Papa
Gregório Magno
Monge e papa missionário
por Pedro Miskalo
regório nasceu em 540, de nobre família romana, cujo exemplo de vida cristã marcou-o profundamente. Estudou Direito e ocupou destacado cargo civil, misto de prefeito e juiz. Insatisfeito, ouviu “um apelo dentro de si”, entregou os bens aos pobres, vestiu-se de monge e transformou a casa em mosteiro, à frente do qual colocou um abade, pois quis para si o lugar de simples monge.
Com a fortuna paterna abriu abadias e, até no cume da hierarquia, conservou saudades da vida de silêncio, oração e “leitura em Deus”. Em Bizâncio, como Núncio Apostólico de Pelágio II, suas virtudes e ciência a todos assombraram. Retornando a Roma, foi secretário do Pontífice. Quando o Papa morreu, em 590, Gregório tentou fugir da cátedra. Não obteve sucesso e foi escolhido sucessor de Pelágio II. Fez-se “o servo dos servos do Senhor” (expressão criada por ele).
Suas atividades alicerçavam-se em profunda vida interior e admirável experiência mística, no desejo de “ultrapassar os limites da carne”: “O amor de Deus induz ao amor ao próximo; por sua vez o amor ao próximo nutre o amor a Deus”. O pontificado foi de apenas 14 anos, mas seu pensamento iluminou toda a Idade Média. Foi disciplinado, audacioso, e sua inteligência correspondia ao caráter: lúcida, penetrante, sem confundir fraqueza com caridade ou ilusão com esperança.
Infatigável na administração do papado, encontrou tempo para ditar perto de 900 cartas, das quais 848 chegaram a nós, além de comentários sobre os Evangelhos e Ezequiel, Pastoral, Direito Canônico e Tratados de Liturgia. O canto gregoriano, tesouro da Igreja, tem sua marca, ao desenvolver a salmódia sagrada e organizar a Schola Cantorum. Enfrentou cismáticos e bárbaros e apaziguou-os. Refreou a ascensão bizantina em Roma e restituiu a dignidade ao Papado.
Enquanto a Itália ruía e o poder civil se anarquizava, exigiu para a Sé apostólica o direito de intervir em toda a cristandade, “como garantia da liberdade espiritual”. Intuiu que a evangelização não poderia mais ser feita à margem do papado, por iniciativa de alguns monges e bispos, como acontecia na época. A conversão dos bárbaros deveria ser obra da Igreja toda. Essa percepção convergiu na chamada cultura cristã do Ocidente.
A conversão dos arredios lombardos inundou a Itália de basílicas e conventos. E a Santa Sé colocou sob a mesma fé povos da Gália e da Ibéria, tribos da Germânia, godos e bizantinos instalados às margens do Mediterrâneo. Mas a grande obra missionária de São Gregório foi a conversão da Inglaterra. Agostinho, acompanhado por outros monges, desembarcou em “Angland”, o temido país dos anglos (Angli? Angeli! afirmava o Papa) em 596, e foi recebido pelo rei Ethelberto.
Instalou-se perto da residência real e obteve permissão para anunciar sua religião. No dia de Pentecostes de 597, o rei e muitos oficiais receberam o batismo. Em novembro, Agostinho foi sagrado arcebispo da Igreja inglesa, pelas mãos do legado pontifício. No Natal, batizou dez mil ingleses de uma só vez. Entusiasmado, Ethelberto deu-lhe seu próprio castelo, em Cantuária e assim se fundava a mais antiga Sé da Inglaterra.
Gregório acompanhou Agostinho com sábias instruções sobre o método missionário, que anteciparam a moderna inculturação: “Não destruir os templos pagãos, mas batizá-los com água benta, construir altares e colocar relíquias. Onde há o costume de oferecer sacrifícios aos ídolos, permitir que se celebre, na mesma data, festas cristãs sob outra forma”. A fé inabalável colocou-o entre os maiores papas missionários a iluminar a trajetória da Igreja.
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