Blog Alma Missionária

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quinta-feira, 4 de abril de 2013


Ter a Bíblia; ler a Bíblia
 2008-10-17 12:03:00



Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo metropolitano de São Paulo

   Escrevo de Roma, onde estou participando da 12a Assembléia Geral do Sínodo dos Bispos. Após a
 abertura, no domingo, 5 de outubro, junto do túmulo do apóstolo São Paulo, tivemos uma semana de
 intensos trabalhos, sobretudo de muitas e variadas contribuições dos padres sinodais e de outros
 participantes da assembléia, que somam mais de 250 pessoas; nas intervenções sobre o tema, cada
 inscrito pode falar durante cinco minutos e, nas sessões de intervenções livres, apenas três minutos. Uma secretaria bem articulada recolhe tudo e vai transformando em texto as propostas que aparecem. O papa
 Bento16 está presente quase integralmente nas sessões de trabalho, ouve tudo e faz anotações; o Sínodo,
 de fato, é um organismo consultivo e tem a finalidade de ajudar o papa, no espírito da colegialidade
 episcopal, em questões de importância para a toda a Igreja. 
    No final dos trabalhos, as propostas da assembléia sinodal são entregues ao papa que, a partir delas, fará
 o documento póssinodal sobre o tema tratado. Ao longo da primeira semana, as intervenções foram muito
 ricase já deixaram transparecer algunsquestões fundamentais naquilo que se refere ao tema da “Palavra de
 Deus na vida e na missão da Igreja”. Antes de tudo, que é preciso tornar amplamente acessível a palavra de
 Deus ao povo, de diversos modos: na proclamação litúrgica assídua, na iniciação à leitura da Escritura e, sobretudo, oferecendo traduções nas línguas faladas pelo povo. Pode parecer estranho, mas ainda existem numerosas línguas nas quais a Bíblia ainda não foi traduzida; isso acontece com as línguas locais da África, da
 Ásia e também da América Latina, faladas por grupos mais ou menos numerosos. Insistiu-se muito na leitura diária da Bíblia, seja em particular, seja em família ou na comunidade. Vários padres sinodais trouxeram testemunhos sobre iniciativas pastorais para a leitura diária da palavra de Deus em família, onde os pais têm
 um papel importante para introduzir os filhos no conhecimento e na veneração das Sagradas Escrituras. Um
 bispo da Indonésia falou do incentivo das crianças para aprenderem de cor os Evangelhos, talvez a exemplo daquilo que fazem os meninos nas escolas corânicas: aprendem de cor as palavras do Alcorão. Mas além de
 ler a palavra de Deus, é preciso compreendê-la corretamente; assim falou-se muito dos métodos de estudo e leitura da Bíblia, com particular insistência na leitura orante da Bíblia (lectio divina), um método que se vai espalhando no mundo inteiro; a Bíblia não é propriamente um livro de informações e de fórmulas e doutrinas religiosas, mas o testemunho sobre a relação de amor e salvação de Deus para com seu povo. 

    Assim, mais que entender simplesmente a Bíblia, o método de leitura deve ajudar o leitor a colocar-se 
diante do autor da Bíblia, que falou e continua a falar ainda hoje a quem acolhe a Palavra revelada com fé. A Bíblia é formativa, mais que informativa. Vários bispos manifestaram sua preocupação em relação a certa
 leitura “materialista” da Bíblia, que não leva em conta o seu caráter religioso e inspirado; evidentemente, tal maneira de ler a Escritura só pode conduzir a interpretações erradas. Preocupação semelhante também foi manifestada em relação a certa leitura fundamentalista da Escritura, que significa interpretar a “letra”
 simplesmente pela letra, sem levar em conta os diversos contextos que estão por trás do texto; também esse
 tipo de leitura leva a erros. Nesses dois casos, falta algo de essencial à leitura da Escritura; ler e compreender
 a Bíblia no contexto da fé eclesial. O lugar da interpretação autêntica da Escritura é a comunidade eclesial;
 esta, com o auxílio da Tradição de fé e do Magistério vivo, assegura a interpretação correta da Bíblia. 

     Não deixa de ser notório que todos os grandes desvios e rupturas na fé a Igreja ao longo da história aconteceram quando alguém resolveu deixar de lado esta regra de ouro, difundindo por sua conta
 interpretações a Escritura não concordes com a fé eclesial. Evidentemente, a interpretação de um texto
 também ão deve contradizer o conjunto da Escritura: a Bíblia não desmente a Bíblia! Este é mais um critério importante para a correta interpretação da palavra de Deus. Não há dúvida de que temos muito que fazer.

 Nosso povo já tem garantido o acesso à Bíblia, mas seria preciso perguntar se também já tem verdadeiro 
amor à palavra de Deus. Conhece a Bíblia? Não se trata de criar mais ma pastoral, por exemplo, uma
 “pastoral bíblica”, mas de marcar e inspirar biblicamente toda a pastoral.


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por ,
Jornal O São Paulo
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