União Europeia discute luta antiterrorista
Ministros de 28 países se reúnem para discutir ações para combater jihadistas no território europeu.
A luta antiterrorista vai dominar nesta segunda-feira (19) a reunião de
ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) em Bruxelas,
na Bélgica, poucos dias após uma grande operação policial para prevenir
atentados na capital.
A questão já estava na agenda do encontro de chefes da diplomacia, antes da operação antiterrorista de quinta-feira (15) à noite na Bélgica – que resultou na morte de dois jihadistas e na detenção de 13 pessoas suspeitas de terrosrismo. Ela foi inscrita, no entanto, na ordem de trabalho, após os atentados da semana passada em Paris.
Ministros de 28 países vão discutir com a alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, e com o coordenador antiterrorista da UE, Gilles de Kerchove, de que modo pode ser reforçada a luta contra o terrorismo jihadista, na sequência do ataque ao semanário francês Charles Hebdo.
Não são aguardadas decisões no encontro desta segunda-feira, sendo o principal objetivo uma primeira troca de opiniões, também com vistas à cúpula informal de chefes de Estado e de Governo da UE que ocorrerá no próximo mês e que será dedicada à luta contra o terrorismo.
A questão já estava na agenda do encontro de chefes da diplomacia, antes da operação antiterrorista de quinta-feira (15) à noite na Bélgica – que resultou na morte de dois jihadistas e na detenção de 13 pessoas suspeitas de terrosrismo. Ela foi inscrita, no entanto, na ordem de trabalho, após os atentados da semana passada em Paris.
Ministros de 28 países vão discutir com a alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, e com o coordenador antiterrorista da UE, Gilles de Kerchove, de que modo pode ser reforçada a luta contra o terrorismo jihadista, na sequência do ataque ao semanário francês Charles Hebdo.
Não são aguardadas decisões no encontro desta segunda-feira, sendo o principal objetivo uma primeira troca de opiniões, também com vistas à cúpula informal de chefes de Estado e de Governo da UE que ocorrerá no próximo mês e que será dedicada à luta contra o terrorismo.
Agência Brasil
´Selfie´ gera polêmica no Miss Universo
A foto entre a Miss Líbano e a Miss Israel caiu nas redes sociais imediatamente.
Beirute (AFP) - O concurso de Miss Universo ganhou tintas quase
diplomáticas após o episódio deste domingo. A Miss Israel se intrometeu
na 'selfie' da Miss Líbano, despertando a indignação da última.
"Desde que cheguei (a Miami, onde acontece a competição), tenho sido extremadamente cuidadosa para não aparecer em fotos nem me comunicar com a Miss Israel", contou Saly Greige, Miss Líbano, em sua página do Facebook.
Os dois países estão tecnicamente em guerra, desde o conflito de 2006 entre o movimento libanês Hezbollah e Israel, embora os combates tenham acontecido há décadas.
A Miss Líbano explicou que, no momento em que posava com a Miss Japão e com a Miss Eslovênia, Doron Matalon se aproximou e tirou uma fotografia com a sua câmara, postando-a imediatamente na rede social Instagram.
A 'selfie' foi compartilhada milhares de vezes nas redes sociais, dividindo os internautas libaneses a favor e contra a jovem.
A candidata israelense respondeu neste domingo no Facebook: "Não me surpreende, mas me entristece. Que pena que não se possa deixar as hostilidades de lado", escreveu.
"Desde que cheguei (a Miami, onde acontece a competição), tenho sido extremadamente cuidadosa para não aparecer em fotos nem me comunicar com a Miss Israel", contou Saly Greige, Miss Líbano, em sua página do Facebook.
Os dois países estão tecnicamente em guerra, desde o conflito de 2006 entre o movimento libanês Hezbollah e Israel, embora os combates tenham acontecido há décadas.
A Miss Líbano explicou que, no momento em que posava com a Miss Japão e com a Miss Eslovênia, Doron Matalon se aproximou e tirou uma fotografia com a sua câmara, postando-a imediatamente na rede social Instagram.
A 'selfie' foi compartilhada milhares de vezes nas redes sociais, dividindo os internautas libaneses a favor e contra a jovem.
A candidata israelense respondeu neste domingo no Facebook: "Não me surpreende, mas me entristece. Que pena que não se possa deixar as hostilidades de lado", escreveu.
