E
TRIDUO
A
Nossa Senhora do Perpetuo Socorro
PELO
Padre
Saint-Omer
Redentorista
BAHIA
Tip. de São Francisco
1920
Nihil obstat.
Fr. Mauricio Mellage,
O.F.M.
Cens. Dioc.
Imprima-se.
Bahia, 24 de Agosto
de 1920.
Mons. Castro,
Vig. Ger.
PREFACIO
O principal fim destas paginas e’ concorrer para o culto de
Maria e que ela seja invocada com uma confiança ilimitada. Jesus Cristo, o
terno amigo das almas, ensinou-nos o divino segredo para alcançarmos toda
espécie de graças. Eis aqui o segredo: Pedi e recebereis (Mt 7,7); Tudo o que
pedirdes na oração crede que vos será concedido (Mc 11,24); Tudo o que pedirdes
a meu Pai em meu nome, Ele vo-lo concedera (Jo 16,23).
Mas, a fim de que a vossa oração seja agradável a Deus e
mereça ser atendida, e’ preciso que a apresentemos por intermédio de Maria,
cuja intercessão nos e’ necessária. E’ este o motivo porque S. Bernardo dizia:
“Procuremos a graça e procuremo-la por intercessão de Maria, porque Deus
confiou-lhe a plenitude de todos os seus bens e o dispensário de todos os seus
favores”, de forma que nenhuma graça vem do céu a terra sem passar pelas mãos
de Maria.
Santo Afonso de Ligorio diz que, quando pedirmos graças
temporais, o devemos sempre fazer de um modo submisso e resignado, com a
condição de serem úteis as nossas almas.
Mostrando-nos a experiência cada dia mais que a devoção a
Nossa Senhora do Perpetuo Socorro e’ uma
fonte abundante de insignes favores, sugeriu-nos a idéia de indicar o que pode
contribuir para fazer-se eficazmente uma novena a nossa querida Mãe.
Este opúsculo contem, pois:
1-
A noticia da imagem milagrosa de Nossa Senhora
do Perpetuo Socorro, inspirando a mais segura confiança em Maria.
2-
Nove meditações tiradas das obras de Santo
Afonso, que nos apresentam Maria valendo-nos em todas as nossas necessidades.
3-
Alguns casos escolhidos entre milhares, para
mostrar que Nossa Senhora do Perpetuo Socorro nunca e’ invocada em vão.
4-
Orações próprias e cheias de confiança para
tocarem o Coração de Maria
NOVENA
A
NOSSA
SENHORA DO PERPETUO SOCORRO
PRIMEIRO
DIA
Maria e’
verdadeiramente nosso perpetuo socorro
Entre os títulos que
costumamos dar a Virgem, uns exprimem a sua grandeza como Mãe de Deus, Rainha
do Céu; outros lembram as suas dores, como Rainha dos Mártires, Nossa Senhora
da Piedade; outros fazem-nos conhecer o seu poder, como Nossa Senhora da
Vitoria; enfim, outros proclamam a sua bondade, como Nossa Senhora das Graças,
Nossa Senhora da Consolação. Mas, parece que nenhum e’ mais próprio para nos
inspirar uma confiança sem limites (condição necessária para se ser despachado),
do que o nome tão doce que damos a Maria: Mãe do Perpetuo Socorro. Sejam quais
forem as dificuldades dos tempos, dos lugares, das circunstancias, este nome
lembra-nos sempre que Maria nos pode socorrer. Assim, quando sobrevierem
situações difíceis, aflições, doenças, perigos, quando tudo parecer
desesperador, lembremo-nos que ainda podemos esperar em Nossa Senhora do
Perpetuo Socorro.
Maria e’
verdadeiramente nosso perpetuo socorro, porque e’ Mãe de Jesus Cristo que, como
Deus, infinitamente poderoso e soberanamente bom, nada pode recusar a sua Mãe. Ele
lhe diz sempre: “Minha Mãe, pedi tudo quanto quiserdes; vossos rogos são ordens
para mim; se me invocardes, nunca tereis que sofrer uma recusa. Sou vosso
Filho, vos sois minha Mãe: e’ o bastante para que tenhais, de algum modo, o
direito de me mandar, e para que eu me julgue na obrigação de obedecer-vos.” E’
pois com razão que São Bernardo chama Maria a Onipotência suplicante.
