Blog Alma Missionária

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domingo, 5 de janeiro de 2014

Cheiro de ovelhas x ovelhas sem pastor

Padre Almir Magalhães*
O Papa Francisco não poucas vezes tem falado que “os evangelizadores devem ter cheiro de ovelha” (cf. A Alegria do Evangelho, n. 24); talvez o que esteja por trás desta indicação seja a constatação antiga e atual, já presente no Evangelho “Ovelhas sem pastor” (Mc. 6, 30-34). Parece que Jesus está recordando as palavras do Profeta Ezequiel seis séculos antes. (Ez. 34).
 Sobre o assunto, o referido Papa no Capítulo I da Exortação Apostólica A alegria do evangelho, de 24/11/2013, cujo título é A transformação missionária da Igreja dedica uma breve reflexão sobre a Paróquia que vale a pena transcrever para fazer um link com o título desta contribuição.
 “A paróquia não é uma estrutura caduca; precisamente porque possui uma grande plasticidade, pode assumir formas muito diferentes que requerem a docilidade e a criatividade missionária do Pastor e da comunidade. Embora não seja certamente a única instituição evangelizadora, se for capaz de se reformar e adaptar constantemente, continuará a ser “a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas”. Isto supõe que esteja realmente em contato com as famílias e com a vida do povo, e não se torne uma estrutura complicada, separada das pessoas, nem um grupo de eleitos que olham para si mesmos... Temos, porém, de reconhecer que o apelo à revisão e renovação das paróquias ainda não deu suficientemente fruto, tornando-se ainda mais próximas das pessoas, sendo âmbitos de viva comunhão e participação e orientando-se completamente para a missão” (n. 28).
 A renovação das estruturas eclesiais tem um endereço certo, prioritário: as pessoas, a vida do povo, o ser humano como caminho da Igreja. Como já afirmamos em outras ocasiões, temos hoje muitas atividades que são centradas no templo e não são motivadoras para uma aproximação maior dos evangelizadores junto à vida do povo. Acredito que o destaque deve ser dado à vida do povo, às pessoas e para tal pode-se fazer uma pergunta que ao mesmo tempo é um indicativo de mediação importante no que toca à proximidade às pessoas: Qual o tempo que se dedica hoje em nossas paróquias para ouvir as pessoas? Evidente que se exclui aqui o Sacramento da Reconciliação que não se enquadra no perfil de escuta que a pergunta sugere, além do tempo ser insuficiente para um diálogo, uma partilha, uma forma de aconselhamento, já que são muitas as pessoas feridas em nossa sociedade.
 Por outro lado, qual o tempo que se dedica hoje nas visitas domiciliares? No afã de tornar nossas paróquias mais missionárias, tem-se feito um esforço deste tipo de presença, muitas vezes limitadas sobretudo no âmbito da competência dos visitadores, sem a devida preparação para desenvolver um diálogo que seja atraente e sobretudo gerador de vínculos que pode gerar e não somente uma passagem rápida.
 Enfim, o que está em jogo para que se aplique a conversão pastoral e renovação eclesial? Parece que uma questão aparentemente simples impede que se dê uma reviravolta e a tendência que ronda constantemente a cabeça dos evangelizadores é a saudade da “cebola que ficou no Egito” (Cf. Num 11,5). São apegados ao que sempre fizeram e não percebem que o mundo mudou e que precisamos contextualizar nosso processo de evangelização. Interessante notar que na Exortação Apostólica aqui aludida, o Papa chama a atenção afirmando que a pastoral de chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral: fez-se sempre assim” e faz o convite a todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades” ( n.33).
 O Papa Francisco está sendo aplaudido e reverenciado pelas palavras e pelos gestos. Neste Ano da Esperança podemos olhar para este grande líder espiritual e não só aplaudi-lo, mas sobretudo nós cristãos olharmos para seus gestos evangélicos, tornar nossas pastorais mais missionárias através de uma presença constante, de esperança especialmente junto aos que mais sofrem, lamentavelmente hoje ovelhas sem pastor em função de nossas outras prioridades e nos tornemos evangelizadores como cheiro de ovelhas. Feliz 2014.
 *Sacerdote da Arquidiocese de Fortaleza, diretor e professor da Faculdade Católica de Fortaleza.

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