terça-feira, 31 de dezembro de 2013
NÃO ESTAMOS SOZINHOS; O PAI ESTÁ CONOSCO!
Missa de Ano Novo. Palavra de Deus: Números 6,22-27; Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21.
“Marcas do que se foi; sonhos que vamos ter”. Nesta noite de passagem ou de início de Ano Novo, procuramos, num primeiro momento, colocar em Deus as marcas do ano que se foi (ou que se vai); num segundo momento, os sonhos que vamos ter, em 2014.
Quais marcas o ano que termina deixa em nós? Algumas marcas são de alegria; outras, de tristeza; algumas, de vitória; outras, de derrota; algumas, de conquista; outras, de perda. A vida nos marca, o tempo nos marca. O nosso desafio é ver, nessas marcas, os sinais de Deus, os sinais do desígnio que Ele tem para cada um de nós, para toda a humanidade, um desígnio que muitas vezes não entendemos, mas que, pela fé, podemos acolher, segundo as palavras do apóstolo Paulo, que diz: “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio” (Rm 8,28). A fé nos diz que tudo aquilo que Deus permitiu que nos acontecesse neste ano que termina foi em função do nosso bem, da nossa salvação.
No coração de muitas pessoas, nesta passagem de ano, existe um sentimento de desamparo, de solidão, de não ser importante para ninguém. Mas a Palavra nos diz que “Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai!”. Para nós entendermos o alcance dessa afirmação bíblica e a consequência prática dela para a nossa vida, precisamos nos lembrar dessas palavras de Jesus aos seus discípulos: “Vocês se dispersarão, cada um para o seu lado, e me deixarão sozinho. Mas eu não estou só, porque o Pai está comigo” (Jo 16,32).
Muitas pessoas, ao longo deste ano que termina, desabaram e se desestruturaram diante de alguns acontecimentos, mas quem, como Jesus, consegue professar: “Eu não estou só, porque o Pai está comigo”, permanece em pé; não desaba, não se desestrutura. Por isso, nesta noite rezamos por toda a humanidade, para que a face do Pai esteja voltada sobre cada ser humano, de modo que, diante de cada acontecimento bom ou ruim, alegre ou triste, de conquista ou de perda, cada pessoa possa ter o seu coração sereno e proclamar: “Eu não estou só, porque o Pai está comigo”.
“Marcas do que se foi; sonhos que vamos ter”. Para que possamos realizar os “sonhos que vamos ter”, neste novo ano, pedimos “que Deus nos dê a sua graça e a sua bênção; que a sua face resplandeça sobre nós; que na terra se conheça o seu caminho, e a sua salvação por entre os povos” (Sl 67,2-3). Assim como o salmista, nós clamamos: “É tua face, Senhor, que eu procuro, não me escondas a tua face... Tu és o meu socorro!” (Sl 27,8-9). Quantas vezes temos a sensação de que Deus esconde de nós a Sua face? “Eu dizia tranquilo: ‘Nada, jamais, me fará tropeçar!’. Senhor o teu favor me firmava sobre fortes montanhas; mas escondeste tua face e eu fiquei perturbado” (Sl 30,7-8).
Nós nem sempre conseguimos enxergar Deus em tudo o que nos acontece. Por isso, o Evangelho nos coloca diante da atitude de Maria, que “conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração” (Lc 2,19). Para uma geração como a nossa, marcada pela dispersão interior e exterior, que não encontra tempo para meditar os acontecimentos em seu coração, vale este alerta: “Todos os problemas do homem derivam do fato de que ele não é capaz de ficar sentado sozinho, em silêncio, num aposento” (Blaise Pascal). Quem escolhe viver como escravo do mundo, torna-se escravo do tempo e vive atropelado pelos acontecimentos. Quem escolhe viver como filho de Deus, torna-se senhor de si mesmo e mantém a serenidade diante dos acontecimentos.
“O Senhor mostre para ti a sua face e te conceda a paz!” (Nm 6,26). Hoje, 1º. de janeiro, é o Dia Mundial da Paz. Segundo o Papa Francisco, a fraternidade é o fundamento e o caminho para a paz. Fraternidade significa “ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão... O egoísmo diário... está na base de muitas guerras e injustiças: muitos homens e mulheres morrem pela mão de irmãos e irmãs que não sabem reconhecer-se como tais... A raiz da fraternidade está contida na paternidade de Deus” (Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial da Paz).
Nesta entrada do Ano Novo, enquanto alguns “cristãos’ assumem atitudes supersticiosas, próprias de “pagãos”, tipo “cor amarela para isso, cor vermelha para aquilo”; “comer lentilha, carregar grãos de romã na carteira” etc., a Palavra de Deus nos convida a algumas atitudes dignas de verdadeiros filhos de Deus: “Confie no Senhor e faça o bem... Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele e ele agirá... Descansa no Senhor e espera nele” (Sl 37,3.5.7); “Ande na presença de Deus e seja íntegro” (citação livre de Gn 17,1). E mesmo se você carrega dores em seu coração neste momento, olhe com confiança para o ano que se inicia, lembrando-se disso: “Os favores do Senhor não terminaram, suas compaixões não se esgotaram; elas se renovam todas as manhãs, grande é a sua fidelidade!... É bom esperar em silêncio a salvação de Deus” (Lm 3,22-23.26). Tenha um abençoado Ano Novo!
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Nenhum comentário:
Postar um comentário