Maria e’ o nosso
perpetuo socorro, porque e’ a Rainha do Universo. Tudo lhe esta sujeito: os
anjos, os santos, os homens, os demônios, os elementos, o céu, a terra e o
inferno. “Tantas são as criaturas que servem a Deus, diz S. Bernardino, quantas
são as que servem a Maria”. Nada lhe resiste ao poder e, por conseguinte, ela
pode operar todos os milagres que quiser para nos socorrer.
Maria e’ nosso
perpetuo socorro, porque e’ o reservatório de todas as graças. Deus depositou-as
todas entre as suas mãos para as distribuir a quem ele quer, como quer e quando
quer. O seu coração maternal e’ o tesouro de Deus. Ela e’ a nossa vida, nossa
doçura, nossa esperança. Nela se acham todas as graças de verdade e salvação,
de virtude e perseverança.
Maria e’ nosso
perpetuo socorro, porque tem um coração bom. S. Bernardo, falando da sua
extrema bondade para conosco, diz que ela e’ verdadeiramente a terra da promissão de Deus, donde correm o
leite e o mel.
São estes os termos,
em que S. Pedro Damião pedia a Virgem que tivesse compaixão de nos. “O’ querida
advogada nossa, já que tendes um coração tão terno que não podeis ver os
infelizes sem vos compadecerdes, e que ao mesmo tempo tendes tanta influencia
junto a Deus que podeis salvar a todos aqueles que defendeis, não nos
desprezeis, seja qual for a nossa miséria; depositamos em vos todas as nossas
esperanças. Se os nossos rogos vos não tocam, segui ao menos o impulso do vosso
bom coração, mostrai-os o vosso poder, pois se o Senhor vos fez tão poderosa,
foi para que fosseis sempre pronta a fazer-nos bem e a mostrar-nos a vossa
misericórdia.”
Maria e’ o nosso
perpetuo socorro, porque tem para nos um coração verdadeiramente maternal.
Ela faz consistir a sua gloria em ser
Mãe do Amor. “Eu sou, disse ela,eu sou a Mãe do perfeito Amor.” (Ecli 24)
A sua bondade e’ tão grande que as suas entranhas maternas
não deixam de produzir frutos de bondade a nosso favor. O que poderia na
verdade, brotar de uma fonte de bondade O Espírito Santo diz que Maria e’
“semelhante a uma bela oliveira plantada nos campos”. (Ecli. 24)
Pois, do mesmo modo que o fruto da oliveira produz o azeite
que serve para nos alumiar, para nos sustentar e nos sarar, do Coração de Maria
saem todas as graças de forca e misericórdia de que necessitamos. Esta bela
oliveira acha-se no meio dos campos, e não no jardim rodeado de muros e
valados, para que nos possamos aproximar e alcançar os socorros que nos são
necessários.
Maria e’ o nosso perpetuo socorro, o Anjo assim o anunciou
ao universo quando a apelidou “cheia de graça”; ela mesma no-lo ensinou por
estas palavras cuja verdade dezenove séculos tem mostrado: “ Todas as gerações
me chamarão bem aventurada”. Todos os fieis assim o proclamam repetindo a bela
oração de S. Bernardo: “Lembrai-vos, o’ piedosissima Virgem Maria, que nunca se
ouviu dizer que algum daqueles que tem recorrido a vossa proteção e implorado o
vosso socorro, fosse por vos abandonado.” A santa Igreja assim o ensina,
dizendo na oração da missa na festa de “Nossa Senhora Auxiliadora” (24 de maio)
que Deus constituiu “na bem aventurada Virgem Maria um PERPETUO SOCORRO para a
defesa do povo cristão.” A Igreja aprovou mesmo um oficio especial em honra de
Nossa Senhora do Perpetuo Socorro com a oração seguinte:
“Deus todo poderoso e misericordioso que nos destes a imagem de
Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, para a venerarmos com um culto especial,
concedei-nos, misericordiosamente, a graça de sermos sempre amparados, no meio
das vissitudes da vida presente e na nossa passagem para a eternidade, com a
proteção de Maria sempre Imaculada e sempre Virgem, a fim de que possamos
receber a recompensa da redenção eterna; Vos que viveis e reinais por todos os
séculos dos séculos. AMEM.”