AFP
Mais de 50% das crianças diz apanhar dos pais
Fantástico mostra, em primeira mão, os resultados de um estudo abrangente sobre os efeitos da violência na vida das crianças brasileiras.
O Fantástico mostra, em primeira mão, os resultados de um estudo
abrangente sobre os efeitos da violência na vida das crianças
brasileiras. O terror do tráfico e o abuso da polícia na rua; o castigo e
a palmada dentro de casa sob o ponto de vista de quem tem entre 6 e 8
anos de idade.
Como meninas e meninos tão pequenos reagem a esse cotidiano violento?
Como meninas e meninos tão pequenos reagem a esse cotidiano violento?
O que é ter 8 anos e se arriscar só porque está brincando na calçada?
Menina: Vi muitas mortes e muito tiroteio. Aí minha avó não deixa eu ficar na rua por causa desses tiroteios.
Fantástico: Você já ouviu tiros?
Menina: Já.
Fantástico: Você já ouviu tiros?
Menina: Já.
O que é ter 7 anos e entrar em pânico ao visitar o pai?
Menina: Lá em cima, perto da casa do meu pai, tem vários bandidos.
Fantástico: É? Você tem medo?
Fantástico: É? Você tem medo?
O que é ter 6 anos e viver aterrorizada por quem nos deveria proteger?
Fantástico: E você tem medo da polícia?
Menina: Claro que tenho, né?
Fantástico: E tem medo por quê? Por que você tem medo da polícia?
Menina: Ela não dá tiro não, gente?
Fantástico: Dá tiro?
Menina: Claro que dá!
Menina: Claro que tenho, né?
Fantástico: E tem medo por quê? Por que você tem medo da polícia?
Menina: Ela não dá tiro não, gente?
Fantástico: Dá tiro?
Menina: Claro que dá!
Pesquisa comprova que a violência urbana repercute dentro de casa
É a primeira vez que uma universidade brasileira faz um estudo sobre violência ouvindo crianças tão pequenas e com tanta profundidade. Financiada por uma fundação holandesa, uma equipe de cientistas da PUC do Rio Grande do Sul ouviu, durante dois anos, 540 crianças, a maioria entre 6 e 8 anos de idade, e também seus pais, irmãos e outros parentes.
É a primeira vez que uma universidade brasileira faz um estudo sobre violência ouvindo crianças tão pequenas e com tanta profundidade. Financiada por uma fundação holandesa, uma equipe de cientistas da PUC do Rio Grande do Sul ouviu, durante dois anos, 540 crianças, a maioria entre 6 e 8 anos de idade, e também seus pais, irmãos e outros parentes.
Ao todo, 2.889 pessoas de 15 favelas e cortiços em três capitais -
Recife, Rio de Janeiro e São Paulo - foram entrevistadas. “São dados
extremamente desconfortáveis, mas são reais”, afirma Hermílio Santos,
cientista social da PUC/RS.
A pesquisa que o Fantástico mostra, em primeira mão, comprova que a violência urbana repercute dentro de casa.
Mãe: Onde
a gente se bate é um com um revólver na mão, outro vendendo uma droga,
uma coisa e outra. Para quem é só fica difícil de criar seu filho, né?
Vendo essas coisas, né?
Fantástico: Você não se sente segura onde você mora?
Mãe: Eu não. Nem um pingo.
Fantástico: Você não se sente segura onde você mora?
Mãe: Eu não. Nem um pingo.
A maioria absoluta das mães que veem alguém apontando arma de fogo
sempre ou quase sempre admite punir severamente seus filhos pequenos
sempre ou quase sempre. “Nós estamos falando do grito, do castigo, do
bater e dar uns tapas”, explica Hermílio.
O castigo vem em primeiro lugar como método de correção. Mas não só
aquele de sentar a criança em uma cadeira ou proibi-la de ver televisão.
Uma menina de 6 anos está acostumada à punição física.
Menina: Ela bota aquele caroço de milho e feijão e, por cima, ainda arroz. E me bota.
Fantástico: Você fica como? De joelhos?
Menina: É. Isso dói paca.
Fantástico: Dói? Tem marca no joelhinho? Essa marca é do milho?
Menina: É. Essa marca aqui é do milho?
Fantástico: E fica muito tempo?
Menina: Até de noite. Eu durmo com caroço de milho ainda.
