O CRISTO APOCALÍTICO
Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. (Mt 24, 30)
Um Cristo que ameaça? Quem veio salvar voltará para julgar e punir? Ou voltará para julgar e outra vez misericordiosamente salvar? Outra vez perdoará porque os homens não sabem o que fazem? Se da primeira vez não foi por amor, da segunda será por ameaça?
O pregador discorria sobre o tema do Armagedon, a batalha final. Gravei suas falas. Cuidadosamente escolhidos comentava os textos que diziam:
•E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão, (Apocalipse 20: 7)
•E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite. (Apocalipse 12: 10)
•Porque são espíritos de demônios, que fazem prodígios; os quais vão ao encontro dos reis da terra e de todo o mundo, para os congregar para a batalha, naquele grande dia do Deus Todo-Poderoso. (Apocalipse 16 : 14)
•E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite. (Apocalipse 12 : 10)
Os comentários eram aterradores e cheios de certeza de que o mundo será punido pelos seus pecados e que na segunda vinda não haverá clemência. Não é o primeiro nem será o último pregador a anunciar o Cristo vingador em substituição ao Cristo perdoador. Não quis por bem, será por mal. Ele lembrava a fala de Jesus sobre Jerusalém. (Mt 23,37-38) Predisse castigo…
Tais pregações apocalípticas pululam por templos e mídia. Apocalipse é uma forma de profecia que prevê coisas posteriores, em geral com forte dose de catástrofe até à vitória final. Na Bíblia há várias narrações apocalípticas. O Livro do Apocalipse não é o único a conter mensagens difíceis de destrinchar. Os escritos apocalípticos falam de tal maneira que algo pode ter sido como poderá ser. Assim também são as profecias de Nostradamus. Depois de sua leitura arranjam-se personagens que caibam nelas. Nero, Hitler, Gengis Khan, Stalin, a Bomba Atômica, o Papa, algum pastor evangélico, John Kennedy, Fidel Castro, o furacão Katrina, a Tsunai e 2004, a Vaca Louca, o Ebola… Algum pregador fará uso do evento para lembrar que o Apocalipse já o dissera; algum leitor fascinado por Nostradamus dirá em que versos ele tocou no assunto!…
Como não poderia deixar de ser, Jesus , mais do que agente é o alvo de muitas dessas profecias. Não era esta a intenção do escritor, mas como tudo o que não fica muito claro, tudo acaba manipulado por algum hábil pregador em busca de maior autoridade e adesão, senão pelo amor, ao menos pelo medo. Os americanos os chamariam de doom day preachers: pregadores da grande catástrofe.
Há um Cristo apocalíptico profetizado por pregadores do sensacional e do tudo ou nada! Como tudo na Bíblia foi escrito em determinada situação e precisa ser interpretado a partir daquela situação, e só depois, prudentemente comparado ao nosso tempo, é enorme o risco desses pregadores ao afirmar que aquele autor quis falar do Papa, de Kennedy, da bomba atômica, da onda tsunami de 2004. Pregadores apressados e categóricos prejudicam a cristologia mais séria, há séculos penosamente estudada pelas igrejas.
O pastor e o padre que disseram aos seus fiéis, em programas de televisão no Brasil que a epidemia da AIDS e da Dengue eram castigos do céu e citaram os textos do Antigo e do Novo Testamento que corroborava sua afirmação não foram questionados de imediato e no mesmo programa. Por conseguinte, seus ouvintes de menos estudo e menor acesso à exegese aceitarão esta explicação apressada, de maneira também apressada.
É o caso de lembrar o mecânico que, percebendo que a freguesa nada sabia de motores cobrou mais caro porque daquela vez teve que trocar a paroxeneta de critpovela da ignição potencializada; outra versão da já famosa rebimboca da parafuseta…
Tais pregadores do Jesus apocalíptico usam da mesma linguagem. Escolhem os textos, misturam tudo e, naquele templo ou naquela emissora sai mais um frappé apocalíptico. Jesus voltará e o furacão Katrina é um aviso de que ele está chegando. Converta-se porque o tempo da misericórdia está chegando ao fim. Não é assim que falam, mas é isso o que se entende!


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