Igreja Católica (§ 328) declara que a existência deles é verdade de fé. Os anjos são seres puramente espirituais criados por Deus à sua imagem e semelhança, segundo nos ensina as catequeses do saudoso Papa João Paulo II. São seres racionais e pessoais, dotados de inteligência e vontade. Possuem o livre-arbítrio, além de serem imortais. Não possuem corpo material, embora, se assim Deus ordenar, possam se apresentar aos homens com um corpo. Superam em perfeição todas as criaturas visíveis e estão muito mais próximos de Deus que as criaturas materiais. Por conta dessa profunda intimidade com Ele, por diversas vezes já foram chamados de “corte de Deus”.
A denominação “anjo” indica sua função: mensageiro. São eles os servos de Deus, que executam suas ordens e cooperam para a realização do plano de Deus. A respeito disso, disse o Papa Bento XVI na festa dos Santos Arcanjos, em 2007: “Mas o que é um Anjo? A Sagrada Escritura e a tradição da Igreja deixam-nos entrever dois aspectos. Por um lado, o Anjo é uma criatura que está diante de Deus, orientada, com todo o seu ser para Deus. [...] A sua verdadeira natureza é a existência em vista d'Ele e para Ele. Explica-se precisamente assim também o segundo aspecto que caracteriza os Anjos: eles são mensageiros de Deus. Trazem Deus aos homens, abrem o céu e assim abrem a terra”.
Segundo São Tomás de Aquino, chamado de “Doutor Angélico” por conta de seus estudos sobre os anjos, Deus os criou para que pudessem espelhar a perfeição do Criador, por isso, criou estes seres elevados em maior quantidade que os seres materiais, na verdade, em uma quantidade incalculável, pois a própria Escritura cita-os como “miríades e miríades e milhares de milhares” (Ap 5, 11).
Os anjos desempenham diferentes funções e diferem uns dos outros. "Isaías fala dos Serafins; Ezequiel, dos Querubins; Paulo, dos Tronos, das Dominações, das Virtudes, das Potestades, dos Principados; Judas fala dos Arcanjos, enquanto o nome dos Anjos está em muitos lugares da Escritura", constata São Tomás de Aquino. Sendo assim, a Tradição, tendo como base os relatos da Sagrada Escritura, subdivide os anjos em nove ordens ou coros, distribuídos em três hierarquias:
PRIMEIRA HIERARQUIA – Formada pelos Santos Anjos que estão em contato mais íntimo com o Criador. Sua função é adorar e glorificar a Deus. São eles: os Serafins, Querubins e Tronos.
SEGUNDA HIERARQUIA – São responsáveis pelos acontecimentos relativos ao Universo e pela transmissão da Sabedoria Divina à terceira hierarquia. São eles: as Dominações, Potestades e Virtudes.
TERCEIRA HIERARQUIA – São os Santos Anjos que se encontram mais próximos dos seres humanos. Eles executam as ordens de Deus a respeito de cada pessoa. São eles: os Principados, Arcanjos e Anjos.
  