Fantástico: Você fica como? De joelhos?
Menina: É. Isso dói paca.
Fantástico: Dói? Tem marca no joelhinho? Essa marca é do milho?
Menina: É. Essa marca aqui é do milho?
Fantástico: E fica muito tempo?
Menina: Até de noite. Eu durmo com caroço de milho ainda.
Ao contrário do que se pensava, mãe é quem mais bate
Bater no filho é o segundo método mais usado pelos pais. “Quando eu vejo que ela está querendo responder, aí não adianta mais colocar de castigo. Aí eu dou as tapas, depois de duas tapas vai para o castigo”, conta uma mãe.
Bater no filho é o segundo método mais usado pelos pais. “Quando eu vejo que ela está querendo responder, aí não adianta mais colocar de castigo. Aí eu dou as tapas, depois de duas tapas vai para o castigo”, conta uma mãe.
No Rio de Janeiro, 71% das crianças de até 8 anos disseram já ter levado
ao menos uma surra. No Recife, 75% delas. E em São Paulo, 57% disseram
já ter apanhado.
Fantástico: Aquilo é um galho qualquer, né?
Menina: Não é um galho não.
Fantástico: O que é aquilo lá?
Menina: É vara. Meu pai que me bate com aquela vara ali. Aquela vara ali, atrás do muro. Aquela que é de marmelo.
Fantástico: Marmelo dói, né?
Menina: Marmelo? Pior que dói!
Menina: Não é um galho não.
Fantástico: O que é aquilo lá?
Menina: É vara. Meu pai que me bate com aquela vara ali. Aquela vara ali, atrás do muro. Aquela que é de marmelo.
Fantástico: Marmelo dói, né?
Menina: Marmelo? Pior que dói!
E começa quando eles ainda são bem pequenos. No Rio de Janeiro, 76% dos
pais ou responsáveis admitiram bater em crianças de até 2 anos de idade.
Em São Paulo, 83% disseram ter batido antes que seus filhos
completassem 3 anos. E no Recife, 94% bateram em crianças antes dos 5
anos.
“Já com 1 ano de idade é muito frequente que as crianças sofram. Agora, o
pico de violência sofrida pela criança entre 0 e 8 anos se dá entre 2 e
4 anos em todas as comunidades pesquisadas”, relata Hermílio.
Ao contrário do que se pensava, não é nem o pai nem o padrasto quem mais
bate. A mãe aparece em primeiro lugar. Depois, a avó. “Não é que o
homem seja pacífico e a mulher, violenta. Há uma hierarquia da prática
da violência. Isso significa que o homem pratica mais violência contra a
sua companheira, e esta por sua vez repassa a violência contra a
criança”, explica o cientista social.
Outro mito desfeito: não é por ficar mais tempo com o filho que a mãe
bate nele. “Só comparar, mãe que fica mais com mãe que fica menos, a que
fica menos bate mais”.
Um dado curioso: em casas onde não há banheiro, ou têm um banheiro só, a
criança apanha mais. “Por que isso? Porque o banheiro nessas
comunidades é o único espaço da intimidade”, diz Hermílio.
Viver onde serviços são escassos interfere na qualidade de vida das crianças
A pesquisa constatou que viver em casas precárias e em comunidades onde os serviços são escassos em razão do abandono e da omissão histórica do Estado interfere na qualidade de vida das crianças. O que surpreendeu foi a percepção delas diante dessa realidade dura.
A pesquisa constatou que viver em casas precárias e em comunidades onde os serviços são escassos em razão do abandono e da omissão histórica do Estado interfere na qualidade de vida das crianças. O que surpreendeu foi a percepção delas diante dessa realidade dura.
Quando os pesquisadores pediram às crianças que desenhassem o lugar em
que vivem, as crianças desenharam casas coloridas, ruas limpas, espaço
para brincar, família feliz, paz. O bairro ideal nascido na ponta do
lápis desconcertou as próprias mães.
“O sonho deles. É o sonho das crianças que fosse daquele jeito que elas estão desenhando. Mas não é”, observa uma mãe.
“Você tem quase que uma glamorização e uma fantasia do ambiente, muito
florido. Talvez seja o ambiente que elas gostariam que fosse”, diz
Hermílio.
Mas essa percepção não lhes tira o senso de realidade e nem o desejo de morar em outro lugar.
