ENTREVISTA
Sobrinho de João XXIII fala sobre seu exemplo de santidade
Marco Roncalli destaca empenho de santidade de João XXIII e sua grande intimidade com Deus
Da Redação, com Rádio Vaticano
No próximo domingo, 27, o Papa Francisco canonizará Angelo Roncalli, o Papa João XXIII. Reconhecido como o “Papa bom”, Roncalli permaneceu 5 anos no Pontificado, deixando como grande herança o Concílio Vaticano II.
“Um homem simples e profundamente entregue à vontade de Deus”, aponta o seu sobrinho e biográfo Marco Roncalli, em entrevista à Rádio Vaticano.
Marco Roncalli: “Primeiramente, deve ser identificado este fio condutor que atravessa toda a parábola humana e espiritual de Roncalli, que é precisamente este desejo constante de santidade que encontramos documentado num diário, num texto ou numa nota. Encontramos também a consciência de que a santidade pressupõe esta docilidade ao Espírito, este deixar-se modelar por Deus. Depois, é claro, talvez existisse um sigilo naquele lema que ele escolheu quando foi consagrado bispo que é “Oboedientia et Pax”. É importante ressaltar como este passo é o ápice do significado desta canonização: existe esta adesão total ao Evangelho, o desejo de viver na santidade, de buscá-la como objetivo, um objetivo possível, sem considerá-la um objetivo distante. Abandonar-se à vontade de Deus significa que Deus te permite alcançar esses objetivos, que na visão de Roncalli, não são sobrenaturais, mas que estão ao alcance de todos a partir do momento em que uma pessoa se compromete e se deixa plasmar por Deus.”
Pergunta: O Papa Francisco desejou canonizar juntos os Papas Roncalli e Wojtyla, como uma escolha muito precisa?
Marco Roncalli: “Já tinha acontecido com o próprio João Paulo II quando no ano dois mil beatificou Pio IX e João XXIII. Hoje, se repete com o Papa Francisco que canoniza Roncalli e Wojtyla. Esta imagem alguns comentaristas históricos, acredito que com um pouco de bom senso, falam também de uma espécie de equilíbrio, mas equilíbrio em que sentido? Que este conceito de santidade pode ser obtido também através de sensibilidades muito diferentes, porque acredito que seja inútil negá-lo. São dois papas com dois estilos, duas sensibilidades e talvez duas maneiras de viver a santidade. Em João Paulo II me parece acentuada a dimensão mística, cultivada em sua relação forte com Deus. Em Roncalli é talvez mais evidente esta sobreposição de santidade tanto particular quanto pública. De qualquer forma, nos dois casos é evidente a mesma fidelidade ao Evangelho.”
Pergunta: Nos primeiros dias de pontificado de João XXIII foram vários os sinais novos que surpreenderam os observadores. Não é verdade?
Marco Roncalli: “Eu diria que existem sinais muito fortes: desde a normalização, por exemplo, da Cúria ao aumento do número de purpurados com o novo Consistório que não se realizava há anos, dando um sinal forte da figura de Giovanni Battista Montini (Paulo VI). Depois penso nas imagens que permaneceram muito fortes, impressas nas mentes daqueles que viveram naquela época e das pessoas que reveem essas imagens também hoje como, por exemplo, a visita ao ‘Hospital Pediátrico Menino Jesus’. Penso também na visita aos encarcerados do Regina Coeli e na tomada de posse em São João de Latrão. A propósito de Latrão, ele lá voltou em novembro de 1958 para visitar o que tinha sido o seu seminário. É bom lembrar o que ele disse espontaneamente aos jovens clérigos: Ele não somente recorda os anos de sua formação, mas disse aos estudantes que se sentia confuso quando alguém se dirigia a ele dizendo ‘Sua Santidade’. Depois acrescentou: ‘Jovens, filhinhos, peçam ao Senhor para que me conceda esta graça da santidade, pois uma coisa é dizer ou crer e outra é ser santo.”
Pergunta: Quando João XXIII, em 25 de janeiro de 1959, anunciou na Basílica de São Paulo Fora dos Muros o desejo de convocar o Concílio estamos numa época histórica em que alguns teólogos acreditam que a época dos Concílios deve ser considerada definitivamente encerrada.
Marco Roncalli: “Sim. De fato, juntamente com esta definição também a da infalibilidade pontifícia. Que necessita tinha fazer vir a Roma mais de 2.800 cardeais de todas as partes do mundo? Na verdade, ali se encontra a força e a coragem de João XXIII que com uma decisão extraordinariamente pessoal, e depois de obter o consenso do Cardeal Tardini e outras pessoas, anuncia, surpreende e silencia vários cardeais que recebem este anúncio em 25 de janeiro de 1959. Dali em diante, o longo caminho de preparação, onde estava claro que João XXIII convidava realmente a Igreja a refletir sobre si mesma e sobre sua responsabilidade para com os homens, a ter um comportamento novo. Basta recordar algumas frases do famoso discurso Gaudet Mater Ecclesia, quando se abre o Concílio: Reiterar que a Igreja prefere usar o medicamento da misericórdia, outra pérola que volta de maneira muito forte nesses dias.”
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