FORMAÇÕES
A fonte da juventude
Por ser amor, Deus é sempre jovem
No dia 8 de dezembro de 1965, no final do Concílio Vaticano II, entre as mensagens dirigidas a vários segmentos da sociedade, o Papa Paulo VI pensou também na juventude: «É a vocês, rapazes e moças de todo o mundo, que o Concílio quer dirigir a sua última mensagem. São vocês que tomarão o facho das mãos de seus antepassados e viverão no mundo, nas transformações mais gigantescas de sua história. São vocês que, recolhendo o melhor do exemplo e do ensinamento de seus pais e mestres, constituirão a sociedade de amanhã: vocês se salvarão ou perecerão com ela. Em nome de Deus e de seu Filho Jesus os exorto a alargar seus corações a todo o mundo, a escutar o apelo de seus irmãos e a pôr corajosamente as suas energias juvenis ao serviço deles. Lutem contra o egoísmo. Recusem-se a fomentar os instintos da violência e do ódio, que geram as guerras e o seu cortejo de misérias. Sejam generosos, puros, respeitadores, sinceros. Construam com entusiasmo um mundo melhor que o dos seus antepassados!».
Não sei se, felizmente ou infelizmente, entre os jovens daquela época estava também eu. A minha dúvida nasce do exame de consciência que as palavras de Paulo VI me obrigam a fazer. Ante a situação que descortino em minha frente, posso afirmar que trabalhei para “construir um mundo melhor que o de meus antepassados”? Três anos depois, em 1968, inúmeros países assistiram a um levante geral da juventude. No afã de exigir mudanças – que eram e continuam sendo necessárias – muitos jovens questionaram princípios e valores e imprimiram um novo rumo à humanidade. Parece-me difícil avaliar imparcial e corretamente esse “novo rumo”, a meu ver uma verdadeira mudança de época cultural na história. Mas, já que perguntar não ofende, pode-se dizer, em sã consciência, que hoje há mais respeito, mais tolerância, mais justiça, mais paz, mais fraternidade do que em 1968? Para mim, uma coisa é certa: sem conversão pessoal, o “mundo que queremos” não passa de palavras bonitas...
Não sei se, felizmente ou infelizmente, entre os jovens daquela época estava também eu. A minha dúvida nasce do exame de consciência que as palavras de Paulo VI me obrigam a fazer. Ante a situação que descortino em minha frente, posso afirmar que trabalhei para “construir um mundo melhor que o de meus antepassados”? Três anos depois, em 1968, inúmeros países assistiram a um levante geral da juventude. No afã de exigir mudanças – que eram e continuam sendo necessárias – muitos jovens questionaram princípios e valores e imprimiram um novo rumo à humanidade. Parece-me difícil avaliar imparcial e corretamente esse “novo rumo”, a meu ver uma verdadeira mudança de época cultural na história. Mas, já que perguntar não ofende, pode-se dizer, em sã consciência, que hoje há mais respeito, mais tolerância, mais justiça, mais paz, mais fraternidade do que em 1968? Para mim, uma coisa é certa: sem conversão pessoal, o “mundo que queremos” não passa de palavras bonitas...
Muito oportuna, portanto, a decisão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil em dar à Campanha da Fraternidade de 2013 como tema a juventude e como lema a generosidade de Isaías: “Eis-me aqui! Envia-me!” (Is 6,8). Por ser amor, Deus é sempre jovem. Por isso, quanto mais perto dele alguém se mantiver pelo amor, mais bela, profunda e duradoura será a sua juventude. Mais do que uma fase da vida, ela é um estado de espírito. Há jovens que são velhos. Deixando-se arrastar pelo materialismo, tentam preencher seu vazio espiritual e psíquico com miragens que lhes tiram a esperança, as forças e o rumo. «Onde estão os nossos jovens?», foi a pergunta que muitos se fizeram no dia 27 de janeiro de 2013, após o incêndio numa boate de Santa Maria, que vitimou quase 250 deles.
Para os jovens que acreditam que Deus tem sobre eles e sobre a humanidade um projeto de amor, o caminho a seguir foi magistralmente traçado há dois mil anos pelo apóstolo João, o discípulo que mais entendeu o coração de Jesus: «Eu lhes escrevo, jovens, porque vocês são fortes, porque a Palavra de Deus permanece em vocês e vocês venceram o Maligno. Não amem o mundo nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que o mundo oferece – a satisfação dos instintos, a ânsia de brilhar e o apego à riqueza – não vem do Pai, mas do mundo. O mundo passa com seus desejos insaciáveis. Mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre» (1Jo 2,14-17).
É desde a mais remota antiguidade que se procura a fonte da juventude, a fonte da alegria, a fonte da beleza, a fonte do amor, a fonte da vida. Graças a Deus, ela existe: foi aberta no domingo da Páscoa. «Fazendo-se pecado» (2Cor 5,21), Jesus tirou a força do pecado. «Fazendo-se maldição» (Gl 3,13), transformou a maldição em bênção. Se só se salva o que se assume, é preciso morrer para viver. Quanto mais morte, mais vida: «Quem pretende salvar a vida, vai perdê-la. Mas quem a perde por causa de mim, vai encontrá-la» (Mt 16,25). Se «uma só coisa é necessária», o que importa é «escolher sempre a melhor parte» (Lc 10,42). E ela pertence a quem repete com a vida: “Eis-me aqui! Envia-me!” (Is 6,8). Somente assim poder-se-á «construir um mundo melhor que o dos antepassados!». Inútil tentar outro caminho!
Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo de Dourados (MS)
E-mail para contato: redovinorizzardo@gmail.com
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