Menina: Longe, longe, né? Tem que pegar um monte de ônibus, então vou de táxi.
Fantástico: Mas por que morar tão longe?
Menina: Porque eu quero. Porque lá não tem polícia.
Fantástico: Mas por que morar tão longe?
Menina: Porque eu quero. Porque lá não tem polícia.
Quando os pesquisadores perguntaram às crianças qual a principal forma
de violência na rua, a maioria, nas três cidades pesquisadas, deu a
mesma resposta: alguém sendo levado pela polícia.
Fantástico: Como é que a polícia fez?
Menina: Levou ele. Prendeu. Pronto. Só voltaram outro dia.
Fantástico: Mas bateu nele, não?
Menina: Bateu. Bateu na frente da minha tia ainda.
Fantástico: O policial? Bateu?
Menina: Veio guarda, veio polícia, veio bandido.
Menina: Levou ele. Prendeu. Pronto. Só voltaram outro dia.
Fantástico: Mas bateu nele, não?
Menina: Bateu. Bateu na frente da minha tia ainda.
Fantástico: O policial? Bateu?
Menina: Veio guarda, veio polícia, veio bandido.
Método considerado mais eficiente para se proteger é cumprir a lei do silêncio
Para os pesquisadores, há uma consequência perversa em ações arbitrárias do Estado: a criança se confunde, e já não vê mais diferença entre atitude de policiais e bandidos.
Para os pesquisadores, há uma consequência perversa em ações arbitrárias do Estado: a criança se confunde, e já não vê mais diferença entre atitude de policiais e bandidos.
“Esses papéis, eles não são muito nítidos: um é o portador da bondade e o
outro, da maldade. Porque ambos, para elas, são capazes das duas
coisas. Ambos podem proteger, mas ambos também podem punir de forma
arbitrária”, avalia o pesquisador.
Outro dado alarmante: o método considerado mais eficiente para se
proteger é cumprir à risca a lei do silêncio imposta pelo tráfico. “Como
diz aquele ditado: fica surdo, mudo e cego”, diz uma das mães.
Menina: Porque criança não pode se meter não.
Fantástico: Criança não pode se meter, né? Por isso que você fica quietinha.
Menina: Sim.
Fantástico: Entendi.
Fantástico: Criança não pode se meter, né? Por isso que você fica quietinha.
Menina: Sim.
Fantástico: Entendi.
Mas quem protege esta menina de 8 anos do trauma que sofreu ao ver um homem cair baleado diante dela?
Menina: Porque a cena que eu vi aí na frente eu não consigo nem lembrar.
Fantástico: É? Muito triste?
Menina: É.
Fantástico: A pessoa morreu?
Menina: Sim.
Fantástico: E você fica com isso na cabeça?
Menina: Fico.
Fantástico: É? Muito triste?
Menina: É.
Fantástico: A pessoa morreu?
Menina: Sim.
Fantástico: E você fica com isso na cabeça?
Menina: Fico.
Reduzir os assassinatos seria suficiente? Basta comparar Rio e Recife.
De acordo com o Mapa da Violência divulgado no ano passado, com números
de 2012, o Recife tem uma taxa de 52 homicídios por grupo de 100 mil
habitantes. O Rio de Janeiro tem uma taxa bem menor: 21,5 homicídios por
100 mil habitantes. Mas o percentual de mães que batem nos filhos nas
duas capitais é quase o mesmo: 73% em Recife, e 71% no Rio.
“Reduzir criminalidade é muito positivo, extremamente positivo, mas não é
suficiente para garantir um cotidiano pacífico para as nossas
crianças”, alerta Hermílio.
O vazio de oportunidades de trabalho para mãe e a falta de creche para a
criança expõe uma menina de 5 anos a passar parte do dia na rua, diante
de uma atividade ilegal.
Mãe: Eu trabalho na banca de bicho. Eu levo ela de manhã para a escola. Ela larga de 11 horas, e eu venho para cá.
Fantástico: O que você fala para a sua filha sobre trabalhar na banca de bicho?
Mãe: Isso eu não cheguei a falar com ela não. Eu só digo a ela que vou trabalhar. Ela sabe que é um trabalho, mas não sabe o que é.
Fantástico: O que você fala para a sua filha sobre trabalhar na banca de bicho?
Mãe: Isso eu não cheguei a falar com ela não. Eu só digo a ela que vou trabalhar. Ela sabe que é um trabalho, mas não sabe o que é.
