A festa dos pobres |
Editoriais do Semeador |
Sáb, 16 de Maio de 2009 00:24 |
“Pequenino se fez nosso irmão:
Deus conosco – brilhou nova luz! Quem chorou venha ver que o Menino Tem razão de chamar-se Jesus!”
Estes versos são dos tantos que cantaremos no Natal do Senhor. Cantamos e às vezes nem percebemos a grandeza daquilo que pronunciamos, nem nos damos conta de quanto são revolucionárias e incômodas as palavras que saem de nossos lábios...
Nesta estrofe acima apresentada está sintetizado de modo maravilhoso o que significa o Natal para os cristãos: o Deus eterno entrou no tempo; imenso, fez-se pequenino; divino, fez-se humano; veio viver nossa aventura – fez-se nosso irmão de caminho. Deus entrou na nossa existência, assumiu nossa história, pisou nosso chão, o chão pedregoso de nossa vida tantas vezes sem graça. E entrando no nosso mundo brilhou para nós como luz, que ilumina nossos passos, que clareia nosso coração, que alumia a história humana, denunciando e expulsando suas sombras. Sim: Natal é a festa da Luz, a festa daquele que disse: “Eu, a Luz, vim ao mundo!”
Até aí não há, aparentemente, nada de novo, de revolucionário. Mas, pensemos bem: Deus vem a nós, pessoalmente! Aceita misturar-se com nossa vida miúda, torna-se solidário com nossas lágrimas, nossas dores, nossas solidões, nossos medos (e não se pense que isto é retórica: basta pensar na depressão de Jesus no Horto, com medo da morte; ali, necessitado do apoio de um ombro amigo, que ele não encontrou). Quem poderia imaginar um Deus assim, misturando-se com os impuros, os pecadores, os fracos? Nós sempre pensamos num Deus puro demais para misturar-se conosco... No entanto, no Natal esse Deus mistura-se, suja-se na nossa história!
Mas isto ainda não é tudo! Não bastou para Deus que seu Filho entrasse na nossa história: ele entrou como pobre, entrou na condição de privação: nasceu num país oprimido, na Galiléia marginalizada, de um casal tão pobre que não teve dinheiro para oferecer o cordeirinho prescrito pela Lei (ofereceu somente um par de rolas ou dois pombinhos – oferenda dos pobres); nasceu num presépio miserável, foi festejado por pastores pobres, gentalha do povo... Tudo muito diferente daquilo que pensamos e esperamos de Deus! Quem de nós acreditaria que um menino nascido numa favela qualquer, de um casal piedoso, mas semi-analfabeto, cercado de pobres por todos os lados, pudesse ser o escolhido, o Filho amado do Deus santo de Israel? Pois foi assim que ele veio, assim nasceu o Salvador, assim o Verbo fez-se carne e armou sua tenda entre nós! E o mundo não compreendeu nada! Festeja na festa o que renega na vida e canta uma vez por ano o que execra no ano todo!
Nossa cidade começa a enfeitar-se: as luzes brilham, o comércio exulta, o consumismo impera, os shows começam a ser anunciados nos comerciais de TV, os motéis fazem promoções para festejar o Natal do Senhor! Para festejar Aquele que nasceu pobre, entre os pobres... Aquele que, se nascesse hoje, não poderia festejar este natalzinho mundano, porque não teria dinheiro nem oportunidades... Sim, uma das maiores ofensas a Deus, um dos maiores sacrilégios, repetidos todos os anos, é transformar a festa do Deus que se fez pobre para nos enriquecer na festa do consumo, do esbanjamento, de opulência, do descompromisso, da comoção adocicada... festa de Papai Noel!
Mas haverá sempre, graças a Deus, um Natal verdadeiro. Quem irá celebrá-lo? Quem chorou (como dizem os versos no início do editorial), quem se sente pequeno, pobre, fraco, solitário, quem percebe que este mundo não é um paraíso, quem sente seu coração quebrado e contraditório, quem descobriu que sozinho o homem não se salva, não se encontra, não tem paz, quem não está satisfeito consigo mesmo... enfim, quem se sente necessitado de um Salvador que venha e nos estenda a mão. Isso mesmo: “quem chorou venha ver que o Menino tem razão de chamar-se Jesus (= Deus salva)!” A todos os pobres, seja de que pobreza for, um feliz e abençoado Natal, porque para tais pobres o Pai enviou o seu Filho!
“Pequenino se fez nosso irmão:
Deus conosco – brilhou nova luz! Quem chorou venha ver que o Menino Tem razão de chamar-se Jesus!” Artigos Relacionados: |
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