A queda

Os anjos, todos criados por Deus, foram criados com plena liberdade de escolha, como já dito anteriormente. Deus então os convidou a serem participantes de sua intimidade. Mas, para que isso fosse possível, os anjos teriam de fazer uma opção por abraçar ou não esta comunhão com Deus. Sendo assim, ainda antes do homem ser criado, foram submetidos, segundo o Papa João Paulo II, a uma prova de caráter moral, onde deveriam escolher servir a Deus livremente, ou não.
Lúcifer era um poderoso e belíssimo anjo criado por Deus. Mas, tomado pelo orgulho, passou a querer se igualar a Deus. Deste modo, recusou servir ao Senhor, levando com ele um terço dos anjos que Deus havia criado. “Qual pode ser o motivo desta radical e irreversível escolha contra Deus? [...] Os Padres da Igreja e os teólogos não hesitam em falar de ‘cegueira’ produzida pela supervalorização da perfeição do próprio ser, levada até o ponto de velar a supremacia de Deus, que, pelo contrário, exigia um ato dócil de obediente submissão”, afirma o Papa João Paulo II em uma de suas catequeses sobre os anjos.
Os anjos bons, liderados pelo Arcanjo Miguel, permaneceram fiéis ao Criador, reconhecendo-o como Bem supremo e definitivo, enquanto os outros, liderados por Lúcifer, o rejeitaram, como narra o livro do Apocalipse (12, 7s): “Aconteceu então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou juntamente com os seus Anjos, mas foi derrotado, e no céu não houve mais lugar para eles”.
Assim, os anjos foram divididos em bons e maus, sendo os maus denominados demônios. “Esta divisão não se realizou por obra de Deus, mas em consequência da liberdade própria da natureza espiritual de cada um deles. Realizou-se mediante a escolha que para os seres puramente espirituais possui um caráter incomparavelmente mais radical do que a do homem, e é irreversível dado o grau do caráter intuitivo e de penetração do bem de que é dotada a sua inteligência”, afirmou João Paulo II. Ou seja, como os anjos foram dotados de uma inteligência e conhecimento da verdade muito grande, a escolha de rejeitar a Deus foi feita com a plena consciência, de modo radical e eterno (assim, irreversível). O perdão aos anjos maus não é possível não por conta de uma falha na misericórdia de Deus, mas simplesmente porque neles não há qualquer arrependimento, nem haverá, dado que fizeram sua escolha no pleno conhecimento e permanecem eternamente em seu pecado. Assim, seu sofrimento é eterno porque seu pecado é eterno.
Os demônios, como já citado, foram expulsos do céu e, desde então, procuram atrapalhar os planos de Deus a todo custo, haja vista o ódio que têm de Deus e de tudo que vem Dele. E, se Satanás e os demônios operam no mundo mediante o seu ódio contra Deus e seu Reino, isto é permitido pela Divina Providência, pois Deus é capaz de extrair o bem de algo mal.
Uma das maiores investidade Satanás no mundo atual é justamente fazer com que os homens não acreditem em sua existência: “[...] fazer-se ignorar corresponde aos seus interesses. A habilidade de Satanás no mundo está em induzir os homens a negarem a sua existência, em nome do racionalismo e de cada um dos outros sistemas de pensamento que procuram todas as escapatórias para não admitir a obra dele”, reforça João Paulo II. Não é que todo o mal existente no mundo se origine na ação direta dos demônios, mas não se pode negar que eles conservam as mesmas habilidades que possuíam quando ainda eram anjos bons: inteligência e poder, por exemplo. Sendo assim, utilizam-nas agora para o mal, para tentar contra as obras de Deus e fazer, principalmente, com que os homens se percam e não alcancem a salvação.
Mas como isso se dá? Você já deve ter visto algumas representações de “diabinhos” dando maus conselhos às pessoas, tentando desviá-las das boas recomendações dadas por seus “anjinhos”. A realidade é que estes seres espirituais, tanto os anjos quanto os demônios, têm poder sobre a imaginação humana. São Tomás de Aquino afirma que os anjos podem dar aos seres humanos boas inspirações, inclinando-os à prática da virtude, sugerindo-os bons propósitos, ajudando-os em suas tarefas, dando-lhes boas ideias, enfim, em toda sorte de ações sua influência pode colaborar. Os demônios, pelo contrário, estão sempre à espreita de uma oportunidade para fazer o homem ofender a Deus, prejudicar seu próximo ou praticar qualquer atitude má – influência denominada tentação. A esse respeito, alerta o Papa João Paulo II: “A ação de Satanás consiste, antes de tudo, em tentar os homens ao mal influindo na sua imaginação e nas suas faculdades superiores para as orientar em direção contrária à lei de Deus. Satanás põe à prova até Jesus (cf. Lc 4, 3-13), na tentativa extrema de contrariar as exigências da economia da salvação como Deus a estabeleceu”.
Para discernir qual influência está sendo aplicada a si, o cristão deve examinar em que estado se encontra sua alma: onde há paz e alegria, boa disposição da alma para ajudar o próximo e amor a Deus, certamente está presente a ação dos anjos. Já quando o coração se encontra perturbado e inquieto, é bom tomar cuidado, pois a causa pode ser as tentações dos demônios.
  
