Blog Alma Missionária

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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


Jesus deu o exemplo

A Paz como construção cristã

Sexta-Feira, 28 Dezembro 2012
Celebra-se a 1 de Janeiro o Dia Mundial da Paz. Como é possível construir a paz nestes tempos de crise em que vivemos? E o que significa viver em paz? A FAMÍLIA CRISTÃ dá voz aos responsáveis religiosos de diferentes religiões e confissões cristãs o papel da religião em todo o processo. A solução passa, segundo todos, por uma mudança que tem de acontecer. Uma revolução de pensamento e mentalidade.

Neste primeiro artigo, olhamos os caminhos cristãos para a paz em sociedade. Sabemos já o que a Igreja Católica diz e pede aos seus fiéis, mas descobrimos agora o que outras igrejas cristãs, que responderam às nossas questões, pensam sobre este tema. Falamos de ecumenismo, e da responsabilidade dos cristãos neste caminho da construção da paz e de uma sociedade mais justa e digna para todos.
Não é possível falar da figura de Jesus Cristo sem que a palavra Paz venha à baila. O filho de Deus passou o seu tempo na terra a falar da paz necessária para a construção da sociedade. No Evangelho de S. Mateus, no famoso Sermão da Montanha, Jesus diz «felizes o que promovem a paz, porque serão chamados Filhos de Deus» (Mt 5, 9). Mais tarde, no mesmo livro, Jesus diz que, no Juízo Final, irão para a direita de Deus todos os que lhe deram de comer e de beber, e quando o questionaram como seria possível ter-lhe dado de comer e de beber, ele dirá: «Em verdade vos digo que, sempre que o deixaste de fazer a um destes mais pequeninos, deixastes de o fazer a mim» (Mt, 25, 45). Esta é uma chamada à ação na construção da paz e do bem-estar em sociedade que se tornou uma mensagem clara para todos os cristãos que, ao longo da história e nos dias de hoje, trabalham e lutam por um mundo mais justo, na certeza de que apenas a justiça trará a paz.
Neste sentido, a Igreja Católica tem desempenhado um papel vital na sociedade portuguesa,trabalhando para dar aos mais carenciados uma vida digna e por apoiar todos quantos precisam de ajuda. No entanto, aqui falamos do futuro, e também nesse sentido a Igreja tem-se esforçado por apontar caminhos. Foram já vários os responsáveis católicos que criticaram os modelos sociais e económicos atuais, afirmando que a sociedade não estará em paz se os mesmos não mudarem, começando logo pelo Papa Bento XVI, que em 2009, na sua encíclica Caritas in Veritate, apontava para os desvios à norma que já tinham sido levantados pelo Papa Paulo VI, na altura da redação da encíclica Populorum Progressio, há décadas atrás. «Eram fundadas as preocupações da Igreja acerca da capacidade do homem meramente tecnológico conseguir impor-se objetivos realistas e saber gerir, sempre adequadamente, os instrumentos à sua disposição. O lucro é útil se, como meio, for orientado para um fim que lhe indique o sentido e o modo como o produzir e utilizar. O objetivo exclusivo de lucro, quando mal produzido e sem ter como fim último o bem comum, arrisca-se a destruir a riqueza e a criar pobreza», refere o Papa na sua encíclica. Palavras proféticas, infelizmente, já que três anos depois estamos exatamente onde o responsável máximo da Igreja Católica previa que estivéssemos, se o caminho traçado fosse o que estava a ser planeado na altura.
Uma mudança sociológica
D. Jorge Pina Cabral, bispo eleito da Igreja Lusitana (membro da comunhão anglicana), uma confissão cristã com cerca de 5.000 membros espalhados por 13 paróquias e uma Missão no nosso país, expressa preocupação por este caminho que em nada conduz à paz.
A mensagem final do 94º Sínodo da Igreja Lusitana, que teve lugar de 1 a 3 de novembro passado, fez uma análise crítica ao atual modelo de governação em Portugal, dado «que se está a perder o espírito humano de governação sem se perceber que caminho coletivo nos é proposto», considera o prelado, que acrescenta que «à crise económico-financeira se junta uma crise de valores e de visão para o futuro».
Estes tempos de crise são, segundo este responsável da Igreja Lusitana, resultado de uma «profunda mudança sociológica que tem levado a uma desvalorização da presença de Deus nas instituições sociais e a um relativismo desregrado que desfaz a necessidade da aceitação do absoluto». Por isso, a solução para os tempos atuais apenas poderá passar, segundo este responsável, por «enfrentar o atual contexto social como um tempo rico de oportunidades de crescimento e de opções responsáveis».
«A reflexão deve ser pois individual e coletiva e deve-se fundar no contributo de todas as forças vivas da sociedade portuguesa das quais naturalmente as Igrejas fazem parte. Cabe muito às Igrejas e aos cristãos incutir na sociedade uma visão positiva do futuro que se sustenta na relação confiante com a pessoa de Jesus Cristo e na visão/promessa que nos foi dada do Reino de Deus que há de vir», defende o bispo.
Eva Michel é pastora da Igreja presbiteriana em Portugal e não tem dúvidas sobre o caminho que a sociedade tem de percorrer para alcançar a paz nestes tempos. «Hoje os cristãos não se podem calar e fechar nas suas igrejas, têm a obrigação de intervir ativamente e recordar a toda a sociedade os valores do evangelho. É deste modo que se tornarão construtores da paz, é deste modo que encontrarão a paz», considera a pastora presbiteriana, que define três atitudes importantes a ter.
«Denunciar e criticar sempre os esforços para resolver a crise económica e financeira atingem de maneira desigual e pouco equitativa os portugueses; encorajar que os jovens que terminaram os seus cursos e estão desempregados possam desempenhar ações de voluntariado que o valorizem dentro da sua comunidade; e partilhar os bens em ações de solidariedade, dentro da sua igreja ou em parceria com outras instituições.»
Trabalho ecuménico
Em termos daquilo que é o trabalho ecuménico das diferentes confissões cristãs, que tem o seu ponto alto na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de janeiro), ambos os responsáveis cristãos consideram importante o contacto que já existe. «A vivência Ecuménica naquilo que expressa de diálogo, de partilha e de reconciliação é um importante sinal para a sociedade portuguesa. É possível estarmos juntos apesar das diferenças legítimas que marcam cada identidade eclesial. A unidade na diversidade que as Igrejas procuram viver pode e deve ser também um caminho a seguir noutras áreas da sociedade portuguesa», considera D. Jorge Cabral.
Já Eva Michel considera que «os momentos de encontro e partilha são muito preciosos para os que neles participam e para as suas Igrejas», destacando o XIV Fórum Ecuménico Jovem, que ocorreu em outubro (ver caixa), e outras iniciativas, mas considera que se poderia fazer mais. «Era preciso alguma criatividade e, sobretudo, vontade. E alguém que tomasse a iniciativa... Imaginemos, por exemplo, uma série de estudos bíblicos sobre a temática da Paz e da Justiça, seguida em todas (ou muitas) as igrejas. Estudos que ajudassem a ler a realidade atual à luz da Palavra de Deus. Ou uma série de reflexões em comum, por exemplo, para o tempo da Quaresma. Através da Internet, material deste género pode chegar a muita gente, sem grande despesa», sugere a pastora presbiteriana.
A ideia de que o caminho da paz na sociedade está intimamente ligado à justiça social, à procura do bem comum e aos valores espirituais está também presente nos responsáveis de outras religiões, mas esse é um assunto para as próximas páginas da nossa revista.
Ricardo Perna
Publicado em Igreja
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