Os Santos Anjos Na Vida E Nas Cartas De São Paulo
Os santos Anjos na vida e nas cartas de São Paulo
1 – E “se não lhe falou algum espírito ou um Anjo?” (At 23,9)
A) São Paulo como Fariseu
Quem é este Paulo?
O próprio Apóstolo, em Jerusalém, diante da multidão agitada que queria matá-lo, apresenta-se a si mesmo com estas palavras: “Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade, instruí-me aos pés de Gamaliel, em toda a observância da lei de nossos pais, partidário entusiasta da causa de DEUS como todos vós também o sois no dia de hoje”(At 22,3).
Mais adiante, quando Paulo foi acusado pelos judeus, São Lucas anota outro pormenor nos Atos dos Apóstolos:
Paulo sabia que uma parte do Sinédrio era de saduceus e a outra de fariseus e disse em alta voz; “Irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus. Por causa da minha esperança na ressurreição dos mortos é que sou julgado”. Ao dizer ele estas palavras, houve uma discussão entre os fariseus e os saduceus, e dividiu-se a assembléia.(Pois os saduceus afirmam não haver ressurreição, nem Anjos, nem espíritos, mas os fariseus admitem uma e outra coisa.) Originou-se, então, grande vozearia. Levantaram-se alguns escribas dos fariseus e contestaram ruidosamente: “Não achamos mal algum neste homem.(Quem sabe) se não lhe falou algum espírito ou um Anjo”.(At 23,6-9)
B) Saulo confrontado com os Anjos
São Paulo era fariseu e, como tal, acreditava na existência dos Anjos. Acreditava nos inumeráveis testemunhos de intervenções angélicas do Antigo Testamento. De acordo com o seu mestre Gamaliel (cf. At 5,38-40) acreditava que DEUS continuara ativo na vida e na história do Povo Eleito. Mais tarde, confessou na carta aos Gálatas que “a lei…foi promulgada por Anjos” (Gl 3,19). Paulo também deve ter ouvido contar que um Anjo libertara milagrosamente os Apóstolos que se encontravam na prisão (cf. At 5.16-25).
Pouco tempo depois, o povo amotinado investiu contra o diácono Estevão, levando-o perante o Grande Conselho. São Lucas conta como “os membros do Grande Conselho viram o seu rosto semelhante ao de um Anjo”(At 6,15) e como Estevão acusava esses homens: “vós que recebestes a lei pelo ministério dos Anjos e não a guardastes” (At 7,52-53).
Paulo certamente observou muito bem Estevão quando o lançaram fora da cidade e começaram a apedrejá-lo, pois “as testemunhas depuseram os seus mantos aos [seus] pés” (At 7,58) e ele mesmo “havia aprovado a morte de Estevão” (At 8,1; cf At 22,20-21).
2 – “Entusiasta da causa de DEUS” (At 22,3)
É importante reconhecer o zelo interior de São Paulo pela religião porque a boa vontade é a disposição necessária para uma mudança, para a conversão mediante a graça de DEUS. Paulo dissera:
Instruí-me aos pés de Gamaliel, em toda a observância da lei de nossos pais, partidário entusiasta da causa de DEUS como todos vós também o sois no dia de hoje. Eu persegui de morte essa doutrina, prendendo e metendo em cárcere homens e mulheres. O sumo sacerdote e todo o conselho dos anciãos me são testemunhas. (At 22,3-5)
A) A fé num Anjo pessoal
A Sagrada Escritura conta como, de modo extraordinário, São Pedro foi libertado duas vezes na prisão por um Anjo: uma vez antes da conversão de Saulo (cf. At 5,19) e a outra, pouco depois do martírio de Tiago (At 12,7ss), quando Paulo já professava a fé cristã.
O que importa é que estas narrações dão um claro testemunho da firme fé dos judeus e da Igreja primitiva no Anjo da Guarda. Pois, quando, na segunda vez, o Anjo conduziu Pedro para fora da prisão e lá fora, numa rua, se retirou de junto dele, Pedro dirigiu-se para a casa onde a comunidade dos fiéis se encontrava reunida e orava por ele:
Quando bateu à porta de entrada, uma criada, chamada Rode, adiantou-se para escutar. Mal reconheceu a voz de Pedro, de tanta alegria não abriu a porta, mas, correndo para dentro, foi anunciar que era Pedro que estava à porta. Disseram-lhe; “ Estás louca!” Mas ela persistia em afirmar que era verdade. Diziam eles: “Então é o seu Anjo!”. (At 12,13-15)
Por não poderem acreditar que o próprio Pedro estava à porta, pensavam que devia ser o “seu Anjo”. Esta expressão mostra a fé do Povo Eleito, ao qual também Paulo pertencia, uma vez que a Igreja em Jerusalém era composta principalmente pelos convertidos do Povo Eleito. Aliás, o próprio São Paulo confessou uma vez a sua fé na assistência protetora e libertadora do Anjo, quando estava em viagem para Roma:
No dia seguinte, sendo a tempestade ainda mais violenta, atiraram fora a carga. No terceiro dia, atiramos para fora com nossas próprias mãos os acessórios do navio…Paulo levantou-se no meio deles e disse: “Amigos,…vos admoesto a que tenhais coragem, pois não perecerá nenhum de vós, mas somente o navio. Esta noite apareceu-me um Anjo de DEUS, a quem pertenço e a quem sirvo, o qual me disse: <Não temas Paulo. É necessário que compareças diante de César. DEUS deu-te todos os que navegam contigo>. Por isso, amigos, coragem! Eu confio em DEUS que há de acontecer como me foi dito”.(At 27,18-25)
A fé de São Paulo baseia-se nas escrituras do Antigo Testamento, no testemunho de outras pessoas e na sua experiência pessoal. No entanto, o poder e a bondade de DEUS terão a última palavra(cf, Gl 1,18 e 2,1).