Enfim, temos a grande
voz dos milagres. Inumeráveis são as maravilhas efetuadas nestes últimos tempos
pela imagem milagrosa de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro.
Um negociante muito piedoso, que vivia na ilha de Creta, em meados do século XV, cujo nome não chegou ao nosso conhecimento, professava uma devoção especial à Santíssima Virgem, sendo o seu tesouro mais precioso uma imagem milagrosa de Maria, diante da qual ele costumava rezar.
Aconteceu que certo número de cretenses, temendo uma invasão dos turcos, inimigos encarniçados dos cristãos, resolveu abandonar a ilha.
Associou-se-lhes o piedoso negociante e, não desejando expor a imagem de Maria a sacrílegas profanações, levou-a consigo e embarcou para a Itália.
A Virgem não demorou em recompensar a solicitude do seu fiel servo, depois de ter-lhe experimentado a confiança. Mal tinha o navio levantado ferro, cobriu-se o céu de nuvens, o mar tornou-se furioso e, dentro em poucos minutos, desencadeou-se uma horrível tempestade sobre a embarcação, ameaçando submergi-la. Após uma luta desesperada e já sem forcas, a tripulação abandonou o navio à mercê das ondas, aguardando, numa angústia terrível, a onda que os precipitaria no fundo do abismo. O piedoso negociante descobriu então aos companheiros o quadro milagroso e exortou-os vivamente a recorrerem, com confiança, àquela que a Igreja invoca como a Estrela do mar; depois prostraram-se todos diante da imagem. O efeito não se deixou esperar; a tempestade dissipou-se, o céu tornou-se sereno e, alguns dias depois, o barco entrou, são e salvo, num porto da Itália.
Preservado assim do naufrágio, o protegido de Maria dirigiu-se a Roma com intenção de demorar-se pouco tempo ali, seguindo depois a viagem. No momento, porém, em que tencionava deixar a cidade, foi atacado por uma grave moléstia que o reteve, mal grado seu, em casa de um seu amigo. Compreendendo que a sua peregrinação neste mundo estava a terminar, chamou o amigo e deu-lhe a piedosa imagem, recomendando-lhe que a fizesse expor à veneração pública numa das igrejas de Roma. O amigo prometeu-lhe empregar todos os esforços para cumprir-lhe a última vontade e, confiado nesta promessa, o devoto de Nossa Senhora entregou, serenamente, a alma ao Criador.
Parece que uma promessa, feita em circunstancia tão solene e para fim tão santo, devia ser rápida e fielmente cumprida, mas a esposa de quem tinha prometido ao negociante executar a sua vontade, seduzida pela beleza da imagem, declarou que jamais consentiria em ceder o quadro. Por mais que o marido lhe fizesse ver a injustiça e mesmo a impiedade de semelhante prevenção, nada conseguiu; de forma que, depois de longos debates, as exigências desta imprudente mulher venceram a consciência do marido e o quadro não saiu da casa.
O castigo não se fez esperar. Por três vezes diferentes, Maria apareceu em sonhos ao violador do juramento, ameaçando-o dos maiores castigos, se recusasse obedecer. “Adverti-te três vezes”, lhe disse ela, aparecendo-lhe pela quarta vez, “e três vezes desobedeceste às minhas ordens. Para que o meu quadro possa sair da tua casa, é necessário que saias primeiro.” Terrível predição que se realizou dentro em pouco tempo! O infeliz adoeceu e morreu quase instantaneamente.
O trágico acontecimento, porém, não venceu a obstinação da mulher. Foi preciso, para persuadi-la, um aviso de outro gênero.
