NORMALISTA DOS ANOS CINQUENTA
Formada na Escola Normal dos anos cinquenta, Dona Zilá que hoje passa dos setenta anos e é
muito arguta, inteligente e pesquisadora, contou todas as notas fiscais de um ano atrás e as
comparou com as mesmas notas de dezembro, dia 15, um ano depois. Estava ali a prova.
Ao menos para ela a inflação estava a 27% ao ano. Uma amiga, que fez o mesmo, constatou
23%. Uma outra, 18% por cento. Mas, a maioria das amigas de seu grupo, senhoras maduras,
consciente e cidadãs, apostavam em inflação acima de 23%. Ignorantes ou espertas? Seriam
más patriotas ao discordar do Governo? Quais os critérios dos governantes e quais os de uma
dona de casa?
Os mesmos produtos do ano passado estavam 20% mais caros. A conversa foi longe. Se o
sapateiro não deve ir além das sandálias porque é disso que ele entende, a dona de casa deve ir
a fundo na economia porque é disso que ela vive e sobrevive. É ela que sente o amargo dos
preços e da inflação. Não interessa à donas de casa se o PIB será três e meio ou cinco por
cento ao ano. O que incomoda é a inflação que os governantes dizem estar abaixo dos dois
dígitos, mas para algumas delas passou de 23%. O Governo pode fazer os malabarismos que
quiser e as contas que bem entender para provar pela mídia que a inflação está controlada; a
dona de casa sabe que não. É que os preços enfiam a mão na sua sacola de supermercado.
Industriais e comerciantes sobem os preços para não perder o lucro, mas a dona de casa não
sabe o que fazer para manter o padrão. Na opinião de Dona Zilá alguém está escondendo os
números verdadeiros e uma boa parte da imprensa está solidaria com o Governo e com os
números que o governo propõe; mas o povo na rua, que precisa enfiar a mão no bolso e a dona
de casa que precisa fazer economia e malabarismo , eles sabem que a inflação não é essa que
se propala pela mídia.
Não tendo os mesmos veículos à sua disposição, elas gritam nas comunidades, nas paróquias,
nos grupos onde atuam. Uma jornalista veio à reunião de Dona Zilá, anotou tudo e até publicou,
mas não houve repercussão. Ficou o dito pelo não dito. Mas o povo continua achando que a i
nflação não está abaixo de cinco por cento. Sua conta de loja e supermercado lhe diz outra coisa.
A conclusão é uma só: para o povo, a medida para a inflação não é o que ele gasta, é o que ele
ganha. Vivem numa economia otimista, mas a realidade contradiz os números. A oposição não
pode vencer e o Governo não pode perder. Então, qualquer indivíduo que ouse dizer que a
inflação não é a que o Governo publicou é intruso falando do que não sabe. Milhões de famílias
pobres vão às compras e comparam o que gastaram há um ano atrás e o que agora precisam
gastar para comprar os mesmos produtos. Concluem que existe algo de estranho nessa
contabilidade. Na casa de Dona Zilá o salário não subiu nem dez, mas os gastos estão pelos
vinte e sete. Alguém está se dando bem, mas este alguém não é Dona Zilá! Para a ex normalista
os números dos anos cinquenta não mudaram. Mudou o jeito de contabilizar.
muito arguta, inteligente e pesquisadora, contou todas as notas fiscais de um ano atrás e as
comparou com as mesmas notas de dezembro, dia 15, um ano depois. Estava ali a prova.
Ao menos para ela a inflação estava a 27% ao ano. Uma amiga, que fez o mesmo, constatou
23%. Uma outra, 18% por cento. Mas, a maioria das amigas de seu grupo, senhoras maduras,
consciente e cidadãs, apostavam em inflação acima de 23%. Ignorantes ou espertas? Seriam
más patriotas ao discordar do Governo? Quais os critérios dos governantes e quais os de uma
dona de casa?
Os mesmos produtos do ano passado estavam 20% mais caros. A conversa foi longe. Se o
sapateiro não deve ir além das sandálias porque é disso que ele entende, a dona de casa deve ir
a fundo na economia porque é disso que ela vive e sobrevive. É ela que sente o amargo dos
preços e da inflação. Não interessa à donas de casa se o PIB será três e meio ou cinco por
cento ao ano. O que incomoda é a inflação que os governantes dizem estar abaixo dos dois
dígitos, mas para algumas delas passou de 23%. O Governo pode fazer os malabarismos que
quiser e as contas que bem entender para provar pela mídia que a inflação está controlada; a
dona de casa sabe que não. É que os preços enfiam a mão na sua sacola de supermercado.
Industriais e comerciantes sobem os preços para não perder o lucro, mas a dona de casa não
sabe o que fazer para manter o padrão. Na opinião de Dona Zilá alguém está escondendo os
números verdadeiros e uma boa parte da imprensa está solidaria com o Governo e com os
números que o governo propõe; mas o povo na rua, que precisa enfiar a mão no bolso e a dona
de casa que precisa fazer economia e malabarismo , eles sabem que a inflação não é essa que
se propala pela mídia.
Não tendo os mesmos veículos à sua disposição, elas gritam nas comunidades, nas paróquias,
nos grupos onde atuam. Uma jornalista veio à reunião de Dona Zilá, anotou tudo e até publicou,
mas não houve repercussão. Ficou o dito pelo não dito. Mas o povo continua achando que a i
nflação não está abaixo de cinco por cento. Sua conta de loja e supermercado lhe diz outra coisa.
A conclusão é uma só: para o povo, a medida para a inflação não é o que ele gasta, é o que ele
ganha. Vivem numa economia otimista, mas a realidade contradiz os números. A oposição não
pode vencer e o Governo não pode perder. Então, qualquer indivíduo que ouse dizer que a
inflação não é a que o Governo publicou é intruso falando do que não sabe. Milhões de famílias
pobres vão às compras e comparam o que gastaram há um ano atrás e o que agora precisam
gastar para comprar os mesmos produtos. Concluem que existe algo de estranho nessa
contabilidade. Na casa de Dona Zilá o salário não subiu nem dez, mas os gastos estão pelos
vinte e sete. Alguém está se dando bem, mas este alguém não é Dona Zilá! Para a ex normalista
os números dos anos cinquenta não mudaram. Mudou o jeito de contabilizar.
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