Blog Alma Missionária

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domingo, 18 de novembro de 2012

 

“O PAI NOSSO E A AVE MARIA”

(SERMÕES DE S. TOMÁS DE AQUINO)

PRÓLOGO

AS CINCO QUALIDADES REQUERIDAS PARA TODAS AS ORAÇÕES
 
1. — A Oração Dominical, entre todas, é a oração por excelência, pois possui
 as cinco qualidades requeridas para qualquer oração. A oração deve
 ser: confiante, reta, ordenada, devota e humilde.

2. — A oração deve ser confiante, como São Paulo escreve aos Hebreus
 (4, 16):Aproximemo-nos com confiança do trono da graça, a fim de 
alcançar a misericórdia e achar a graça para sermos socorridos no tempo
 oportuno.

A oração deve ser feita com fé e sem hesitação, segundo São Tiago.
 (Tg 1,6): Se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus... 
Mas peça-a com fé e sem hesitação.

Por diversas razões, o Pai Nosso é a mais segura e confiante das 
orações. A Oração Dominical é obra de nosso advogado, do mais sábio dos
 pedintes, do possuidor de todos os tesouros de sabedoria (cf. Cl 2, 3), 
daquele de quem diz São João (I, 2, 1): Temos um advogado junto ao pai: 
Jesus Cristo, o Justo. São Cipriano escreveu em seu Tratado da oração 
dominical: «Já que temos o Cristo como advogado junto ao Pai, por
 nossos pecados, em nossos pedidos de perdão, por nossas faltas,
 apresentemos em nosso favor, as palavras de nosso advogado».
A Oração Dominical parece-nos também que deve ser a mais ouvida 
porque aquele que, com o Pai, a escuta é o mesmo que no-la ensinou; 
como afirma o Salmo 90 (15): Ele clamará por mim e eu o escutarei.
 «É rezar uma prece amiga, familiar e piedosa dirigir-se ao Senhor 
com suas próprias palavras» diz São Cipriano. Nunca se deixa de tirar
 algum fruto desta oração que, segundo santo Agostinho, apaga os 
pecados veniais.

3. — Nossa oração deve, em segundo lugar, ser reta, quer dizer,
 devemos pedir a Deus os bens que nos sejam convenientes. 
«A oração, diz São João Damasceno, é opedido a Deus dos dons
 que convém pedir».

Muitas vezes, a oração não é ouvida por termos implorado bens que 
verdadeiramente não nos convêm. «Pediste e não recebeste, porque
 pediste mal», diz São Tiago. (4,3).

É tão difícil saber com certeza o que devemos pedir, como saber o que
 devemos desejar. O Apóstolo reconhece, quando escreve aos Romanos
 (8, 26): Não sabemos pedir como convém, mas (acrescenta), o próprio
 Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis.

Mas não é o Cristo que é nosso doutor? Não foi ele que nos 
ensinou o que devemos pedir, quando seus discípulos disseram: 
Senhor, ensinai-nos a rezar? (Lc 11, 1).
Os bens que ele nos ensina a pedir, na oração, são os mais convenientes.
 «Se rezamos de maneira conveniente e justa, diz Santo Agostinho, 
quaisquer que sejam os termos que empregamos, não diremos nada mais 
do que o que está contido na Oração Dominical».

4. — Em terceiro lugar, a oração deve ser ordenada, como o próprio
 desejo que a prece interpreta.
A ordem conveniente consiste em preferirmos, em nossos desejos e preces,
 os bens espirituais aos bens materiais, as realidades celestes
 às realidades terrenas, de acordo com a recomendação do Senhor
 (Mt, 6,33): Procurai primeiro o reino de Deus e sua justiça e o 
resto — o comer, o beber e o vestir — ser-vos-á dado por acréscimo.
Na Oração Dominical, o Senhor nos ensina a observar esta ordem: 
primeiro pedimos as realidades celestes e em seguida os bens terrestres.

5. — Em quarto lugar, a oração deve ser devota.

A excelência da devoção torna o sacrifício da oração agradável a Deus.
 Em vosso nome, Senhor, elevarei minhas mãos, diz o Salmista, e minha
 alma é saciada como de fino manjar.

A prolixidade da oração, no mais das vezes, enfraquece a devoção; 
também o Senhor nos ensina a evitar essa prolixidade supérflua: Em 
vossas orações não multipliqueis as palavras; como fazem os pagãos,
 (Mt 6,7). S. Agostinho recomenda, escrevendo a Proba: «Tirai da 
oração a abundância de palavras; no entanto não deixeis de suplicar
, se vossa atenção continua fervorosa».

Esta é a razão pela qual o Senhor instituiu a breve oração do Pai Nosso.

6. — A devoção provém da caridade, que é o amor de Deus e 
do próximo. O Pai Nosso é uma manifestação destes dois amores.

Para mostrar nosso amor a Deus, o chamamos «Pai» e para mostrar 
nosso amor ao próximo, pedimos por todos os homens justos, dizendo:
 «Pai nosso», e empurrados pelo mesmo amor, acrescentamos: 
«perdoai as nossas dívidas»

7. — Em quinto lugar, nossa oração deve ser humilde, segundo o 
que diz o Salmista (Sl. 101, 18): Deus olhou para a prece dos humildes.

Uma oração humilde é uma oração que certamente será ouvida, 
como nos mostra o Senhor, no evangelho do Fariseu e do 
Publicano (Lc 18, 9-15) e Judite, rogando ao Senhor, dizia: Vós
 sempre tivestes por agradável a súplica dos humildes dos mansos.

Esta humildade está presente na Oração Dominical, pois a verdadeira 
humildade está naquele que não confia em suas próprias forças, mas
 tudo espera do poder divino.




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