Blog Alma Missionária

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sábado, 20 de abril de 2013


Nossa Senhora do Cisne
Admirável devoção mariana no Equador revela como a Providência Divina utiliza-se às vezes de uma calamidade para a formação dos homens
Valdis Grinsteins
As pessoas perderam hoje, em larga medida, a noção do pecado. Se esta ou aquela atitude errada não tem importância para elas, imaginam que o mesmo valeria para Deus. Eles se esquecem de que Deus é a suma perfeição, diante da qual só cabem duas atitudes opostas: negação total ou aceitação apaixonada. É por isso mesmo que nosso destino se decide entre um Céu de perfeições e um inferno de horrores. Em face da perfeição não há lugar para a mediocridade. Por isso mesmo, Deus quer de nós um amor total, sem meio termo. E o primeiro mandamento — “Amar a Deus sobre todas as coisas” — é uma comprovação dessa verdade.
Milagrosa imagem de Nossa Senhora do Cisne
É por isso também que a misericórdia divina criou o Purgatório, um lugar de purificação daqueles que, amando embora a Deus, são imperfeitos e precisam se purificar para estarem em condições de O contemplar face a face no Céu (sobre o Purgatório ver Catolicismo, fevereiro/2013).
O catecismo nos ensina que Deus abomina a falsidade, especialmente nas religiões falsas — deformação do culto que Lhe é devido. Hoje em dia, em vista do relativismo reinante, muitos julgam que qualquer ato “religioso” se torna agradável a Deus. Esquecem-se eles, ou pretendem esquecer, a existência de pessoas más que, para justificar seus vícios e interesses, inventam religiões e teologias absurdas, imorais ou até claramente diabólicas, ou aderem a elas.
Um ato baseado nessas “religiões” jamais poderá ser agradável a Deus, justamente por contrariar a verdade revelada por Ele: Havíeis exasperado vosso Criador, ofertando sacrifícios aos demônios e não a Deus” (Baruc 4,7). Ao castigar tal ato, juntamente com a justiça, Deus exerce a misericórdia, pois reconduz o homem à verdadeira Religião e, através dela, ao caminho do Céu. É o que nos ensina a historia de Nossa Senhora do Cisne, no Equador.
Basílica de Nossa Senhora do Cisne
 Nossa Senhora converte os índios
Embora a conquista do Equador pelos espanhóis tenha sido relativamente rápida, o mesmo não se deu com a conversão dos índios à Religião católica. Em muitos locais eles misturavam a verdadeira Religião com suas antigas superstições. Nessa triste situação encontravam-se os índios Paltas, na região correspondente hoje à cidade de Loja. Como muitos indígenas resistiam a abandonar os erros de suas antigas superstições, o Criador fez incidir sobre eles duas pragas simultâneas. De um lado, uma grande seca, e de outro, incontável número de ratazanas. Enquanto a seca impedia sua colheita normal, os ratos comiam tudo quanto haviam guardado. Resultado: a fome.
Hoje o problema da fome se soluciona pelo transporte de víveres de um local a outro, até de um continente a outro. Naquela época isso era impensável. A única solução era abandonar a região, com todos os inconvenientes que isso acarreta. Estavam, pois, os silvícolas prestes a partir quando, no dia 12 de outubro de 1594, Nossa Senhora apareceu aos seus chefes no povoado, dizendo-lhes: “Confiai em mim, pois vou proteger-vos para que nunca mais volteis a ter fome. Aqui eu quero vos ajudar. Levantai neste local um templo, que eu sempre estarei convosco”. Os índios realizaram o que Nossa Senhora lhes pediu. E a edificação da igreja facilitou a conversão deles.
Como desejavam uma imagem de Nossa Senhora, enviaram uma delegação a Quito. Lá chegando, seus membros viram, na igreja de Guápulo, uma imagem representando Nossa Senhora de Guadalupe, da qual pediram cópia. Esta foi confeccionada depois pelo escultor espanhol Diego de Robles e passou a ser denominada Nossa Senhora do Cisne.
 “Levantai neste local um templo”
Qual o motivo dessa denominação, até hoje objeto de debate? A par de algumas versões totalmente fantasiosas, existem outras mais sérias. A mais provável indica que o nome provém da palavra “cuizne”, do idioma quéchua, que significa “local”.
Como não raro acontece nas aparições, a ingratidão levou os índios a se esquecerem poucos anos depois das misericórdias recebidas, voltando a misturar a verdadeira Religião com todo tipo de superstição. Como El Cisne fica em local montanhoso de difícil acesso, os sacerdotes tinham dificuldade de ir até a igreja para catequizar os índios, o que facilitava a recaída destes na prática de seus cultos pagãos. Em vista disso, Diego de Zorilla, da Justiça de Quito, determinou em 1617 aos índios que deixassem aquele local e se mudassem para o povoado de San Juan de Chuquiribamba, onde havia sacerdotes fixos, facilitando a catequização.
Apesar de a intenção de Zorilla ser boa, ela não correspondia aos desígnios de Nossa Senhora. Pois embora a presença dos sacerdotes facilitasse a conversão, o aspecto principal era a aceitação interna, pelos índios, das verdades da fé, além do fato de Nossa Senhora desejar ajudá-los naquele lugar: “Aqui eu quero vos ajudar. Levantai neste local um templo, que eu sempre estarei convosco”.
Peregrinação até Loja com a imagem de Nossa Senhora
Por isso, quando os índios chegaram ao povoado de Chuquiribamba com a imagem, iniciou-se uma tremenda tempestade que destruía as casas e arrancava as árvores pela raiz. Espantados com semelhante acontecimento, os residentes do povoado lhes pediram que retornassem a seu local de origem. Eles o fizeram, levando de volta a imagem. Essa tempestade parece realmente ter impressionado os espíritos, e as autoridades não mais insistiram no desejo de mudança.
Desde aquela época, a imagem permanece na igreja de Loja. Em 1930, o bispo da cidade, Dom Guillermo José Harries Morales, a coroou canonicamente. E em 1934 teve início a construção da atual basílica, em estilo neogótico, concluída em 1978.
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Algumas pessoas têm dificuldade em aceitar que as calamidades da natureza possam constituir simultaneamente uma misericórdia. Julgam que só a bondade move os corações. Não é bem isso o que nos ensina a Religião católica. Assim, a Sagrada Escritura diz claramente que “o temor de Deus é o inicio da sabedoria”. Nesse sentido, a terrível tempestade fez com que os moradores de Chuquiribamba entendessem melhor o formidável poder de Deus, cujo temor reverencial os levou a colaborar com a vontade divina e com o desejo da Santíssima Virgem de permanecer no local por Ela indicado em Loja.
Os flagelos que caíram sobre Chuquiribamba foram salutares especialmente para os índios Paltas, que após regressarem a Loja se consolidaram na Religião católica e abandonaram definitivamente as superstições pagãs.

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