Por um Catolicismo Bíblico
2009-09-14 07:09:00
2009-09-14 07:09:00
Dom Orlando Brandes
Concluiu-se em Roma no dia 26 de outubro o Sínodo dos Bispos cujo tema era: “A Palavra
de Deus na vida e missão da Igreja”. Houve muita expectativa a respeito deste Sínodo e
não podia ser diferente. Graças a Deus, os resultados foram muito positivos.
Os participantes do Sínodo evitaram discussões acadêmicas, exegéticas, teológicas e
focalizaram duas dimensões da Palavra de Deus: a dimensão místico-espiritual e a
dimensão pastoral. Podemos dizer que foi um encontro sobre espiritualidade bíblica e
animação bíblica da pastoral. Exatamente é o que a Igreja mais necessita: amor à Palavra
e á prática, a vivência da Palavra no quotidiano e na esfera social. Não foi um Sínodo de
biblistas, mas de pastores.
Falou-se de que precisamos ter um “coração bíblico” e que o coração dos fiéis deve ser
uma “biblioteca bíblica”. Por isso, a grande maioria das intervenções privilegiaram a
“Leitura Orante da Bíblia” (Lectio Divina) como um caminho concreto de encantamento,
conhecimento e vivência da Palavra.
A Palavra de Deus não se reduz ao livro da Bíblia. A Palavra se manifesta na beleza
da criação, nos acontecimentos da vida, na experiência de fé das comunidades, mas,
principalmente a Palavra é uma pessoa: Jesus Cristo. Todas as Escrituras apontam
para Cristo. Ele é o Filho muito amado do Pai, a quem devemos escutar e seguir
como discípulos. A Palavra é uma declaração de amor de Deus por nós. Ele fala
conosco como um amigo. A Igreja deve pois “ouvir piamente, guardar santamente e
anunciar fielmente a Palavra”. Nós somos o que ouvimos.
Houve quem propusesse na sala sinodal que é preciso suscitar o “século do amor
à Palavra”. Quem vive e testemunha a Palavra, é o melhor exegeta, ou seja, o melhor
mestre e doutor das Escrituras, como, diz o apóstolo Paulo: “a Palavra habite em
vós” (Col 3,16). É hora da Bíblia, do primado da Palavra. Ela deve correr veloz, como
reza o Salmista, e não deve ser acorrentada. Sim, a Palavra é a bússola da Igreja, é
o motor que tudo move, é a rocha, o alicerce de toda a realidade.
Diante de todas estas maravilhas, o Sínodo constatou que a maioria do povo ignora
as Escrituras, em muitas partes do mundo o preço da Bíblia é muito caro, nas famílias
pouco se fala da Palavra, ainda se tem medo de colocar a Bíblia nas mãos do povo, as
homilias podem e devem melhorar, os microfones das Igrejas e os leitores não
podem emudecer a Palavra e fazê-la cair no chão, os grupos bíblicos precisam aumentar.
É preciso pois, frequentar as Escrituras, ter familiaridade e até apego à Palavra,
fazer dela nossa nutrição diária e nela permanecer. Dos quartos, a Palavra deve chegar
aos telhados, para iluminar a mente, robustecer a vontade, inflamar o coração.
Que possamos consagrar à leitura bíblica, tantas horas quantas pudermos, pediu o Sínodo.
A Palavra tem “voz”. Esta voz está na revelação divina, na comunicação de Deus com os
patriarcas, os profetas, os apóstolos. A Palavra tem um “rosto”: é Jesus Cristo. Ele é a
Palavra que se fez carne. Jesus é a Palavra de Deus por excelência. A Palavra tem
uma “casa”: a Igreja. É na Igreja que encontramos a Palavra. Enquanto casa da Palavra
cabe à Igreja, anunciá-la, aprofundá-la pela catequese, ensiná-la na homilia, celebrá-la
na Eucaristia, rezá-la na liturgia das horas. A Palavra tem um “caminho”: é a missão.
Que ela possa tinir nos ouvidos, transpassar os corações, inflamar os lábios e chegar até
os confins da terra.
Dentro da própria Bíblia encontramos muitos símbolos que nos ajudam a compreender a
profundidade, a altura, a largura, o cumprimento a inestimável e inexplorável riqueza
da Palavra de Deus. Eis alguns símbolos: luz, rocha, pão, tesouro, espada, machado, leite,
ouro, martelo, carta, chuva, mel.
Após o Sínodo da Palavra não se pode mais batizar sem evangelizar, catequizar sem fazer
discípulos, ler nas celebrações sem ensaio e preparação. Que adianta Igreja bonita, salão
grande, mas microfones ruins, som descuidado e leitores sem saber comunicar-se? É hora
de mudar. Amemos e respeitemos a Palavra de Deus.
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por
CNBB
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