Quase 100% das mães ouvidas dizem que bater nos filhos não resolve nada
Ela diz que, de vez em quando, bate na menina, embora não acredite que dê muito certo.
Ela diz que, de vez em quando, bate na menina, embora não acredite que dê muito certo.
Fantástico: Você disse que não funciona dar o tapa, né?
Mãe: Isso.
Fantástico: Mas você mesmo assim já deu?
Mãe: Já.
Fantástico: Por que você deu sabendo que não funciona?
Mãe: Porque... Rapaz, agora você me pegou!
Mãe: Isso.
Fantástico: Mas você mesmo assim já deu?
Mãe: Já.
Fantástico: Por que você deu sabendo que não funciona?
Mãe: Porque... Rapaz, agora você me pegou!
Essa contradição é o resultado mais avassalador do estudo: 99% das mães
ouvidas dizem que bater nos filhos não resolve nada. "Esse eu diria que é
o dado mais positivo da nossa pesquisa e pode orientar muito
concretamente ações. Se você quer fazer uma ação para reduzir violência,
você vai perder tempo tentando convencê-las de que não pode bater. Por
que isso elas já sabem, assim, que não leva a nada. Você tem que ensinar
como fazer.”, afirma o cientista social.
Ensinar, no sentido mais nobre da palavra, talvez seja a chave. A
pesquisa comprova que nas famílias em que um ciclo escolar se completa,
seja o Ensino Fundamental ou Médio, os pais batem menos nos filhos.
“Quando você se educa, vai à escola, você aumenta as suas expectativas
de mudar de vida, de melhorar de vida”, diz Hermílio,
Sem limites para as asas que a educação dá. "O que eu quero ser quando eu crescer? Quero ser médica!", diz menina.
Aí quem sabe a violência e a morte deixem de ser rotina banal e luto precoce.
Menina: Eu chorei.
Fantástico: Mas é triste mesmo.
Menina: Morte é triste!
Fantástico: Morte é triste, é verdade.
Menina: Eu chorei.
Fantástico: Mas é triste mesmo.
Menina: Morte é triste!
Fantástico: Morte é triste, é verdade.
Brasileiro executado na Indonésia acreditava que pena seria suspensa
Produtor trabalhava em documentário sobre a volta por cima de Archer.
Mãe de outro brasileiro condenado à morte faz apelo: ‘pagou o suficiente’.
O Fantástico entra no ar com a história de Marco Archer Moreira, um
traficante brasileiro, condenado à morte, diante das leis e costumes da
Indonésia.
A imprensa australiana divulgou uma cena, que é de um procedimento
burocrático. Ela mostra um preso sendo chamado e informado sobre o
processo dele. O que a cena fria não revela, mas qualquer um pode
imaginar, é a angústia de um homem que teme ouvir: "Chegou a hora de
morrer".
O trajeto até a ilha onde aconteceram as execuções deste sábado (17) é
por uma estrada bastante estreita, cercada por campos de arroz. No
transporte escolar, os alunos se amontoam no teto do ônibus.
O caminho de Marco Archer até à Indonésia começou em 2003. Os alertas
estão em qualquer voo para a Indonésia. Nos cartões de imigração
preenchidos por quem chega, letras grandes e vermelhas avisam: "Pena de
morte para traficantes de drogas".
Em agosto de 2003, ele chegou de avião à capital Jacarta e desembarcou
com 13,4 quilos de cocaína escondidos na armação de uma asa delta. Foi
descoberto, preso e, em 2004, condenado à morte.
“Ele vivia aprontando. Foi expulso de várias celas.”, conta o músico Rogério Paez.
Por causa de um cigarro de haxixe, o músico Rogério Paez conviveu durante seis anos com Marco Archer em uma prisão Indonésia.
“Eu era um peixinho desse tamanho, o Marcos era um peixinho desse
tamanho. Era só mega traficante chinês, nigeriano. Você olhava para o
lado e eles te roubavam”, conta Rogério.
Rogério foi solto em 2011. “Quando eu tive que soltar ele dos meus
braços para ir embora, a expressão dos olhos dele de ‘Rogerinho está
indo embora’ foi uma cena que jamais vou esquecer”, lembra.
Durante dez anos, Marco acreditou que a pena seria suspensa.