O Anjo da Guarda

A forma a qual Deus escolheu para tornar os anjos muito próximos dos homens foi designar um Anjo da Guarda para cada um. Desde o seu começo, ensina o Catecismo da Igreja Católica (§ 336), até a morte, a vida humana é acompanhada pela sua assistência e intercessão.
Desde o nascimento, cada pessoa recebe um anjo como seu guardião. Este anjo não terá outro a quem proteger em toda a história da humanidade, ou seja, sua função exclusiva é zelar para que a alma que lhe foi confiada não se afaste de Deus. São Tomás de Aquino ensina que mesmo os não batizados possuem um anjo guardião, pois Deus desejou dar um protetor e amigo a todos os homens. Segundo a doutrina católica, o Anjo da Guarda não abandona seu protegido nem mesmo quando se encontra no pecado mas, antes, procura reconduzi-lo ao bom caminho e ao arrependimento para que se reconcilie com Deus. Santo Agostinho indagava: “Como podem os anjos estar longe, quando nos foram dados por Deus para ajudar-nos? Eles não se apartam de nós, embora aqueles que são assaltados pelas tentações pensem que estão longe”.
O Anjo da Guarda apresenta a Deus as súplicas daquele a quem guarda, defende-o das ciladas do demônio e roga a Deus incessantemente por sua vida. Alguns santos tiveram a oportunidade de conviver com seu Anjo da Guarda de forma visível, como Santa Gemma Galgani e São Pio de Pietrelcina. Esta graça, no entanto, não é concedida a todos. A única verdade absolutamente certa é que cada pessoa possui um fiel amigo, sempre pronto a lhe ajudar em qualquer momento. Construir uma intimidade espiritual com o Anjo da Guarda torna-se, assim, um poderoso auxílio na caminhada cristã. “A presença invisível destes Espíritos bem-aventurados nos é de grande ajuda e conforto:  eles caminham ao nosso lado e protegem-nos em todas as ocasiões, defendem-nos dos perigos e a eles podemos recorrer em todos os momentos. Muitos santos mantinham com os Anjos uma relação de verdadeira amizade e são numerosos os episódios que testemunham a sua assistência em circunstâncias particulares. Os Anjos são enviados por Deus ‘a favor daqueles que hão de herdar a salvação’, como recorda a Carta aos Hebreus (1, 14) e, portanto, há um válido auxílio na peregrinação terrena em direção à Pátria celeste”, afirmou o Papa Bento XVI, em 2008.
A Festa dos Santos Anjos da Guarda, criada em 1608 pelo Papa Paulo V, foi fixada no calendário oficial da Igreja em 1670, pelo Papa Clemente X, tornando-se assim, obrigatória para toda a Igreja. É celebrada no dia 2 de outubro.

Carta de São Pio de Pietrelcina a uma filha espiritual sobre o Anjo da Guarda

Que o teu anjo da guarda vele sempre por ti, seja o condutor que te guia pelo áspero caminho da vida. Que te proteja sempre na graça de Jesus, que te ampare com suas mãos. Que te proteja sob suas asas de todos os assédios do mundo, do demônio e da carne.
Deves muita devoção a esse bondoso anjo. Como é bom pensar que temos um espírito perto de nós, um espírito que, do berço até o túmulo, não nos deixa um só instante, nem mesmo quando ousamos pecar! Esse espírito celeste nos guia, nos protege, como um amigo, como um irmão.
Também é bom saber que esse anjo ora por nós sem cessar, oferece a Deus todas as boas ações e obras que fazemos, nossos pensamentos, nossos desejos, quando estes são puros.
Não devemos nos esquecer desse companheiro invisível, sempre presente, sempre pronto a nos ouvir, e mais pronto ainda a nos consolar. Ó, sublime intimidade, ó bem-aventurada companhia, se soubéssemos compreendê-la! Deves conservá-lo sempre diante dos olhos da mente: lembra-te com frequência da presença desse anjo, agradece-lhe, dirige a ele as tuas orações, sê para ele um bom companheiro. Abre-te e confia a ele os teus sofrimentos, tem receio de ofender a pureza do seu olhar. Tem consciência de sua presença e guarda-a bem na mente. Ele é tão delicado, tão sensível. Volta-te para ele nas horas de suprema angústia e experimentarás seus efeitos benéficos.
Nunca digas que estás sozinho na luta contra nossos inimigos. Nunca digas que não tens uma alma à qual podes te abrir e confiar-te. Seria um grande erro contra esse mensageiro celeste.

Pietrelcina, 15 de julho de 1915.”


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