Um dia, a filhinha, um anjo de inocência, veio lançar-se-lhe aos braços, exclamando: Mamãe acabo de ver uma senhora muito linda, que me disse: “Vai ter imediatamente com tua mãe e dize-lhe que Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (pois já nesse tempo a santa imagem tinha este título) quer ser exposta à veneração dos fiéis numa igreja de Roma.” Impressionada pelas palavras da filha, a mãe estava a ponto de ceder, quando uma perversa amiga, sabendo do que se tratava, aconselhou-a que não desse crédito aos sonhos da criança. Ainda bem não tinha acabado de falar a má conselheira, quando caiu para traz, atacada de terríveis convulsões, pedindo em altos gritos que lhe trouxessem a santa imagem. Ó prodígio! Apenas tocou no quadro, achou-se livre do horrível mal. À vista dos dois prodígios, a viúva resolveu ceder e prometeu não continuar a contrariar os desejos da Rainha do Céu.
Mas, em qual das igrejas de Roma se poderia depositar o milagroso quadro? Maria, aparecendo outra vez à pequena, disse-lhe: “Quero ser colocada entre minha querida igreja de Santa Maria Maior e a do meu filho João de Latrão”.
Estas palavras, repetidas pela criança, foram fáceis de compreender. Entre as duas basílicas escolhidas pela Santa Virgem achava-se a igreja de S. Mateus. Era evidente que Maria tinha designado esse santuário para ser o asilo da sua milagrosa imagem. O precioso quadro foi entregue aos padres agostinianos que residiam em S. Mateus.
No dia 29 de marco do ano de 1499, uma festa solene reunia o povo e o clero de Roma na igreja de S. Mateus. Em aparatosa e piedosa procissão, a imagem da Senhora, antes de ser definitivamente colocada, percorria triunfalmente as ruas da cidade.
A Santa Virgem quis nesta ocasião revelar aos romanos a sua poderosa bondade: Uma mulher que, havia longos anos, se achava paralítica de um braço, viu-se instantaneamente curada por ter apenas tocado no milagroso quadro.
Recolhida a procissão, a santa imagem foi posta no altar mor, como sobre um trono de misericórdia, onde então começaram a operar-se grandiosos milagres, tanto que, em pouco tempo, o santuário tornou-se um
dos mais freqüentados de Roma.
As antigas crônicas de S. Mateus contam que, um dia, o sacristão da igreja, deixando-se seduzir pelos objetos que brilhavam em roda do altar, despojou a imagem desses tesouros e, fugindo para não ser visto, correu a esconder-se em casa. Mas , de repente, sem saber como, achou-se defronte da dita igreja. Uma segunda e terceira vez fez diligencia de fugir, mas uma forca invisível o tornou a trazer à porta da igreja, onde tinha cometido o crime. O infeliz percebeu então o mal que tinha feito e, voltando ao altar da Virgem, ali tornou a por as jóias que tinha roubado. O seu arrependimento foi tão sincero que ele mesmo contou o crime que cometera e a milagrosa proteção que lhe havia dado Nossa Senhora.
Mas, infelizmente, depois deste sacrilégio vieram outros ainda maiores, praticados durante a Revolução de 1879.
Entre os santuários que foram então destruídos, o da nossa imagem não podia ser esquecido. Um dia, os romanos souberam, com grande mágoa, que, sob o pretexto de qualquer necessidade estratégica, a igreja de S. Mateus estava condenada a desaparecer e que a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro seria derrubada com o templo que a abrigava.
Quando somente restavam do belo templo alguns fragmentos espalhados, os Religiosos agostinianos afastaram-se das lúgubres ruínas, levando consigo a santa Protetora de Roma. O Papa Pio VII mandou-os conduzir para a igreja de Santa Maria in Posterula. A imagem acompanhou-os, mas também ai sofreu a influencia dos maus dias: o seu culto foi olvidado.
Em 1840, vivia em Roma, no dito convento dos agostinianos, um piedoso velho, conhecido por Irmão Orsetti. Todos os seus antigos companheiros de S. Mateus tinham morrido, e ele só, tendo sobrevivido a todos, tornava perpétua na nova geração a lembrança dos tempos passados: a Providencia, conservando-o tantos anos, queria, como veremos, servir-se dele para ressuscitar o culto da nossa santa imagem.
