Pedofilia: a Santa Sé realmente ignorou as denúncias da ONU?
Relatório da ONU vai além dos direitos das crianças e critica doutrina sobre homossexualidade, casamentos entre pessoas do mesmo sexo e contracepção
“O comitê está profundamente preocupado pelo fato de a Santa Sé não ter reconhecido a extensão dos crimes cometidos, não ter tomado as medidas necessárias para lidar com os casos de abuso sexual e proteger as crianças e por ter adotado medidas e práticas que levaram à continuação dos abusos e à impunidade dos abusadores”, lê-se no relatório.
O texto aponta o dedo a um alegado “código de silêncio” sobre estes casos ou à prática de transferir párocos suspeitos de abusos.
Nesse sentido, sugere-se que os abusadores sejam “imediatamente removidos” das suas funções e denunciados às autoridades civis.
A sala de imprensa da Santa Sé emitiu um comunicado, após a publicação do relatório, anunciando que as observações serão “sujeitas a minucioso estudo e exame”.
“A Santa Sé reitera o seu compromisso na defesa e proteção dos direitos das crianças, em linha com os princípios promovidos pela Convenção para os Direitos da Criança e segundo os valores morais e religiosos oferecidos pela doutrina católica”, pode ler-se.
A Congregação para a Doutrina da Fé, organismo da Santa Sé, enviou em 2011 uma ‘Carta circular’ na qual se sublinhava a importância de cooperar com as “autoridades civis” e a “atenção prioritária às vítimas”, determinando que cada conferência episcopal criasse diretivas para lidar com eventuais abusos.
O observador da Santa Sé junto das instituições da ONU em Genebra, Suíça, que falou em janeiro perante a Comissão das Nações Unidas para os Direitos da Criança, disse hoje à Rádio Vaticano que recebeu o relatório conclusivo com "surpresa" e com a impressão de que o mesmo ""estaria já preparado antes do encontro com a delegação da Santa Sé, que deu respostas precisas e detalhadas sobre vários pontos".
"A Igreja respondeu, reagiu e continua a fazê-lo. Temos de insistir nesta política de transparência, de não tolerância dos abusos”, declarou D. Silvano Tomasi.
O Vaticano anunciou em dezembro que o Papa Francisco decidiu instituir uma “comissão para a proteção das crianças”, que vai coordenar o combate e prevenção de abusos sexuais na Igreja Católica, decisão saudada pela ONU, que recomenda a inclusão de elementos da “sociedade civil” e das “organizações de vítimas”.
As resoluções sugerem várias mudanças no Direito Canônico em matérias ligadas aos abusos sexuais, mas também na questão do aborto.
O relatório vai além das questões ligadas aos direitos das crianças e critica as posições da Igreja em temas como a homossexualidade, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, a contracepção, levantando ainda a questão dos “filhos de padres” que considera serem abandonados.
Segundo o comunicado da Santa Sé, alguns pontos deste documento são “uma tentativa de interferir no ensinamento da Igreja Católica sobre a dignidade da pessoa humana e no exercício da liberdade religiosa”.
Segue o comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé sobre o assunto:
"No final da 65ª Sessão, o Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança publicou suas Observações Finais sobre os examinados Relatórios da Santa Sé e de cinco Estados Partes na Convenção sobre os Direitos da Criança (Congo, Alemanha, Portugal, Federação Russa e Iêmen). Segundo os procedimentos particulares previstos para as partes da Convenção, a Santa Sé toma nota das Observações Finais sobre seus relatórios que serão submetidos a estudos minuciosos e exames para o pleno respeito da Convenção nos diferentes âmbitos apresentados pelo Comitê segundo o direito e a prática internacional, e também considerando o debate público interativo com a Comissão realizado em 16 de janeiro de 2014. A Santa Sé lamenta, todavia, ver em alguns pontos das Observações Conclusivas uma tentativa de interferir no ensinamento da Igreja Católica sobre a dignidade da pessoa humana e no exercício da liberdade religiosa. A Santa Sé reitera o seu compromisso com a defesa e proteção dos direitos da criança, em linha com os princípios promovidos pela Convenção sobre os Direitos da Criança e segundo os valores morais e religiosos oferecidos pela doutrina católica."
(Com Aleteia, Rádio Vaticano e Agência Ecclesia)
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