O produtor e diretor de cinema Marcos Prado trabalha em um documentário
que seria sobre a volta por cima de Marco Archer depois da prisão por
tráfico. “Eu acreditava - tanto eu, quanto ele, quantos os amigos - que
ele seria solto. Então eu conseguiria fazer um documentário que contasse
um pouco da vida dele, essa experiência no presídio, essa experiência
dramática de estar condenado a morte e conseguir sair”, afirma.
Mas em outubro de 2014, a mudança de governo na Indonésia selou o
destino do brasileiro. O novo presidente, Joko Widodo, tinha prometido
na campanha eleitoral aumentar a repressão ao tráfico.
A execução de Marco e de outros cinco traficantes foi marcada para o fim de semana.
A ilha de Nusakambangan é um paraíso ecológico que abriga quatro presídios, distante 400 quilômetros da capital.
Imagens de arquivo, antigas, da televisão da Indonésia mostram o local
onde os condenados passam as últimas horas e. Em dias de execução, a
movimentação em Nusakambangan não é de turistas, como costuma ser em
fins de semana comuns.
Neste sábado, a todo momento saiam do porto parentes que estavam na ilha
visitando os homens que serão executados. Em uma roda de jornalistas
estava uma mulher, a esposa de um dos homens. Ela estava lendo a última
carta do marido nigeriano, em que ele se queixa de que ninguém o ouvia. A
mulher chorava durante a leitura.
Quando a equipe do Fantástico perguntou ao advogado do nigeriano se ele
viu Marco Archer na prisão da ilha, ele diz que sim, que Marco ‘às vezes
parecia nervoso, em outras ficava em choque, deitado’.
Perto da hora marcada, as balsas que partem para a ilha levam médicos e
policiais. Faltava pouco. Quase sempre, as execuções acontecem à noite.
O condenado é acordado e levado para o local secreto onde será morto.
Ele pode escolher se vai ficar em pé, sentado ou deitado. E também se
quer ser vendado, encapuzado ou ficar de olhos abertos.
O chefe da brigada da polícia comanda um esquadrão com 12 soldados
armados com rifles. Esses soldados, normalmente, são homens solteiros e
sem filhos. Eles se posicionam a uma distância de cinco a dez metros do
preso.
Os 12 atiram, ao mesmo tempo, no peito do condenado, mas apenas duas
armas estão carregadas com balas de verdade. As outras armas estão com
balas de festim, balas falsas, assim os soldados não sabem quem matou o
condenado.
Se depois de levar dois tiros no peito, o condenado mesmo assim
sobreviver, o chefe da brigada dá o tiro de misericórdia na cabeça.
“A minha vida não pode acabar dessa maneira. Uma maneira dramática,
sendo fuzilado aqui na Indonésia”, disse Marcos em um telefonema.
Marco Archer Moreira morreu na Indonésia às 00h30, 15h30 de sábado, no
horário de Brasília. De madrugada, o corpo dele chegou ao crematório.
As cinzas serão levadas pela tia dele para o Brasil. Muito abalada, ela não quis gravar entrevista.
Uma pessoa da família ou um representante precisa acompanhar a execução
para reconhecer o corpo. Quem fez esse trabalho foi a vice-cônsul do
Brasil em Jacarta, Ana Carmen Caldas. A pedido da tia de Archer, ela não
quis comentar se houve um último desejo feito pelo brasileiro. Disse
apenas que não ouviu choro ou desespero de nenhum condenado. E que no
momento da execução havia um grande silêncio, quebrado depois pelo som
dos tiros.
O plano do governo Widodo é executar cinco traficantes por mês. O governo indonésio pediu respeito às leis do país.
“O que nós estamos vendo é um crescente repúdio da comunidade
internacional à adoção da pena de morte. Se deve sempre levar em
consideração que a soberania não é um conceito absoluto, ela dialoga com
os tratados internacionais, com os princípios acordados por diferentes
pactos em relação aos direitos humanos”, afirma o diretor executivo da
Anistia Internacional Átila Roque.
O mesmo governo que executa traficantes pede clemência para uma mulher
indonésia condenada à morte por homicídio na Arábia Saudita. “É claro
que isso é uma gritante contradição. Uma outra questão, no caso da
Indonésia em particular, que vale a pena chamar a atenção, é que crimes
muito mais graves na Indonésia, como atentados que mataram dezenas de
pessoas, as pessoas responsáveis por esses atos foram condenadas a 20
anos, 20 e poucos anos de prisão, e não à morte”, ressalta Átila Roque.