No tempo em que este bom ancião ainda vivia, era o convento de Santa Maria in Posterula, varias vezes, visitado por um rapaz, chamado Miguel Marchi, que, durante treze anos, foi amigo sincero dos Religiosos do mosteiro e muito em especial do velho Irmão Orsetti.
Um dia, em que este se encontrava com ele na capela interior do convento, parou defronte de um quadro da Virgem Maria e, em tom misterioso, lhe disse: “Repara bem esta imagem, Miguel; chama-se a Virgem do Perpétuo Socorro. Foi antigamente de grande veneração na igreja de S. Mateus e todos os anos ali se celebrava uma festa em sua honra.”
Durante os dois últimos anos da sua vida, o Irmão Orsetti dedicou-se cada vez mais ao jovem Miguel. Dizia-lhe muitas vezes: “Miguel, não te esqueças que aquela imagem que está na capela é a mesma que foi muito tempo venerada em S. Mateus.” Enfim , para dar mais valor às suas afirmações , interrompia muitas vezes as conversas e perguntava com certa ansiedade, cheio de emoção: “Compreende-me bem? Quantos milagres fez esta santa imagem!” Miguel escutava, mas não compreendia o mistério da Providencia.
Em 1852, morreu o Irmão Orsetti com 86 anos, e Miguel Marchi, depositário dos seus segredos, pensou em abraçar a vida religiosa. Os redentoristas acabavam de adquirir a Vila Caserta. Uma atração da graça levou Miguel para este novo convento.
Passados anos, um Religioso da Vila Caserta, ocupado em indagações históricas, encontrou documentos muito preciosos relativos à antiga igreja de S. Mateus e principalmente sobre uma imagem de Maria, muito afamada pelos imensos milagres que fizera.
Um dia que se achava com os confrades em alegre conversação, revelou-lhes o que tinha encontrado a respeito desta imagem, ouvindo todos esta narração com grande surpresa. O Padre Marchi, que estava presente, recordou-se então do que havia contado o Irmão Orsetti e exclamou: “Essa Madona ainda existe; sei onde está escondida; vi-a muitas vezes.” E narrou grande satisfação o que lhe repetira sempre o velho amigo.
Entretanto os redentoristas não sabiam o titulo que os autorizava a reclamar a imagem, quando uma circunstancia inesperada lh’o veio revelar.
Todos os sábados do ano, reúnem-se os fiéis na igreja do Gesú para ouvirem uma religiosa alocução sobre a Santa Virgem. Em 1863, no primeiro sábado de Fevereiro, o sacerdote encarregado desta prédica escolheu exatamente para tema do sermão a antiga e milagrosa imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, contando como a Mãe de Deus tinha manifestado a sua vontade positiva de ser venerada entre S. João de Latrão e Santa Maria Maior e acrescentou: “Oxalá que entre os meus ouvintes se ache algum que conheça o lugar onde está escondida a santa imagem!... Quem sabe se a descoberta desta preciosa imagem não estará reservada para a nossa época de perturbação e agitação?...
Com facilidade se concebe a impressão que os redentoristas sentiram, quando lhes contaram este sermão. Não era evidente que Maria reclamava para sua nova morada a igreja de Santo Afonso, que se acha exatamente entre as duas grandes basílicas designadas pela Santa Virgem e do próprio lugar onde se elevava outrora a igreja de S. Mateus? Todos estes pormenores foram narrados ao Soberano Pontífice, que concedeu imediatamente a posse da imagem aos filhos de Santo Afonso.
O quadro é uma pintura sobre madeira de estilo bizantino, que parece remontar ao décimo terceiro ou décimo quarto século. Tem somente cinqüenta centímetros de altura por quarenta de largura. Sobre um fundo dourado aparece a Virgem Maria, sustentando no braço esquerdo o Menino Jesus. Um véu azul escuro cobre-lhe a cabeça; sua túnica é de cor vermelha com orlas de ouro. À auréola que lhe cerca a fronte é ornada de desenhos artisticamente feitos. Por baixo da auréola avista-se uma estrela radiante. Por cima da Virgem lêem-se essas quatro letras gregas MP. OV., que significam Mãe de Deus.
