sábado, 19 de abril de 2014
A Pérola Preciosa - 4.º Mistério
A PÉROLA PRECIOSA
Breves pensamentos sobre o Rosário meditado, para sacerdotes.
pelo
Padre Wendelin Meyer, O.F.M.
Tradução portuguesa por
Alberto Maria Kolb
4.º MISTÉRIO
RAIOS LUMINOSOS
Em cada celebração de missa acendem-se velas. Sempre parte do altar um raio de luz, visível aos olhos, quando é sacrificada a invisível luz do mundo, escondida debaixo das espécies do pão. Igualmente brilha uma luz do Sacrifício de Maria no templo. A fé a vê, e esta luz ilumina todo sacerdote de boa vontade. Esta luz reflete o pomposo e augusto cerimonial do culto católico; esta luz abre o enigma da significação deste grandioso sacrifício; esta luz revela o espírito de sacrifício que Deus requer do sacerdote na oblação incruenta do augusto mistério da cruz.
Maria Santíssima ofertou: segundo as prescrições da lei — com perfeito conhecimento — no verdadeiro espírito de sacrifício.
Segundo as prescrições da lei:
O Israelita amava a sua lei, gostava de lê-la e meditá-la. Tinha ele até um cântico em seu louvor. Ora, Maria Santíssima era uma filha do povo, filha predileta de entre o povo, e por isso tinha grande conceito da lei e a observava acima de tudo. As prescrições da visita ao templo, sobre as ofertas a fazer, sobre os sacrifícios e imolações, tudo isso era sagrado para Ela. Do contrário, que poderia movê-lA a levar a criança, o recém-nascido Messias ao templo? Ela não necessitava de purificação e Jesus não precisava de ser remido, porém Maria Santíssima, amava as prescrições do cerimonial e cumpria a Santa Lei. Por isso foi a Jerusalém e entregou a criança ao sacerdote, para que este a consagrasse ao Altíssimo. Não foi, porém, nem antes nem depois, senão no dia e na hora prescritos pela lei. Maria Santíssima deixou vir o tempo da purificação; aí então entrou na casa de Deus, no templo, ofereceu a moeda estipulada e ofertou o Seu primogênito ao céu.
O santo sacrifício da missa igualmente está regulado pela suave lei do cerimonial e ritual da Nova Aliança. O tempo do sacrifício é para o sacerdote tempo sagrado. Ele é pontual quanto ao tempo; para o povo é indulgente; as cerimônias começam ao primeiro toque do sino ou do relógio. O seu porte e seus movimentos obedecem até no mínimo às prescrições eclesiásticas. O sacerdote celebra: rite, digne, atende, devote. Cada inclinação é sagrada para ele; ele não conhece leviandade nas genuflexões, porte frívolo e apressado falar. O seu modo de dizer é copiado dos modos de Maria Santíssima na oferta do templo; a missa do padre é como a oferta de Maria, nascida do amor pela lei.
Com perfeito conhecimento:
Maria Santíssima sabia quem Ela ofertava. Ainda Lhe soava ao ouvido a palavra do Anjo: «O santo que de ti ha de nascer, chamar-se-á filho do Altíssimo.» Ainda Ela contemplava o brilho e a luz ofuscante da noite de Belém, ainda percebia as suaves melodias do Gloria in excelsis; agora porém adianta-Se para Ela um respeitável ancião, toma a criança em seus braços e diz: «Uma luz para iluminação dos gentios e uma glória para Israel, seu povo.» A mãe então mais profundamente contempla o grandioso plano da redenção. O Evangelho nos conta: «Maria admirou-se».
Novos conhecimentos abriram-se n’Ela. Simeão, o venerando ancião, novamente falou, dizendo: (Luc. 2, 34). «Este é posto para ruína e para ressurreição de muitos em Israel; um sinal que será contradito.»
Repleta destes altíssimos e proféticos conhecimentos, enriquecida por variadíssimas luzes celestiais, que ela já antes tinha da bendita criança, a ofertou deste modo, no templo, ao Padre Eterno.
O que eu levanto ao alto no augusto momento da consagração? Cristo, a resplandecente luz das nações; ofereço pois o sacrifício da luz. Que levo nas minhas mãos? A glória do nosso povo; ofereço portanto um sacrifício de glória. Que jaz sobre, o corporal? Jesus, a ressurreição de muitos; ofereço então um Sacrifício que suscita a ressurreição dos corações do sepulcro das paixões. Que está diante de mim sobre a pedra d’ara? O sinal da contradicção. Ofereço pois o Sacrifício da expiação. Como isso resplandece e ofusca gloriosamente o templo do antigo testamento em comparação do templo da nova aliança!
Humildemente me abalo e caio de joelhos; meu Deus, oh! grande Deus de misericórdia, com quão pouca atenção celebro diariamente vossos santos mistérios.
No verdadeiro espírito de Sacrifício:
A jornada de Maria Santíssima para Belém foi para Ela um caminho cheio de agruras e dores; o caminho para Jerusalém, a Sua ida para o templo, não foi melhor. Apenas a Mãe de Deus penetrou no templo, ouviu estas palavras. «E uma espada trespassará sua alma, para que sejam revelados os pensamentos de muitos corações.»
Tu, mãe imaculada, hás de ver e intimamente sentir as dores de Teu filho. — Ela, porém ficou firme e inabalável. Resolvida a compartir da paixão de Seu filho Jesus, adiantou-Se Maria Santíssima para o sacerdote e ofereceu juntamente com Seu filhinho todo Seu próprio ser para a salvação do universo.
Oh! coração magnânimo, cheio de tribulações e angústias, pronto para o horrível martírio da dor. Estes são e devem ser os verdadeiros sentimentos do sacerdote no Altar. Despertemos em nós estes sentimentos, antes de subirmos ao altar; que eles nos animem quando a passio mystica se desenrolar diante de nossos olhos. Sem esta prontidão para a luta, sem este amor para os sofrimentos, sem esta fortaleza espiritual para as dores, não teremos compreendido completamente até às suas raízes a vida sacerdotal nem conhecemos o sacrifício da santa missa no seu íntimo sentido.
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