Como muda a Igreja nos tempos de internet?
"A possível separação entre conexão e encontro, entre partilha e relação implica o fato de que, hoje, as relações podem ser mantidas sem renunciar ao isolamento egoísta."
Por Antonio Spadaro
A internet está mudando o nosso modo de pensar e de viver. As recentes tecnologias digitais não são mais "tools", isto é, instrumentos completamente externos ao nosso corpo e à nossa mente. A rede não é um instrumento, mas sim um "ambiente" no qual nós vivemos. Talvez até mesmo algo mais, um verdadeiro "tecido conectivo" da nossa experiência da realidade.
Bento XVI escreveu na sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2010: "Os meios modernos de comunicação fazem parte, desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários por meio dos quais as comunidades eclesiais se exprimem, entrando em contato com o seu próprio território e estabelecendo, muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes".
É ainda mais verdade se considerarmos que a internet se tornou importante para o desenvolvimento das relações entre os pertencentes daquela que já é comumente definida como "geração Y", ou seja, a dos jovens nascidos entre os anos 1980 e 2000. A geração Y é caracterizada por uma grande familiaridade com as comunicações, as mídias e as tecnologias digitais. É a geração da chamada web 2.0, na qual as relações entre as pessoas estão no centro do sistema e da troca comunicativa, ao menos tanto quanto os conteúdos.
As "social networks" não dão expressão a um conjunto de indivíduos, mas sim a um conjunto de relações entre indivíduos. O conceito-chave não é mais a "presença" em rede, mas a "conexão": se estamos presentes mas não conectados, estamos "sozinhos". Entramos na internet para experimentar ou incrementar alguma forma de "proximidade", de cercania. É preciso, portanto, compreender bem de que modo o próprio conceito de "próximo" – tão caro à terminologia cristã e assim ligado à vizinhança espacial – evoluiu precisamente por causa da Rede. Daí certamente seguirão consequências de ordem política.
A possível separação entre conexão e encontro, entre partilha e relação implica o fato de que, hoje, as relações, paradoxalmente, podem ser mantidas sem renunciar à própria condição de isolamento egoísta. Sherry Turkle resumiu essa condição no título de um livro seu: Alone together, isto é, "Juntos, mas sozinhos". De fato, os "amigos", justamente por estarem sempre online, isto é, disponíveis ao contato ou imaginados como presente para dar uma olhada nas nossas atualizações nas social networks, estão invariavelmente presente e, portanto, justamente por isso, correm o risco de desaparecer em uma projeção da nossa imaginação. A fratura na proximidade se dá pelo fato de que a proximidade é estabelecida pela mediação tecnológica pela qual quem está "perto" de mim, isto é, próximo, é quem está "conectado" comigo.
O verdadeiro núcleo problemático da questão é o conceito de "presença" nos tempos das mídias digitais e das redes de relacionamento que desenvolvem uma forma de presença digital. O que significa estar presentes uns aos outros? O que significa estar presentes em um evento, em uma decisão? A existência digital parece se configurar com um estatuto ontológico incerto: prescinde da presença física, mas oferece uma forma, às vezes até mesmo vívida, de presença social. O conceito de participação – eclesial ou político – está estritamente ligado ao de "presença".
A existência digital, certamente, não é um simples produto da consciência, uma imagem da mente, mas também não é uma res extensa, uma realidade objetiva ordinária, até porque só existe na ocorrência da interação. As esferas existenciais envolvidas na presença em Rede, de fato, devem ser melhor investigadas no seu entrelaçamento. Abre-se diante de nós um mundo "intermediário", híbrido, cuja ontologia deve ser melhor investigada.
À luz das considerações sobre o fato de ser "próximo", como é possível, portanto, imaginar o futuro da vida de uma comunidade eclesial nos tempos da Rede? Já em 2001, Manuel Castells compreendia bem que a questão-chave para nós é a passagem da comunidade à network como forma central de interação organizativa. As comunidades, ao menos na tradição da pesquisa sociológica, eram baseadas na partilha de valores e organização social. As "networks" são constituídas através de escolhas e estratégias de atores sociais, sejam eles indivíduos, famílias ou grupos.
A Igreja nos tempos da internet poderia acabar sendo vista como uma estrutura de suporte, um "hub", uma praça, onde as pessoas podem "reagrupar-se", dar origem a grupos ou, melhor "cachos" (clusters) de conexões. Essa visão oferece uma ideia da comunidade que adota as características de uma comunidade virtual entendida como leve, sem vínculos históricos e geográficos, fluidas.
Como avaliar esse modelo? Certamente, a relacionalidade da rede funciona se as conexões (links) estão sempre ativos: se um nó ou uma ligação fosse interrompido, a informação não passaria, e a relação seria impossível. A reticularidade da videira em cujos ramos escorre uma mesma seiva, portanto, não está muito distante da imagem da Internet. A Igreja, de fato, é um corpo vivo se todas as relações em seu interior são vitais.
Ainda na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011, o papa notava que a web está contribuindo para o desenvolvimento de "novas e mais complexas de consciência intelectual e espiritual, de certeza compartilhada". A rede desses conhecimentos dá origem a uma forma de "inteligência conectiva".
Dom Gerhard Ludwig Müller, hoje prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em novembro de 2012, tinha captado lucidamente o desafio, isto é, a "responsabilidade da Igreja na formação de uma cultura humana coletiva, para a qual a sociedade de hoje, com a sua rede de conexões internacionais – globais – fornece, além disso, ótimos pressupostos".
No entanto, restam em aberto muitas interrogações. A Igreja, de fato, não é simplesmente uma rede de relações imanentes, nem é concebível como um projeto enciclopédico fruto do esforço de homens de boa vontade. A Igreja sempre tem um princípio e um fundamento "externo" e não é redutível a um modelo sociológico. O pertencimento à Igreja é dado por um fundamento externo, porque é Cristo que, por meio do Espírito, une os seus fiéis intimamente a si.
A Igreja, em suma, é um "dom" e não um "produto" da comunicação. E essa perspectiva ajuda a compreender como a própria sociedade civil não é um "produto". O "pertencimento" (eclesial, civil...) não é o produto da comunicação. Os passos da iniciação cristã não podem se resolver em uma espécie de "procedimento de acesso" (login) à informações, talvez até com base em um "contrato", que permite até uma rápida desconexão (log off). O enraizamento em uma comunidade não é uma espécie de "instalação" (set up) de um programa (software) em uma máquina (hardware), que pode ser, portanto, facilmente "desinstalado" (uninstall).
Eis então o nó: a cidade de Deus e a cidade do homem são chamadas a pensar o pertencimento nos tempos da rede, que, por sua natureza, é fundamentada nos links, isto é, nas ligações horizontais. O papa Francisco afirmou que a cidadania só é plena se for lida à luz da experiência de povo que compartilha um horizonte comum que transcende o equilíbrio flutuante e provisório de interesses: "É impossível imaginar um futuro para a sociedade, sem uma vigorosa contribuição das energias morais numa democracia que permaneça fechada na pura lógica ou no mero equilíbrio de representação de interesses constituídos". E, portanto, "ser cidadão significa ser convocado para uma escolha, chamado a uma luta, a essa luta do pertencimento a uma sociedade e a um povo". Mas essa, mutatis mutandis, é uma definição válida também para aqueles que fazem parte do "povo fiel de Deus a caminho" que é a Igreja.
La Stampa, 27-09-2013.
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