B) Chamado por um Anjo
Noutra ocasião, São Paulo comunica uma experiência cuja interpretação permite razoavelmente atribuí-la à intervenção de um Anjo:
De noite, Paulo teve uma visão: um macedônio, em pé, diante dele, lhe rogava: “Passa à Macedônia, e vem em nosso auxílio!” Assim que teve essa visão, procuramos partir para a Macedônia, certos de que DEUS nos chamava a pregar-lhes o Evangelho. (At 16,9-10)
Cornélio de Lápide comentava esta visão de Paulo de um modo “lapidário”: “Esta visão foi um sonho que veio de DEUS, transmitido a Paulo por um Anjo”. Até acrescenta: “Parece que era o Anjo da Guarda dos macedônios” (cf. At 16,9; Dn 10,20s e 12,1). Para apoiar a sua opinião, nota que São Francisco Xavier e outros missionários foram chamados, de modo semelhante, a partir para a Índia e para a África. Também outros teólogos chegaram a essa mesma conclusão, isto é : que tal ajuda concreta vem através dos Anjos (Cf. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teologia(=ST), São Paulo 2001ss, p.II-II, q.171, a 3; q. 172,aa 2 e 5-6). Isto faz-nos pensar ainda em São Pedro, no modo que foi levado por um Anjo a cumprir a missão junto de um povo não judeu(cf. At 10).
Estes poucos exemplos mostram-nos como os santos Anjos estavam realmente envolvidos na vida de São Paulo. Nós podemos e devemos afirmar, com coragem, a mesma coisa que disseram os fariseus: “Quem sabe se não lhe falou algum espírito ou um Anjo” (At 23,9).
3 – São Paulo entre e Anjos e demônios
A) Arrebatado até aos céus
Outra referência nos mostra São Paulo arrebatado até às fileiras dos Anjos. Ele fala de si mesmo quando afirma:
Conheço um homem em CRISTO que há catorze anos foi arrebatado até o terceiro céu. Se foi no corpo, não sei. Se fora do corpo, também não sei; DEUS o sabe. E sei que esse homem…lá ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir. (2 Cor 12,2-4)
Segundo Santo Tomás de Aquino, São Paulo foi arrebatado até à primeira hierarquia do Anjos, onde pôde contemplar mistérios divinos, como os Anjos desta mais alta hierarquia. (Cf. TOMÁS DE AQUINO, II ad Corinthios, XII, lect 1, em: ID., Super Epistolas S. Pauli Lectura, vol.I, Taurini-Romae, 8ª ed. Ver. 1953).Esta experiência fora capaz de formar a base da sua rica teologia, exposta na carta aos Hebreus:
Vós, ao contrário, vos aproximastes da montanha de Sião, da cidade do DEUS vivo, da Jerusalém celestial, das miríades de Anjos, da assembléia festiva dos primeiros inscritos no livro dos céus, e de DEUS, juiz universal, e das almas dos justos que chegaram à perfeição, enfim, de JESUS, o mediador da Nova Aliança, e do sangue da aspersão, que fala com mais eloqüência que o sangue de Abel.(Hb 12,22-24)
Pela graça de DEUS, recebida depois de ter perseguido a Igreja, São Paulo permaneceu sempre profundamente humilde. Referindo-se àquelas graças, ele acrescenta imediatamente: “Desse homem eu me gloriarei, mas de mim mesmo não me gloriarei, a não ser das minhas fraquezas”(2Cor 12,5)
B) Precipitado até ao inferno
Visto que lhe foi concedido uma certa familiaridade com os santos Anjos, é normal que não lhe tivesse sido poupado um certo contato com o diabo. Ele confessa-o abertamente:
Para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi me dado um espinho na carne, um anjo de satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade. Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim. Mas Ele me disse: “Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força”. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de CRISTO.(2Cor 12,7-9)
Esta confrontação com os espíritos caídos, aliás uma coisa nada fora do comum, levou-o a exortar os Efésios da seguinte forma:
Revesti-vos da armadura de DEUS, para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e virtudes, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares. (Ef 6,11-12)
A doutrina do Apóstolo foi uma verdadeira demonstração da sua vida. Por isso, faremos bem se lermos com atenção suas cartas, sem mudar qualquer palavra do que ele diz. Juntamente com os santos Anjos, São Paulo há de guiar-nos à meta: DEUS! . (livro : “Entre Anjos e demônios” -Testemunho e doutrina de São Paulo – Titus Kieninger ORC)
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