O embaixador brasileiro na Indonésia, Paulo Alberto da Silveira Soares,
foi chamado pelo Itamaraty, um sinal de insatisfação no meio
diplomático. “Os parentes e membros da embaixada que estavam lá, dos
outros países também, foi um tratamento incorreto, deselegante,
impaciente, lá na prisão ontem”, afirma.
O governo da Holanda também convocou o seu embaixador.
“Esgotamos todo os mecanismos possíveis de assistência consular. Então, o
desrespeito ao governo brasileiro na situação hoje parece grave”,
ressalta Paulo Alberto da Silveira Soares.
No meio da crise entre os dois países, outro traficante brasileiro
também está no corredor da morte. O paranaense Rodrigo Gularte, hoje com
43 anos, foi preso em julho de 2004 no aeroporto de Jacarta. Ele estava
a caminho de Bali. Em uma entrevista gravada há cinco anos, e ainda
inédita, a mãe de Rodrigo recorda como foi a despedida antes daquela
viagem.
“Parece que ele estava prevendo alguma coisa. Na hora que eu fui levá-lo
no aeroporto ainda, a última imagem que eu tenho dele, ele me abraçou
muito e disse: ‘Mãe, eu te amo’. E na hora que ele foi assim, ele ainda
me abanou e disse: ‘Mãe, não esqueça que eu te amo muito’”, contou
Clarisse Gularte, mãe do paranaense.
Rodrigo levava seis quilos de cocaína escondidos em oito pranchas de
surfe. Assumiu o crime e foi condenado à morte. Segundo a embaixada
brasileira, a informação das autoridades da Indonésia é de que a
execução pode acontecer nos próximos dois meses.
“Ele não tirou a vida de ninguém, e a gente torce para que ninguém tire a
vida dele”, diz o amigo de Rodrigo Bernardo Guiss Filho.
A morte de Marco Archer aumentou a preocupação da família de Rodrigo,
mas não tirou a esperança. Uma prima dele foi a Jacarta neste sábado na
tentativa de visitá-lo na prisão e de pedir, mais uma vez, para que ele
não seja executado. O segundo e último pedido de clemência para Rodrigo
Gularte ainda não foi respondido pelo presidente da Indonésia.
Desde que Rodrigo foi preso, há mais de dez anos, a mãe dele, a
Clarisse, já esteve oito vezes na Indonésia para visitar o filho na
prisão e também na esperança de que ele ganhasse a autorização para
retornar ao Brasil e poder cumprir a pena aqui.
Fantástico: A senhora esteve a última vez na Indonésia quando, dona Clarisse?
Clarisse Gularte: Em agosto.
Fantástico: E nessa última vez, vocês perceberam que ele estava diferente?
Clarisse Gularte: Não, essa última vez já foi um susto, porque a gente já tinha sabido, aqui no Brasil, que ele não estava bem de saúde. Mas sempre há aquela esperança, não, isso não é nada. Mas quando nós chegamos lá já disseram que ele estava na enfermaria.
Clarisse Gularte: Em agosto.
Fantástico: E nessa última vez, vocês perceberam que ele estava diferente?
Clarisse Gularte: Não, essa última vez já foi um susto, porque a gente já tinha sabido, aqui no Brasil, que ele não estava bem de saúde. Mas sempre há aquela esperança, não, isso não é nada. Mas quando nós chegamos lá já disseram que ele estava na enfermaria.
Segundo a mãe, Rodrigo recebeu na prisão um diagnóstico de
esquizofrenia, doença mental que provoca alucinações. De acordo com a
embaixada brasileira, nesta segunda-feira (19) Rodrigo será examinado
mais uma vez por um psicólogo na prisão.
“O objetivo é de transferi-lo da prisão para um hospital psiquiátrico,
para que ele receba o tratamento adequado e para que ele possa, porque
senão fica cada vez mais difícil. Eu reconheço que o Rodrigo errou,
reconheço, mas acho que também a pena de morte... Não é um crime tão
grave assim que ele fez. E ele está há mais de dez anos, eu acho que ele
já pagou o suficiente. Então vamos nos apegar a isso, à esperança”, diz
Clarisse Gularte
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