Blog Alma Missionária

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quarta-feira, 28 de novembro de 2012


UM POUCO MAIS DE ASCESE


Por ascese entende-se subida. Vem do verbo latino ascendere : subir, elevar-se. Daí, as palavras ascensor, ascensão. Em linguagem religiosa subentende a busca de valores mais elevados, abandono do materialismo, do individualismo, da busca desenfreada de coisas, bens, dinheiro, fama, conforto, acúmulos. O asceta vive do suficiente, às vezes até na penúria, sempre por escolha pessoal. Sua vida é cada dia menos “eu” e cada vez mais “Deus e o povo.” Por causa das pessoas, sua pessoa se torna cada vez menos saliente. Nunca se põe em primeiro, não busca a preeminência, não cultiva marketing pessoal, aparece o menos possível, é simples, não persegue bens ou riquezas, tem vida frugal, aceita o desconforto, não acumula, nada do que tem é seu e , se tem, coloca a serviço dos outros.
O contrário do asceta é o sujeito maciota, o mauricinho ou o maurição. Super bem produzido, evidente, sonha caro, cobra caro, viaja de primeira classe, vai e vem de jatinho, melhores marcas, melhores carros, melhores perfumes, melhores países, melhores restaurantes, melhores academias, melhores vinhos, melhores roupas, melhores lugares, muito…muito dinheiro e tudo de bem-bom e, se possível, o melhor do melhor. Ele acha que merece! Renúncia, partilha, ascese não são para ele. Não nasceu para poder ter e escolher não ter. Se puder ter, vai ter. Seu argumento é que, se ninguém aspirasse a ter mais e ser mais, o mundo ainda estaria na idade da pedra.
De conseqüência, Jesus, Paulo, Agostinho, Jerônimo, Thomás de Aquino, Francisco e Clara, milhões de sábios, estudiosos, monges e ascetas não valem como atores do progresso… Religiosos de ontem e de hoje que enveredam pela não ascese correm o risco do ter mais para ser mais e até conseguem, porque o mundo admira quem cresce, enriquece e aparece. Mas há sempre um depois que dinheiro não compra.
Na era da imagem, a visibilidade é fundamental. E visibilidade supõe um tipo de ascensão que inclui muito dinheiro e muito poder. Bacanas não almoçam nem jantam com marmotas… Tem que ter status para transitar em altas rodas. E, para transitar em altas rodas, o discurso tem que ser o do empreendedor-vencedor. Na era da comunicação imediata, os lentos e os devagar não contam. Monges e ascetas servem para momentos de espiritualidade, mas que sejam apenas momentos… Um piquenique espiritual de vez em quando vai bem, como férias num SPA!… Mas isso de viver partilhando, servindo, buscando o essencial, é para uns poucos. O mundo precisa de quem cria, gera empregos e movimenta a economia. Ascetas e hippies servem como peça de museu, ou como bichos de zoológico! Bons de ver; nunca de se ter em casa! Não cabem mais!
A moderna pregação da teologia da prosperidade não poucas vezes passa por esta vertente. Este é o seu discurso: ter mais para levar mais Deus. Dizem que pobre não avança! Garantem que Deus nos quer empreendedores e ricos! Se, tanto pobreza quanto riqueza, ora escravizam e ora libertam, então eles escolhem a riqueza que liberta… Garantem que são mais felizes com muito dinheiro no banco do que quando não tinham nada. Ouça-os no rádio! Não disfarçam seu gosto por luxo e dinheiro. Até fazem piada contra quem escolheu ser pobre!
Seu discurso destoa do de Jesus. Mas, pragmáticos como são, garantem que, se Jesus vivesse hoje, não diria o que disse naqueles dias de aldeias e desemprego generalizado. Jesus criaria emprego e desejo de subir na vida. Estaria mais para capitalista caridoso do que para socialista irado que exige partilha à força…. E talvez estejam certos. Jesus não seria ditador de esquerda nem de direita. Mas reduzem-no a teórico da mais valia! Em resumo, aquele Jesus ainda é, mas aquele cristianismo já era!
Mas, atenção! Este é apenas o penúltimo capítulo desse tipo de púlpito. É de se ver o que acontecerá já nos começos do capítulo final. Nele, parece que é o asceta quem deixa pegadas!… Os caríssimos sapatos dos profetas do ter mais para ser mais, por sua insustentável leveza, apesar da exclusividade da marca, em geral não deixam marcas. As sandálias franciscanas são as que mais tempo duram…
Pe. Zezinho scj

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