O divino Menino está olhando, para o lado esquerdo, um objeto que imprime-lhe no rosto um sentimento de terror. As mãozinhas apertam a mão direita da Mãe, como implorando-lhe a proteção. Tem um vestido verde com um cinto vermelho e escondido, em parte, debaixo dum grande manto amarelo torrado. A cabeça lhe está rodeada de uma auréola. Por cima do ombro representa as letras IP. XP., que quer dizer Jesus Cristo.
A posição do Menino Jesus e o sentimento de susto que se lhe vêem em todas as feições são motivados pela presença de um Anjo colocado um pouco acima, do lado esquerdo, segurando nas mãos uma cruz com o título que apresenta ao Menino, com quatro cravos. Em cima do enviado celeste se acham também as iniciais do seu nome: O.A.G., que quer dizer: o Arcanjo Gabriel.
Na mesma altura e à direita da Virgem destaca-se outro Anjo sustentando nas mãos um vaso do qual se elevam a lança e a cana com a esponja. Por cima da cabeça lê-se: O.A.M. que significa: o Arcanjo Miguel.
Porém, o que caracteriza mais o quadro é o olhar que a Santa Virgem dirige aos assistentes, respirando uma tristeza doce e inexplicável, misturada com terna compaixão. Parece dizer a todos os que sofrem: “Tende confiança em mim: sofri e sei compadecer-me: sou a Virgem do Perpétuo Socorro.”
No dia 26 de abril de 1866, uma procissão de triunfo saiu da modesta casa dos filhos de Santo Afonso. As casas estavam ornadas como nos dias de grande alegria, o chão juncado de flores. Nas ruas, acanhadas para a multidão, ressoavam os cânticos em honra de Maria.
Numa dessas ruas que a procissão devia percorrer, achava-se um menino de quatro anos gravissimamente doente e quase agonizante. A pobre mãe, vendo-o neste estado desesperado, apresentou-o à Santa Virgem, exclamando banhada em lágrimas: “Ó minha boa Mãe, eu vos peco que o cureis ou o leves convosco para o céu.” Maria teve dó da senhora aflita, e a criança restabeleceu-se.
Um pouco mais adiante, numa casa por onde também devia passar a procissão, definhava-se uma pequena de oito anos, dos quais quatro passara paralítica das pernas. Sua mãe teve igualmente a idéia de implorar a Virgem do Perpetuo Socorro. Imediatamente a criança sentiu uma revolução em todo o corpo, e começou a ter algum movimento. A mãe, animada por esta meia cura, tomou a filhinha nos braços, levou-a à igreja de Santo Afonso e, depondo-a ao pé da santa imagem, exclamou com aquela fé viva que produz os milagres: “Agora, ó Maria, acabai o que principiastes!” Mal tinha pronunciado estas palavras, a pequena começou a andar, com grande espanto dos assistentes.
“Esta imagem, diz o Padre Saintrain na sua obra intitulada: Maria, Socorro perpétuo dos homens, esta imagem é privilegiada entre todas. Eu me explico: As imagens milagrosas não fazem geralmente sentir a sua benéfica ação senão com certo limite, e as cópias que se tiram não tem a mesma virtude que os originais. Nossa querida Madona sai desta regra; da Igreja de Sto. Afonso, em Roma, que a divina Providencia lhe designou como morada, ela faz irradiar à sua doce e poderosa influencia nos lugares mais distantes; as suas cópias autenticas, veneradas em toda a parte onde a Congregação do Santíssimo Redentor tem igreja, e em várias paróquias, tornaram-se outros tantos centros secundários donde as graças se espalham sobre todo o país; muitas destas igrejas são agora o alvo duma peregrinação continua; enfim, as medalhas, as simples gravuras representando Nossa Senhora do Perpétuo Socorro servem de instrumentos para as curas, para as conversões, para os favores mais maravilhosos, não só em Roma, mas em muitos pontos do antigo e do novo mundo.
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